domingo, 27 de abril de 2014

Esportes 10 Homenagem póstuma a Luciano do Valle


(O melhor grito de gol da TV Brasileira)
Alcino de Freitas
            Recentemente escrevi aqui no Jornal Interação um artigo intitulado “Nossa melhor Seleção está quase toda no céu”. Justamente após o falecimento do nosso capitão de 1958, Hideraldo Luiz Bellini, o primeiro a levantar a taça do Brasil campeão mundial de futebol na Suécia. E realmente nossa seleção campeã quase toda já partiu. 
            Sábado, 19, quem partiu foi o melhor locutor esportivo da televisão brasileira, Luciano do Valle Queiroz. Natural de Campinas, nascido no dia 4 de julho de 1947, onde iniciou sua carreira como locutor esportivo na Rádio Central. Acredito que lá no céu, onde os nossos craques estão jogando o melhor futebol do mundo, estava faltando um narrador. Vieram buscar justamente o nosso melhor, o Luciano do Valle. Um locutor de voz marcante, lúcido, genial, narrava com uma emoção peculiar. Era o grito de gol mais bonito da televisão, sem dúvida alguma. Faleceu justamente no sábado em Uberlândia, quando, no domingo, transmitiria a partida entre o Clube Atlético Mineiro x Esporte Clube Corinthians, abrindo a primeira rodada do Campeonato Brasileiro de 2014. Aos domingos, não teremos mais o Milton Neves anunciando pela TV Bandeirantes:- “Luciano do Valle, o gol mais bonito da televisão”.  
            Luciano faleceu aos 66 anos, no Hospital Santa Genoveva, em Uberlândia de infarto, após passar mal no avião em que viajou de São Paulo para a Cidade Sorriso no Triângulo Mineiro. Além de narrador, Luciano, era um homem inteligente, criador de valores, foi o criador do “Show de Esportes” da TV Bandeirantes.  Lançou Adilson Maguila Rodrigues no Box. Foi o ícone da geração de vôlei masculino e feminino na década de 80. Lançou Rui Chapéu como o melhor jogador de sinuca do Brasil. Criou a seleção de Máster e foi técnico da mesma. Narrador das corridas de Fórmula 1, pela Rede Globo, passou pela Record e, já tinha completado 50 anos de carreira em 2013. Deixou-nos nas vésperas de uma Copa do Mundo em nosso país. Foi sepultado no domingo, 20, no Cemitério Parque Flamboyant no Jardim das Palmeiras  em Campinas.
            Os torcedores brasileiros realmente lamentam esta perda irreparável.
            Luciano, que sua alma descanse em paz!

(Publicado no Jornal Interação, de Araxá-MG, no dia 24/04/2014)

sábado, 19 de abril de 2014

Crônica 23 Monólogo ao Espelho

                                                                
José Carlos Neves
 Quero pensar em mim, fora de mim;
                                                           E achar-me, onde jamais me procurei.  (JCN)

---- Porque me olhas assim? Pareço-te estranho; talvez um ET; um fantasma; ou terei a braguilha aberta?

---- Sinceridade!? Eu também quero saber quem sou. Não sei se sou real, ou uma ficção. Sinto-me enredado em muitas histórias que realmente vivi, mas que eu não escolhi viver; e nem sei porque fui parar nelas.

---- Ei, tu! Sim, tu! Acho que te conheço de algum lugar, mas não sei de onde. Esta merda de memória me prega cada peça! E o que me falta é peça! Um parafuso, talvez? Anda! Ajuda-me a abrir este arquivo.

---- Já sei; eu não tenho mais memória; só uma vaga lembrança. Mas tenho a sensação de que nos conhecemos a vida toda. Sinto que em algum momento me sequestraste, e que passei a depender de ti; estranho é que  eu gosto de ti, e  dessa dependência. Estarei com a síndrome de Estocolmo?

---- Sei lá! Tenho certeza de que já andamos por lá; e também por muitas outras cidades e países, próximos e longínquos; de cá, de lá, daí, de acolá, de todos os continentes.

