sábado, 30 de julho de 2011

Causo 19 Papagaio Olavo

PAPAGAIO OLAVO



Nicanor de Freitas Filho



Na segunda metade da década de 50, eu devia ter de 10 para 11 anos e me especializei num brinquedo: papagaio, ou pipa como chamam os cariocas. Fazia papagaios de papel de seda coloridos, bem leves, com varetas de bambu muito bem raspadas (pareciam lixadas) e usava como cola, o grude, que era polvilho cozido só em água, que guardávamos numas latas ou nos copos velhos. 

Eu era muito caprichoso. Media sistematicamente para ficar bem simétrico e não “pender” para nenhum lado. Raspava as varetas de bambu, com canivete, até ficarem lisinhas para não estragar o papel. Colava com todo o cuidado cada pedacinho da vareta  e gostava de fazer o arremate, para não rasgar fácil. O arremate vinha a ser a passagem da linha em cada extremidade das varetas cruzadas, cortava o papel um pouco maior e dobrava sobre esta linha e colava, cada cantinho. Para amarrar o cabresto – que é onde amarramos a linha da carretilha – eu media meticulosamente, pois ele tem que ficar preso exatamente na metade, entre a ponta e o cruzamento das varetas, em cima. Em baixo dever estar próximo de um terço entre o cruzamento das varetas e o ponta de baixo. A folga da linha deve permitir puxar o local da amarra a pelo menos 10 ou 15 cm do papel, dependendo do tamanho do papagaio.    Eram verdadeiras “obras de arte”, modéstia à parte. Os outros meninos que não sabiam fazer os seus papagaios, me pediam para eu fazer para eles. Então eu cobrava uma folha a mais, para fazer os meus, já que eu não tinha dinheiro para comprar e papagaio rasga muito fácil.

Aí, um dia o meu padrinho Ciso, fez uma “carretilha” para mim. Ele era mecânico eletricista e dos bons. Tinha boas ferramentas e material adequado. Colocou uma pequena engrenagem na manivela, de forma que quando eu dava um giro nela, as pás da carretilha giravam 3 ou 4 vezes. Assim, eu “puxava” os papagaios numa rapidez incrível. Todos morriam de inveja da minha carretilha!

Um dia eu estava soltando papagaio, grande, de 4 folhas, com um cordonê que eu tinha ganhado do Lulu (cordonê é uma linha bem grossa, quase um cordão), na excepcional carretilha, na porta do cemitério, porque lá não tinha postes para nos atrapalhar. Chegou lá um senhor, muito bem vestido, de terno e gravata ficou olhando nossa atividade. Chegou mais perto e perguntou:

“ – Que tamanho tem este papagaio!”

“ – 4 folhas de papel de seda”

“ – Até que tamanho dá para fazer um maior que este?”

“ – Nunca fiz maior não senhor, mas acho que dá para dobrar, fazer de 8 folhas!”

“ – Então faz um para mim, de 8 folhas.”

“ – Mas o senhor tem que me dar 8 folhas a mais em pagamento.”

“ – Não tem problema. Eu lhe dou as 16 folhas você faz o papagaio, pode ficar com ele pra você e ainda lhe dou 1 mil réis, para você soltá-lo todos os dias, aqui nesse lugar, por pelo menos 1 hora por dia.”

Era muito bom para ser verdade!

“ – Está bem, quando o senhor me entrega as folhas?”

“ – Agora! Onde que compra dessas daí?”

“ – Ali no Zé Afonso.”

“ – Ah! Uma coisa. Quero também que recorte e cole meu nome em baixo, bem grande. Podemos comprar as folhas amarelas e você escreve com azul, bem escuro. Você consegue recortar as letras? Escreva OLAVO. São só 5 letrinhas.”

“ – Está bem, vamos lá no Zé Afonso buscar as folhas de seda.”

Levei dois dias inteiros para fazer o “papagaião”, porque era difícil fazer tanto grude, emendar as varetas, porque não conseguia bambu daquele tamanho. Tive que inventar um jeito de amarrar duas varetas e colar por cima. Pior foi que eu não pensei direito e não deu certo fazer com 8 folhas. Tive que usar uma das minhas e fazer com 9 folhas, para ficar um retângulo que permitisse os cortes e o aproveitamento da maior área possível. Cortar aquelas letras. Fiz a primeira vez e ficou muito pequeno o nome. Vi que tinha que medir direito. Foi uma engenharia complicada! Perdi muito material e acabou ficando só um pouco maior que o meu de 4 folhas. Mas ficou bonito! Era um amarelo clarinho, quase palha, e o azul bem escuro, contrastava bem.  Fui soltar o papagaio “Olavo”, como ficou conhecido. Mas foram só dois dias, porque no segundo dia, ventou um pouco mais que o normal e o cordonê não agüentou e arrebentou e o Olavo foi embora...

Mas, com certeza, foi a primeira publicidade política feita em tal mídia: papagaio de 8 folhas!

O Sr. Olavo que conversou comigo, tratava-se do Dr. Olavo Drummond, que era candidato a Deputado Estadual naquele ano. Foi tudo feito honestamente! Sem Caixa 2. Se ajudei ou não, eu não sei, mas ele foi eleito...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Causo 18 Meu cachimbo inglês

