sábado, 29 de abril de 2017

Autoridade e Comando!

Nicanor de Freitas Filho

            No Estadão de domingo, 23 de abril, o Fernando Veríssimo, escreveu uma crônica onde ele falava de momentos marcantes. É claro que tenho, seguramente, mais de 50 momentos inesquecíveis, bons e ruins. Por exemplo: aos 8 anos, minha mudança de volta do Veríssimo para Araxá, meu casamento, nascimento de minha filha, de meus netos, formatura, volta da parada cardiovascular e infarto, e, também inesquecíveis perdas, de meus Pais, de meu irmão, de sobrinha e sobrinha neta. Mas isto é, digamos assim, muito íntimo!
            Então, resolvi “lembrar” de um fato, para mim marcante, embora possa parecer para muitos, uma coisa normal. Vamos lá.
            Primeiro tenho que lembrá-los, que com 12 anos fui estudar na Escola Agrotécnica de Muzambinho, onde tomei uma bomba, em Francês, e por isso fiquei lá 5 anos, até me formar em “Mestre Agrícola”. Uma vez que por motivos políticos, tinha sido tirado daquela Escola, o Curso de Técnico Agrícola, tive que procurar outra Escola Agrotécnica, para fazer meu curso de Técnico Agrícola. Fui para a Escola Agrotécnica Augusto Ribas, em Ponta Grossa, no Paraná.
            Na Escola de Muzambinho, no primeiro ano, com idade de 12 anos, era um dos menores alunos da Escola. No desfile de 7 de Setembro de 1956, como era a regra, os pelotões eram formados por um “Chefe do pelotão”, três “Serra filas” (que iam um pouco à frente do pelotão) e o “Pelotão” composto, geralmente, de 30 alunos, alocados em ordem de tamanho, em três fileiras. Os maiores à frente. Nesse primeiro ano fui o último do último pelotão da Escola. Posição de destaque não é? Eu ficava na fila da direita e o Zangão (Paulo Castro) no meio. Não me lembro quem era o terceiro.
            Em 1957, progredi para “serra fila” do terceiro pelotão. No ano de 1958, como estava repetindo o segundo ano, tive muita facilidade e tirei muitos 10 (exceto em Francês), porque as matérias todas  já eram conhecidas. Com isso, tornei-me um ótimo aluno e, por causa disto, fui escolhido para ser o Porta Bandeira. Era um posto que tinha pertencido aos melhores alunos da Escola como Cuiabano e Cotegipe.
            No meu quarto ano de escola, 1959, consegui meu sonho de entrar na Fanfarra. Minha vontade era tocar um surdo bijuzeiro, mas tinha muita concorrência e fiquei mesmo com uma Caixa de Guerra, que toquei nos dois últimos anos que lá estive. Mas eu aprendi quase tudo de Fanfarra. Sabia 23 cadências diferentes. Tocava qualquer um dos instrumentos da bateria, porque antes dos ensaios, pegávamos todos o instrumentos. E eu amava a Fanfarra. Gostava muito e me sentia um “astro” no setor da  bateria da Fanfarra. Nunca consegui tocar corneta. Não tinha embocadura!
            Aliás, sempre gostei muito de Fanfarra! Lembro-me, muito pequeno, vendo os alunos do Colégio Don Bosco, de Araxá, descendo a Av. Imbiara e Av. Antonio Carlos. Eu admirava nesta época o tarol. Eu o escutava com a seguinte onomatopeia: “toma limonada, prá cagá de madrugada... toma limonada, prá cagá de madrugada...”
            Em 1961 tive, então, que ir para Ponta Grossa. A Escola de lá estava no seu segundo ano de funcionamento como Escola Agrotécnica e era mais conhecida como “Abrigo”, pois foi construída para ser um abrigo de menores. Tinha poucos alunos, talvez o número não chegasse 60. Era somente o 1º e o 2º anos de Técnico Agrícola. 
         Ao chegar, já fui perguntando pela Fanfarra. Mesmo porque tínhamos ido em quatro colegas, de Muzambinho para Ponta Grossa e todos os quatro tocavam na Fanfarra. Infelizmente não tinha nada! Mas o Diretor, Dr. Marcelo, me indicou um Capitão amigo dele e autorizou-me dirigir ao Quartel do Exército, que ficava a cerca de pouco mais de 1 Km da Escola e pedir emprestado alguns instrumentos para começarmos a montar a Fanfarra. O Capitão que me atendeu, não só nos emprestou cerca de 15 instrumentos usados que tinham lá, sem uso, como disponibilizou um Sargento para nos coordenar numa “Ordem Unida”, como eles chamavam. Uma semana depois recebemos os instrumentos e o Sargento – que não me lembro o nome – para nos instruir. Dentre os instrumentos tinha um surdo grande, um menor e quatro surdinhos, dois taróis, seis caixas de guerra e duas cornetas.
