terça-feira, 29 de setembro de 2015

Capitalismo e Domocracia

"A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram."
Adam Smith
Capitalismo exige democracia, ética, moral e verdade!
Nicanor de Freitas Filho

            Como sabem, sou Economista e muito me orgulho, por ter aprendido o que é o mundo de verdade, estudando Economia. Quando entrei na Faculdade de Economia São Luis, em 1965, logo após a “Revolução” ou Golpe de 1964 eu entendia perfeitamente que o objetivo do Governo Jango, que se deu em decorrência da renúncia de Jânio Quadros em 1961, era implantar o Comunismo no Brasil, como o fora em Cuba na famosa Revolução Popular de Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos em 1959, que surpreendeu a todos, pois não se esperava a implantação do Comunismo Soviético como o foi. Foi uma virada espetacular de Fidel, que privatizou os Bancos e as Indústrias – mormente as americanas – e se aliou aos soviéticos, permitindo a instalação de mísseis no território cubano, na porta da cozinha dos Estados Unidos.
            Em 1963 eu estudava na Escola Agrotécnica de Pinhal, e incentivados pelos movimentos “revolucionários” que afligiam o Brasil, fomos instados a fazer uma greve, que durou de 27 de março de 1963 até 18 de agosto de 1963. Perdi um ano na minha vida por causa desta greve e até hoje, não sei bem porque a greve foi feita. Entrei e fiz parte, entendendo que estávamos lutando por melhores condições para estudar, melhores currículos, afinal melhoria na Educação. Mas não foi bem isto o que ocorreu. Descambou-se para “fora Inspetor”, “fora Diretoria” etc., sem clareza de objetivos, pelo menos na minha humilde opinião.
            Cheguei a São Paulo com a cabeça meio que dividida, pois era muito pobre, fui morar numa pensão no Butantã, onde convivia com pessoas trabalhadoras e humildes, que passavam dificuldades. Então eu achava que tinha que ser feita alguma coisa, pois desde a renúncia de Jânio, tudo no Brasil parecia muito difícil e duvidoso. Ninguém acreditava em ninguém! Todos criticavam a todos! Lembro-me que nas vésperas de vir para São Paulo, o Jango passou o salário mínimo de Cr$ 21.000,00 para Cr$ 42.000,00. Eu achei muito bom, pois sabia que iria ganhar o salário mínimo ou pouco mais. Gostei da atitude dele, pois me beneficiava. Mas quase todas as outras medidas que ele tomava eu não entendia o porquê. Nem fazia ideia que os Cr$ 42.000,00 não dariam para quase nada.
            Na Faculdade, pela minha timidez e concordância, com quase tudo, sempre era assediado por pessoas de esquerda e de direita, convidado a participar de “reuniões” e outros eventos. A primeira que aceitei foi na TFP, sociedade de ultra direita, e embora tenha sido muito bem tratado e instruído, não gostei muito não. Depois de algum tempo, nosso colega Cosmo, que se tornou presidente do nosso Diretório Acadêmico, me levou para algumas reuniões, principalmente no prédio da Faculdade de Filosofia da USP, que ficava na Rua Dr. Vila Nova. Eu não tenho certeza absoluta, mas acredito que assisti a uma palestra de José Serra, então presidente da UNE e uma de José Dirceu, que também viria ser presidente da UNE. Fiquei muito assustado, pois embora me parecessem lógicos, os argumentos, sempre falavam em “luta armada”. “pegar em armas”... Aquilo me assustava um pouco.
            Depois de ter escutado muito, eu achava que o comunismo não era bom e que o Golpe de 1964 iria resolver os problemas do Brasil, pois afinal estavam “limpando” o país daquela bagunça que o Jango, Brizola, Arraes, Francisco Julião, Riani e tantos outros comunistas tinham nos metido. Mas no meio estudantil continuava a ser “elevado” o conceito de comunismo, pois a União Soviética vinha “batendo” nos Estados Unidos e parecia que seria mesmo uma unanimidade mundial. Além disso, os Generais brasileiros, depois de Castelo Branco, não agiam com a mesma clareza. A decretação do AI-5 mexeu muito conosco, os estudantes. Era uma vida difícil. Se por um lado os Generais se tornavam cada dia mais ditadores, com o que eu não concordava, os comunistas se tornavam mais violentos, e, começaram a matar empresários e assaltar bancos e fazer atentados violentíssimos, que também não podia aceitar. Aí apareceram Marighela e Lamarca, que além de cruéis, eram muito bem treinados para a guerrilha urbana.
