domingo, 22 de dezembro de 2013

Causo 86 Meu canivete de Campos Altos

  

           












 Canivete Passaport


                                                                                             Nicanor de Freitas Filho
  Como já contei no outro causo, tornei-me exportador de cadernos e papel crepado.  Então tinha que explorar o mercado. Já tinha estado no Perú, em 1981 e achei que o mercado era promissor.  Assim, programei nova viagem para lá em agosto de 1982. Tinha-nos sido indicado um representante, por uma fábrica que exportava escovas de dentes e pincéis.
            Chegando em Lima no dia 18 de agosto, fui para o Sherathon Hotel, que ficava em frente ao Palacio de Justicia, numa Avenida/Praça chamada Paseo de la Republica. Um lugar muito bonito!
            No dia seguinte procurei o Representante indicado e trabalhamos todo o dia, visitando principalmente Supermercados. Uma curiosidade, este senhor tinha uma Corvete, que me parecia ser a única de Lima, pois onde passávamos o pessoal olhava mesmo! Enfim, eu preferia ser mais discreto, mas tinha que ir com ele.
            Quando já tínhamos visitado vários clientes potenciais, passamos no Escritório dele, que ficava no bairro de Miraflores, para ver se tinha alguma coisa na “secretária eletrônica” ou no Telex. Quando chegamos, ele estacionou a Corvete e fomos, a pé, até um bar para tomar um café. Não posso precisar as horas, mas já era tarde, talvez por volta das 18:00 h, ele acionou a secretária eletrônica e acabou a força. Então ele disse que isto era comum em Lima e que poderíamos revisar as visitas e preparar um relatório do nosso trabalho, pois em 30 minutos, provavelmente, a força voltaria. Ainda dava para ler, com a janela aberta e fomos anotando o que tínhamos feito. Passou cerca de uma hora e aí foi ficando escuro e não dava mais para ler e escrever nada.
            Ele sugeriu que seria melhor eu ir para o Hotel e continuaríamos no dia seguinte, já que minha viagem de volta estava marcada para noite do dia 20. Entramos na Corvete e fomos. Todos os semáforos desligados, tudo escuro e o trânsito estava um caos. Ele então comentou que devia ter acontecido algo mais grave que uma simples falta de energia. Depois de mais de uma hora no trânsito, vindo pela Avenida Arequipa, antes de chegar no Estádio Nacional, fomos parados pela polícia. Também, naquela Corvete, era mesmo de esperar tal coisa!
            Aí, então, descobrimos que havia tido um atentado, ou do Sendero Luminoso ou do MRTA, com explosão de cinco bombas simultaneamente, derrubando 4 torres de transmissão de energia elétrica e uma ao lado do Palacio de Justicia. Estava tudo interrompido, não tinha como chegar ao Hotel. O nosso representante, muito astucioso, argumentou dizendo que eu precisava ir ao hotel, onde estava hospedado. Mostrei o passaporte e o cartão do hotel, que identificava o nº do meu quarto.  Eles liberaram, mas andamos somente mais dois ou três quarteirões e fomos novamente parados. Desta vez com mais aparatos “bélicos” acintosamente à vista. Novamente o representante argumentou, mostrei o passaporte, o cartão do hotel, meu cartão de visita. Estava difícil, pois uma das bombas tinha explodido quase ao lado do hotel. Eu mesmo já estava com medo. Então o representante me disse: “-nunca caem dois raios no mesmo lugar, no mesmo dia! Fique tranquilo, pois além de tudo eles não têm interesse no hotel.”
            Depois de muito argumentar o policial concluiu que não tinha como me deixar fora do hotel. Então, me disse, que precisava me revistar. Tirei o paletó, levantei os braços e ele me revistou. Depois pediu para abrir minha maleta “Sansonyte” e foi pegando as coisas e perguntando o que era e para que eu a tinha na maleta. A maioria era de mostruários e amostras de cadernos e pastas com documentos. Na tampa da maleta, tinha local para 4 canetas e todos cheios. Quando ele passou a mão no meu “cortaplumas” de Campos Altos, todo de aço e muito bem afiado e tem o formato de uma lapiseira. Quando ele sentiu o peso já o colocou dentro de seu bolso e dizendo: “-arma blanca!” Aí, eu avancei nele e peguei meu canivete de volta, no que ele me segurou pelo punho, me tomou novamente o canivete e disse: “-quieto!” Eu assustei nessa hora! O representante, muito diplomaticamente, explicou ao soldado que se tratava de uma peça de estimação, ganha de pessoa que já havia falecido e foi inventando estória para eu reaver meu canivete. E o milico, já bravo comigo, não abria mão. Por fim, apareceu um “Capitán” e depois de muito papo, ele prendeu o bilhete de identidade do representante, para liberar o meu canivete e me deixar passar para o hotel. Não deixou passar com o carro dele, que ficou estacionado e ele tinha que me acompanhar e pegar uma declaração no hotel, que eu era hóspede lá, e voltar ao “Posto de Servicio”, para pegar o bilhete de identidade e liberar o carro.
            Resultado foi que no dia seguinte foi decretado “Estado de Emergência” e não pude viajar, porque não tinha nada funcionando, muito menos Aeroporto. Fiquei forçadamente, mais dois dias em Lima...



Tirado da Internet:
O nome Sendero Luminoso baseia-se em uma máxima do marxista peruano José Carlos Mariátegui: "El Marxismo-Leninismo abrirá el sendero luminoso hacia la revolución" ("O Marxismo-Leninismo abrirá o caminho iluminado para a revolução"). Esta citação era usada no cabeçalho do jornal do grupo e no Peru os diversos partidos comunistas são diferenciados pelo título de suas publicações. Os historiadores e estudiosos em geral normalmente se referem ao Sendero Luminoso como PCP-SL.

EL MRTA EN ACCION.- El 19 de Agosto, otro apagón en Lima y en una acción que no fue muy difundida, se produjo un tiroteo entre la Policía de Surquillo y un grupo del MRTA, resultando muerto  Teófilo Pacheco Quispe, militante de ese grupo terrorista. El 19 aprovechó el apagón para perpetrar varios atentados.