Nicanor de Freitas Filho

Trabalhei por quase 10 anos como Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos de São Paulo. Tive oportunidade de viajar muito, a trabalho, é claro, mas sempre sobrava um tempinho para outras atividades, sociais e culturais.
Nesse período, participei de 8 feiras em Nova York, chamada “Back-to-School”, pois meus principais produtos de exportação eram cadernos escolares.
Essa feira se realizava sempre no mês de fevereiro, quando nevava muito e fazia muito frio por lá. E como ainda era moda, e até chique, eu fumava cachimbo, dizendo que era para esquentar. Quando voltava de lá, sempre trazia pacotes de fumo holandês, que era o que mais gostava.
Em 1985, formamos um Consórcio de Exportadores de “material escolar”, que ficou conhecido como PROTIME, que eram as iniciais das três fábricas: Propasa, Tilibra e Melhoramentos, o qual gerenciei por quase 3 anos.
Por economia, e até pela nossa amizade, o gerente da Propasa e eu, sempre ficávamos num apartamento duplo. Nesse ano, ficamos num hotel, embora velho, muito confortável, em frente ao Central Park (ele já foi demolido).
Chegamos, deixamos nossa bagagem e fomos até à 5ª Avenida, que fica ali bem pertinho, para fazer umas comprinhas. Eu comprei um cachimbo inglês, de raiz de roseira. Como o dono da Loja, já me conhecia, fez aquele ritual de queimar o bojo do cachimbo, utilizando conhaque francês Napoleon, para me agradar. Comprei minha cota de fumo holandês e ele me ofereceu um pacotinho de fumo, a granel, que segundo ele, era tão bom ou melhor que o holandês que eu tanto gostava.
Voltando ao hotel, tomei banho e fui “cachimbar” no novo cachimbo inglês, com o fumo ganho de amostra grátis.
Enquanto isto, meu colega, foi tomar seu banho.
Eu enchi o cachimbo, peguei o isqueiro novo, próprio para cachimbo (aquele que sai fogo pelo lado) e acendi meu novo cachimbinho. Como o fumo ainda estava muito úmido, fica mais difícil de acender e permanecer aceso. Assim fui usando o isqueiro e puxando a fumaça com vigor, para acender em definitivo o cachimbo.
Nisto tocou o telefone, era um amigo do meu colega. Chamei-o, passei o telefone para ele, que se enrolou numa toalha e começou a conversar com o amigo, no telefone. De repente, ouvimos um alarme muito forte tocando insistentemente. O amigo do meu colega, americano bem acostumado, que também ouviu o alarme, pelo telefone disse:
“- Cara, desliga esse telefone e cai fora rápido, porque está pegando fogo aí no seu hotel.”
Ele rapidamente, vestiu uma roupa, eu corri para pegar minha pasta de documentos, por causa dos dólares que estavam lá guardados (é!, naquele tempo, não tinha cartão de crédito, não. Levava travel-cheques ou notas mesmo) corremos para o corredor. Ele disse:
“- Em caso de incêndio, nunca usa o elevador.”
Mas nós estávamos no 18º andar!! Como fazer?
Nesta nossa indecisão, apareceu um funcionário do hotel (de uniforme) – nem deu bola para nós que estávamos ali parados - e com a chave mestra abriu rapidamente nosso quarto e começou a procurar. Pegou o telefone e avisou a portaria, que o apartamento estava vazio, mas que não tinha nenhum indício de incêndio.
Como a porta do quarto ficou aberta, pude notar, do corredor, que exatamente em cima do lugar que eu estive sentado cachimbando, havia um detector de fumaça e ao lado dele um pontinho vermelho piscando.
E o apavorado funcionário repetia ao telefone – provavelmente para portaria ou segurança – que não havia ninguém e que devia ter sido um defeito do detector de fumaça, pois que estava realmente com o sinal piscando... Pediu autorização e desligou.
Descemos pelos elevadores mesmo, ouvindo a mensagem, pelos alto-falantes, que estava tudo em ordem, que havia sido um alarme falso, provavelmente por algum defeito nos equipamentos.
Quando voltamos, bem mais tarde, tinha um envelope com uma nota dizendo que o apartamento fora aberto por motivos técnicos e que era para conferirmos se estava tudo em ordem. Nós confirmamos que sim. Não tive coragem de contar o que houve, porque o amigo do meu colega informou que poderíamos ser multados. Não sei se isto era verdade, mas também nem procurei saber...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Causo 17 A Cuiabaninha

Nicanor de Freitas Filho

            Fomos morar em Cuiabá, como já contei, e, lá fizemos muitos amigos. Conhecemos uma família, bem cuiabana, embora a mulher do nosso amigo, seja de São José do Rio Preto, mas “cuiabanou”, como eles dizem por lá.        
A filha mais nova deles, é uma menina, além de cuiabana pura, era muito chegada na avó, que conhecia tudo da cultura cuiabana. Ensinou-nos a comer banana com rapadura raspada.
Nossos amigos têm mais dois filhos, a mais velha e o menino que é o caçula.  São todos cuiabanos, isto é, nascidos em Cuiabá, pois ser cuiabano é quase que um estado de espírito. Eles têm   uma maneira muito especial de reagir às  situações. De modo geral, deixam os paulistas, que para lá vão, apavorados, pois são o que chamamos de “folgados”. Na verdade, vivem de acordo com as condições climáticas e os costumes deles. Nós é vamos para lá, aviltar a cultura deles.
         A filha mais nova, além de ser bem cuiabana, pelo que podíamos observar, não era das que mais estudavam. Tinha que ter sempre a ajuda da avó, muito severa e caprichosa, para fazer suas lições-de-casa. E mesmo assim, se a avó descuidasse um pouquinho, enquanto passava um café, a menina achava jeito de encerrar as atividades, dizendo que estava terminado.
            Num desses dias, que a avó não acompanhou até o fim os deveres dela, ela guardou tudo e foi para a escola no dia seguinte.
            Quando a professora começou a corrigir os deveres,  pegou o caderno dela, fez aquela “cara” e disse:
            – “Minha filha, você fez tudo errado. Olha que confusão você fez aqui”, disse ela mostrando os erros no caderno.
            Ela examinou a folha do caderno, fez aquela carinha de surpresa, pôs  as mãos no rosto e disse com a “cara” mais “lavada” do mundo:
            – “Oh professora, se está errado agora eu não sei, mas quando eu fiz estava tudo certinho, eu garanto.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

Causo 16 Na Redação do Estadão...

