terça-feira, 29 de novembro de 2011

Causo 39 Ecológico?

Nicanor de Freitas Filho
            O meu amigo e ex-patrão, que aderiu aos ecologistas, era também Rotaryano, que ele insistia chamar de “Jantariano”, pois segundo ele, mais se “jantava” do que se relacionava socialmente, objetivo principal do Rotary Clube Internacional.
            Apesar desta observação, ele muito trabalhou pelo Rotory Clube, não só de São Paulo, como o de Itaquaquecetuba, para o qual me convidou. Tornei-me assim um Rotaryano e gostei muito do período em que pude fazer alguma coisa pelos outros e relacionar socialmente, conhecendo várias pessoas, com quem mantenho amizade até hoje, inclusive com ele. Isto porque, quem é Rotaryano sabe, que além das reuniões semanais do Clube a que se está associado, geralmente, uma ou duas vezes por mês, algum clube amigo promove eventos e os demais clubes são convidados a participar.
            Como já expliquei no causo anterior, esse meu amigo além de outros problemas cardíacos, tinha o colesterol elevadíssimo, perto de 300, mas às vezes não resistia às deliciosas iguarias que se serviam nestes “jantares”, e mandava ver.
            Num desses eventos, que não me lembro de qual clube era, foi realizado num Restaurante que tinha na Marginal Tietê, logo depois do Viaduto Aricanduva, se não me engano, chamava Buffet Casagrande.
            Como sempre, as mulheres se reuniam numa mesa e os homens em outra, para se “fofocar” mais a vontade, de ambos os lados. Nesse dia o prato principal era “leitão a pururuca”. Meu amigo não pensou duas vezes e fez “aquele” prato de leitão, com aquela casquinha bem torradinha e o miolo bem gorduroso. E estava comendo e bebendo, como sempre, com muita alegria, no meio dos amigos e provavelmente fazendo uma das espirituosas brincadeiras, que era sua marca. Como por exemplo, dizer que no jantar do Clube dele, a sopa vinha tão fria e cerveja tão quente, que geralmente ele colocava a cerveja pra gelar dentro do prato de sopa...
            Como as mulheres, geralmente comem menos, terminam primeiro. E a esposa dele, que sempre ficava de olho, tentando controlar o que ele comia, levantou-se da mesa em que estava e veio até à mesa em que estávamos. Ao ver o lauto prato de leitão a pururuca à frente dele, já falou com aquele tom de censura:
            “ – Homem de Deus, como você come um prato desses, com o colesterol lá em cima, como você está?” No que ele respondeu sem pensar:
            “ – Calma mulher, estou comendo leitão ecológico, tratado com ração à base de soja, com muito ômega  6  e gramíneas sem agrotóxicos, só bebe água potável...”

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Causo 38 Quantas Estrelas


Nicanor de Freitas Filho

            Aí pelo final dos anos 80, quando o Sarney era Presidente da República, e o País estava numa grande dificuldade financeira, pois o incompetente Presidente tinha declarado moratória, num ato totalmente desastrado, assisti a uma entrevista, pela televisão, mas não me lembro o canal nem o entrevistador, com o eterno presidente do Corinthians, o Sr. Vicente Matheus, que eu tive o privilégio de lançar o livro sobre a vida dele, de Luis Carlos Ramos, quando eu era Gerente Comercial da Editora do Brasil: “Quem sai na chuva é pra se queimar”.
Como se pode ver pelo próprio título, esta era uma marca inconfundível do Sr. Vicente Matheus. Falava algumas coisas realmente engraçadas, pela confusão que fazia com trocas de palavras, ou fazia por gosto mesmo, não sei bem. O dia que contratou o jogador Birobiro, disse para imprensa que tinha contratado o “Lerolero”... Um dia ele quis dizer que tinha vitiligo e disse que tinha “logotipo”...
            O entrevistador, obviamente, só explorava este lado do Sr. Vicente, sempre pedindo confirmação se ele tinha mesmo falado tal e tal coisa. A maioria ele confirmava e algumas ela dizia que nunca tinha dito aquilo, que era invenção da oposição – que era o que mais tinha, coitado...
            Aí, no meio da entrevista ele disse que as coisas que ele falava, realmente engraçadas ninguém publicava. Ele disse que era espirituoso e de raciocínio muito rápido, e, às vezes cometia algum deslize por isso. Então o entrevistador disse para ele contar alguma coisa espirituosa que ele disse e que ninguém publicou.
            Ele contou que tinha uma Pedreira e vendia muito para quem ele não conhecia, mas nesse caso, ele só vendia a vista e em dinheiro. Um dia chegou lá um senhor, com dois caminhões caçamba e perguntou se tinha lá um tipo de pedra. Ele disse que sim e o camarada, mandou encher os dois caminhões. Entrou no escritório e perguntou quanto era. O Sr. Vicente, que estava sempre por lá, falou o preço e o camarada tirou o talão de cheques e começou a fazer o cheque, no que o Sr. Vicente disse que não aceitava cheque. O camarada todo ofendido e querendo se explicar disse que, afinal era um cheque com 5 estrelas – ou seja, tratava-se de cheque especial – do Banco Itaú. O Sr. Vicente olhou bem no fundo dos olhos do fulano e disse:
            “ – Estrelas por estrelas o Brasil tem 27 na sua bandeira, mas não paga ninguém...

sábado, 19 de novembro de 2011

Causo 37 Matei o Morcego!