El 20 de agosto se decretó el estado de emergencia para las provincias de Lima y Callao, en vista de los atentados dinamiteros  del día anterior y por los apagones en Lima. Por tal motivo  se suspendieron las garantías individuales, por 60 días con Decreto Supremo Nº 036-82 IN





   

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Causo 85 - O Paletó do Alípio - J. Gamaliel A. Ramos


                                                                        José Gamaliel Anchieta Ramos
           Na vida dele, tudo mudou para melhor. Antes dos bons tempos, eu o atendia amiúde no escritório local do serviço de extensão rural. Com o atropelo dos afazeres, quando percebi, já estávamos afastados.
           Pouco a pouco, o pequeno agricultor Alípio Teixeira expandiu os seus negócios, produzindo não só para o próprio sustento. As áreas com hortaliças aumentaram conforme comprava mais terras.
            Fazia viagens à Central de Abastecimento, de duas a quatro por semana, para entregar os produtos das propriedades, com produções aperfeiçoadas a cada safra. 
            No tempo do frio, o produtor e sua família se aqueciam com o mesmo paletó, um a um. Em qualquer ocasião ou lugar, nas festas, no escritório, na escola ou nas ruas, era o agasalho do grande e do pequeno, fosse homem ou mulher.
            Cor de cinza, não era feito de tecido grosseiro. Também não chegava a ser uma peça de alta qualidade. Como não se importavam tanto com o modo de vestir, eles nunca deixaram de trajar o surrado casaco de tergal xadrezinho. 
          Certo dia, um fato enigmático ocorreu. Era noite quando acabei de visitar umas fazendas. Na volta, depois de uma curva da estrada deserta, encostado à direita, vi o caminhão do Alípio, abandonado.
            Nas proximidades da roda traseira estava o dono do veículo, caído, imóvel. De longe, tinha ares de morto.
            De perto, quando me ajoelhei ao seu lado, percebi que nada dele se movia porque realmente estava morto. Ele não podia me contar o que queria saber. Eu não entendia nada. Para mim, o ocorrido não fazia sentido.  Parecia um crime. Que mistério seria aquele? Quem teria feito aquilo? 
            Eu não estava confuso quanto a um detalhe. Não houvera luta. A profunda marca de ferimento na cabeça, pouco acima da nuca, indicava que tinha recebido um traiçoeiro golpe, desferido pela barra de ferro que encontrei ao lado do corpo, junto ao pneu.                                                                       
            Não era hora de pensar muito. Entendi que deveria agir com rapidez. Quis carregar o cadáver, mas avancei apenas alguns passos. Então, passei a arrastá-lo, medida que também exigia bastante esforço.
            Finalmente, acertei quando decidi encostar o carro ao lado do corpo. Mesmo que ele não pudesse ouvir, pedi desculpas pela falta de jeito, enquanto o empurrava para o banco traseiro.
            Em seguida, fechei as portas e parti em direção à cidade. Entreguei o defunto ao delegado. Uma, duas, outras, outras mais, uma dúzia de perguntas foram feitas.
            Fiquei de olhos esbugalhados ao ter de passar por um interrogatório. Não satisfeito com as respostas, o homem marcou depoimento para as 10 horas do dia seguinte.
            Pois é, a autoridade não acreditara na minha boa intenção. Saí de lá na condição de suspeito.
            Naquela noite, não alcancei o descanso. Acontece que, desperto, pude sentir o tamanho da idiotice que fizera. Ouvia bêbados, cães, galos, motores, o caminhão recolhedor de lixo, a festa ao lado, a máquina do relógio de parede, a descarga do banheiro vizinho. Ouvia, ouvia, pensava, pensava.
            Uma insegurança trouxe à mente idéias que me deixaram todo cismado.
            Estava sobrecarregado e, cada vez mais perdido naquela situação. Não vinha à lembrança nenhuma outra circunstância desesperadora ou incontrolável que pudesse ter vivido.
            Imaginei quanta culpa, quanto sofrimento, quanta contrariedade teria poupado com uma simples omissão. Mas não quis deixar o Alípio abandonado, ao relento.  Por toda noite remoí pensamentos, sem encontrar solução para o problema. Eu estava encrencado, na verdade tinha cometido uma grande loucura.       
           Pela manhã, cheguei ao local de trabalho, aberto pela secretaria. Estava para começar um dia fatigante. Iria atender um produtor ou outro. Após minha ida à delegacia, se corresse tudo bem, viajaria a capital a fim de participar de uma reunião no escritório central da empresa.
           Nem tinha levado à boca a xícara fumegante de café que a secretária havia colocado sobre a mesa quando, de repente, a porta se abriu e entrou na sala um jovem.
           Quem seria e o que desejava tão cedo?
           Ninguém jamais o vira em nossa pequena cidade. A estampa do moço mostrava algo que eu conseguia ver, claramente. Talvez estivesse diante de mim alguém pronto a me tirar daquele apuro. Mesmo tendo a mente invadida por pensamentos, resolvi dar carona ao desconhecido, que estava ali para pedir isso.
           Antes de viajar, fui à outra sala, tranquei a porta e dei um rápido telefonema. Depois, convidei o moço a entrar comigo no carro.
           Saí pelas estreitas ruas, subindo e descendo ladeiras, deixando para trás alguns quarteirões. Em frente à delegacia havia uma batida policial. Viaturas no local, vários militares armados, de pé, um deles mandou que eu parasse.
           De modo inesperado, cercaram e invadiram o carro, arrastando o passageiro com sua bagagem. Ele seguiu escoltado para o interior da repartição.
           Mais calmo agora, fiquei observando o que acontecia.
           Meia hora depois, o delegado confirmou que o moço acabara de contar como tudo havia acontecido.
            Ele e Alípio se conheceram na Central de Abastecimento. Vieram de Goiânia na tarde do dia anterior, pois Alípio o aceitara como empregado.
            No momento em que o novo patrão trocava o pneu, o rapaz o atingiu por trás com a barra de ferro. O ataque foi ao anoitecer, para roubar dinheiro e cheques. Por causa do frio, o ladrão resolveu apanhar também o paletó da vítima. Do local até a cidade, seguiu a pé.
            Como a rodoviária estava cheia de policiais, não teve coragem de fugir em algum ônibus.  No Boteco do Benzinho, foi informado que talvez conseguisse viajar de favor com o técnico do escritório da Emater. Preferiu esperar pelo dia seguinte.      
            Não fosse o inconfundível paletó, dificilmente teríamos descoberto o assassino de Alípio. Quando liguei do escritório, eu disse ao delegado:
           —  Delegado, não preciso mais depor.
           —  Por quê?
           —  Porque o assassino do Alípio está aqui, no meu escritório.
           —  Por que você tem tanta certeza? Ele disse que matou o homem?
          —  Não, mas ele chegou vestido com o paletó do Alípio.  
          —  Verdade? Você pode vir com ele à delegacia, agora?
          —  Posso. Espere, já levo o moço para o senhor conversar com ele!
          —  Positivo! 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Crônica 14 - Sarau