Nicanor de Freitas Filho

Trabalhei por 5 anos na OESP Gráfica, subsidiária do Grupo Estado, que era uma gráfica especializada em impressão e acabamento de livros. Considero que, profissionalmente, foi onde desenvolvi meu melhor trabalho.
            Eu era Gerente Comercial, mas a Gráfica tinha uma equipe bem afinada e nós trabalhávamos em conjunto. Nessa época, estávamos vendendo muito bem para as Editoras do mercado chamado “Porta-a-porta”, cujos principais produtos eram coleções de livros “capas-dura”. Assim, insisti para melhorar nosso equipamento de encadernação de capa-dura, que na época era uma máquina Kolbus muito antiga. Feitas as pesquisas, descobrimos uma empresa inglesa que reformava e vendia equipamentos gráficos e que tinha para reforma, exatamente uma encadernadora, como queríamos. Fomos, o Gerente de Produção, o Chefe da Manutenção e eu, a Leeds, na Inglaterra, onde era localizada a empresa que reformava, vimos a máquina e fechamos o negócio. Logo em seguida, o dono da empresa, viria mesmo à America do Sul e aproveitou para nos visitar.
            O nosso estabelecimento gráfico ficava em Alphaville e não era muito grande, assim, sempre que precisássemos “esnobar” nossa empresa, levávamos ao Estadão Jornal, na Marginal Tietê, aquele prédio bonito e vistoso. Aí, realmente podíamos esnobar, porque mostrávamos as rotativas, a pré-impressão, que naquela época já era toda digital, e, aproveitávamos para mostrar também a Redação, a Agência Estado, a Distribuição etc..
            Como meu inglês era o mais “entendível”, fui designado para buscar os visitantes no hotel e levá-los ao Estadão, o que era para mim um serviço rotineiro, já que tinha trabalhado na Melhoramentos por 10 anos, como Gerente de Exportação e levava visitas, do exterior, constantemente, tanto na Gráfica, como nas Fábricas em Caieiras.
            Chegando no prédio da Marginal, mostrei primeiro o saguão que é muito bonito, e se quiser contar “causos”, tem muitos para contar. Levei na pré-impressão, que tinha equipamento bem novo, mostrei as rotativas enormes e fui mostrar a Redação, pois todo mundo gosta de conhecer uma redação de jornal, principalmente do Estadão, que é reconhecido internacionalmente, como o maior e melhor jornal do Brasil.
            Quem nunca visitou uma redação, no caso de dois jornais juntos, Estadão e Jornal da Tarde, trata-se de um salão que ocupa todo o andar e é inteiramente aberto, ou seja, não tem divisórias, apenas baias de trabalho, bem baixas. Todo o mobiliário é de móveis de aço, aquelas mesas que tem um painel de aço na frente. Eu não tenho certeza, mas devem permanecer lá dentro, constantemente, cerca de 100 pessoas ou mais, pois são redatores, jornalistas, diretores,  e todo tipo de funcionários que trabalham lá, todos conversando, falando ao telefone, pedindo as coisas, ou seja, um verdadeiro “burburinho”!
A entrada é por uma porta de vidro temperado, de duas lâminas e como é um pouco superior ao piso que sai do elevador, tem dois degrauzinhos baixos de um lado, e, do outro lado é uma rampinha, para os office-boys passarem com o carrinho. Eu, muito preocupado em ser educado, abrir a porta fazer as visitas passarem, para lhes mostrar o que, talvez seja o mais importante na empresa, não tirei os olhos dos três visitantes que me acompanhavam, e, segurando a porta de vidro; quanto mais eu levantava o pé para subir os degrauzinhos, não os encontrava, porque, na verdade eu estava na rampa. Não sei explicar como –  se soubesse não teria acontecido – meu pé ficou preso na “rebarba” da rampa que a separa da escadinha. Eu saí do que chamamos de “cata-cavaco”, totalmente desequilibrado e nada me fazia levantar, fui caindo, caindo, tentando por as mãos no chão, mas o embalo foi grande e só fui parar com a cabeça na mesa da recepcionista, a uns 4 metros adiante, que como disse, era de aço, com aquela chapa bem na frente da mesa. Quando a careca bateu na mesa o estrondo foi o bastante para se fazer um silencio absoluto na Redação! Todos pararam para ver o que eu tinha quebrado e esperavam que não fosse a cabeça... Eu me levantei, levantei os braços, como quando um centro-avante faz o gol, e falei: “- Estou vivo!!!”
Não teve quem não caísse na risada. Até as visitas...
Realmente, poucas coisas são mais engraçadas do que um tombo desse tipo!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Causo 15 Macho não tem medo de nada!