Nicanor de Freitas Filho
Do longo caso de coincidências que contei, sobre uma viagem de negócios que fiz em 1982, tem continuação. Era uma viagem por vários países, e, por causa da Guerra das Malvinas, tive que pular a Argentina. Com isto antecipei em dois as agendas e os vôos para os demais países. Tive então, que ir “remarcando” datas, bem como todos os vôos. Quando cheguei em Porto Rico, penúltimo destino do planejamento, ocorreram coisas que acho que só comigo acontecem!
            Tinha reserva para o Hotel Hilton de San Juan. Mas cheguei com dois dias de antecedência. Não tinha vaga no Hotel. Estava totalmente lotado! A recepcionista disse-me: “ –  pode vir depois de amanhã que sua vaga está aqui devidamente registrada.” O pior é que já era por volta das 22:00 h. Depois de muito discutir com a recepcionista e o Gerente, que me explicaram sobre um congresso médico que se realizava lá, resolvi tomar um taxi e ir para outro hotel. Conversei com o taxista e ele se prontificou a me levar em outro hotel. Levou-me para um que ficava na mesma avenida do Hilton, creio que se chamava Las Conchas; estava lotado. Tentou o Hotel Miramar, lotado. Fomos para o Casa Blanca, lotado. Então ele me disse para tentarmos os menores, mais da periferia, pois tinham vários eventos ocorrendo em San Juan. Achou um hotelzinho que na verdade eram três sobrados geminados, que foram juntados. Já passava de meia noite e eu estava cansado, pois já estava há quase 30 dias fora de casa e só viajando...viajando... Fiquei ali mesmo!        Quando fui tomar banho, o chuveiro ficava sobre uma banheira, que eu já não gosto, porque sempre escorrego. Mas vá lá! À medida que eu me ensaboava a banheira foi enchendo, mesmo com o ralo aberto. A água chegou quase aos joelhos.  No outro dia pela manhã ainda tinha um pouquinho de água lá.         
Eu carregava comigo cerca de dois mil dólares – lembra que naquele tempo não se podia usar o cartão de crédito – e eu não me sentia nem um pouco seguro naquele lugar estranho. Peguei o dinheiro, coloquei debaixo do travesseiro, tranquei a mala, encostei uma mesa e cadeira na porta e estava tão cansado que dormi. Para se ter uma idéia, nem café da manhã tinha, no tal hotel. Saí de lá carregando as malas e tomei um taxi e pedi para me levar para um outro hotel. Este taxista me ajudou em muito. Levou-me para o Hotel Excelsior, na Avenida Ponce de Leon. Um hotel pequeno e tranqüilo e ótimo para quem estava a negócios. Voltei a ficar lá mais duas vezes, nos anos seguintes.     
Como disse o hotel é simples e as cortinas eram deste tecido que chamam de “black-out”, parecido com plástico grosso, que descia do teto até o chão. Quando cheguei ao hotel, à noite depois do trabalho, ao descer do taxi, vi passar um “pássaro” voando de forma estranha. O taxista me falou, que era um morcego. Eu estava no 7º andar e como estava calor eu deixei a janela semi-aberta.
Foi na TV deste hotel, que eu vi, pela primeira vez a Madonna cantando, num show em Porto Rico. Acredito que ela ainda não tinha gravado. Lembro-me que ela vestia uma capa de chuva, ou algo parecido, que achei estranho. Não me lembro das músicas, apesar de ter na cabeça que ela contou uma que se chamava “Everybody”, mas gostei do show dela e a achei muito bonita! Ela devia ter 22 ou 23 anos.
Depois de ver o show da Madonna, dormi. Acordei por volta das 4 horas da manhã, com um barulho estranho, atrás da cortina. Era um plác-plác-plác e parava. Daí a pouco o plác-plác-plác de novo.  Então vi que um morcego tinha entrado no quarto e estava se debatendo atrás da cortina. “Como vou matar este bicho?”, pensei. Levantei fui ao guarda-roupa peguei um desses cabides de madeira pesados, fui para o lado da cortina, fiz pontaria, bem onde a cortina balançava e soltei 3 ou 4 cacetadas, mas o bicho continuava a se debater. Imaginando que já o tivesse machucado o suficiente para que ele não fugisse, puxei a cortina e não o vi. Aí então acendi a luz para ver se o encontrava no chão. Não o encontrei mas, já na claridade, pude perceber que tinha feito um belo estrago na parede, e, notei que ventava e era o vento que batia na tal cortina de plástico, fazendo-a ondular o que fazia o barulho do “morcego se debatendo atrás da cortina”.

domingo, 13 de novembro de 2011

Causo 36 Êta Motorista Bom!

            Nicanor de Freitas Filho
            Num dos cursos que fiz na FGV, de Gestão de Negócios, tive aulas com um Professor, que também era palestrante e quase todos os dias encerrava as aulas com um “causo”. Um deles eu guardei e vou tentar contar aqui, sem o sabor humorístico dele, é claro.
            Contou que um palestrante se especializou num assunto importante e ficou famosíssimo e por isso fazia palestras todos os dias, e em alguns dias mais de uma apresentação. Ele tinha um motorista que, em decorrência do tempo que ficavam juntos se tornaram amigos. Até trocavam algumas confidências. Às vezes reclamava da platéia, às vezes das longas viagens e falava que estava de “saco cheio” de tanto repetir as mesmas coisas. Mas era aquilo que queriam ouvir, e ele conhecia bem o assunto, fazer o que? Era o seu ganha-pão!
            O motorista tinha que esperá-lo, então ele sempre exigia comida para os dois, se fosse mais longe e tivesse que dormir, exigia dois quartos, ou seja, o motorista era companheiro para todas as horas. E já fazia anos que trabalhavam juntos. Geralmente o motorista entrava nas salas de palestras, ajudava conferir o material e a maioria das vezes, sentava-se num canto da sala e lá ficava.
            Num dia, tinham uma viagem meio longa, para uma cidade que nunca tinham ido antes. Quando entrou no carro, o palestrante começou a conversar e como sempre aproveitava para fazer as reclamações. Levou os braços para cima, num movimento típico de preguiça e disse ao motorista: “- Hoje estou de ‘saco cheio’. Só vou fazer esta palestra por causa do contrato, senão iríamos descansar hoje.”
            O motorista perguntou se alguém o conhecia naquele local que estavam indo. Ele disse que não. Era a primeira vez que ia a tal lugar. O motorista confirmou se não tinha mandado fotos ou coisas assim. Ele disse que não. Então o motorista perguntou: “- Se o senhor está de ‘saco cheio’ e sem vontade de fazer a palestra, se quiser eu posso fazer para o senhor, pois de tanto ouvi-lo, sei de cor, tudo o que o senhor fala. Sou capaz até de responder aquelas perguntas que lhe fazem depois da palestra.”
            Meio surpreso mas alegre, fez umas três ou quatro perguntas para o motorista que as respondeu sem titubear, com firmeza. Então combinaram que mais perto da chegada, trocariam de lugar, ele chegaria dirigindo, passando-se por motorista e o motorista faria a palestra.
            E assim foi. O motorista se apresentou, fez uma brilhante palestra, usando todos os recursos de oratória e todos os termos técnicos de forma correta. Uma perfeição! O palestrante chegou até sentir um pouco de ciúmes, pelo entusiasmo com que o motorista foi aplaudido no final. Então vieram as perguntas, que ele tirava de letra uma a uma, com firmeza e brilhantismo. De ciúmes, passou a ter orgulho, pois afinal de contas, era exatamente como ele fazia, aprendera com ele!
            De repente, veio uma pergunta, dessas atravessadas, bem diferente de tudo que já tinha ouvido. Ele não fazia a mínima idéia do que se tratava, pois ele só tinha decorado o que acontecia nas palestras anteriores. Não entendia do assunto! Com a maior firmeza e frieza, disse ao interlocutor:
            “- Meu amigo, sua pergunta é tão simplória que vou pedir ao meu motorista, ali no canto, para lhe responder...”

