terça-feira, 13 de abril de 2021

A QUEM SERVE O ESTUDO?

 

José Gamaliel Anchieta Ramos

          

    Tenho uma dúvida monstro, não sei se sou velho-menino ou menino-velho. Outro dia mesmo a avó chamava a atenção de nosso neto que queria andar de bicicleta em vez de fazer suas tarefas escolares. Nessa hora voltei no tempo, aos 14 anos, porque na idade dele eu achava a maior maravilha o jogo de futebol, e enorme castigo as obrigações do estudo.

    Hoje o velho-menino sabe que filhos e netos não estudam somente para o agrado de pais e avós. Mas, quem não sabe que pais e mães, avôs e avós, querem ver os filhos e filhas, os netos e as netas bem postos na vida?

    Quando uma geração sai de cena outra ocupa a vaga, porque os descendentes, antes de serem herdeiros de todos os bens materiais, eles devem ser sucessores e seguirem os bons exemplos que foram deixados, fazendo questão de não cometer em suas vidas os mesmos erros dos antepassados, inclusive o grande engano de não terem a própria autonomia. 

    Deixaremos a vida um dia, do mesmo modo que minha mãe se foi quando eu tinha 32 anos; e meu pai quando eu estava com 48 anos. Quero dizer com isso que tudo corre por minha conta já faz bastante tempo.

    Meus pais ofereceram a este menino-velho as melhores heranças, as lições do evangelho e o estudo formal. Além dos ensinamentos da Biblia, também fui educado na escola, que são fatores básicos para a mudança completa dos indivíduos, tanto na criação de cidadãos fervorosos, bem como na formação de profissionais mais conscientes, que conseguem melhores oportunidades, pois com os saberes de alta qualidade obtidos nas instituições de ensino se tornam capazes de promoverem avanços tecnológicos.

    Isto não quer dizer que desconheço pessoas vencedoras sem formaturas. Convém frisar que no caminho de quem formou também aparecem incertezas, embora sejam barreiras menores que as enfrentadas pela pessoa sem estudos. São raros os que vencem na vida sem ter amassado bastante o traseiro no duro banco de madeira da escola, enquanto milhares desses alcançaram sucesso depois de ficarem anos presos em salas de aulas, sentados, tanto que lhes deram o apelido de “cedeefe”, o famoso cu-de-ferro, principalmente aos que tiravam as maiores notas nas provas, embora também tivessem bundas resistentes os com notas piores.

    Em 1970 eu fazia parte do 1% que cursava o ensino superior daquele Brasil com 34% de analfabetos, percentual que caiu para 7% em 2019. Dados deste mesmo ano, disponíveis na Internet, que se referem aos brasileiros entre 25 e 34 anos, registram que 21% têm ensino superior completo, enquanto a média é mais que o dobro, em torno de 44% nos demais países participantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Os números do país são ainda piores, para níveis mais altos de instrução, com mestrado: 0,8%; e com doutorado: 0,2%, entre pessoas de 25 a 64 anos. Suíça, Noruega, Alemanha, Finlândia e Estados Unidos são as nações com melhor educação universitária do mundo.

    Nesta comparação feita entre números de cinquenta anos atrás com os atuais, nota-se a diminuição de analfabetos e o aumento dos universitários, ainda que seja crítica a situação porque o Brasil tem 62 países a sua frente no fator educação, conforme o Anuário de Competitividade Mundial 2020 (World Competitiveness Yearbook – WCY). 

    Diante destes números, ainda críticos, tenho grande privilégio de não ser mais obrigado a lutar diariamente pelo meu sustento, longe disso, estou aqui sem me preocupar com mais nada, contando as minhas experiências neste ambiente todo preparado para meu conforto, onde posso relaxar minha já sossegada mente, praticando sempre a leitura e a escrita. E mais, o direito de não ter mais dívidas, somente dúvidas; sem sentir os maléficos efeitos econômicos tão danosos da pandemia para a maioria de nosso povo; poder subir na bike e sentir o ventinho no rosto; tudo isso enquanto muitos de nossos irmãos não têm a quantidade necessária de alimento de boa qualidade em sua mesa.

    Eu jamais escreveria este parágrafo anterior, caso não tivesse traçado metas, apesar de meu entendimento quando era jovem não ser tão cristalino como o atual pensamento que ora defendo. Minhas pequenas metas: seguir normas de disciplina do colégio para não ser expulso, assistir todas as aulas – teóricas e práticas – e realizar as tarefas das disciplinas, além de estudar as lições e fazer as provas. As grandes metas: não repetir séries, concluir o curso médio, passar no vestibular para o curso de meus sonhos, com mestrado e doutorado. E a meta final: passar em concurso e exercer carreira profissional com objetivo de me realizar pessoalmente e dar a parcela de contribuição que me couber para a sociedade.  

    Confesso que não tive toda a liberdade para poder cumprir por completo o planejado, devido às minhas limitações e aos problemas ocasionais muito fora do meu alcance.  

 Goiânia, 12/04/2021