                           José Carlos Neves
                                   Evento que incentiva as  artes do antigo e do novo;
                                   Livre expressão das tradições e cultura de um povo.  (JCN)

         O meu amigo Trasmontano estica um pouco a cabeça para a frente, faz um anteparo com a mão no ouvido, em forma de concha, e acaba num inútil esforço para entender o poema que uma poetisa saída da plateia tenta transmitir a um público atento. Por causa da sua avançada deficiência auditiva, ele não consegue ouvir muito do que expressam os versos, mas devem ter sido do agrado de todos, pois são recebidos por calorosos aplausos, esses sim, audíveis. Logo após, uma atração masculina é chamada ao palco e, à capela, entoa uma desconhecida canção que parece vir de algum rincão gaúcho. Ninguém lhe faz coro, mas todos o aplaudem, e feliz volta ao seu lugar entre os assistentes. Depois é a vez de um cronista em prosa e verso, a prosear e versejar sobre suas muitas andanças e lembranças por esta megalópole paulista. Um entusiasmado mestre de cerimônias vai anunciando as humildes mas orgulhosas atrações, que vão sucedendo uma à outra, a mostrar a capacidade criativa de cada uma, como a servir de aquecimento para apresentações mais tardias e pretensamente mais nobres.

        Num breve intermezzo, o meu amigo rebobina a memória sobre o que o teria levado até  à Subprefeitura do Tucuruvi, e a deslocar-se desde o Sul ao Norte da cidade, para ser participante passivo e ativo daquele sarau. Aposentado, entre as várias atividades da sua nova condição de idoso, ele decidiu juntar-se a um coral,  - incentivado pela Ultrafarma - formado por homens e mulheres que, como ele, buscavam ocupar seu tempo com algo que lhes proporcionasse qualidade de vida, prazer e, ao mesmo tempo, pudessem comparti-los com outras pessoas. Nada melhor e mais democrático que o canto! Ele é o mais recente, mas não mais novo, integrante do grupo, cuja média de idade deve andar aí pelos ...enta. Como em todos os grupos nessa faixa etária, a quantidade de mulheres é de uma maioria assustadora. Neste, em torno de 25 pessoas, apenas 4 destemidos e heróicos homens se atrevem a participar desse exército vocal – de pouca técnica e muita alma – sob o comando da maestrina Doroty, uma dama-guerreira indomável – apesar da idade e aparente fragilidade física - secundada por Élcio, maestro e paciente tecladista, a dosar e modular os arroubos vocais e gestuais da mestra.

        As apresentações recomeçam no palco, agora com uma senhora, saída não se sabe de onde, e cujos trajes revelam dias difíceis, a contar piadas, como num  stand up show, e a tentar, talvez, colocar um pouco de humor e felicidade na sua vida, e na daqueles que a aplaudem neste momento.É então a vez de mais um cavalheiro que vem para  cantar e contar que “As Rosas não Falam”, e seria uma bela interpretação não fosse o chiado estridente do seu play back. Mas logo uma roda de senhoras, de muitos ...entas de idade, ocupa um espaço abaixo do palco para uma demonstração de dança circular, na qual rodam graciosamente  seus passos de dança e, a girar e girar, fazem do círculo a sua “roda viva”, como possivelmente terão sido suas vidas: uma roda ainda mais viva. Um cantautor, com seu violão, as sucede com 3 canções de sua autoria. O bloco é fechado com outra senhora, com alguns quilos demais e a prever-se, por eles, alguma vida de menos, que se inscrevera só para dizer como “estava feliz de estar ali, e como a Primavera era linda”. Aplausos para todos, alguns calorosos, outros caridosos.

        E em mais um intermezzo, o amigo Trasmontano volta a pensar no seu grupo.
Sente-se um pouco envergonhado porque ainda não conhece quase ninguém pelo seu nome, excepto da maestrina e maestro, e dos demais dois homens, por sua minoria. A onomástica ainda não alcançou o estágio de permitir que, pelo nome, se reconheça a anatomia facial equivalente, neste país tão multifacetário. Tímido, ainda não se apresentou a todo o grupo, nem procurou saber quem era quem, como também não se atreveu a revelar a sua preferência cancioneira. A sua sensibilidade musical é puramente intuitiva; ele não consegue identificar nenhuma nota dos do, re, mi, fa..., e por vezes até confunde partitura com pauta, mas está seguro da sua inclinação pela boa música, aquela que lhe penetra o corpo e a alma, sem se importar se é erudita ou popular. A sua memória musical é antiga, quase toda anterior a 1980. Por muito que tente, não consegue memorizar as músicas mais contemporâneas. Nem sempre concorda com o repertório do coral, que poderia ser mais universal, como deve ser a música, mas o respeita, e ainda não se atreveu a pedir a inserção de algumas de  suas canções prediletas.