domingo, 6 de novembro de 2011

Causo 35 Adesão Ecológica

Nicanor de Freitas Filho
            Quando voltei de Cuiabá, onde morei e trabalhei por dois anos, fui trabalhar numa indústria de artigos de festas em Itaquaquecetuba, cidade da Grande São Paulo, cuja fábrica ficava, literalmente, no meio do mato. Inteligentemente, um dos donos adquiriu um terreno grande vizinho à entrada da fábrica e fez ali, sua casa de campo. Como ele mesmo dizia, tinha uma casa de campo, que na sexta-feira à tarde, não precisava nem pegar o carro para chegar nela, tinha segurança 24 horas por dia, auxiliares, além de outras facilidades, como por exemplo, nos dias de semana, convidava um dos gerentes para ir jogar sinuca com ele, após o expediente. Tinha gente para limpar e cuidar da casa e tudo mais.
            Ele adorava um churrasco e sempre encontrava motivo, como festas de final de ano ou outros eventos para contratar um churrasqueiro, o Gaúcho, para preparar uma deliciosa costela de boi, ou picanha ao ponto, ou rolha ou miolo da alcatra (carne que se deve comer quase crua) e outras especiarias grelhadas. E ele, mesmo com o colesterol a quase 300, fazia de conta que não era com ele, comia de tudo e muito, além de fazer acompanhar a cervejinha.
            Mas a casa de campo também servia de refeitório da Diretoria e alguns poucos gerentes. E muitas vezes iam convidados almoçar lá conosco – porque eu era um dos privilegiados que almoçavam e jogavam sinuca – como gerentes de bancos, clientes, advogados, alguns fornecedores especiais, ou seja, aquelas pessoas que geralmente querem conhecer as empresas com quem estão trabalhando.
            Ele era, e ainda é, muito espirituoso e gozador. Tinha algumas coisas que fazia e que mesmo a gente conhecendo e sabendo o que ia acontecer, ainda assim eram engraçadas. Por exemplo, quando tínhamos convidados para o almoço ele, como bom português, tinha sempre uma bela salada de verduras de entrada, regada com muito azeite. (Depois conto o caso do livro que ele escreveu e que deu o título de “O Galo que bota”). Invariavelmente, ele fazia com que todos se servissem da salada. Pegava a bandeja e insistia com todos para se servirem e também, invariavelmente, ao final, alguém lhe perguntava se ele não comia salada, pois ele mesmo não se servia; ao que ele respondia, com o maior bom humor:
            “ – É que eu me aderi aos ecologistas, não como nada que é verde e se tiver algum animal que como o verde, eu como o animal para ele não comer o verde!”

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Causo 34 Na Argentina e Chile