            Quem não viveu nessa época, nunca vai entender o que era a tal da “Guerra Fria”, entre Comunismo e Capitalismo, bem representados por União Soviética e Estados Unidos, respectivamente. Cada um mais armado que o outro e o Comunismo se expandindo com muita rapidez. Eu, na verdade, nunca cheguei a tomar uma posição certa e líquida sobre o problema político. Eu trabalhava e estudava e cumpria todos os meus deveres, como minha Mãe havia me ensinado.
            Em 1968, o país pegando fogo, por causa dos atentados terroristas e prisões que se davam cotidianamente, comecei a ter aulas de Economia Política, com o Professor José Paschoal Rossetti, um grande Economista, conhecedor da História do Pensamento Econômico e de excelente didática. Pra começar, ele geralmente dava suas aulas, sentado sobre a mesa – acho que era para ficar mais visível – e escrevia muito pouco, o que era comum naquela época. Naquele dia ele entrou de jaleco branco, como sempre, sentou-se na mesa – não é à mesa, mas em cima da mesa – e começou a falar de “comunismo”, mostrando todas as vantagens do sistema econômico comunista, centralizado de “administrar” uma nação. Como tudo era quase perfeito no comunismo e seria realmente o sistema política do futuro. Ele falava com tanta ênfase e dando tanta importância ao comunismo, principalmente comparando com o capitalismo. Lembro-me quando ele mostrou que, por exemplo, os preços no sistema comunista era o que o “povo” podia pagar, enquanto no capitalismo era o mercado – isto é, a oferta e a procura – que definiam os preços. No comunismo os bens eram de todos, enquanto no capitalismo os mais ricos sempre podiam ter mais. No comunismo as indústrias e empresas em geral eram escolhidas pela importância para o povo, enquanto no capitalismo havia liberdade para empreender, e, o empreendedor só pensa no lucro. É muito mais fácil criar Leis que beneficiem os mais pobres no comunismo do que no capitalismo, que geralmente está ligado à democracia, onde tudo é mais difícil de votar e estabelecer. Portanto, desde a Segunda Guerra, o mundo estava se transformando no mundo comunista, perfeito de Marx. Curioso é que quando ele falava do comunismo levantava a mão esquerda e quando falava do capitalismo levantava a mão direita.
            Quando já estávamos convencidos de que o comunismo era mesmo melhor que o capitalismo, que o mundo seria mesmo comunista, ele levantou a mão direita, com muita ênfase e disse num tom triunfal: “Eis que surge Keynes”. Nós, alunos, levantamos e aplaudimos! Daí para frente mudou tudo! Começou a mostrar que, a liberdade de empreender, a liberdade de mercado, a discussão das Leis e sua devida observância, o direito à propriedade não tinha nada de errado. Errado mesmo era impor tudo o que o comunismo fazia e começou a mostrar o que o grande Economista John Maynard Keynes apresentou para “consertar” o mundo econômico, depois da Segunda Guerra. Não vou aqui descrever toda a teoria de Keynes, mas posso indicar livros excelentes a quem quiser compreender um pouco da História do Pensamento Econômico: “A Imaginação Econômica” de Sylvia Nasar ou ainda “Capitalismo: modo de usar” de Fábio Giambiagi.
            A partir dessa aula do Professor Rossetti, eu passei a ser “capitalista”, não só pelas suas propostas como principalmente, aprendi com Sir Winston Churchill: “a democracia é a pior forma de governo imaginável, excetuando-se as demais. Da mesma forma, considero o capitalismo o pior sistema econômico imaginável, excetuando-se todos os outros já experimentados.” Ou com o Dr. Roberto Campos: O Comunismo é bom para sair da miséria, mas incompetente para nos levar à riqueza”(1985), ou então a que é bem atual: “A verdade é que o socialismo é mais eficaz como doutrina política de captura e manutenção de poder do que como técnica de desenvolvimento equilibrado” (1973).
            Hoje, acompanhando o governo do PT com seu sistema econômico que chamam de “nova matriz”, que ainda não descobri o que é, mas sei que é contra a democracia, o “capitalismo”, a “burguesia”, os “reacionários”, os “eles”, que somos nós que produzimos, geramos riquezas, cumprimos as Leis, pagamos impostos, temos ética e moral e pensamos no Brasil, concluí que na verdade “nova matriz” deve ser a aplicação, na íntegra, do comunismo Gramscista, imoral, mentiroso e sem ética!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Lembranças...