       Oops! Estão a chamar para a apresentação do seu grupo. Então, lá vai o meu amigo, com um certo frio na barriga, mas disposto a dar humilde contribuição vocal ao ambiente, junto com demais companheiras e companheiros, e com eles sentir-se  próximo do belo – como é próprio da boa música -, e transmitir essa mesma sensação a todos os presentes. Meia dúzia de razoáveis interpretações depois, os aplausos soaram calorosos, não se sabe se pelo real prazer sentido, ou se pelo incentivo a continuar. Para encerrar, outro grupo vocal, formado só por mulheres – sempre elas –, exceto o maestro, se apresenta com 3 belas canções nacionais. Os aplausos são praticamente de igual intensidade, a indicar equânime agrado. Afinal, não era uma competição musical, mas sim a necessidade de cantores e ouvintes se sentirem mais vivos e mais úteis nessa catártica interação de prazer e entrega.

        É hora de tomar o metrô de volta para a Zona Sul e, no seu assento de idoso, o meu amigo repassa mentalmente o evento com  aquelas cerca de 150 pessoas que,  ativa ou passivamente, participaram do sarau. Lembra da música “Mulher Brasileira”, magnificamente interpretada pelo outro coral, e da avassaladora maioria de mulheres, idosas, ou próximas  de sê-lo, como ele. Como as do seu grupo, bravas mulheres! que não se intimidam com a idade, e nem com o tonto constrangimento masculino de participarem de ações que, além de lhes trazerem e doar prazer, com certeza lhes deixarão um razoável bônus de longevidade. Em outra atividade, ele recentemente protagonizou uma crônica sobre meditação, além de muitas outras já escritas e a escrever. Como na literatura, o meu amigo pode ter descoberto tardiamente sua vocação musical, mas com certeza ainda lhe restará  tempo para que possa fazer do saldo da sua vida um longo sarau lítero-musical.


JCN – NOV -  2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Crônica 13 - MUITO ALÉM DO JARDIM

                                                José Carlos Neves
                                                 A meditação é a árvore dos ramos do pensamento;
                                            À sua sombra viajamos através da vida e do firmamento.  (JCN)
                                                                                                                                                 
        O meu amigo Trasmontano calça o sapatenis, desce um lance de 3 ou 4 degraus, e alcança o jardim. Em silêncio, sente os pés a pressionar o piso de cimento e observa os contornos dos estreitos caminhos, reservados à circulação dos caminhantes, e ladeados por canteiros e floridas árvores. Com os olhos semicerrados, intui, mais que vê, vários outros vultos que, como ele, andam para cá e para lá em indefinidas direções e passos, como se em catártico e coletivo transe buscassem algo desconhecido. O meu amigo, numa suave passagem do plano real ao puramente meditativo, de repente encontra-se num ambiente socrático, na acrópole de Atenas,  como humilde e maiêutico discípulo a aprender ou inquirir de Sócrates sobre os mistérios da sabedoria do homem sobre si mesmo e o universo. Uns segundos mais e outros vultos passam por ele – talvez para aproveitar o mesmo cenário – os quais, por seu luto e melenas, neles reconhece serem as mulheres do Chico e de Atenas.

        Minutos antes, a psicóloga, monitora das atividades, pedira a todos que saíssem para o jardim, acessível  pelo fundo da sala, para que sentissem o que poderia ser uma nova experiência para a maioria: um convite à meditação, em contato com a natureza e seus sons, e à auscultação do seu próprio silêncio. Era o segundo exercício do meu amigo sobre meditação, e mais uma de  um rol de atividades oferecidos pela PreventSenior, com o objetivo de prevenir enfermidades físicas ou psíquicas, tão próprias da idade da maioria dos seus conveniados. Ele teria preferido outra atividade, como literatura, coral ou teatro, ainda indisponíveis, por isso fora levado quase à força pela sua mulher, esta sim mais habituada a esses exercícios por sua natureza oriental. Como em todos os grupos de que o meu amigo participa, voltados para a terceira idade, também neste predominam as mulheres com maioria avassaladora. Ele entende que a maior parte dos homens, por vergonha ou pelo tonto preconceito  de  julgarem sua masculinidade ofendida, se sentem constrangidos e demasiado jovens ou velhos para participarem de atividades que julgam ser de mulheres. E assim se auto condenam ao isolamento, ou à morte precoce, e a deixar às suas bravas esposas ou viúvas a responsabilidade e a sapiência de substituí-los, e autopreservar-se por quanto tempo a vida ainda lhes possa ser prolongada. Talvez já menos exigidas por maridos, filhos e obrigações profissionais, finalmente, e com mérito, encontram tempo para si mesmas.

      ...Dados alguns passos mais, uma rosa, que ele vê transformar-se na Roselândia, onde quase 50 anos antes havia pedido a Eiko, a sua amada flor oriental, em namoro. E ela própria, que o acompanha nesta curta caminhada – a da vida é bem mais longa – pára para observar uma árvore florida, que o meu amigo pronto transforma num imenso jardim de cerejeiras em flor. Dois passos mais, e um girassol, já ligeiramente murcho, de repente se traslada a um iluminado campo de coloridos, frescos e bem vivos girassóis, como numa tela de Van Gogh, ou num filme de Kurosawa. Avançando um pouco mais pelo jardim, os vultos das muitas mulheres a passear pelas curtas e estreitas alamedas, e que em alternantes e intermitentes sensações, lhe parecem, por vezes ninfas flutuantes sobre tranquilos lagos; bacantes à procura de seus bem amados na penumbra das tavernas; valquírias cavalgantes em busca de meritosos guerreiros ao prêmio do valhala; intrépidas cruzadas a vagar pelas brumas de Avalon em defesa do Rei Arthur. Chega a ouvir o som longínquo e suave de alguns acordes da medieval Greensleves, e cantarola algumas notas a boca chiusa. Agora, 2 ou 3 frondosas árvores o transportam para os bosques de Viena, onde bailará uma valsa de Strauss, ou se  deslumbrará com uma ópera de Mozart. Um pouco mais, e um estranho sistema de vasos comunicantes, montado por taquaras secas numa das paredes, o levam até às noras de Sampaio, sua aldeia trasmontana, a regar as hortas e a vida da sua infância.