Nicanor de Freitas Filho
Fui Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos e viajei muitas vezes ao exterior, para vender cadernos escolares. E vendi muito!
Em 1982 programei uma viagem que começava por Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile... Saí do Brasil no dia 31 de março de 1982. Trabalhei no Paraguai  e no Uruguai nos dias 31/03,1º e 2/04, e quando cheguei no Hotel, ainda em Montevidéu, ouvi notícias que a Argentina tinha invadido as Ilhas Falklands, que eles insistem em chamar de Malvinas. Não dei muito ouvidos, no sábado ainda tive uma reunião de trabalho e no domingo fui passear e conhecer Montevidéu. Passeei e de tardezinha, peguei a ponte-aérea para Buenos Aires.
Levantei-me cedinho peguei um taxi e fui para o escritório do nosso pretendente a representante. Era um alemão que vivia há muitos anos na Argentina.
            Ao sair do hotel, levei um susto, pois na Avenida Corrientes, bem perto Calle 25 de Mayo, tem um prédio do Banco de La Provincia de Buenos Ayres, que deve ter um 12 ou 15 andares, tinha uma bandeira da Argentina, que descia do último andar até o primeiro. A cidade toda era uma festa de bandeiras nacionais, papeis picados, camisetas com as inscrições: “Las Malvinas son argentinas”. Eu só tinha visto algo parecido aquilo, com as comemorações de conquistas de Copa do Mundo de Futebol. Ninguém queria trabalhar, ninguém queria nada com nada. Era só festa!
            O representante me recebeu, mas me informou que não seria possível marcar nenhuma entrevista naquela semana, pois todos estavam a comemorar a invasão das Ilhas Malvinas.
            (Para quem não se lembra, o governo militar argentino, para despistar o povão de lá, dos assuntos sérios,  resolveu invadir as Ilhas Falklands, no dia 2 de abril de 1982. E fez disso a maior propaganda política, na tentativa de salvar as “burrices” que haviam feito).
            Voltei ao hotel, liguei para Lan Chile, remarquei minha passagem, fiz o check-out, tomei um taxi e rumei para o aeroporto. Mas o taxista estava a fim de tirar o “sarro”. A euforia deles era tanta, que não poderiam perder oportunidade para gozar com a cara dos brasileiros. Foi logo perguntando o que eu sabia sobre a “invasão” das Malvinas. O que os brasileiros achavam. Apoiavam? Como iria reagir o Governo Brasileiro? Fez questão de lembrar que fazia 4 anos que não tinham uma festa tão grandiosa, referindo-se obviamente à conquista da Copa do Mundo de 1978, que havia sido lá. Aí eu lembrei que os argentinos morriam de inveja do nosso BNH, que nos permitia comprar a casa própria. Então perguntei se ele morava em casa própria. Ele disse que não. Sem lhe dar tempo, comecei a fazer perguntas a cerca de se comprar casas próprias por lá. Então eu disse para ele que eu tinha comprado minha casa em São Paulo e pagava menos que o valor de um aluguel, porque tínhamos o BNH, que funcionava com o dinheiro do FGTS e podíamos comprar moradia própria com muita facilidade. Ele quis confirmar que só poderia comprar casas mais modestas, ou populares.  Eu expliquei que não, que no meu caso eu comprei num bairro considerado de ricos, morava no mesmo prédio de gente com ótimo poder aquisitivo. Não sei porque lembrei – e este vou citar o nome porque ele já faleceu – do Sr. Stephen, um americano que tinha sido alto-funcionário da Marinha Mercante Americana, que era casado com uma brasileira e moravam no meu prédio. Era uma pessoa finíssima, de educação apurada e muito gentil. Eu gostava muito de conversar com ele, pois naquela época ele tinha se aposentado e era Diretor de uma Empresa de aluguel de containers e eu trabalhando com exportação, muito me interessava seus ensinamentos. Fui explicando para o taxista, que morávamos num apartamento igual, embora eu fosse um simples vendedor de cadernos escolares. Expliquei a ele quem era meu vizinho, o que tinha sido e o que fazia. Ou seja, cortei o papo dele de querer tirar o “sarro” e acabei eu tirando o “sarro” com ele, com conversa mole. Na hora que eu estava terminando de exaltar meu vizinho, chegamos ao Aeroporto, paguei, ainda de dentro do carro e desci para pegar minha mala. No que desci, estava também chegando ao Aeroporto, no taxi da frente, o próprio Sr. Stephen, que eu não fazia nem idéia de que pudesse estar na Argentina. Que coincidência! Como sempre, muito bem vestido e elegante, mostrando o porte de “gente-fina”. Não perdi oportunidade e disse ao taxista argentino:
            “ – Este é o meu vizinho, do qual lhe falei."  
O taxista não acreditava e perguntou se tínhamos marcado lá no Aeroporto. Eu disse que nem fazia idéia que ele estivesse na Argentina.  Quando o Sr. Stephen me viu, fez aquela cara de surpresa e imediatamente veio me abraçar.
            Enquanto o taxista ficou contando para o colega dele, a coincidência, entramos juntos no saguão e nos dirigimos para a Lan Chile. Ele perguntou, para onde eu ia, e quando disse Santiago, ele me olhou e disse que também ia para lá. Verificamos que era no mesmo vôo.
            Não me lembro exatamente a hora do vôo, mas quando chegamos no Aeroporto deveria ser por volta das 17:00 h.. O vôo deveria ser, portanto, por volta das 19:00 h.. Fizemos o check-in e ele me convidou para tomar um café.  Tomamos um, dois, três cafés e não chamavam nosso vôo. Fomos informados, então, que estava com atraso, mas que deveria sair por volta das 22:00 h. Para resumir embarcamos por volta de uma hora da manhã seguinte.
            Conversamos muito e ele me disse que um dos poucos países que ele não conhecia era o Chile. Alertei-o que era para tomar cuidado com a água da torneira, pois, até para escovar os dentes eu usava água mineral. Só água mineral. Pois a água de Santiago, que desce das geleiras, contem muito potássio, que causa dor de barriga. Informei a ele que sempre trazia Leiba, que era excelente para cortar a diarréia. Um santo remédio!
            Quando estávamos chegando, eu disse a ele da minha preocupação de chegar por volta das 3 ou 4 horas da manhã, não tinha como fazer câmbio no Aeroporto, eu tinha somente travel-cheques e seria difícil negociar com os taxistas. Ele me disse para não me preocupar, porque, com certeza o Gerente local da empresa dele, estaria lá à sua espera, assim ele me daria carona. De fato, quando desembarcamos lá estava o fiel gerente esperando, às quatro da manhã (vai ser puxa-saco pra lá). Ele educadamente perguntou ao gerente se poderia me dar uma carona até o hotel. Gentilmente o gerente disse claro, em qual hotel o senhor vai se hospedar. Eu disse que era no Holiday-Inn Galerias. Ora, disse ele, é o mesmo que eu reservei para o Dr. Stephen, não vai me custar nada.
            Correu tudo bem, no dia seguinte levantei um pouco mais tarde, para minhas reuniões e fiquei o dia todo fora, fui jantar com hoje amigo, mas na época gerente de compra dos Supermercados Las Brisas, nosso maior cliente no Chile. Cheguei tarde, deitei e dormi logo, porque tinha tomado uns vinhos a mais...
            Por volta das duas ou três da manhã, acordei com o telefone tocando. Atendi meio assustado, pensado, só pode ser engano. Não! Não era! Era o Sr. Stephen me perguntando se eu ainda tinha minhas Leibas, porque, não seguiu meus conselhos e tomou “só um golinho” da água da torneira. Já tinha ido ao banheiro umas três ou quatro vezes...
            Quantas coincidências seguidas!!!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Causo 33 O "Cobra" do Violão