         
Nicanor de Freitas Filho

            Vim para São Paulo em meados de março de 1964, recém-formado em Técnico Agrícola, na Escola Agrotécnica de Pinhal. Vim para fazer cursinho e me preparar para prestar vestibular em Viçosa (UFV) ou Piracicaba (ESALQ). Já vim com o emprego “meio” garantido, na Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), cujo Diretor de RH tinha ido à Escola, convidar os Técnicos Agrícolas para vir trabalhar na CAC.
            Dentre as opções de cursinho para vestibular, acabei escolhendo pelo preço, que era o do Grêmio da Faculdade de Filosofia, que ficava na Rua Dr. Albuquerque Lins, em Higienópolis. Era longe da pensão que fui morar, na Rua Butantã, em Pinheiros, mas fazer o que? Era o que dava para pagar. Fui com muita alegria, conhecer o tal Cursinho e no primeiro dia, encontrei um rapaz muito solícito e simpático, o José Augusto Ferraiol, que muito me ajudou, principalmente me deixando usar sua biblioteca, pois eu não tinha dinheiro para comprar livros. Mas ia à casa dele para estudar. O pai dele era o dono das Casas Fausto, uma boa loja de roupas para homens.
            Mas surpresa maior foi no primeiro dia de aula de Matemática. Eis que entra na sala um araxaense, o Professor Ernesto Rosa Neto! Ele não me reconheceu, mas terminada a aula fui falar com ele e disse que era de Araxá, filho da Edith e sobrinho da Tia Alayde, que por sinal era tia dele também, pois era casada com o Tio João Rosa, irmão do Avô do Ernesto. Foi uma das pessoas mais importantes, para mim, aqui em São Paulo. Ajudou-me muito, me orientou e me ajudou, me encaminhou nos estudos, levando-me a fazer o curso de Ciências Econômicas e não o de Agronomia. Para isso, ele me conseguiu um emprego de meio período, no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais.
            Ele foi o único professor que tive, que nunca dava os resultados dos problemas. Simplesmente dizia “certo” ou “errado”, mas se errado não dizia a resposta certa! Nós ficávamos loucos da vida, porque quase todos os dias de aulas de Matemática, ele sempre deixava um ou dois “probleminhas” para nós resolvermos e levar as respostas na próxima aula. Só ficávamos sabendo a resposta se alguém acertasse, pois então ele dizia “certo” e aí podíamos ver o que era certo. E o dia que ele dizia “errado” para todos? Todos ficavam encabulados!
            Teve um dia que ele chegou com um problema “mimeografado” (quem não souber o que é isso, procure “mimeógrafo” na Internet) que era um desses que tem desenho. Tinha uma ilha com sete pontes e mandava passar somente uma vez em cada ponte e entrar e sair da tal ilha, não sei quantas vezes. Quebramos a cabeça, sozinhos, em conjunto, ninguém conseguiu um “certo”. Ele olhava e dizia “errado”...”errado”...”errado”... Ninguém nunca conseguiu saber qual era o resultado daquele problema. E ele não dizia!
            Sempre fiquei com aquele problema na cabeça e às vezes tentava ainda fazer uns rabiscos. Passaram quase cinquenta anos, perdi o contato com ele, quando fui morar em Cuiabá. Voltei e ele tinha se mudado do Jardim Bonfiglioli e não o encontrei mais. Quando foi em maio de 2011, minha filha, que ficou morando no meu endereço antigo, me ligou dizendo que tinha um Sr. Ernesto me procurando e encontrou o telefone dela, pelo endereço. Liguei para ele, e ele queria meu endereço para me enviar um exemplar do livro Sertão da Farinha Podre. Eu, imediatamente disse que lhe passava meu endereço, mas preferia ir buscar pessoalmente o livro. Peguei o novo endereço dele e marcamos num domingo à tarde e fui lá buscar meu exemplar do Sertão da Farinha Podre (quem não leu ainda, é um romance que conta a história do nascimento do arraial que deu origem a cidade de Araxá).
            Para não ir de “mãos abanando” levei para ele, um exemplar de um livro sobre a Arte Barroca no Brasil, com lindas fotos. Livro de capa dura, muito bonito! Como cheguei na casa dele, entreguei logo o presente para ele, que o abriu e ao ver o livro disse: “Vais levar uma manta!” Referia-se ao tamanho do livro que eu ia ganhar, comparado com o que lhe levei. Conversamos muito tempo, fiquei conhecendo dois filhos dele e ele conheceu minha esposa. Relembramos de alguns detalhes das aulas  de quarenta e tantos anos atrás, principalmente o fato que ele nunca nos dava as respostas dos problemas, etc.. Quase na hora de sair, disse a ele que queria lhe fazer uma pergunta, no que ele prontamente disse que poderia fazê-la. Perguntei então qual era a resposta correta para aquele problema das sete pontes. Ele logo brincou, dizendo que não dava respostas dos problemas. Finalmente ele me olhou rindo e disse: “Não sabe mesmo qual a resposta? Não tem resposta! Ou melhor, não tem solução o problema...”
            Cáspita! E eu que fiquei com aquilo quase cinquenta anos na cabeça...