         Só o Ratinho tocava corneta. O Ivo era cobra no tarol e o Robel tocava muito bem caixa de guerra. Assim, para fazermos do nosso jeito, peguei logo o surdo grande, que apesar de não ser um “bijuzeiro” era com ele que tinha que me virar. Procuramos entre os outros colegas quem queria aprender e formamos uma Fanfarra com 13 instrumentos de bateria e uma corneta. Ninguém conseguiu aprender a tocar corneta. O Ratinho ficou sozinho... Os outros instrumentos, tinham alguns que já conheciam e se adaptaram logo às nossas cadências e assim em menos de um mês, já estávamos tocando umas 12 cadências diferentes. O Sargento conduzia as “Ordens Unidas”, ensinava o pessoal a marchar, movimentar os braços e as pernas na cadência e no passo. Mas na Fanfarra não precisou ensinar nada. Sabíamos mais que ele. A Fanfarra era eu quem a conduzia.
         Veio para a Fanfarra um colega chamado Pichetti, que ficou com o outro surdo médio. E num determinado dia que o Sargento estava lá (treinávamos muitas vezes, sem a presença dele) o Pichetti pegou o meu surdo, antes que eu chegasse na salinha dos instrumentos. Eu disse para ele, que o surdo era meu. Ele, muito maior e mais forte, disse que os instrumentos não tinham dono. Ele ia tocar aquele surdo e ponto final!  Não discuti. Apenas fui formar com o pelotão, para marchar. O Alceu, que tocava sempre um surdinho, pegou o surdo médio e fomos para o pátio. Tudo formado, percebi que o Sargento não me encontrou e disse para o Pichetti iniciar. A Fanfarra começou a tocar, nós fomos marchando atrás, mas ficou só na primeira cadência. O nosso forte era a sequência de cadências, que quem as determinava, era eu. Notei que o Sargento conversou com o Pichetti e teve uma hora que o Ivo e o Robel participaram da conversa. Via que ele fazia sinal com a mão para trocar de cadência, mas nada acontecia. Eu fiquei na minha.
         O Sargento, que já estava acostumado a ouvir aquele som harmônico e variado, parece que percebeu o que estava acontecendo e deu um “auto” bem em frente à escadaria do prédio principal.  Parou a Fanfarra e perguntou: “Cadê aquele surdeiro que ficava aqui na frente?” Eu continuei na minha. Como ele estava no segundo degrau da escada, ele podia ver a todos. Reconheceu-me e me chamou. Perguntou: “Por que você não está tocando hoje?” Eu disse que quando cheguei não tinha mais surdo e que não ia tocar mais na Fanfarra. Ele então disse: “Isto aqui tem que ter ordem! Como assim, que não tinha um surdo para você?”. Eu simplesmente abri as mãos, com dizendo: “não sei”. Ele então me perguntou qual era o surdo que eu vinha tocando. Eu apontei para o Pichetti.  E então aconteceu o momento marcante, inesquecível...
         Ele fez sinal para eu ficar ali, no primeiro degrau, junto dele, e disse que “Ordem Unida” é como se estivéssemos no Exército. Tinha hierarquia e comando, e, tudo se resolveria por meritocracia – foi a primeira vez que ouvi tal palavra – e naquele momento ele estava me nomeando “Chefe da Fanfarra”. Eu teria poder para escolher e determinar quem ia tocar o quê, e em que formação. Ele falou com tanta ênfase e autoridade, que imediatamente o Pichetti veio me trazer o meu surdo – que eu queria que fosse um bijuzeiro, mas não era – e foi pegar o que ele sempre vinha tocando. Reiniciamos a “Ordem Unida” a Fanfarra tocou muito bem e, aliás, correu tudo muito bem. Nunca, ninguém tocou no assunto, tal a força de autoridade e de comando, que o Sargento me passou naquele momento.
         Fizemos, naquele ano, pelo menos quatro excelentes desfiles, com evoluções muito boas, que contarei mais a frente: no aniversário da cidade vizinha de Palmeira, 7 de abril, no 7 de Setembro, nos jogos da Primavera e no 15 de Novembro (aniversário de Ponta Grossa).
            Concluindo: falta ao Brasil, neste momento, autoridade e comando!