        Logo à entrada, os participantes são convidados a tirar os sapatos e pisar descalços sobre um tatame quadrado ladeado por cadeiras nos seus 4 lados. A psicóloga, uma jovem adulta de idade não revelada, mas suficiente para liderar e comandar idades que, somadas, ultrapassam 1000 anos. A sua postura corporal e cênica, altiva, de movimentos suaves, teatrais, olhar profundo e penetrante, voz alternadamente modulada em distintos decibéis, transmitem credibilidade e carisma a todos os participantes. Ela sabe que tem a difícil tarefa de fazer com  que todos deixem fora da sala a compreensível inibição daqueles que se encontram frente a frente pela primeira vez, e com quem irão interagir durante várias sessões e, quem sabe, ter que expor prazenteiras ou dolorosas confidências. Desde a primeira aula, ela lembra ao meu amigo a sua gata persa, tricolor atartarugada que, com seu caminhar senhorial de uma old lady, mas  que com felina agilidade, escala até a última estante  de sua já reduzida biblioteca para,  lá do alto, e qual Cleópatra ou impenetrável esfinge, em faraônica e professoral vigília, parece guardar 40 séculos de História e sabedoria. Por incrível e curiosa coincidência, e sem depreciar os nomes de nenhuma das duas, ambas atendem por “Vivi”. 

      ...Uma intrometida e deslocada churrasqueira no jardim, prendem meu amigo por mais algum tempo na sua aldeia,  junto ao borralho de uma lareira - iluminada por bruxuleante candeia - para aquecer a sua alma, enquanto a neve, leve e silenciosamente cai lá fora, em brancos flocos de algodão. Desde o campanário da pequena igreja despencam os sons das badaladas de um sino imemorial, desde quando ele ainda não era Pessoa, e o Fernando já havia deixado de sê-lo, e feito versos sobre ele, sino. Como contraponto, seu pensamento o traz de volta aos trópicos, a lembrar-lhe a sua adolescência enfarinhada nas noites mal dormidas sobre os tabuleiros do pão da madrugada, junto aos fornos de  várias padarias. Os rostos dos companheiros de jardim, indefinidos ou identificáveis por suas origens diversas neste país multifacetário, o empurram de volta às muitas viagens – breves ou longas - que fez por muitos países do mundo, a fazer dele um ser cosmopolita. Mas, entre eles, na rapidez e no brilho de um raio de luz, vê o rosto pleno de luso-nipo-brasilidade do seu Júlio Gabriel, filho e a maior e mais precoce entre as várias perdas desnecessárias do meu amigo, a contrariar Judith Viorst em  “Perdas Necessárias”.

       A psicóloga, à porta e do alto dos degraus da conexão sala/jardim, qual guia de excursão, chama de volta os jardineiros, que plantavam e colhiam pensamentos, para a sala de exercícios. Os 5 minutos de recreio – inferiores ao tempo de leitura desta crônica -  já se haviam esgotado e pareceram demasiado curtos para tanto pensar. Todos voltam lentamente, agora com imagens mais claras e menos difusas, como se retornassem de um sonho ou regressão hipnótica. Retomam sua aula de equilíbrio psico-físico de corpo, alma e mente geriátricos que, no Trasmontano, são totalmente descoordenados. Os entreolhares já são menos disfarçados e temerosos; os sorrisos mais abertos e descontraídos. Alguns até se atrevem a contar o que sentiram na sua experiência meditativa; as guardas são baixadas; o degelo é gradativo;  e ao meu amigo parece-lhe que até já paira um certo clima de sociabilidade latente no ar. Quem sabe, na próxima? Como ensinamento mínimo, os curtos 5 minutos de meditação trouxeram uma certeza a todos: a de como a contemplação de cada detalhe da natureza pode levar ao universo interno e externo de cada um, e de que a infinitude da mente humana, não importa em que idade, pode e deve ir ...muito além do jardim.


JCN – OUT - 2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Causo 84 - Meu Portuñol