domingo, 13 de setembro de 2015

Fábula


Nicanor de Freitas Filho
            Eu tenho comigo, e, aprendi isto na escola da vida, que cuidar de uma família, de um departamento, de uma empresa, de um município, de um estado ou de um país é apenas questão do tamanho da responsabilidade, mas esta tem que ser a mesma para qualquer das instituições. E a principal é GASTAR MENOS DO QUE RECEBER E GUARDAR NA BONANÇA PARA GASTAR NAS HORAS DE CRISES! Isto posto, vamos à fábula...
            João e José, profissionais do mesmo ramo, ambos casados e com dois filhos cada, trabalhavam na mesma indústria se conheciam muito bem e ambos resolveram deixar a empresa e abrirem seus próprios negócios. Isto foi lá pelo começo dos anos noventa, tendo começado seus negócios, João prestava serviço para José, já que eram do mesmo ramo. Até que iam bem, mas após o impeachment do Collor, as coisas começaram a complicar e cada um mudou-se para outro estado.
            João foi para o Paraná e continuou no mesmo ramo, após vender sua parte para o outro sócio, e trabalhavam ele e a esposa, enquanto os filhos estudavam. Administrando com cuidado, mesmo com dificuldade, remontou sua indústria, um pouco menor do que era antes, mas aos poucos, com bom planejamento, muita organização e muito, mas muito mesmo controle. Gastar só depois de ter o dinheiro na mão. Não era bem assim, pois quando precisava comprar uma máquina nova, financiava, mas tudo dentro dos limites e possibilidades, com o devido planejamento e controle.
            Aos poucos os filhos, ainda estudando, foram “entrando” no negócio, começando na produção e ajudando aos pais. Passado algum tempo, eles já cuidavam de muitas coisas. Primeiro a mãe voltou para os serviços caseiros e só ajudava quando solicitada. João continuou administrando tudo, com a experiência que tinha, até ter confiança nos filhos. A empresa prosperou e ganharam muito dinheiro, que o João aplicava tudo de maneira até conservadora, principalmente na própria empresa (investimentos). Dizia para os filhos que nunca se sabe o dia de amanhã. Teve uma época em que a conta bancária estava gorda e os filhos queriam cada um o seu carro. O João foi logo explicando, que não tinham necessidade de dois carros, pois estudavam na mesma Faculdade, embora um fizesse engenharia mecânica e outro engenharia química, sempre saíam juntos para passear e era assim que ele queria. Os filhos até que reclamavam, mas sabiam obedecer e respeitar as decisões do pai. Guardaram o suficiente para qualquer eventualidade e tudo estava bem aplicado, diversificado e protegido.             João continuou supervisionando até, ter certeza e confiança total, de que ambos haviam entendido o que significava a empresa para eles.
            Hoje, a empresa está totalmente nas mãos dos filhos, os pais apenas ajudam quando são chamados, principalmente para ajudarem na tomada de alguma decisão e vivem uma vida simples, mas muito tranquila. Têm dinheiro no banco, tem as propriedades que quiseram ter, como casa de praia, um sítio para finais de semana e divertimento, além dos carros e das residências, pois os filhos já casaram e têm suas próprias casas. Tudo conforme João, neto de alemães, tinha aprendido quando jovem!
            O José ficou famoso pela coragem de abrir novos negócios, entrou no ramo de importação, já que o Brasil tinha aberto mais para a globalização. Nesse ramo descobriu que um “pixuleco” resolvia muitos problemas burocráticos e mesmo de “barateamento” dos impostos de importação. Importava para o Rio de Janeiro, mas suas mercadorias eram desembarcadas no Espírito Santo, porque tinha incentivos de impostos. Isto o fez criar um grande caixa 2, pois era necessário!
