terça-feira, 12 de julho de 2011

Causo 13 Cirurgia de Catarata

Nicanor de Freitas Filho
Tenho um bom amigo, cujo sogro, morava em Santos, no litoral paulista. Além de pai da esposa do meu amigo, ele tinha mais dois filhos, ambos médicos. Não sei quais as especialidades deles, mas são médicos.
            Era na década de 70, e, um dia, o pai queixou que estava com um problema na vista. O filho, médico, levou a um colega oftalmologista e detectou catarata nos dois olhos. Como ele já estava com mais de 70 anos, tinha que operar logo, pois a catarata já estava em estado bem adiantado, com visão abaixo de 50%.
            Ao ser informado da necessidade da cirurgia, o velho só respondeu:
 – “Ninguém vai me cortar! Nunca precisei disso, não vai ser agora, com mais de 70 anos que vou precisar!”
            Por mais que os filhos insistissem, ele se negava, inclusive, a voltar ao médico que queria “cortá-lo”, segundo ele mesmo dizia. Ninguém conseguia convencê-lo da necessidade da cirurgia.
            Até que um dia ele teve outro problema de saúde, foi internado, precisou ser anestesiado – anestesia geral – e aí os dois filhos programaram a cirurgia, chamaram o oftalmologista amigo, se responsabilizaram pela atitude, assinaram todos os papeis e operou-se o olho direito do velho. (Para quem não sabe, naquela época, a cirurgia era feita com bisturi, cortava em volta da córnea e arrancava o cristalino. Fazia a cirurgia de um olho e depois de alguns meses do outro olho. Não era como hoje, a laser, que sai da clínica andando, com os dois olhos operados e com cristalinos implantados. Nem precisa óculos.)
            Quando o velho voltou da anestesia, sabia que tinha sido “cortado” no tórax, que estava um pouco dolorido mesmo, mas o que havia acontecido? Porque aquele curativo no olho direito? Antes que ele arrancasse tudo, o filho mais velho, explicou a ele que, já que estava anestesiado, precisaria mesmo uns dias de UTI no pós-operatório, resolveram operar a catarata também.
            O velho ficou louco de raiva dos filhos e do amigo que fez a cirurgia. Quando este chegou para examiná-lo, quase que teve que ser anestesiado novamente, porque falou todos os palavrões que sabia, para o amigo do filho, chegando a ameaçá-lo. Como ele era muito amigo da família, tentou explicar as vantagens, mas por mais que tentasse explicar, o velho ralhava e ameaçava. O oftalmologista, tentando ficar de bem com o velho, falou com ele:  
– “É bom o senhor me tratar bem, porque ainda temos que operar o olho esquerdo, daqui uns meses.”
O velhinho quase subiu pelas paredes da UTI, dizendo que nenhum “malandro” iria mais colocar a mão nele. Falou mais, que os filhos estavam deserdados e que não os queria mais em casa. Enfim, fez todos os desaforos e xingamentos que tinha direito! Mal sabia ele que teria que “aturar”, todos os dias, aquele oftalmologista “malandro” fazendo curativo nos olhos dele. Cada vez que se aproximava para examinar, o velho fazia gestos de que iria bater nele. E assim foi por uns 5 dias. Depois ainda teria que ir à Clínica para novas consultas e receituário para os óculos. Era demais para o velho, cuja vontade era dar uma surra nos filhos e no colega deles.
            Chegou o dia do receituário dos óculos. Já que tinha sido operado mesmo, tinha que aceitar a usar os óculos, senão não enxergaria nem os 50% do outro olho.
Foi à Clínica, aproveitou para falar mais uns tantos desaforos para o oftalmologista, dizer que nunca mais ele poria a mão nele, etc. etc., mas pegou a receita e aviou os óculos, que ficaram prontos em dois dias.
            No terceiro dia – segundo dia que ele estava usando os óculos novos - ele voltou à Clínica, praticamente invadindo-a, passando por cima da recepcionista, entrando na sala do oftalmologista, bateu firme na mesa dele e disse: 
– “Agora vamos ter uma briga de verdade!”
O pobre médico, sem a presença dos filhos do velho ali, para lhe dar suporte, ficou sem saber como agir. Quase entrou debaixo da mesa. Mas não tendo alternativa, perguntou o que foi agora? O velho muito sério, voltando a bater na mesa, disse: 
– “Vamos ter que operar o olho esquerdo na semana que vem, não vou esperar 6 meses não senhor!”
– “ Mas o que houve?” Perguntou o médico.
– “ Meu, passei agora mesmo pela banca de jornal, e não sabia que se publicava tantas capas de revistas com mulheres peladas e tão gostosas assim! Preciso enxergar melhor esse negócio!”

Um comentário:

  1. Acho que já tinha ouvido esta estória, não sei se de você mesmo ou do genro. O velhinho era fogo

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Nicanor de Freitas Filho