Nicanor de Freitas Filho

Meu pai, já falecido, foi um pai exigente com os filhos, nos poucos anos que convivemos. Dentre um monte de bobagens, ele não admitia que nós, os homens, tivéssemos medo. De nada! Eu nunca gostei – e continuo não gostando – de escuro. Hoje, não vou dizer que tenho medo, mas me incomoda.
Lembro-me perfeitamente, quando morávamos no Veríssimo, minúscula cidade do Triângulo Mineiro, nos anos de 1.951 e 1.952, numa casa que tinha um quintal muito grande e na divisa com a casa da rua de baixo, morava uma família que tinha um filho, que na época chamávamos de “retardado”. Mas era muito anormal mesmo! Ele não morava na casa com os demais, mas vivia como um animal, no quintal deles. Era uma figura horripilante, magro, extremamente feio, que nunca conviveu com ninguém e não sabia nem falar, só balbuciava alguns sons estranhos. Como disse, vivia como um animal no fundo do quintal. Era uma figura assustadora, porque, além de tudo, vivia semi-pelado.  No Veríssimo, as propriedades não eram separadas por muros, mas por cercas, ou de taquara ou de arame farpado mesmo. O fato é que se via tudo no quintal do vizinho.
Pois meu pai me fez, mais de uma vez, ir ao fundo do nosso quintal, de noite, na escuridão, para mostrar que não tinha medo.  Nota: naquele tempo, não tinha luz nem nas ruas, imagine a escuridão do fundo do quintal.  Eu quase morri de medo e devo ter tremido pra burro, mas tinha que ser macho!!
Pois bem, meu pai era Presidente da Liga Araxaense de Desportos, e cuidava de toda documentação dos jogadores, na época deste caso, do Araxá Esporte. Por isso, ia muito a Belo Horizonte e para economizar ia, sempre que podia, de carona. Um dia, pegou carona com o Mozart, que tinha um caminhão Mercedes e lá se foram. Num determinado momento o Mozart, encostou o caminhão no acostamento e disse ao meu pai que estava com uma ponta-de-eixo quebrada. Desceu, pegou as ferramentas, levantou um dos lados do caminhão no macaco, retirou a roda, a tal ponta-de-eixo e perguntou ao me pai se ele queria pegar uma carona até à próxima cidade para achar alguém que soldasse a peça ou se preferia ficar tomando conta do caminhão, que ficou lá só com três rodas e no macaco. Meu pai, que não entendia de nada de mecânica, escolheu ficar tomando canta do caminhão. Isto era por volta das 19 horas. Então o Mozart disse para ele, que ali naquele pedaço, já vira muitas vezes umas bolas de fogo, que se formavam por causa da quantidade de cálcio e fósforo que tinha naquela região. Se acaso ele as visse, não tinha nenhum problema, que não era para ficar com medo. No que ele retrucou,
“ – medo, eu, Mozart?”
Passou um outro caminhoneiro e o Mozart pegou carona com ele e lá se foi para soldar a ponta-de-eixo.
Passaram-se várias horas e as tais bolas de fogo apareceram. Apesar de dizer que não teve medo, confessou que era um pouco assustador, aquelas bolas de fogo correndo no ar, mas como não tinha medo e o Mozart já tinha avisado, tudo bem. Não houve problemas. Só ficou um pouco “encucado” com aquilo. Como pode, formar bolas de fogo assim??
As horas passaram, o Mozart não voltou e bateu o sono. Armou a cama na cabine do Mercedinho, deitou e dormiu, apesar de ter ficado pensando nas tais bolas de fogo.  De madrugada, ainda escuro, acordou assustado como o caminhão tremendo, sacudindo! Parou! Balançou de novo, mas um sacolejo, que não parecia ser normal, parecia que o chão tremia! E continuou, balança e pára, balança e pára. Ele perguntou baixinho: “ – Mozart?”, mas não teve resposta. Perguntou de novo: “ – Mozart?” sem resposta. E a coisa continuava balança e pára, balança e pára... Então ele, que não tinha medo – e não podia ter medo – bem devagar, levou a mão ao porta-luvas, encontrou aquela cruzeta, para apertar parafuso de roda de caminhão, segurou firme, pensando como ia enfrentar a sombração ou ladrão, ele não fazia idéia do que era, mas estava preparado, de cruzeta em punho, firme e pensando, a surpresa  vai ser minha principal arma, pois a “tal coisa”, não deve estar esperando. Se for um ladrão eu furo logo um dos olhos dele, e, tem que ser ladrão, porque “eu não acredito em sombração”!!  Procurou a maçaneta da porta do lado do carona, se preparou do jeito que pode, abriu a porta, pulou, como um samurai para fora do caminhão, com um grito de guerra: “ – iiiaáááááh!!!!”
Aí a vaca, que estava coçando o lombo na ponta da carroceria, que estava mais levantada, se assustou e saiu correndo, para alívio do velho, “que não tinha medo”!!!!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Causo 14 No Oftalmologista

Nicanor de Freitas Filho

Outro causo da  minha filha, que como já disse, ela sempre foi muito esperta, e, não é “corujisse” minha.
Quando ela era bem pequena, achávamos que ela era um pouquinho estrábica e falamos com o oftalmologista muito nosso amigo. Ele disse para não se preocupar e a levasse ao consultório quando ela tivesse mais ou menos 2 anos. Então quando ela completou os 2 anos, minha esposa, foi levá-la ao consultório do oftalmologista, que ficava, naquela época, na Av. Rio Branco, quase esquina da Av. Ipiranga, lugar difícil de chegar. Por isso ela entrou numa esquina antes para chegar ao estacionamento. Tomou uma rua estreita do centro antigo (acho que Rua Guaianazes), que estava com o trânsito congestionado e ficou parada alguns minutos. Minha filha, no banco de trás, mas sempre muito atenta com os acontecimentos, tocou no ombro da mãe e falou:
-          “Manhêêê, vai de “catamão”.
É claro que ela queria falar para mãe ir na contra-mão, que não tinha fluxo.
Não bastasse isto, chegando no consultório, ela com dois anos, o oftalmologista, sentou-a na poltrona, fez aquele monte de perguntas tradicionais, anotou tudo na ficha, procurou o jogo de slides para crianças, que tem no lugar das tradicionais letras, casinha, garrafinha, coelhinho, girafinha, etc.. Pegou aquela luz mágica que coloca apontada para nossa pupila, jogou o feixe de luz nos olhos dela e perguntou:
-          “O que a nenem está venda lá na parede?”
-          “A lua, ela respondeu de pronto.”
Mas no jogo de slides não tinha nenhuma lua. Ele então olhou para trás e viu uma bola branca projetada na parede. Ele tirou o jogo de slides de letras do projetor, mas havia se esquecido de colocar o jogo infantil...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Causo 13 Cirurgia de Catarata