            Nessa de gostar de novos negócios, se metia em ramos que não conhecia, como num dos casos, no ramo da diversão; comprou uma casa de shows, transformando-a, digamos, numa espécie de “Canecão”, para não ter que explicar muito o que era. Para isso teve que pagar por fora – caixa 2 – uma parte, porque além dos proprietários que não queriam pagar imposto de renda, para ele também era conveniente, porque ele não tinha como comprovar todo aquele valor. Ele tinha o caixa 2.
            Pouco antes desse negócio, divorciou-se e para manter a admiração dos filhos, dava de tudo para eles. O mais velho, estava completando 18 anos, queria uma caminhonete dessas incrementadas, 4W, e ganhou logo uma importada. Como já tinha 18 anos, José colocou a nova empresa, casa de shows, no nome do dele, que sem nenhuma experiência, foi “dirigir” o negócio.
            Enquanto isto, José continuava ali por perto para “ensinar” o filho. Gostou de uma das dançarinas da casa de shows e levou-a para casa. É lógico que o romance só durou o tempo que ela precisou para conquistar tudo que queria ter. Depois acabou!
            Ele depois que se mudou para o Rio de Janeiro “casou-se” com uma nova parceira. Teve mais duas filhas. Ficou mais difícil para sustentar toda esta “família”, que queria de tudo, do bom e do melhor, incluindo a primeira esposa, que mesmo estando bem de vida, queria receber a parte dela, já que ele tinha fama de Midas. Para todos, inclusive familiares, ele era rico. A artista também queria a parte dela. E agora o filho mais novo também completou 18 anos e queria a sua Land Rover.  E esse, logo engravidou uma menina 2 anos mais velha que ele e trouxe-a para casa. Não tinha ainda como sustentar seu lar. Estava estudando História na USP. O pai cobria tudo, muitas vezes não tinha todo o dinheiro, mas não deixava ninguém saber, pois o orgulho não permitia.
            A nova esposa era muito vaidosa e não se preocupava em economizar não! As filhas tinham tudo que queriam e até o que não sabiam, mas a mãe lhes comprava.
            Nesse ínterim, a casa de shows, mal administrada, quebrou e as demandas trabalhistas foram para um volume impressionante, que eles não faziam ideia! Era muito além do que pensavam! Na Justiça Trabalhista, embora com bons advogados, perdiam quase todas as causas. O filho não tinha patrimônio, então era José quem bancava tudo. O mais novo, formou-se, fez uma festa, mas fazer o que? Professor ele não queria ser. Que fazer com o diploma de Bacharel em História, formado pela USP? Nada, enquanto o pai continuava a se endividar para cobrir os gastos trifamiliares, pois a primeira esposa recebia pensão, a artista recebia uma “pensão”, por fora, e a nova família tinha despesas elevadas, pois a nova esposa sabia como gastar com ela e com as filhas. Os dois filhos sempre tentando novos e mirabolantes negócios. Todos viviam muito bem, mas ele... coitado! Sabia que seu patrimônio não cobriria nem um terço das dívidas! Começaram as dificuldades...
            Amigos? Sumiram todos, mesmo aqueles que frequentavam semanalmente sua casa. Aproveitavam da piscina, com os filhos, assistiam aos jogos de futebol, porque tinha sempre muita comida e bebida e era tudo de primeira! José continuava “esnobando”, pois tinha crédito, tinha fama, pagava um “pixuleco” aqui, outro ali e ia rolando as dívidas. Cada vez maiores! Até que um dia explodiu!
            Sabem o que ele fez? Disse que estava muito surpreso, pois não esperava por isso. Nunca previra que pudesse chegar nesse ponto! Todos deviam acreditar nele e continuar a lhe dar crédito. Podia ter cometido algum errinho, mas não tinham motivos para lhe tomarem tudo assim...
            Qualquer semelhança não é mera coincidência...

