domingo, 7 de agosto de 2011

Causo 20 Lá no Veríssimo

Nicanor de Freitas Filho
            Fomos morar numa cidadezinha, que hoje (2.011) tem 3.000 habitantes, imagine em 1952! Acredito que seria bem menos de 1.000 habitantes. Era uma vilazinha em torno da Igreja de São Miguel, chamada Veríssimo, que fica cerca de 70 ou 80 Km. de Uberaba, no Triângulo Mineiro.
Lá, como meio de condução, só havia cavalo e carroça. Carro, acho que só os ônibus que vinham de Uberaba ou de Campo Florido. Meu pai trabalhava a cavalo. Quando chegamos lá ele comprou um já não muito novo, chamado Alazão, por causa de sua cor. Era manso e fazíamos dele o que queríamos. Um dia a minha irmã queria andar a cavalo e pegamos o Alazão. Só com aqueles pelegos, sem arreio, eu na frente e ela na garupa. De repente ela se desequilibrou e foi caindo, caindo e me arrastando com ela. Caímos debaixo do Alazão, que parou e ficou nos esperando! Depois meu pai comprou um cavalo chamado Rosado. Tinha pertencido a ciganos e era um “cavalo-malandro”. Eu gostava muito de cavalos, e geralmente andava em pêlo mesmo, porque dava muito trabalho mexer com arreios. Eu colocava uma cordinha, amarrada no focinho do cavalo, como se fosse um cabresto,  pisava no “joelho” da frente do cavalo, de apoio e montava num pulo. Cansei de fazer isto com o Alazão, principalmente quando ia levá-lo ao pasto, onde passava à noite. Meu Pai chegou e me disse para levar o Rosado no pasto. Desarreou o cavalo, amarrou a cordinha no focinho e eu pisei no joelho do bicho, mas antes de dar o impulso, ele virou o pescoço para trás e “crau!”, mordeu minha nádega esquerda. Mas mordeu pra valer, saiu muito sangue e meu Pai disse que era perigoso dar tétano, porque os dentes do cavalo são sujos, e passou álcool na mordida. Se já estava doendo, imagine o quanto doeu mais ainda! Depois desse Rosado, ele comprou uma égua chamada Branquinha. Ela era muito bonita, branquinha mesmo. Até a remela que saia dos olhos dela era banca. De crina comprida e brilhante. O Campo de Futebol ficava a uma quadra e meia da nossa casa, na frente de uma venda que tinha de tudo. O meu irmão mais velho e eu estávamos lá vendo um jogo qualquer, ou talvez treino, o meu Pai chegou com a Branquinha, já com a corda amarrada no focinho e disse para levá-la pro pasto. Montei na frente e o meu irmão na garupa. Meu Pai, como que para nos despachar, deu um tapa na anca da Branquinha. Ela se assustou e desembestou – como eles diziam – de tal forma que eu não conseguia controlar nada.  Perdi a cordinha, passei a segurar nas crinas dela e o meu irmão me abraçou firme e fomos do jeito que dava. Ela cada vez mais assustada, corria mais e nós dois gritando por socorro. Quando vi na nossa frente uma valeta de uns 2 metros de largura, pensei “agora ferrou tudo”, mas ela saltou bonito, parecíamos até o Rodrigo Pessoa competindo. Aí, na frente da selaria, três senhores que perceberam a situação, foram para o meio da rua e cercaram a eguinha safada, ou assustada, não sei bem. Alguns segundos depois, chegaram meu Pai e mais uns 4 ou 5 amigos dele, que vieram correndo atrás de nós. Mas nós não caímos. Somos duros na queda! Então o meu irmão disse:           
“ –Nunca mais monto nessa porcaria”.
            E  eu repiquei na hora, amarra a corda por dentro da boca dela que eu vou levá-la no pasto. Meu Pai, passou a cordinha por dentro da boca dela, amarrou a língua junto, e perguntou se queria que ele levasse. Eu disse que não, que eu que iria levá-la. Chegando ao pasto, abri o colchete de arame farpado,  amarrei a cordinha no pé de caju, que tinha logo na entrada e comecei a chutar a barriga dessa égua. Acho que ela já tinha trabalhado em engenho, porque quanto mais eu chutava mais ela ia rodando em volta do cajueiro e como eu chutava do mesmo lado sempre, de repente vi que saía sangue da barriga dela. Então eu parei! Acho que nunca me senti tão cansado como estava naquela hora. Acredito que fiquei chutando a eguinha por uns 10 minutos, sem parar. Lavei a alma!

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Nicanor de Freitas Filho