Nicanor de Freitas Filho
Tenho um bom amigo, cujo sogro, morava em Santos, no litoral paulista. Além de pai da esposa do meu amigo, ele tinha mais dois filhos, ambos médicos. Não sei quais as especialidades deles, mas são médicos.
            Era na década de 70, e, um dia, o pai queixou que estava com um problema na vista. O filho, médico, levou a um colega oftalmologista e detectou catarata nos dois olhos. Como ele já estava com mais de 70 anos, tinha que operar logo, pois a catarata já estava em estado bem adiantado, com visão abaixo de 50%.
            Ao ser informado da necessidade da cirurgia, o velho só respondeu:
 – “Ninguém vai me cortar! Nunca precisei disso, não vai ser agora, com mais de 70 anos que vou precisar!”
            Por mais que os filhos insistissem, ele se negava, inclusive, a voltar ao médico que queria “cortá-lo”, segundo ele mesmo dizia. Ninguém conseguia convencê-lo da necessidade da cirurgia.
            Até que um dia ele teve outro problema de saúde, foi internado, precisou ser anestesiado – anestesia geral – e aí os dois filhos programaram a cirurgia, chamaram o oftalmologista amigo, se responsabilizaram pela atitude, assinaram todos os papeis e operou-se o olho direito do velho. (Para quem não sabe, naquela época, a cirurgia era feita com bisturi, cortava em volta da córnea e arrancava o cristalino. Fazia a cirurgia de um olho e depois de alguns meses do outro olho. Não era como hoje, a laser, que sai da clínica andando, com os dois olhos operados e com cristalinos implantados. Nem precisa óculos.)
            Quando o velho voltou da anestesia, sabia que tinha sido “cortado” no tórax, que estava um pouco dolorido mesmo, mas o que havia acontecido? Porque aquele curativo no olho direito? Antes que ele arrancasse tudo, o filho mais velho, explicou a ele que, já que estava anestesiado, precisaria mesmo uns dias de UTI no pós-operatório, resolveram operar a catarata também.
            O velho ficou louco de raiva dos filhos e do amigo que fez a cirurgia. Quando este chegou para examiná-lo, quase que teve que ser anestesiado novamente, porque falou todos os palavrões que sabia, para o amigo do filho, chegando a ameaçá-lo. Como ele era muito amigo da família, tentou explicar as vantagens, mas por mais que tentasse explicar, o velho ralhava e ameaçava. O oftalmologista, tentando ficar de bem com o velho, falou com ele:  
– “É bom o senhor me tratar bem, porque ainda temos que operar o olho esquerdo, daqui uns meses.”
O velhinho quase subiu pelas paredes da UTI, dizendo que nenhum “malandro” iria mais colocar a mão nele. Falou mais, que os filhos estavam deserdados e que não os queria mais em casa. Enfim, fez todos os desaforos e xingamentos que tinha direito! Mal sabia ele que teria que “aturar”, todos os dias, aquele oftalmologista “malandro” fazendo curativo nos olhos dele. Cada vez que se aproximava para examinar, o velho fazia gestos de que iria bater nele. E assim foi por uns 5 dias. Depois ainda teria que ir à Clínica para novas consultas e receituário para os óculos. Era demais para o velho, cuja vontade era dar uma surra nos filhos e no colega deles.
            Chegou o dia do receituário dos óculos. Já que tinha sido operado mesmo, tinha que aceitar a usar os óculos, senão não enxergaria nem os 50% do outro olho.
Foi à Clínica, aproveitou para falar mais uns tantos desaforos para o oftalmologista, dizer que nunca mais ele poria a mão nele, etc. etc., mas pegou a receita e aviou os óculos, que ficaram prontos em dois dias.
            No terceiro dia – segundo dia que ele estava usando os óculos novos - ele voltou à Clínica, praticamente invadindo-a, passando por cima da recepcionista, entrando na sala do oftalmologista, bateu firme na mesa dele e disse: 
– “Agora vamos ter uma briga de verdade!”
O pobre médico, sem a presença dos filhos do velho ali, para lhe dar suporte, ficou sem saber como agir. Quase entrou debaixo da mesa. Mas não tendo alternativa, perguntou o que foi agora? O velho muito sério, voltando a bater na mesa, disse: 
– “Vamos ter que operar o olho esquerdo na semana que vem, não vou esperar 6 meses não senhor!”
– “ Mas o que houve?” Perguntou o médico.
– “ Meu, passei agora mesmo pela banca de jornal, e não sabia que se publicava tantas capas de revistas com mulheres peladas e tão gostosas assim! Preciso enxergar melhor esse negócio!”

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Causo 12 Colocação do Lustre

Nicanor de Freitas Filho

Tenho um grande amigo, que considero quase irmão, mineiro de Muriaé, mas que mora no Rio de Janeiro, desde “mocinho”.
            Um dia ele foi promovido a Gerente Geral de uma Financeira aqui em São Paulo e teve que mudar com a família. Aí nossa amizade se estreitou mais ainda e foi muito bom enquanto ele morou aqui em São Paulo.
            Para se ter uma idéia de como somos amigos e tanto que ele confia em nós, no dia que se mudou para São Paulo, me ligou dizendo que não tinha como fazer comida em casa e se convidou a ir jantar na minha casa. Achamos ótima a idéia e nos preparamos para recebê-los. Ele, a esposa e as duas filhas. Ao chegarem em casa ele me entregou um jogo de chaves de sua casa nova e me disse que queria saber onde elas ficariam guardadas, na minha casa, para o caso de ele necessitar, por exemplo, esquecendo as chaves dele  numa viagem, ou sendo roubada a bolsa com as chaves, ou outro motivo qualquer, ele saberia onde estariam as cópias dele. Disse mais, que gostaria de ter um jogo de chaves da minha casa também, pelos mesmos motivos. Assim nunca ficaríamos “apertados” por falta de chave de casa. Vai ser precavido pra lá...
            Bem, quando foi no sábado, ele me “convocou” para ajudá-lo a colocar os lustres e outros aparelhos, que se necessita de ajudante. Era um mês de dezembro e estava um calor de rachar mamona, em São Paulo. A “convocação” compreendia também o almoço, na casa dele.
            Ele, como já deu para ver, é a pessoa mais precavida que conheço. Assim, quando cheguei lá, de bermuda e camiseta, para suportar o calor, ele me mostrou que todos os lustres dele, tinham na ponta do fio, um soquete, pois ele tinha costume de instalar um pino na ponta do fio da eletricidade. Deste modo era sempre fácil, para por e tirar, porque bastava desligar o pino do soquete e já estava livre. Não precisava daquele negócio de ficar descascando e isolando fios elétricos, que demora e é sempre menos seguro. Muito bem pensado!
            O lustre da sala era grande e pesado, com umas dez ou doze lâmpadas. Duas escadas, um segurando o outro amarrando, ambos suando à bicas, pelo calor que estava. Finalmente, depois de quase uma hora, conseguimos instalar o lustre pesadão! Ufa! Que alívio! Que calor! Aí ele disse:
– “Bem que merecemos uma cervejinha agora, não?”
            É claro que aceitei e finalmente pudemos sentar um pouquinho, para saborear nossa Brahma e refrescar um pouco do calor que sentíamos. Ficamos jogando um pouco de conversa fora, quando ele parou com a latinha de cerveja, encostada nos lábios e me perguntou:
            – “Você conectou o pino da eletricidade no soquete do lustre?”
            Olhamos um na cara do outro e eu disse:
            – “Eu não! Você conectou?”
            – “Eu também nããããooooo!!!
            – “Aaaahhhhhhh!!! Começar toda operação de novo???!!!...