Nicanor de Freitas Filho

            O meu irmão mais velho gosta muito de música e já compôs muitas, tendo já algumas gravadas, até com quatro gravações, como é o caso de “A Boiada”. Com isso ele, quando morou em São Paulo, fez muitas amizades com compositores, intérpretes e empresários do ramo musical. Dentre as amizades dele, acho que posso citar o nome, pois ele, infelizmente já faleceu, é o grande compositor João Pacífico. Meu irmão guarda com muito carinho uma fita K-7 gravada com uma mensagem especialmente para ele. Dentre vários amigos, teve uma pessoa, que ele conheceu através de uns amigos que eram nossos vizinhos, que são de Botucatu-SP.
            Como fui aconselhado a não citar nomes, vou chamá-lo de “Cobra”, só para me referir à esta pessoa, que é “Cobra” no violão. Trata-se do melhor violonista que eu conheço. Ele pertenceu a um Conjunto que se chamava “Embalo Cinco”, que era um quinteto que acompanhava cantores, e trabalharam muito na época dos Festivais da Record, na década de 60.  É uma das pessoas mais simples e bacana  que conheço. Mas toca violão como ninguém que eu conheça, a não ser ele!
            Pouco tempo antes de me casar, entre 1968 e 1971 morávamos meu irmão, um compadre e eu, num apartamento no centro, em frente à Câmara Municipal de São Paulo. Disse que eram vizinhos de Botucatu, porque eles também moravam no mesmo prédio. De vez em quando, o meu irmão chegava lá em casa com o “Cobra”. Como eu sempre gostei muito de violão, tinha lá o meu Gianini, no qual eu custava fazer uma pestana e sair algum som decente. Pois o “Cobra” pegava o bichinho e tocava Ave Maria, Concerto nº 1 do Tchaikovsky, Taí, Sons de Carrilhões, Abismo de Rosas e outros tantos arranjos feitos por ele, sobre várias peças musicais, como Odeon de Ernesto Nazaré e um pout-pourri, que ele fez das músicas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que chamou de Suite Nordestina e por aí vai.
            Algumas vezes eu pegava meu gravadorzinho Philips e gravava do jeito que podia. Ele tinha um amigo que gravava todos os recitais que ele fazia. Um dia ele me emprestou uma fita de rolo com várias músicas dele. Eu juntei tudo numa fita, também de rolo e sempre ouvia com muito prazer. Quando os gravadores de rolo foram sumindo, passei para uma fita K-7 e ouvi-a até que também os toca-fitas começaram a sumir. Mas eu tenho todas guardadas (como ainda tenho meus 300 bolachões). Passamos então para um CD que ainda ouço constantemente. Mas desde que meu irmão se mudou de São Paulo, perdemos o contato com o “Cobra”.
            Aí por volta do ano 2000, não me lembro exatamente quando, minha esposa resolveu entrar na PUC, para fazer Faculdade da Terceira Idade, onde teve oportunidade de fazer várias amizades muito boas, que mantemos até hoje. Um dia ela chegou da PUC e me perguntou:
            “ – Como era mesmo o nome daquele amigo de vocês, que toca violão, que você tem uma fita K-7 dele aí?”
            “ – O nome dele é “Cobra”. Porque?”
            Ela confirmou o nome e sobrenome e disse:
            “ – Porque ele está dando aula de música, para mim, na PUC!”
            Peguei a fita K-7 mandei para ele ouvir e perceber o quanto ele tinha evoluído nestes 30 anos. Depois disso já fomos em várias apresentações dele, principalmente no Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, no Bexiga.
Ele já tem 3 CDs gravados, a maioria com músicas dele mesmo. Realmente ele é um “Cobra no violão”. Na minha opinião, o melhor violonista vivo no Brasil!
Quem quiser ouvir um pouquinho o som dele entre em:

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Causo 32 Consórcio de Exportação Protime


Nicanor de Freitas Filho
            Nas minhas experiências de comércio internacional, principalmente durante os 10 anos que fui Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos, aprendi muitas coisas boas e passei por muitas situações boas, engraçadas, difíceis, agradáveis, inesperadas, ou seja, todo tipo de situação, conforme já contei num dos meus causos anteriores (Meu cachimbo Inglês).
            Em 1985, depois de muitas cabeçadas entre os concorrentes, finalmente resolvemos formar um Consórcio para exportação de cadernos. O Consórcio se chamou Protime (que são as primeiras sílabas das três empresas que o formava: Propasa, Tilibra e Melhoramentos). A partir daí, passamos a concorrer somente com a Salesianos, que não quis participar do Consórcio. Nessa época as outras empresas que mais tarde vieram a exportar também, ainda não tinham estrutura para concorrer conosco. Assim nas primeiras feiras internacionais que participamos, ainda participavam do atendimento todos os representantes das três empresas.
            Os representantes da Propasa, que tinha três sócios, eram o que chamamos de “gozadores”. Eram muito espirituosos e sabiam fazer brincadeiras, principalmente as “combinadas”. Nesse ano de 1985, na feira de Nova York, “Back-to-school Show”, sendo a primeira vez que participávamos juntos – até então éramos concorrentes – houve um clima muito bom, de aproximação e amizade. Logo eles perceberam que meu Inglês era muito fraco, e, assim, sempre ficava, um deles, de “plantão”, enquanto eu atendia algum cliente, principalmente se fosse americano, que fala mais rápido e às vezes eu me complicava mesmo. Como sempre a feira acontecia em meados de fevereiro e o terceiro dia de feira, era dia do meu aniversário. Já chegaram no estande me cobrando o jantar! Mas o dia foi passando e por volta das 11 horas eu estava sozinho no estande, enquanto a turma tinha ido tomar café. Chegou um cliente de Los Angeles, fez várias perguntas, e me pediu um orçamento para uma quantidade enorme de cadernos. Fazia algumas exigências, pedia um desconto aqui, uma capa especial ali, mais prazo para pagamento, mas foi me passando um belo pedido. Finalmente me pediu se eu poderia lhe entregar uma fatura pró-forma ainda naquele dia, para ele enviar para a Matriz em Los Angeles, para irem consultando os bancos sobre a carta-de-crédito, o que é muito normal. Ocorre que para fazer uma fatura pró-forma exige-se tempo, muitos cálculos, que para mim não era problema e uma boa redação, o que eu não tinha. Além disso, precisava primeiro pedir algumas autorizações à nossa sede, porque eu havia negociado algumas condições que não eram padrão. Quando somei o pedido dava cerca de dois milhões e meio de dólares. Era a maior negociação que o Brasil faria com cadernos. Nossos pedidos, até então, giravam entre oitenta a trezentos mil dólares.
            Chamei o pessoal para o estande, pedi para permanecerem no atendimento, que eu iria preparar uma fatura pró-forma. Fiquei até às 16:30 h, calculando e redigindo a fatura pró-forma. A feira geralmente encerrava por volta das 16:00 h e tínhamos até às 17 para reorganizar o estande, antes de ir embora. Finalmente consegui terminar o rascunho da tal fatura. Mas ainda precisa ir ao Hotel, para gravar em fita de telex, para ser enviada. Isto exigia uma boa conversa com a funcionária do Hotel, acompanhado de gorda gorjeta.
            Para que não tivesse nenhuma dúvida, peguei o rascunho de 5 páginas, escritas à mão e pedi para um dos representantes, um americano, conferir, principalmente o meu Inglês. Todos se dispuseram a me ajudar e vieram para a mesa onde eu estava trabalhando. Então um deles, de nome Daniel, pegou o meu rascunho, começou a ler, ficou em pé, balançou a cabeça negativamente e simplesmente rasgou meus papeis e foi picotando tudo. Eu, não sabia se ficava nervoso, se reagia, se brigava, fiquei sem reação! Ao que eles todos – os nove participantes do estande e mais o “cliente”, que não sei de onde havia aparecido ali –  começaram a cantar “Happy birthday to you” e me disseram que eles é que iam me pagar um jantar inesquecível de 41 anos.
            E o “cliente” me disse com a maior cara de pau do mundo, que juraram para ele, que podia colocar o pedido falso, que era somente para eu ter o dia do meu aniversário muito feliz e alegre!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Causo 31 Deitando e rolando...