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Caráter

Nicanor de Freitas Filho

            Assim que terminou o jogo São Paulo 0 X 2 Corinthians, no último dia 15, que não assisti ao vivo, pois não tenho PPV, fui para Internet e vi os principais momentos. Quando assisti a cena do Cartão Amarelo para o Jô e em seguida a postura do Rodrigo Caio, informando que foi ele quem pisou na perna do goleiro Renan e não o Jô, fiquei abismado, pois há poucas semanas atrás, num jogo contra o Palmeiras, todos os jogadores do Palmeiras viram que quem deu o puxão no Keno, não foi o Gabriel, mas sim o Maycon, mas nenhum jogador do Palmeiras “ajudou” o árbitro. E, embora os auxiliares o avisassem do “equívoco”, ele, mesmo assim, expulsou o jogador do Corinthians. E ainda o Dudu, do Palmeiras, quase agrediu o Gabriel, por estar “retardando o jogo”, segundo explicou depois.
            Bem, isto agora pouco importa. Foi só para mostrar qual é o padrão brasileiro do caráter no esporte. É a Lei do Gerson! Ou como disse o Maicon (SPFC)  em entrevista após o jogo: “...prefiro que a mãe dele chore e que a minha fique alegre. Não falaria nada...” Ou a própria entrevista do Rogério Ceni, que disse que ele fez o que achou melhor, deixando claro que não gostou da atitude de seu jogador!
            Rodrigo Caio, você é um homem de caráter! Isto hoje no Brasil, e, principalmente no futebol, é muito difícil de encontrar. Quero, não só parabenizá-lo, pela sua atitude honesta, ética, que mostra todo seu caráter, como lhe dizer que você deu uma aula de moral e ética, uma aula de fair play, a todos os que assistiram o jogo. E foram muitos... Tanto que logo à saída o próprio Jô, confessou que, a partir daquele momento, vai mudar muito suas atitudes e sua maneira de agir, dentro de campo, pois sentiu a “mais-valia” de uma postura como o sua. Parabéns por sua atitude! Parabéns pelo seu gesto! Parabéns pela sua educação! Parabéns por sua postura! Parabéns pela sua “aula”! São atitudes assim que vão mudar o caráter e a forma de agir de outros jogadores, treinadores e dirigentes esportivos, e, quiçá, um dia, também dos políticos!
            Levou-se muito tempo para se instituir o fair play de colocar a bola para fora quando um jogador se machuca, mas se conseguiu. Porque você não pode conseguir, com este belo gesto, mudar o fair play em todo o jogo? Eu estou começando, hoje, a campanha para que isto ocorra. CAMPANHA FAIR PLAY RODRIGO CAIO! Parabéns!

terça-feira, 18 de abril de 2017

Estou Indignado!