domingo, 10 de julho de 2011

Causo 10 Agrotécnica

Causo 10 Agrotécnica de Muzambinho
Nicanor de Freitas Filho
Vou contar dois causos seguidos, ambos das Escolas Agrotécnicas. Um da de Muzambinho e outro da de Pinhal, porque, como verão, ambas tem alguma relação à pontaria...

            De 1.956 a 1.960 eu estudei na Escola Agrotécnica de Muzambinho, no sul de Minas Gerais. E muito me orgulho, pois foi escola de vida para mim. Eu tinha apenas 12 anos quando fui para lá e saí de lá com 17 anos, porque por problemas políticos, acabaram com o Técnico Agrícola, naquela escola, voltando 3 anos depois.
Toda falta que se cometia era punida com “prisão” na escola, isto é, quem fosse pego fumando, por exemplo, não podia ir à cidade no final de semana. Se a falta fosse mais grave, como briga como sangramento de nariz, podeia pegar até 15 dias de “gancho”. E o pior, tinha que limpar a escola, varrer as salas de aula, dormitórios, corredores, que eram enormes, lavar os banheiros etc..
Num desses “ganchos”, que fui pego fumando, ficamos cerca de uns 8 “presos”, entre eles o Maurinho e o Waldermar, ambos de Uberaba, muito amigos, jogavam futebol  juntos, e, como todos amigos, viviam brigando, por qualquer coisa. Estávamos varrendo a área, em frente aos dormitórios, quando eles “quebraram o pau”. Sei que o Maurinho saiu correndo na frente e o Waldemar atrás, ambos com uma vassoura na mão. Entre dois dormitórios ficavam os banheiros, com portas para ambos os lados. O Maurinho corria e ia passando pelas portas e as puxava, para o Waldemar ter o trabalho de abrí-las, e, com isto ele livrava uma distância maior. Numa dessas o Maurinho puxou a porta e o Waldemar estava muito perto, não teve tempo de segurar a porta nem desviar e pegou-a na perpendicular, batendo com o peito em cheio e caindo duro para trás. Mas nem deu tempo de chegar alguém para ajudar. Ele ficou com mais raiva ainda e disparou para cima do Maurinho. Encantoou-o no dormitório, levantou a vassoura e desceu-a na perpendicular, na cabeça do Maurinho. Ele não tendo mais recurso de defesa, apenas levantou o cabo de sua vassoura, mas no sentido vertical e segurou com as duas mãos, ficando a ponta do cabo da vassoura um pouco acima de sua cabeça. Pois foi alí mesmo que o Waldemar acertou a “vassourada”, com tanta força que quebrou o cabo da vassoura dele. Todos ficamos admirados “com a pontaria” e começamos a rir, inclusive os dois contendores, e não brigaram mais.

Causo 11 Agrotécnica de Pinhal


Contando este caso do Waldemar e do Maurinho, lembrei-me do caso do Casagrande, lá na Escola Agrotécnica de Pinhal, onde estudei de 1.962 a 1.963.

            Tínhamos lá, um professor, chamado Cavagnolli, que era muito ativo. Sempre arranjava excursões, trabalhos e visitas fora da Escola. Nunca vou me esquecer o dia que nos levou para conhecer a fábrica de pinga Paineiras – a Rainha das abrideiras – que fogo! Fiquei bêbado 3 dias...

            Um dia o Cavagnolli arranjou uma excursão ao Salão do Automóvel, em São Paulo, no tempo que ainda era no Ibirapuera. Para viabilizar o passeio, ele tratou de conseguir uma vaca para matarmos e fazer sanduíches para podermos passar o dia em São Paulo, sem morrer de fome, porque dinheiro ninguém tinha mesmo, nem a Escola tinha verba para isto. Além do mais iríamos utilizar só os dois pernís para os sanduíches e o resto ficaria mesmo na Escola para as refeições cotidianas.

            Como era minha turma que iria passear, teríamos que providenciar tudo, inclusive matar a vaca. Fomos para o estábulo, laçamos a vaca que nos foi destinada, levamos para um dos boxes onde era possível abater o animal, porque tinha uma argola chumbada na parede. Puxamos a pobre da vaca até à tal argola, encurtamos o laço até que ela ficou com a cabeça para baixo e  bem junto à parede, sem ver o estava acontecendo acima dela.