---- Então!? Diz-me quem és! Liberta-me ou mata-me. Não quero deixar-te, mas não quero ser teu prisioneiro. Quero ter minhas próprias aventuras, viver minhas experiências, buscar meu próprio saber. Podes até seguir ao meu lado, mas não me tuteles mais.

---- Olha! Ainda não sei quem és, mas vou lembrar-me logo, logo. Portanto, é melhor que te apresentes por ti mesmo. Não estendas mais esta estúpida angústia de te pertencer, e não saber quem eu sou; ou quem tu és.

---- Ahh, lembrei de uma coisa: tu me tratas por meu amigo Trasmontano. Será um nome próprio, ou será um adjetivo gentílico? Acho que o termo me recorda algo mais; assim como trás...trás-os...Trás-os-Montes!!!

---- Então é isso!? Ei, não saias à francesa, não. Volta aqui! Senta aí, e ouve-me! Não é porque me descobri, que acabou a tua missão. Isso! Assim é melhor. 

---- Agora estou a perceber, pá! Eu não passo de um personagem das  tuas crônicas; de crônicas que eu não escrevi; e que só vivo nelas porque tu me inventaste, e me prendeste nos teus enredos e vivências. 

---- Mas, explica-me lá! Que eu me lembre, já viajamos juntos por cerca de 50 crônicas, e nunca assumiste nenhum protagonismo pessoal nelas. E olha que eu conheço muitos outros textos teus, nos quais, sim, tu és tu. Então, porque raios eu tenho que carregar as tuas histórias?

---- Já sei! Nas crônicas, tu não precisas dar-me voz. És um narrador das minhas vivências reais, então sou o que quiseres que eu seja. E como sou um simples trasmontano, como tu, achas que posso agir, e representar todas as tuas virtudes e defeitos (mais destes que daquelas), sem reclamar.

---- Agora entendo porque nós, personagens, somos tão explorados por vós,  autores. Se não tiverdes sucesso, a culpa é nossa porque não saímos do  nosso anonimato, e não soubemos crescer em vossas obras. Entretanto, se ganhardes um Nobel, o mérito é todo vosso porque nos criásteis já estrelas.

---- Não, não te sintas mal, pois sei muito bem que não ganhaste um tostão furado comigo. E como ganhares, se me tens escondido? Excepto a alguns amigos próximos, nunca me apresentaste; não sei se por vergonha de mim, ou de ti mesmo. E amigos não se arriscam a ser arautos da mediocridade.

---- Nunca terás teu milhão de euros por seres um Nobel. Há vários que conheceste pessoalmente, antes de criar-me, como a Eco, Llosa, Saramago, Marques, Paz. Então, eu seguirei apenas com milhões de quirelas e outras tantas mazelas, tuas e minhas, que terei para carregar.

---- Bons tempos aqueles em que fizeste tantas viagens com e pela literatura. Quase 30 anos, lembras-te? Vivias dela, mas nunca te atreveste a escrevê-la. Talvez por timidez; por insegurança; ou falta de valor mesmo!

---- E agora, que estás tão longe do mundo literário, tu me inventaste para seguires perto dele. Sou o teu elo com a literatura; e por isso te vejo mais perto de mim. Tu também me necessitas. Não sou apenas mais uma bengala para apoiares as tuas dúvidas e inseguranças.

---- As coisas agora estão claras p'ra mim. Como meu criador, sou a tua alma; sou o que tu foste, ou querias ter sido; sou como és, um ser vivido, experiente, envelhecido e cansado. Se depender de mim, serei o que ainda fores, na tua vida ou na tua literatura.

---- Fomos, somos e sempre seremos uma fusão de mentes e de caráteres, a confundir o que seja real ou ficção. Não sabemos mais quando és tu; quando sou eu. O mais provável é que tenhamos um só corpo e uma só alma.

JCN – ABR – 2014 – jcneves45@yahoo.com.br