terça-feira, 26 de julho de 2011

Causo 18 Meu cachimbo inglês

Nicanor de Freitas Filho

Trabalhei por quase 10 anos como Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos de São Paulo. Tive oportunidade de viajar muito, a trabalho, é claro, mas sempre sobrava um tempinho para outras atividades, sociais e culturais.
Nesse período, participei de 8 feiras em Nova York, chamada “Back-to-School”, pois meus principais produtos de exportação eram cadernos escolares.
Essa feira se realizava sempre no mês de fevereiro, quando nevava muito e fazia muito frio por lá. E como ainda era moda, e até chique, eu fumava cachimbo, dizendo que era para esquentar. Quando voltava de lá, sempre trazia pacotes de fumo holandês, que era o que mais gostava.
Em 1985, formamos um Consórcio de Exportadores de “material escolar”, que ficou conhecido como PROTIME, que eram as iniciais das três fábricas: Propasa, Tilibra e Melhoramentos, o qual gerenciei por quase 3 anos.
Por economia, e até pela nossa amizade, o gerente da Propasa e eu, sempre ficávamos num apartamento duplo. Nesse ano, ficamos num hotel, embora velho, muito confortável, em frente ao Central Park (ele já foi demolido).
Chegamos, deixamos nossa bagagem e fomos até à 5ª Avenida, que fica ali bem pertinho, para fazer umas comprinhas. Eu comprei um cachimbo inglês, de raiz de roseira. Como o dono da Loja, já me conhecia, fez aquele ritual de queimar o bojo do cachimbo, utilizando conhaque francês Napoleon, para me agradar. Comprei minha cota de fumo holandês e ele me ofereceu um pacotinho de fumo, a granel, que segundo ele, era tão bom ou melhor que o holandês que eu tanto gostava.
Voltando ao hotel, tomei banho e fui “cachimbar” no novo cachimbo inglês, com o fumo ganho de amostra grátis.
Enquanto isto, meu colega, foi tomar seu banho.
Eu enchi o cachimbo, peguei o isqueiro novo, próprio para cachimbo (aquele que sai fogo pelo lado) e acendi meu novo cachimbinho. Como o fumo ainda estava muito úmido, fica mais difícil de acender e permanecer aceso. Assim fui usando o isqueiro e puxando a fumaça com vigor, para acender em definitivo o cachimbo.
Nisto tocou o telefone, era um amigo do meu colega. Chamei-o, passei o telefone para ele, que se enrolou numa toalha e começou a conversar com o amigo, no telefone. De repente, ouvimos um alarme muito forte tocando insistentemente. O amigo do meu colega, americano bem acostumado, que também ouviu o alarme, pelo telefone disse:
“- Cara, desliga esse telefone e cai fora rápido, porque está pegando fogo aí no seu hotel.”
Ele rapidamente, vestiu uma roupa, eu corri para pegar minha pasta de documentos, por causa dos dólares que estavam lá guardados (é!, naquele tempo, não tinha cartão de crédito, não. Levava travel-cheques ou notas mesmo) corremos para o corredor. Ele disse:
“- Em caso de incêndio, nunca usa o elevador.”
Mas nós estávamos no 18º andar!! Como fazer?
Nesta nossa indecisão, apareceu um funcionário do hotel (de uniforme) – nem deu bola para nós que estávamos ali parados - e com a chave mestra abriu rapidamente nosso quarto e começou a procurar. Pegou o telefone e avisou a portaria, que o apartamento estava vazio, mas que não tinha nenhum indício de incêndio.
Como a porta do quarto ficou aberta, pude notar, do corredor, que exatamente em cima do lugar que eu estive sentado cachimbando, havia um detector de fumaça e ao lado dele um pontinho vermelho piscando.
E o apavorado funcionário repetia ao telefone – provavelmente para portaria ou segurança – que não havia ninguém e que devia ter sido um defeito do detector de fumaça, pois que estava realmente com o sinal piscando... Pediu autorização e desligou.
Descemos pelos elevadores mesmo, ouvindo a mensagem, pelos alto-falantes, que estava tudo em ordem, que havia sido um alarme falso, provavelmente por algum defeito nos equipamentos.
Quando voltamos, bem mais tarde, tinha um envelope com uma nota dizendo que o apartamento fora aberto por motivos técnicos e que era para conferirmos se estava tudo em ordem. Nós confirmamos que sim. Não tive coragem de contar o que houve, porque o amigo do meu colega informou que poderíamos ser multados. Não sei se isto era verdade, mas também nem procurei saber...

2 comentários:

  1. Freitas. Bons tempos de Melhoramentos. Foi bom relembrar!!

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    1. Lena, para mim foram os 10 anos que mais aprendi na vida, pois fiz 47 viagens internacionais. É pena que naquele tempo eu ia sozinho e não anotava nada. Tenho que escrever o que lembro, e, a memória de um velhinho de 68 anos não é assim tão boa, né?

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Nicanor de Freitas Filho