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Eclipse de 1.947


Nicanor de Freitas Filho

Motivado por uma postagem no Facebook, do Professor Ernesto Rosa, sobre o eclipse de 1947, tendo Araxá, como uma das cidades escolhidas pelas Expedições Científicas Estrangeiras, para observação do fenômeno, fui consultar minhas anotações – escritos sobre minha vida – que chamo de “Memórias”, e encontrei algumas notas a respeito. Primeiro, o fato que vou descrever, eu o tenho na minha memória, como um filme. Não tenho dúvidas sobre o que vi. Segundo, o que mais me surpreendeu, é que eu tinha então, três anos e três meses de idade, já que ocorreu no dia 20 de maio de 1947. Eu nasci em 15 de fevereiro de 1944. Terceiro, nunca conversei com ninguém de Araxá sobre esse eclipse, para que me lembrassem alguma coisa que marcasse essa minha lembrança.  Quarto, conversei sim, em Portugal, quando fui, a trabalho em 1993, numa Feira de Cadernos Escolares, conheci lá um cientista americano – que não me lembro o nome – que quando eu disse que era brasileiro, ele perguntou de onde, e eu respondei Araxá, ele me informou que “foi a cidade que deu toda cobertura aos russos, que foram para Araxá, espionar sobre a existência e a qualidade do urânio que tem lá.” Eu que nunca tinha ouvido falar nisto, fiquei um pouco surpreso, mas o Sr. Américo Barbosa, proprietário da melhor fábrica de cadernos de Portugal, na época, e amigo do cientista, estava conosco e confirmou este fato sobre os russos. Quando estava escrevendo minhas memórias em 2011, fui procurar isto na Internet e encontrei esta informação como verdadeira. Descobri que os russos foram para Araxá e os americanos foram para Bocaiuva, ambos queriam também, comprovar que se podia medir distâncias, pela velocidade da luz, uma teoria finlandesa, para ajustar a mira de mísseis, que na época ainda era incipiente. Assim, tinham equipes aqui em Minas e também na África, a uma distância pré determinada, onde o eclipse seria também total, para comprovar tal teoria.
Mas o que importa é de que eu me lembro. Lembro que alguns dias antes do eclipse, a Alayde Rosa – minha prima, que eu chamo de Dedete – arranjou uns vidros e ia lá para casa, na Rua Costa Sena, para enfumaçar com a fuligem da lamparina de querosene, para podermos olhar para o eclipse, no dia, porque não se podia olhar a olho nu. Preparamos muitos vidros para todos olharmos. Não me lembro de ter olhado, mas lembro-me, muito bem, da preparação dos vidros e do falatório e da expectativa a respeito do esperado fenômeno.
No dia, lembro-me que minha família ficou toda ansiosa para a hora do eclipse. A Rua Costa Sena era de terra, onde jogávamos bola, pião, bolinha de gude e tudo mais. Na esquina da Costa Sena com a Carvalho Lopes, em decorrência da erosão da enxurrada, havia um grande buraco, bem perto do muro do Colégio São Domingos, que nós chamávamos de Colégio das Freiras. Na frente da nossa casa, tinha um jardim, que foi onde a família se reuniu, para “olhar o eclipse”. Começou a escurecer em pleno dia, acredito que antes do almoço, e num determinado momento, ficou realmente noite e muito escuro. Também me lembro que não durou muito tempo, talvez uns dez minutos, no máximo, e voltou a clarear. 
Nesse ínterim, ia descendo pela rua, uma pobre senhora, provavelmente analfabeta – o que era muito comum na época – com um saco meio cheio nas costas, e, desandou a chorar, dizendo que “O MUNDO ESTAVA ACABANDO, QUE ERA CASTIGO DE DEUS...” Então a Dinha (minha Avó) e a Tia Suça (Cicinha), tentaram falar com ela, que era apenas um eclipse, fenômeno já esperado, que ia passar logo... Mas a mulher não parava de chorar e dizer mil impropérios, até que chegou na esquina da Rua Carvalho Lopes, e no escuro, caiu no buraco da enxurrada... Aí sim, ela chorou e berrou e blasfemou. E é disso que não esqueço, porque, com meus três anos, fiquei muito assustado com os gritos dela, até que alguém que estava na Venda (ou seria Bar?), que ficava do outro lado, na Rua Costa Sena mesmo, foi lá para ajudá-la a sair do buraco. Quando a tiraram já estava clareando, por isso que me lembro que não foi por muito tempo. Lembro-me também de terem me vestido um agasalho, porque esfriou, mas não acredito que tenha chegado a zero grau, como se disse.
O que não descobri, foi o que os russos espionaram por lá, porque, pelo que sei o nosso urânio foi quase todo para outros lugares...

domingo, 6 de setembro de 2015

Pizza à vista?