Nicanor de Freitas Filho
            Em fins 1983 fiz a cirurgia de catarata no olho direito, nos moldes tradicionais, ou seja, cortando na córnea e retirando o cristalino por arrancamento, dando pontos etc.. Isto implicava em manter-se no hospital por uns 5 dias e depois ficar ainda mais uma semana com aquele curativo enorme no olho operado. Desta forma, tinha que achar maneiras de passar o tempo, pois não conseguia ler, nem ver televisão, então o jeito era passear com a minha motorista particular – minha mulher. Meu maior problema era que, na cirurgia do olho esquerdo – a primeira – tinha tido uma hemorragia, que me custou quase 6 meses de molho, porque o sangue não coagulava para poder ser retirado e a pressão ocular subia muito, sendo que cheguei a levar uma injeção de cortisona dentro do globo ocular. E assim, ficou uma espécie de trauma, sempre com medo de outra hemorragia. Fazia tudo com muita delicadeza, movimentos bem controlados, para não ter chance de ocorrer nada que pudesse pensar na tal hemorragia. Até mesmo dirigindo, minha mulher tinha o cuidado para não passar em buracos, para evitar qualquer solavanco mais forte. Apesar de meu Médico me isentar de qualquer culpa pela hemorragia, eu sempre achei que foi devido a um banho que tomei, logo que saí do hospital. Acho que me movimentei demais.
            Num domingo fomos almoçar na casa daquele amigo que tinha vindo do Rio de Janeiro e que fui ajudar a colocar o lustre na sala dele. Como o médico não proibiu de beber uma cervejinha, assim o fizemos. Almoçamos bem, tomamos umas cervejas e ele, que não sabe ficar sem tirar um cochilo depois do almoço, deu uma tapinha no meu ombro e disse para deixar as mulheres conversando lá na sala e irmos tirar uma sonequinha. Eu o acompanhei e fomos para o quarto dele, que, sem cerimônia, arrancou os sapatos deitou num canto da cama de casal e disse para eu deitar também. Conversamos uns 2 ou 3 minutinhos e ele já não mais respondia minhas perguntas, que também deveriam sair baixinho, pois também estava com sono. E assim começamos nossa “sesta” e em menos de 2 minutos depois já estávamos num quase sono profundo, principalmente por causa da cerveja.
            Ele tem duas filhas e a mais nova delas, na época com uns 6 ou 7 anos, era muito “grudada” no pai e acho que ficou com ciúmes de o pai estar lá deitado com um homem na cama do casal, veio bem de mansinho, para não nos acordar, e deitou no espaço que o pai tinha deixado do outro lado da cama. Com o peso dela, forçou a lateral da cama, puxando o estrado de forma que este soltou do meu lado, caindo no chão, mas ficou preso do outro lado, formando, digamos, uma rampa, pela qual os dois vieram embalados, rolando sobre mim. E eu com aquele bruta curativo no olho, que todos sabiam o cuidado que eu devia ter!
            Passaram por cima de mim e, graças a Deus, nada aconteceu! Mas a preocupação de ambos era não tocar no meu rosto, nem que eu ficasse de cabeça para baixo, para não mexer com o curativo no olho. Eu acordei meio assustado, sem saber o que havia acontecido e só me dei conta do acontecido, ao ver a preocupação dos dois, com meu olho operado.
            Acabou nossa sesta em poucos minutos...

sábado, 8 de outubro de 2011

A Redação


Hoje não vou contar um causo. Vou publicar uma redação de uma menina de 11 anos, filha do meu amigo do Rio de Janeiro, que morou em São Paulo.
            Tenho que explicar que esta redação foi solicitada por uma professora do Colégio Santa Marcelina, onde já naquela época, se preocupava com transversalidade entre matérias. A professora  tinha dado uma aula de geografia, explicando o que é acidente geográfico, como são classificados os terrenos, falou sobre a conservação das águas, sobre a flora e a fauna, etc.. Depois da aula, solicitou uma redação sobre um país, utilizando o que haviam aprendido.
            Eis o resultado:

“O PAÍS
Em terras muito longe daqui, há um país pequenininho, mas bem pequeno mesmo, chamado país CORAÇÃO, nome dado por seus habitantes, os amorosos.

Neste país, ao lado leste, há o maior lago do país, o lago CARINHOSO. A oeste, existe o vulcão FELICIDADE, que não machuca ninguém: sua lava é um milk-shake de chocolate delicioso. No sul há uma praia chamada AMIZADE, onde a água afunda cada vez mais, mas ninguém se afoga. E, por fim, ao norte, tem a floresta BELEZA, onde vivem os animais mais diversos: leão-do-amor, a onça-feliz, o macaco-legal e muitos outros. E existem também as ervas e flores, por exemplo: a erva-do-coração-partido, que cura a tristeza e a flor-do-amor, que quem a cheira vive de bem com a vida.

A constelação que caracteriza o país é constelação AMOR, em forma de coração.

Eu gostaria de mandar um recado para os AMOROSOS: por favor, conservem este país sempre assim!
11/3/87”

Que nota você daria? 