Nicanor de Freitas Filho

            Em 1977 fui trabalhar na Cia. Melhoramentos de São Paulo, como Economista, responsável pelo Orçamento Geral da chamada Divisão Caieiras. Como o trabalho de Gerenciamento do Orçamento é relativamente calmo, pois confeccionado o orçamento, tem-se somente que acompanhar, meus “chefes”, que eram muito camaradas comigo e queriam que eu crescesse dentro da empresa, sugeriram que eu analisasse e respondesse centenas de cartas, do exterior, que solicitavam preços para cadernos e papeis crepados, que eram os principais produtos da minha Divisão.
            Eu não sabia outra língua, que não o Português, mas aceitei o desafio, desde que a Secretária da Diretoria, que falava 5 ou 6 línguas, me ajudasse. E assim escolhia a carta, ela passava para o Português, eu analisava, pedia os orçamentos, respondia em Português e ela passava para o Inglês ou Espanhol e, até algumas poucas, em Francês. E eu fui gostando e como tinha muita coisa parecida, eu já tinha aprendido muito, principalmente do Espanhol, mais parecido com o Português. Muitas cartas eu “montava” por minha conta. Já no ano de 1978 emplacamos um primeiro pedido de cadernos, para o Chile, no valor de 14 mil dólares. Para mim foi um dos melhores momentos da minha vida profissional, pois nunca tinha pego, nas minhas mãos, o resultado do meu trabalho, que como Economista fazia muita coisa, mas não via “fisicamente” nada. Agora tinha obtido um pedido de 14 mil dólares, que ia gerar uma das receitas que eu orçara. Era demais!
            Em dezembro de 1978 fui para o Chile – minha primeira viagem internacional – com o meu Chefe, para negociarmos com a maior rede de Supermercado de lá. Fechamos um bom programa para 1979 e ainda contatamos mais alguns clientes potenciais. A viagem foi muito proveitosa!
            Quando foi em outubro de 1979, a rede de Supermercados, solicitou nossa participação na FISA – Feira Internacional de Santiago – pois eles estavam com um grande estande e representavam várias empresas brasileiras. Fui designado para ir para Santiago e ficar por 15 dias, que era a duração da Feira. Reservaram-me um hotel pequeno, chamado Hostal Del Park, muito simpático e era quase um flat, pois tinha uma quitinete, além de uma antessala. Quando chegava à noite – a feira ia até às 22:00 h – tinha na antessala máquina de café, mesa, talheres, frutas, café e leite. Os dias que a fruta era laranja, eu tinha que usar meu canivete, pois as facas de lá não cortavam e eu sou chato para descascar laranja.
Este canivete de estimação, que tenho até hoje, feito em Campos Altos, artesanalmente e é uma verdadeira joia.      
            Um dia, ao chegar na feira, fui abrir um pacote de cadernos, que estava amarrado com barbante, e quando levei a mão ao bolso, não encontrei meu canivete. Logo imaginei que o tinha esquecido no prato com as cascas de laranja.
            Chegando à noite, no hotel, só tinha um “porteiro”, eu nem perguntei, pois ele não entendia direito meu “portunhol”. Na manhã seguinte, quando desci à recepção, estava lá a simpática recepcionista, chamada Hanja (pronuncia-se “Rânia”), que sempre entendia tudo que eu falava no meu “perfecto Portuñol”.  Então seguiu-se o seguinte diálogo:
- Rânia, olvide my caniviete, ayer, junto con las cáscaras de naranja. Alguiem lo hay encontrado?
- Perdona-me señor Nicanor, que usted hay perdido?
- My caniviete.
- Pero, lo que és un caniviete?
- Por Dios! No lo sabes? És una faca que si dobra para dientro de lo cabo!
- Y lo que és una faca?
- Tambien no lo sabes? Faca és una pieza que se usa junto con el garfo!
- Pero, lo que és un garfo?
- Rânia, por favor, no lo sabes o que és un garfo? Garfo és la pieza que junto com la faca y la colher se llama de talleres!
- Talleres gráficos? Pero son mui grandes, como olvidaste una coza desta?
- Rânia, por favor, fijarse: como se llama las 3 piezas que usted utiliza para cenar?
- Yo, particularmente, utilizo la cuchara, ya que my gusta la papilla.
- Oh! Que bueno! Y como si llama las 3 piezas que se utiliza para comer?
- El servicio!
- Y como se llama la otra pieza del servicio?
- Puede ser un tenedor?
- Muy bien! Y como se llama la otra  pieza, para cortar la carne?
- Se llama un cuchillo!
- Muy bien Rânia, y como llama el cuchillo que se dobra para dientro  del cabo?
- Ah, señor Nicanor, és un cortaplumas! Si, si, la mucama hay encontrado un cortaplumas, muy bonito, que todavia, no conseguimos cerrarlo. No és este? No le ocurria en cual habitación fué encontrado.  Perdona-me, pero cá está!
- Uffa!! Que bueno, porque me gusta mucho este cortaplumas! Muchas gracias!
            NOTA: Tenho este canivete até hoje, ganho de um dos meus irmãos, e elas não conseguiram fechá-lo, porque tem um pino que o trava.
            Tenho outra estória deste “cortaplumas” no Perú. Depois eu conto...

domingo, 13 de outubro de 2013

Curiosidade 2 - Momento Manguaça Cultural

Para não ficar muito tempo sem uma postagem, vou postar hoje uma curiosidade, que recebi e dá como publicação do Museu do Homem do Nordeste, a quem dou todo o crédito.

Momento Manguaça Cultural

Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.
Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou.
O que fazer agora?
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.
Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.
Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente.
Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome 'PINGA'.
Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE'
Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar.
E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.


(História contada no Museu do Homem do Nordeste).

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Política 3 Data venia

Data Venia, Ministro Celso, você ajudou nos enterrar... sinto muito que tenha sido o último a "bater o pênalti"! Podia ter chutado mais fraco, né?...argumentos existiam, como mostrou JB, Marco Aurélio, Fux, Carmém Lúcia e Gilmar. Só nos resta o

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Política 2 - A Manteiga derreteu


Carlo Barbieri Filho
Até iniciar esta coluna, cerca de 23 pacotes econômicos foram adotados sob a batuta do Ministro Mantega para tratar de melhorar o quadro caótico que a Presidente Dilma encontrou a economia, deixada pelo eterno Presidente Lula, quando formalmente presidente do pais. 

Mas, quem era o Ministro da Economia do presidente Lula? O mesmo Mantega. A diferença está em que Lula encontrou uma economia saneada, uma doutrina econômica sadia, herdada de seu antecessor. Uma pujante economia internacional e tinha um Presidente serio no Banco Central que sabia exercer sua autoridade. 

Hoje, fala-se no Brasil e no exterior em trocar o ministro lácteo. Mas de que vale trocar o ventríloquo? Todos sabemos que a condução desta barafunda econômica e responsável pelo caos é a Presidente. O Ministro Mantega, se mantem como simples porta-voz. Não tem competência para mais do que isto. 

E, nas crises, além de criatividade se necessita de competência, visão global, pés na realidade. O que está errado? Como diria a menina da passeata: tudo. Sempre foi parte da visão caolha do PT conter a indústria no mercado interno. Na visão do partido, se a indústria exportar poderia, desabastecer o mercado interno o ser uma força de oposição ao governo. 

Com a política de manter o dólar baixo lograram destruir a competitividade da indústria no exterior, e com o desenvolvimento baseado na abertura de credito, alegraram os industriais com grandes ganhos na venda aos aborígines. 

A agricultura foi contida pela logística. Pode-se produzir no Brasil de forma extremamente competitiva mas, com estradas mal cuidadas e os portos sucateados, a produção ou não chega, ou chega muito cara aos destinos externos. 