Enquanto executávamos esta operação, para nós complicada, porque não tínhamos experiência, o pessoal que terminou o serviço na horta, ia subindo e passando pelo estábulo, parava para apreciar “nossa operação”. Dentre eles, estava o Casagrande, que era mais experiente que nós, porque era filho de capataz e, obviamente já tinha matado vacas antes. Ele não se contentou em somente ver, mas, como a vaca já estava totalmente imobilizada, na argola da parede, ele pulou para dentro do box. Como vinha da horta, estava com uma enxada na mão. Pos-se a dar palpites, com a enxada no chão, entre seus pés, e com o queixo apoiado no cabo que ele segurava na ponta com as mãos, para não machucar debaixo do queixo.

Nisto a operação seguia em frente. Um dos colegas da minha classe, pegou aquela faca enorme e fina e uma marretinha. Íamos matar a vaca, por quebra da medula, isto é, finca-se a faca, no que seria a nuca da vaca e bate com a marreta, para cortar de vez a medula. É morte instatânea!

Quando este colega fincou a faca e tentou dar a primeira marretada, esta resvalou e só fincou um pouco. A vaca ficou louca e deu um tranco, soltando a argola da parede e partiu para cima do Casagrande, que por puro instinto, virou a enxada na cabeça da vaca. Não é que ele acertou bem em cima da faca, que atravessou o pescoço da vaca, de tanta força que pôs. Esta amoleceu as quatro patas de uma só vez e caiu morta... Mas antes dela cair o Casagrande já tinha pulado a mureta e já tinha corrido uns cinqüenta metros...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Causo 9 O bolo de casamento

Nicanor de Freitas Filho

            Araxá, até hoje é uma cidade pequena, deve ter atualmente (2.011) entre 90.000 e 95.000 habitantes. Mas era muito menor por volta de 1.940 e todo mundo conhecia todo mundo. Sempre foi uma cidade muito católica, e por isso tem uma Igreja Matriz muito bonita e vistosa, que como em toda cidade do interior, fica numa praça, a Praça de São Domingos, padroeiro de Araxá.
            Dona Luizinha, que era diretora do Grupo Escolar, morava na praça ao lado da Matriz, pertinho do Grupo, e, era uma pessoa muito bondosa e preocupada com os mais pobres. Absolutamente, não era como os nossos políticos atuais. Um dia, após o casamento de uma de suas filhas, havia sobrado o bolo quase que inteiro e era um bolo enorme, daqueles de três ou quatro andares, bem alto. Mandou que dois de seus empregados levassem o tal bolo para a Vila de São Vicente, que era - e ainda é - um local onde vivem muitos velhinhos, que passam por necessidades. Nada melhor para eles do que ganhar um grande bolo, que desse para todos comer. Realmente, muito bem pensado pela dona Luizinha.
            Acontece que naquele tempo não se tinham carros e a condução mais comum era a carroça, mas que geralmente ficava na fazenda. Assim os dois empregados tinham que encontrar uma forma para carregar aquele bolo enorme e razoavelmente pesado, por um longo caminho, talvez uns vinte quarteirões. Depois de “quebrarem a cabeça”, acharam a solução. Havia uma porta que tinha sido tirada para se consertar as dobradiças. Era só dar um jeito de pregar umas alças para segurar e poderiam levar o bolo, como se fosse uma maca.
            Arrumaram tudo e saíram, já de tardizinha, com aquele enorme bolo branquinho, de quatro andares. Quando dobraram a esquina para entrar na avenida Getulio Vargas, que leva à Vila de S. Vicente, bem ao lado da Igreja, uma dessas senhoras, que o pessoal chama de “beata”, viu aquele “andor” com a Virgem Maria, pois era branquinho. Ela devia estar sem óculos, que naquele tempo eram muito caros. Não pensou duas vezes, sacou o seu terço, que estava sempre ali, na bolsa de plantão, começou a rezar e saiu atrás dos empregados, logicamente, imaginando que se tratava de uma procissão. E se era procissão ela não poderia perder. Tinha que acompanhar. Afinal, o que pensariam  suas amigas, quando soubessem que ela, que era  católica tão fervorosa, tinha perdido um procissão?!
            E assim pensaram várias outras senhoras e também alguns senhores da Congregação Mariana, e, até outras pessoas católicas. O fato é que quando os empregados de dona Luizinha chegaram com o bolo na Vila, estavam sendo seguidos por  mais de cinquenta pessoas, em fervorosas orações.