Nicanor de Freitas Filho

            Que falta faz um Joaquim Barbosa! O Dr. Sérgio Moro faz muito, mas pelos privilégios autorregulamentados, ele não pode agir contra nenhum político. Aliás, não pode nem ouvir as confissões dos delatores contra os políticos, segundo quer o Deputado Eduardo Cunha. É uma pena porque o Dr. Moro é firme e forte, tanto quanto foi o Min. Joaquim Barbosa, mas só pode julgar e decidir sobre os suspeitos “não políticos”. E ele tem feito, e, bem feito, o que pode! Mas está limitado.
            Já o Procurador Geral, Sr. Rodrigo Janot, para quem tanto torcemos, para ser reconduzido ao cargo, pelo que parece, perdeu a vontade de mostrar serviço, já que ganhou mais dois anos na importante função. Depois de ouvir a “falta de decoro” do Senador Collor, deu-nos a entender que, não quer mais este tipo de enfrentamento. Pelo menos é isto que estamos entendendo. Passou a mandar arquivar tudo que possa “ofender” seus indicadores e aprovadores... ou não? Será que estou sendo injusto?
            Por outro lado, assistindo uma parte do interrogatório da CPI ao Sr. Marcelo Odebrecht, parecia uma reunião de confraternização! Os deputados só não pediram desculpas a ele, ao vivo, mas no resto, fizeram todas as “mesuras” que se faz num encontro, aos convidados. Ele então se sentia à vontade! Estava no seu ambiente preferido, ou seja, no meio de políticos, que lhe devem muitos favores e coisas tais...  Alguns Deputados, inclusive de oposição, levantaram a bola para ele cortar! Já deu para ver que com os bons advogados, amigos dos “lá de cima”, não terão dificuldades em levar os julgamentos finais até ao STF, através de chicanas e favorecimentos.
            Enquanto isso, a oposição não toma nenhuma medida prática para ajudar a resolver de vez o problema. Agora, que foi um fundador do PT, Dr. Hélio Bicudo, quem entrou com pedido de impeachment, era hora da oposição agir com consciência e tranquilidade, para tocar em frente esse assunto e resolver o problema. É bom para o Brasil o impeachment? Não, não é bom! Definitivamente não é bom. Assuma quem assumir depois dela, vai ter mais dificuldades que qualquer outro, que não seja do PT, para consertar qualquer coisa, pois a CUT já avisou que pega nas armas e vai para rua, além de, nestes 12 anos o PT “ter aparelhado” todas as atividades – não vou nem dizer órgãos ou instituições – mas são as atividades sim, qualquer delas tem alguém do PT que manda, e, manda mesmo! Definitivamente o impeachment não é bom, mas devido a resistência da presidente em não renunciar, é menos pior o impeachment do que os próximos três anos dessa forma! Aliás o Temer confirmou isto. Acho até que ele já preparou quase tudo, para o caso de vir a assumir. Ele já fez mais que toda o oposição!
            Lembro-me perfeitamente no dia que o publicitário Duda Mendonça, sem ter sido convocado, apareceu lá na CPI do Mensalão, tomou o lugar de uma das sócias dele, e confessou ter recebido não sei quantos milhões de dólares, no exterior, por serviços prestados ao PT. (Engraçado né? Ele foi absolvido pelo STF). Logo após a cena incrível da confissão, o falecido Senador Antonio Carlos Magalhães foi entrevistado por uma emissora de TV, e o repórter foi muito claro em perguntar: “então, os senhores vão fazer o pedido de impeachment de Lula?” Ele respondeu com muito sarcasmo: “não, não é preciso, preferimos vê-lo sangrar até a eleição de 2006”... Ele foi reeleito, além de eleger e reeleger o seu poste!
            Como escrevi outro dia, falta à oposição liderança, coragem e criatividade para tomar as medidas que, seriam capazes de nos tirar desse buraco que estamos.