Nicanor de Freitas Filho

            Não sou eu que estou indignado. São todas as pessoas, com um mínimo de caráter, que vivem neste nosso país! Nós já estávamos “indignados” há algum tempo, mais precisamente desde a CPI dos Correios, que se tornou no “Mensalão”. Três pessoas, naquela época, cometeram falhas imperdoáveis. O Deputado Roberto Jefferson, que delatou e batizou de “Mensalão” mas isentou o Lula, pois o inimigo dele, naquele momento era só o Zé Dirceu, que foi quem ele atacou e conseguiu a cassação do mesmo. Se ele tivesse contado tudo o que sabia teria denunciado a pessoa certa também! Depois, quando o Duda Mendonça confessou o recebimento de 10 milhões de dólares no exterior, ACM, Sérgio Guerra e FHC, disseram que não pediriam o impeachment do Lula, para vê-lo “sangrar” até o final do mandato. Ele, não só se reelegeu, como elegeu e reelegeu a Dilma!
            Agora, em 2014, quando o Dallagnol denunciou e o Juiz Moro acatou e mandou prender um monte de bandidos, com a Operação Lava-Jato, começamos a tomar conhecimento de várias falcatruas, perpetradas pelo PT, que nos deu muita esperança de ver os bandidos presos. Políticos com mandato, somente um foi preso e solto logo em seguida. Têm Foro Privilegiado! Já na Primeira Instância, o Juiz Sérgio Moro, já condenou e prendeu uma grande quantidade de ex-políticos e lobistas, cambistas, ex-diretores de estatais e empresários desonestos. A partir daí, tivemos conhecimento de muitas e muitas falcatruas, coisas assim, quase inimagináveis, como nomear o Lula Chefe da Casa Civil, para proporcionar-lhe o Foro Privilegiado. Não deu certo, porque, espertamente, o Juiz Moro vazou uma gravação, que comprovava o que estava ocorrendo. Veio o impeachment da Dilma, a cassação e prisão do Eduardo Cunha. Mas tivemos a decepção de não ver o Lula preso.
            Depois de muito tumulto e muita mentira e muitas tentativas de “matar” a Operação Lava Jato, finalmente a Odebrecht resolveu fazer a tal da leniência e delação premiada, para mais de 70 executivos, incluindo o Presidente Marcelo Odebrecht (preso há três anos) e o pai dele Emílio Odebrecht.
            Após esperarmos por vários meses, foi feita a tal delação. Quando estava pronta para ser homologada, faleceu o Ministro Teori. Foi sorteado um novo Ministro – o Fachin – para substituí-lo que finalmente acatou e deu publicidade às gravações e vídeos das tais delações. Foi o que mais me indignou! O primeiro vídeo que vi foi do Marcelo, que relata tudo com uma naturalidade que nos causa nojo! A grande Odebrecht, nunca passou de uma “contratadora” de políticos terceirizados, para aprovar Leis e MPs que lhes dariam lucro, de índios para não atrapalhar seus negócios, de fiscais para não lhes fiscalizar, para políticos se enriquecerem, para filhos dos políticos, amigos dos políticos e construíam tudo com material de terceira categoria, gastando muito pouco nas obras e obtendo muito lucro e roubando para dar, principalmente, aos políticos. É lamentável que uma empresa, adquira nome roubando e corrompendo, no Brasil e no Mundo, e, segundo o Emílio, há três décadas.
            Foi aí que me veio a indignação. A maneira como ele relatou isso aos Promotores, com uma naturalidade impressionante, dizendo que tudo que ocorreu foi normal e já ocorria no tempo do pai dele (Norberto Odebrecht). Ele foi tão acintoso, que o Promotor chegou a pedir para ele “parar com historinhas”. Ele falava como se estivesse brincando ou fazendo piadas, rindo o tempo todo... Até o Lula se indignou, pois num vídeo que foi feito de uma entrevista, que ele deu a uma rádio, ele disse algo assim: “se quiseram dar dinheiro para meu filho, para meu irmão, eu não tenho nada com isso, deram porque quiseram”... Meu Deus! Onde estamos?
            Daí para frente, todos os relatos que tive oportunidade de assistir, só me deu nojo! Como pode “altos executivos” se portarem dessa forma. Não demonstraram vergonha, não mostraram arrependimento e trataram tudo como uma “brincadeira”, uma coisa de somenos importância, coisa corriqueira, fazia parte das funções deles... Que vergonha!
            Por outro lado, devidamente orientados pelos “grandes” advogados, colocaram no bolo todo mundo, das três décadas, porque assim são todos iguais. O Lula deixou de ser o comandante máximo da corrupção. Todos são iguais a ele. Pelo menos no modo de ver dos petistas e dos delatores.
            Já indignado, na sexta-feira da paixão, no Jornal da Manhã da Jovem Pan, foi entrevistado o "grande advogado" dos políticos, o Kakay, que disse um monte de m... Por exemplo: 1 – “...o impeachment se deu por incapacidade política da presidente, não por crime...” 2 – “...o Vice Presidente assumiu a Presidência sem muita legitimidade...” 3 –“...não podemos tirar a política dos políticos, porque senão vai aparecer algum impostor, dizendo-se salvador...” (Nesta hora lembrei-me do Lula, que assim apareceu) 4 – “...todo o processo da Lava Jato, nas mãos de um só Juiz é inconstitucional...” 5 –“...não se pode nem fotografar depoentes, quanto mais filmar e divulgar...” (Nessa hora eu pensei, o povo só reagiu porque tomou conhecimento dos depoimentos, inclusive pela forma como foram divulgados. Sem isso não haveria  Lava Jato, o Juiz Moro não teria o apoio que tem).
            Outro grande motivo para a minha indignação é o fato da Receita Federal nunca ter “percebido” nada! Só da Odebrecht saíram 10 bilhões de reais para os políticos... Meu Deus! Será que não tem nenhum “Auditor Fiscal” capaz de ver algo nisso? Por que da minha indignação com a Receita Federal? Porque no ano que fiz dez implantes dentários tive que efetuar o pagamento de 30 mil reais no mesmo ano. Caí na malha fina, porque “a despesa é exagerada”, segundo me explicou o Auditor que me fez levar, extratos bancários, declarações, cópias de cheques, de TED e como um dos cheques, meu dentista tinha repassado, no pagamento de salário do funcionário do consultório, e este o recebeu na boca do caixa, tive que levar cópia da Carteira Profissional com a declaração do dentista da veracidade do registro. Olha que foram 30 mil reais...mas foi notado o “exagero” do valor do meu pagamento!
            Vamos ver se minha indignação passa, depois do dia 3 de maio...