Com as contas públicas bem estruturadas, o PT pode aumentar o endividamento interno de forma irresponsável e inconsequente mas, passou dos limites e hoje já não há mais espaço para mais irresponsabilidades neste campo. Por outro lado, toda a arrecadação que chega a fazer com que o brasileiro trabalhe 5 meses do ano para pagar seus impostos, está sendo consumida pela corrupção e incompetência. 

As escolas públicas estão um caos, as universidades federais cada vez mais politizadas e menos atenta a pesquisa e ao ensino, a saúde uma calamidade, a segurança um desastre. Chegamos ao cumulo de que a bolsa para o assassino encarcerado ser maior do que o salário do trabalhador. Não temos dinheiro para a saúde, para pagar nossos médicos, mas o governo doa $25 milhões para hospital em Gaza. 

Este pena para pegar um ônibus para ir ao trabalho e milhões vivem no boteco sem fazer nada graças a famigerada bolsa família. O PT criou uma inversão tão grande nos valores da sociedade que passaram a ser prestigiados os menores assassinos, os preguiçosos, os corruptos os incompetentes e, violentados os direitos dos honestos e trabalhadores. Dez anos de "emprego" no governo vale mais pontos do que a qualificação profissional. Por esta razão, vemos aqui nos EUA uma nova onda imigratória e de investimentos brasileiros. 

Todos os dias empresários buscam botar seu pé no país, tentando exportar seus produtos, abrir empresas, redes de restaurantes, encontrar empregos de alto nível. Fogem da insegurança física e da política econômica. Sabem que o barco ai está fazendo agua. E preciso encontrar um porto seguro para lançarem ancoras. Com sua política o PT está fazendo o Brasil perder investidores internos e externos, inteligências e empreendedores. 

O Mantega fez a manteiga da nossa economia derreter. Não há mais como torna-la solida de novo. Como disse o povo nas ruas: Fora o PT e leva a Dilma com você. Somente mudanças radicais nos darão a solução. Os Estados Unidos agradecem! 

Nota: Artigo publicado na Revista Banco Hoje de 3 de setembro de 2013.

domingo, 1 de setembro de 2013

domingo, 25 de agosto de 2013

Crônica 12 - DOIS CRUZEIROS


João Batista de Freitas
Não sei se conseguirei chegar ao fim desta crônica. Afinal, todas as vezes que tentei contar esta história para algum amigo não consegui terminar – o pranto me emudeceu. Este fato aconteceu por volta de 1958, ano em que o Brasil ganhou o primeiro título mundial de futebol. Eu tinha 5 anos e, portanto, não me lembro dos fatos. Assim, passo a narrar aqui a minha interpretação do que ouvi da minha mãe muito tempo depois.
Eram outros tempos, outro Brasil, outra economia, afinal, outro mundo. Na cidade de Araxá, no Alto Paraíba, no Estado de Minas Gerais, vivia uma pequena população que naquele tempo não devia passar de 30 mil pessoas; épocas difíceis, empregos escassos, dinheiro raro – afinal, o mundo saíra havia poucos anos da Segunda Guerra Mundial e o Brasil ainda era um dos mais pobres países do mundo – o que se convencionou chamar de Terceiro Mundo.
Vivíamos de favor numa casa de um quarto só, apesar de grande, mas éramos cinco irmãos, uma irmã e minha mãe, que naquela época estava separada do meu pai. Minha mãe trabalhava como zeladora no mesmo Grupo Escolar em que antes trabalhara como professora – uma outra história que quando puder eu contarei aqui neste espaço. Saía pela manhã e só voltava à tarde, e eu, como o mais novo, ficava aos cuidados de minha querida irmã Concheta, que até hoje considero uma segunda mãe.
Pintado este quadro, vocês podem imaginar que vivíamos em uma condição de extrema pobreza, visto que papai não ajudava financeiramente em nada – aliás, pouca notícia a gente recebia do seu paradeiro. Lembro-me que nossa roupas eram ganhas de nossos primos e pessoas caridosas, já bastante surradas, mas que para nós era um alento. Assim, mamãe mantinha uma conta (aquelas antigas, controladas por caderneta) na pequena mercearia que havia quase ao lado da nossa casa, na saudosa Rua Costa Sena, perto da matriz de Araxá.
Contava ela que, certo dia, já com a conta bastante estourada, ela abriu o guarda-comida e não havia ABSOLUTAMENTE nada para fazer no jantar – sequer um quilo de fubá para que se fizesse um mingau que enganasse nossos estômagos até que o sono viesse. Neste momento alguém bateu à porta, trazia um envelope enviado por papai, que nunca havia escrito ou enviado nada até então. Mamãe, após agradecer, abriu o envelope e havia dentro uma nota de 2 cruzeiros, exatamente o que ela precisava para nos alimentar naquela bela tarde de verão.
Então, ao contar esta história, ela sempre concluía dizendo que, anos depois, quando se reconciliou com papai, jamais teve coragem de perguntar ou comentar com ele a respeito daquele dinheiro, porque tinha a certeza que aquele valor havia sido colocado ali não pelo meu pai, mas por Deus.

Se eu estive escrevendo esta história em uma folha de papel com certeza ela estaria, agora, úmida de lágrimas. Mas o teclado não deixa transparecer estas gotas que insistem em cair dos meus olhos...