domingo, 2 de outubro de 2011

Causo 30 Persuasão

          Outra muito boa que também ouvi num seminário de vendas é a estória do camarada que foi pela primeira vez ao Jockey Club. Tenho que explicar que, nessa época, para se apostar no Jockey Club você tinha ir lá, para ver os páreos e um pouco antes de cada páreo, os cavalos se apresentavam na pista, você olhava e se conhecesse já ia para aposta, caso contrário era a chance que você tinha para conhecer o cavalo e o jóquei que ia montá-lo, naquele páreo, além de saber com que número ele correria. Então você decidia em quem apostar e se dirigia a um dos guichês para comprar a pule, que era o bilhete de aposta. Geralmente tinha duas ou três torres abertas, dependendo do número de participantes de cada páreo. Cada torre devia ter cinco ou seis guichês, com o número em cima. Você entrava na fila do número do cavalo que você queria apostar.
            Num domingo de verão, ensolarado, bonito, nosso personagem foi conhecer o Jockey Club. Foi até às arquibancadas, viu os cavalos e a cara dos jóqueis, gostou demais do nº 7. Entrou na fila do guichê nº 7 e foi remexendo o dinheiro para aposta, quando um rapaz na fila nº 6, perguntou a ele se era a primeira vez que vinha ao Jockey. Ele disse que sim, então o novo amigo disse para ele:
            “ – Então vem apostar no nº 6 porque é barbada, sem erro, eu conheço bem os cavalos deste páreo.”
            Ele passou para a fila nº 6 e comprou duas pules, já que era “barbada”! Começou o páreo o nº 6 disparou, mas a partir da metade do páreo ele foi perdendo velocidade e... adivinhe quem ganhou. Exatamente o nº 7!! O “amigo” disse para ele, que deveria ter acontecido algo com o nº 6 porque diminuiu muito na segunda metade da corrida. (Será que era o cavalo paraguaio?)
            Tudo bem! Acontece! Apareceram os cavalos para o segundo páreo. O novato olhou, olhou e decidiu pelo nº 3. Correu para a fila. Ao chegar lá, o “amigo” estava na fila do nº 1 e já foi logo dizendo:
            “ – Companheiro agora é mesmo ‘barbada’. Não pode acontecer nada de errado agora. Não caem dois raios no mesmo lugar.”
            É verdade, pensou ele e comprou mais duas pules do nº 1. Dada a largada, o nº 1 se embaraçou com outro cavalo e nem chegou à reta final. É, parece que foi azar mesmo, mas quem ganhou foi o nº 3.
            No terceiro páreo, ele escolheu o nº 5, mas o “amigo” apareceu por lá e o convenceu apostar no nº 7, claro que deu o nº 5! No quarto páreo, ele viu os cavalos e pensou agora aposto neste nº 4 de qualquer jeito. Assim que começou a se encaminhar para os guichês, o “amigão” aproximou-se e disse:
            “ – Meu amigo, este é o único páreo que tenho 100% de certeza de ganhar, porque o jóquei do nº 8 é meu irmão e está tudo arranjado para ele ganhar. O dono do cavalo pagou uma nota preta pela marmelada. Tiro e queda!”
            O novato foi lá comprou 4 pules do nº 8 para tentar salvar as perdas. Deu o nº 4. Ele então, contou o dinheirinho que lhe sobrou e mal dava para o ônibus. Ele resolveu ir embora, porque senão ainda gastaria o dinheiro do ônibus. Chegando fora do Jockey, viu aquela bruta fila para os ônibus. Fazer o que? O dinheiro não dava para o taxi, tinha que enfrentar a fila.  Na fila, com aquele sol quente, queimando-lhe os miolos, ele tirou o lenço, amarrou as pontas, de forma que coubesse na cabeça. O camarada que estava atrás dele gostou da idéia e fez o mesmo e começaram a conversar. Nosso personagem foi contando ao companheiro de fila o que tinha acontecido. Escolheu o 7 apareceu um camarada dizendo que a barbada era o 6, depois escolheu o 3 o cara convenceu-o de jogar no 1 e assim foi indo, até que disse que o irmão era o jóquei ele apostou no 8 deu o 4...
O calor ia aumentando e começou a dar sede no nosso personagem. Então ele falou com o camarada:
            “ – Olha, estou com muita sede, o ônibus está demorando muito, vou dar um pulinho ali naquele bar para tomar um copo de água, por favor, guarde o meu lugar que volto num minutinho.”
            O camarada disse que tudo bem, que podia ir sem problemas e inclusive avisou outro senhor que estava atrás do camarada, para não ter problema. Demorou um pouco mais do que eles esperavam, inclusive a fila já estava andando, quando chegou nosso personagem, comendo amendoim salgado, num saquinho, no que o camarada que lhe guardava o lugar perguntou:
            “ – Mas você não estava com sede e ia beber água?”
            “ – Ia sim! Mas lá no bar encontrei aquele f.d.p. lá do Jockey...”

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Causo 29 Preciso comprar um Vovô novo!

Nicanor de Freitas Filho
            Eu tenho um neto de 4 anos, do qual sou uma espécie de “motorista particular”, além de companheiro de futebol, de corrida de carrinhos, de jogar tênis, de montar quebra-cabeças, de orientar para lições, parceiro de dominó, de jogo da velha e por ai vai... Nossas atividades são muitas. Dentre estas, às terças e quintas eu tenho a obrigação de buscá-lo em uma Escola e levá-lo diretamente para outra. Então, às vezes, tenho que tomar algumas providências, como trocar o tênis, colocar ou tirar o agasalho, etc.. Dentre muitas, uma delas é separar e levar o brinquedo que ele, geralmente escolhe na véspera, e me avisa para eu levar no dia seguinte, porque na primeira escola ele vai direto da casa dele e os brinquedos que gosta de levar na Escola ABC ficam aqui em casa.
            Numa das quartas-feiras ele me passou a obrigação: pediu para levar o McQueen, o Tick Ricks e Nitroage, que para quem não tem netos ou filhos nesta idade, são três carrinhos, personagens dos desenhos de Walt Disney. Não sei por que motivo, acabei saindo correndo e esqueci os três carrinhos em cima da mesa da sala. Ao colocá-lo na cadeirinha, abotoar o cinto de segurança, ele foi logo “cobrando”:
            “ – Cadê os meus carrinhos?”
            “ – Ô meu filho, desculpe o Vovô, sai correndo de casa e esqueci em cima da mesa da sala.”
            Ele fez aquele “olhar 43”, colocou o dedo indicador da mão direita no queixo e disse:
            “ – Acho que estou precisando comprar um Vovô novo!”
            Fazer o que, né? Ele deu o recado! Mas não perdi oportunidade e quando ele fez a primeira pirraça eu dei o troco:
            “ – Acho que estou precisando comprar um netinho novo!”
            “ – Pode comprar, mas compra um igualzinho ao Guigui!”    