Esportes 3 Resposta ao Epaminondas

 Seu Epaminondas,
O senhor tem razão quando fala que critiquei o Dunga. Critiquei mesmo! Não me arrependo.
Veja bem:  O que está faltando ao time do Mano é padrão de jogo. Na verdade, faltou seriedade aos jogadores. O Neymar fazendo as firulas dele. Sempre arranjando uma confusãozinha (desta vez com o Técnico da Venezuela). Não estou discutindo quem começou, o fato é que ele sempre tem se metido em confusõezinhas . Sabe porque? Porque o Dunga não os convocou na hora certa, para eles aprenderem como se comportar.  Se tivesse feito isto, eles teriam jogado com mais seriedade e competência e não teríamos dado aquele vexame.
Entre parênteses: (Sabe porque o Ronaldo Fenômeno, foi o que foi na Copa de 2002? Exatamente porque foi convocado em 1994, com 17 anos. Não jogou nenhuma vez. Mas aprendeu!!! E muito, tanto que foi um grande jogador em 1998, e como falhou – não no futebol, mas na emoção ou algo assim – o time perdeu o jogo final para a França. Deu para entender??) Fecha parênteses.
Vi, no mesmo dia, mais dois jogos da Seleção Brasileira, onde a demonstração de seriedade, competência e dedicação dos (as) jogadores (as) ficou evidente. Estou me referindo ao Jogo da Seleção Feminina contra a Noruega e da Seleção Sub-17, contra o Japão. Ambos Mundiais.
A Marta deu um  show. O primeiro gol, numa típica “malandragem”  ela deu uma ajudazinha à loirona, para cair, porque ela estava atrapalhando a corrida dela, deu uma balançada na frente da becona, que tentou fazer o pênalti – e nem isso conseguiu – e colocou no cantinho fora do alcance da goleira.
No segundo gol, deu uma arrancada – tipo Ronaldo em 2002 – e quando ficou cercada por 4 adversárias, rolou para a Rosana fazer o gol.
No terceiro, como disse o Juca Kfuri, até o Pelé assinaria, pois ela tinha duas defensoras e a goleira pela frente. Gingou e virou todo o corpo, para chutar de esquerda, no canto direito da goleira, coitada!
Em compensação vimos o Robinho chutar fraquinho, praticamente sem goleiro, para dar tempo do beque  “escorregar”  e tirar de ombro. Vimos o Neymar querendo fazer um “golaço” colocando no ângulo, mas colocou para fora!!  Ambos, falta de seriedade!
A Seleção Sub-17, jogou muito, principalmente com Adryan, Léo, Ademilson,  Marquinhos & Cia., apesar do aperto que passaram no final do segundo tempo, quando estavam ganhando de 3 x 0 e deixaram o Japão fazer 3 x 2, em duas falhas da defesa. A segunda do Goleiro Charles.
O Adryan fez um gol de craque – daqueles que só craque mesmo fazem – dando uma “quebrada” no beque que quando percebeu, já era, não tinha mais o que fazer...
Voltando às críticas ao Dunga, acredito que se ele tivesse convocado os meninos mais cedo – mesmo que não precisasse deles – eles teriam aprendido muito, como o Ronaldo aprendeu em 1994. Engraçado não é (?), o Dunga testemunhou a importância da convocação do Ronaldo, pois ele acabou capitão da Seleção, que levantou o caneco do tetra. Testemunhou mas não aprendeu...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Causo 8 Doce de leite

Nicanor de Freitas Filho

           Minha prima de Uberaba, conta umas estórias da família dela, que são realmente engraçadas. Conta ela que tinha uma tia doceira, isto é, que gostava muito de fazer doces. E, segundo ela conta, essa tia fazia um doce-de-leite que era uma delícia. Assim, quando fazia o tal doce, todos os sobrinhos queriam raspar o tacho. Para se ter uma idéia, os doces no interior eram feitos em tachos de cobre, enormes que davam para vários quilos de doce.

             Num belo dia a tia fez o tal doce-de-leite e antes de ela tirar do fogo, todos os sobrinhos já estavam de colher em punho para raspar o tacho, que normalmente é colocado no chão, para esfriar um pouco. Depois o doce é colocado, geralmente sobre a pedra de granito da pia-da-cozinha. Só aí é que o pessoal fica pedindo para a tia não tirar todo o doce, e deixar bastante raspa, para a molecada se refastelar do doce.

            Nesse dia, enquanto a tia tirou o tacho do fogão a lenha, colocou no chão para esfriar, no meio daquela confusão, todos querendo ser o primeiro a raspar o tacho, um deles caiu sentado dentro do tacho. E claro que levantou rapidinho e com as mãos puxava a calça para desencostar na pele e gritava para os primos:

            - Raspa gente, raspa rápido que está queimando minha bunda...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Esportes 2 Brasil 0 x 0 Venezuela

Profundamente lamentável...
 ...foi a estréia do Brasil na Copa América 2011. Eu até já esperava, senão vejamos:
1 – O mano Menezes não fez nenhuma convocação  - de oito amistosos – que fosse convincente. Sempre “inventou” alguma coisa.
2 – Não venceu nenhum jogo importante. Refiro-me aos jogos contra Argentina, França, Holanda e obviamente o de abertura da Copa América e até por ser a Venezuela, de quem não ganhamos há muito tempo (três últimos jogos).
3 – Pela convocação que fez, levando Fred, Ramirez, Elano, Jadson, Sandro, Jefferson, Robinho???  Este último, desde o dia do beijo no Zidane, naquela eliminação do Brasil na Copa de 2006, não me engana mais. Sinceramente tinham jogadores melhores para levar, nesta Copa América.
3 – Pela escalação inicial do time, principalmente escalando como titulares, Ramirez e Robinho.
4 – Quando tirou o Robinho e colocou o Fred? Tendo no banco Lucas?
5 – Só substituiu o Ramirez por contusão, mas colocar justo o Elano?
6 – Quando colocou o Lucas, tirou exatamente o Pato – único jogador que fez o que esperávamos (na verdade esperava que fizesse o gol e não acertasse a trave).
 Então foi assim: Ramirez acertou só dois passes. Robinho, Neymar e Ganso, não apareceram para jogar.  Neymar até que apareceu, mas para fazer firulas... Jogar que é bom...
 Chico Anízio já ensinava: futebol é simples: defesa é organização; meio campo é criatividade; ataque é eficiência. Nossa defesa, embora não tivesse a organização esperada, não comprometeu. O meio campo teve nota zero em criatividade, assim como a eficiência do ataque.
 Pensando assim, teria montado um time, não muito diferente – tirando o Ramirez, o Robinho e talvez o André (parece que o Marcelo tem mais experiência), embora o André não tenha comprometido – mas tem que criar um padrão de jogo e exigir desses jovens a seriedade!
 Mano, você é um excelente técnico, como mostrou no Grêmio e no Corinthians, mas está disposto a enfrentar as pressões da Seleção Brasileira? Não sei se existe mesmo aquela história de ser “obrigado” a convocar os contratados pelos patrocinadores da CBF, nem sei se existe algum interesse em convocar esse ou aquele jogador, para ser vendido depois. O fato é que você não anda convocando muito bem. Pior, não montou, até agora, um time, com algum padrão.  “Tá” parecendo o Dunga...Ontem foi lamentável!
 Deus queira que o 0 x 0 de ontem tenha sido o mesmo da derrota para Honduras, num dos jogos do Felipão, que depois foi penta... Em 2014 não podemos ter outro “Maracanazo”!!!!!