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Causo 28 Uma em um milhão


Nicanor de Freitas Filho
Todos já sabem que trabalhei em Cuiabá por dois anos, num grupo Imobiliário. Lá chegando, fiz o curso do CRECI e fui para a luta, exatamente no período do Plano Bresser, que fechou todos os financiamentos imobiliários. Aliás, no Governo Sarney tudo que foi feito, foi mal feito, nem o Mailson da Nóbrega conseguiu ajudar. Esquece...
Na imobiliária, passei a utilizar a Parati que antes, era usada pelo Gerente de Vendas, e, com isso ele passou a ir trabalhar de moto. Quem não deve ter gostado foi o cunhado dele, que pegava carona com ele todos os dias para ir almoçar na casa da irmã. Se bem que a moto era uma Honda Fireblade 1000, ou seja, era uma MOTO. Eu, por exemplo, não gostaria de andar na garupa nem de Harley Davidson. Mas também, cunhado é cunhado, se fosse coisa boa não começaria com as letras que começa. Ah se meu cunhado ler isto – estou cometendo uma injustiça – pois gosto dele como gosto dos meus irmãos. Mas ele deve ser exceção...
Bem, o fato é que todos os dias o cunhado dele, que é advogado e trabalhava no prédio que fica a uma quadra da Imobiliária, ia chegando perto do meio-dia ele já aparecia lá no escritório, da Av. Isaac Póvoas. O Gerente de Vendas morava no Jardim das Américas e então pegava a Avenida Fernando Correa da Costa, que estava com um asfalto novinho. Note que o asfalto em Cuiabá era bastante abrasivo, ou melhor, áspero.
Nessa avenida tem, ou tinha, algumas lojas e depósitos de material de construção. Em frente um deles, tinha lá um motorista que estava sozinho, amarrando a lona no caminhão. Não sei se vocês já prestaram atenção, mas este trabalho, quando se faz sozinho, é um pouco demorado porque o motorista tem que amarrar a corda em um dos ganchos, que ficam ao nível do assoalho da carroceria, fazer um rolo com a corda e jogá-la para o outro lado do caminhão, para amarrar num dos ganchos do outro lado e repetir a operação até amarrar a corda em toda a extensão da carroceria, segurando assim a lona bem presa à carga. Esta corda, geralmente recebe um laço em cada ponta, para evitar que desfie. Na verdade dão uma laçada, que fica com um diâmetro de uns 20 a 25 cm, que é usada para prender no primeiro gancho e na outra ponta facilita a amarração final.
Então, o motorista estava lá na Avenida Fernando Correa, amarrando a lona e o Gerente de Vendas vinha com o cunhado na garupa da Honda Fireblade, imagino que a uma velocidade de cerca de 80 km/h, pela mesma avenida, que estava com pouco trânsito ou nenhum talvez, por isso podia desenvolver uma boa velocidade.
Ao passar ao lado do caminhão parado, o motorista que estava no lado do passeio, atirou por cima do caminhão, o rolo de corda para o lado da rua. Aquela laçada de 25 cm caiu exatamente sobre o espelho retrovisor da moto laçando-o. Obviamente a moto ficou amarrada e presa e os dois continuaram na mesma velocidade, só que de repente não estavam montados em nada, ou seja, foram ralando no asfalto por cerca de 10 ou 12 metros. Vocês já viram os pilotos de moto de corrida quando caem saem escorregando por 40 ou 50 m.? Pois é! Só que nossos amigos não estavam com aquelas roupas especiais, ou seja, foram ralando a pele e parte da carne mesmo.
O cunhado, até por instinto, se agarrou mais ainda no Gerente, que ficou por baixo. Imediatamente fomos informados, no escritório e corremos para o hospital para onde tinham sido levados. Chegando lá vimos um quadro assustador. Ele tinha esfolado todo o lado esquerdo: ombro, braços, bacia, coxa e tornozelo. Tinha lugar que aparecia o osso. Os médicos estavam lá fazendo os curativos e exames e tivemos que sair da sala de atendimento. Ao sair, encontramos com o cunhado, com apensas um curativo na mão esquerda. Levantou os três dedos enfaixados e disse:
“ – Pô caramba, ao segurar no meu cunhado, minha mão esquerda ficou por baixo, veja como ficaram meus três dedos (mínimo, anelar e médio). Ralaram tudo!
Cunhado é cunhado!

P. S.: Segundo um Estatístico, a chance do caso se repetir deve ser perto de 1 em 1 milhão...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Esportes Corinthians 0 x 0 São Paulo

                Nicanor de Freitas Filho

Hoje ao abrir os jornais, tive que dar uma sonora gargalhada. Explico:
No caderno de Esportes, tem um pedaço da entrevista dada pelo grande Rogério Ceni:
“ - ... foi  0 x 0 porque só teve um time que quis jogar. Eles só se defenderam...” (Folha de S. Paulo, D3). Tinha ou não tinha que rir??
            Tenho muitos amigos sãopaulinos, palmeirenses, santistas, muitos são familiares próximos. Vou me desculpar com eles, antecipadamente, pois sei que vou mexer num dos maiores mitos do São Paulo. Mas não posso perder a oportunidade.
            Hoje eu entendo porque tem muitos desses meus amigos e parentes que detestam o Marcelinho Carioca. Porque ele é muito antipático e metido! E é mesmo!  A torcida corinthiana gosta muito dele, eu não! Sempre o achei metido. Reconheço que é um bom jogador (lembra do gol que ele fez no Edinho?), mas como é da forma que é, nunca foi titular, por exemplo, na Seleção Brasileira. Pelo modo dele de agir! Qual técnico vai correr risco? (Só o Luxemburgo, uma vez). Ele age com antipatia, tem cara de antipático, como tem também o Valdivia, Paulo Nunes e o Diego Souza (lembra deste, depois de expulso, voltando ao campo para passar a rasteira no Domingão?). A estampa deles lembra a dos argentinos, como Maradona, Riquelme, D’Alessandro, Veron (será que o Valdivia não é argentino também?).
O Rogério Ceni não tem exatamente essa cara – ele até parece com o Luciano Huck – que é simpaticíssimo! Mas ele consegue ser  três vezes mais antipático e meti... nem vou usar o termo, é “besta” mesmo, do que os que citei acima, juntos! Não me lembro de tê-lo visto alguma vez, que não fosse com essa “cara-de-besta” que ele tem e só “vomitando” bobagens e agressividades – como estou fazendo agora – para provocar adversários. O que ele tem feito com o Neymar é coisa de gente “besta” mesmo! Ou será que estou errado?
Pois é, ontem ele poderia ter destacado outras coisas para justificar o 0 x 0, mas foi destacar  exatamente o que ocorreu no último clássico, entre Corinthians e São Paulo, só que de forma inversa. Aquele dia era o Corinthians que queria jogar e o São Paulo não. Lembram o que aconteceu? 5 x 0, para o Corinthians!
Então Rogério, quando só um time quer jogar, enfia uma sonora goleada no que não quer e pronto! Simples e fácil assim! De preferência provocando o goleiro do adversário, com chutes de fora da área, até ele comer um “frangasso”... Entendeu??
           
            P.S.: Não fiquei feliz com o 0 x 0  de ontem não! Fiquei triste, porque 1 ponto nestes dois clássicos seguidos, na minha opinião, acabou o campeonato de 2011, para o Corinthians. Vai dar Vasco ou Botafogo. Parabéns Cariocas!