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Crônica 11 A maratona


João Batista de Freitas
A maratona é a corrida mais famosa, mais conhecida e mais realizada no mundo desde as Olimpíadas de 1896. São mais de 500 disputas anuais em todo o globo, como lembrança histórica ao fato em que o general grego Milcíades, em 490 a.C. ordenou ao atleta Feidípedes que corresse até Atenas, situada a cerca de 40 km dali, para levar a notícia da Vitória na guerra realizada na planície de Marathonas.
Mas para mim há outra corrida mais famosa, mais importante e mais histórica. Esta eu presenciei – pelo menos em parte – e vivi a sua conclusão. Eu era ainda criança, morávamos em uma casa simples na Rua Perdizes, número 136, em Araxá, Minas Gerais. Meus pais, meus irmãos, minha irmã Concheta e eu. Mamãe sofria do coração, tinha um problema na válvula mitral que acabou matando-a em 1971, doença que teve origem em uma infecção sofrida por ela antes mesmo de eu nascer.
Mas vamos ao fato. Meus irmãos Daniel e Luiz estavam pintando nossa casa, sob a supervisão de nosso pai e, talvez por causa do forte cheiro da tinta, mamãe começou a passar mal e desmaiou. Não tínhamos telefone em casa, artigo tecnológico pouco acessível para aquela época, meados dos anos 60, ainda mais para uma família pobre numa pequena cidade do interior mineiro.
Enquanto discutíamos o que fazer – usar o telefone de um vizinho ou pedir um vizinho que a conduzisse de carro – Daniel, descalço e com a roupa toda suja de tinta, saiu em desabalada carreira rua abaixo. Todos sabíamos que o seu destino era o Hospital Dom Bosco, único municipal em Araxá, pois não tínhamos recursos para atendimento médico particular. Em menos de 10 minutos – pasmem – Daniel voltou dentro da ambulância do hospital. Mamãe foi socorrida e tudo correu bem. No dia seguinte ela já estava novamente em nosso convívio.
Calculo que de nossa casa até o hospital tenha pouco mais de dois quilômetros, ou seja, bem menos do que os 40.195 metros percorridos por Feidípedes, mas para mim esta foi uma corrida muito mais heroica e emocionante.
Até hoje Daniel é uma espécie de herói para toda a família; sempre pronto a ajudar, lembrando de tudo e de todos, uma espécie de “segundo pai” para todos os irmãos, filhos, sobrinhos, netos etc. Mês passado ele completou 65 anos e eu nem liguei para cumprimentá-lo. Então fica aqui esta simples homenagem a este nosso herói caseiro.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Crônica 10 Fábrica de Bolsas Brasil S/A


Vera Ligia Carli

            ZE e MARIA, cansados da dura vida que levavam, sem ver resultado no labutar diário de um trabalho pesado que lhes tiravam o “couro”, alertado por um vizinho esperto, decidiram correr atrás do programa SEM MISÉRIA, patrocinado pela FABRICA DE BOLSA BRASIL.
            O casal, ZE e MARIA são pessoas extremamente pobres em recursos, e, ricos na prole. Geraram tantos, que ate esqueceram o numero exato de filhos. Uns, natimortos. Outros, foram a óbito antes do primeiro ano de vida, vítimas de desnutrição. Remanesceram tantos outros, cuja ordem dos nomes ou de nascimento são incapazes de enumerar.
            Unidos aos filhos, que com eles habitam o mesmo barraco, ZE e MARIA, analfabetos, treinados por interesseiros candidatos a desenhar suas respectivas assinaturas foram levados ao Cartório Eleitoral e com titulo em mãos, recém-conquistado, formavam um bloco de votantes que não se poderia desperdiçar.
            Em contraprestação foram informados da existência de diversos programas nacionais em que poderia toda família se habilitar, tirando proveito dessa industrialização de bolsas produzidas pelo grande fabricante, chamado BRASIL. BOLSAS para todos os gostos feitas e pagas com o couro do contribuinte.
            ZE e MARIA candidataram-se ao BOLSA FAMÍLIA, que engloba o bolsa
alimentação, o bolsa escola e o auxilio gás, embora, no barraco deles o fogão é a lenha e a escola por aquelas redondezas não existe e a verba para alimentos é insuficiente para compra da indispensável farinha de mandioca. Pais e filhos analfabetos.
            O treinamento para desenhar a assinatura no titulo de eleitor foi a instrução básica e fundamental recebida, o suficiente para envaidecê-los com a condição de novos eleitores e a conquista da cidadania, que para eles é como se tivessem concluído curso de doutorado. “Documentados” abandonaram o campo e partiram para a cidade grande, cheios de sonhos.
            A filha, FÁTIMA, de inicio trabalhou como domestica. Foi assediada no emprego por um homem civilizado, filho do patrão, que depois de engravidá-la, a demitiu “por justa causa” e palavras ameaçadoras para fugir da paternidade irresponsável. Sem condições de criar o filho, e, sem creche a acolhê-lo, entregou-o para adoção. Com dificuldade de emprego, provocado pelo analfabetismo, partiu para a prostituição na expectativa de ser favorecida pela propagada e falsa BOLSA PROSTITUIÇÃO de R$ 2.000,00/mês. Não se desestimulou. No ano seguinte, sem temor e sem pudor, surge novamente grávida, desta feita, sem nem saber quem é o pai. Contudo, bota fé no BOLSA FAMÍLIA. Quer seguir o caminho da vizinhança: bolsa escola, bolsa leite, bolsa gás, bolsa família.
            Sem maiores pretensões, ousa a imaginar que melhor sorte teve a sua irmã, ROSINHA, jovem, com 15 anos, muito magrinha, corpo esguio produzido pela fome. Corpinho perfeito. Cabelos naturalmente bonitos, sem jamais ter experimentando qualquer produto químico. No máximo, óleo de babosa natural, quando ainda vivia pelo sertão. Arrumou emprego de ajudante de limpeza em imobiliária da periferia, por onde morava. Graciosa e com bom rebolado, ouvia no decurso de seu caminho de ida e volta ao trabalho o assobio de pedreiros (termômetro de quem está podendo...).
            No inicio do ano, ao descer do ônibus e aproximar de um terreno baldio foi pega e sob forte ameaça levada à força, para imediações da linha do trem, e, se tornou mais uma vitima de estupro.
            Indignada e com razão repudiava o filho que não pediu. Meio preguiçosa e inteiramente esperta. Fez do limão uma limonada. Já pensa depois de usufruir da licença maternidade, abandonar o emprego, depois receber o seguro e correr atrás do BOLSA ESTUPRO.
            O irmão, SEVERINO, deixou a vida de vaqueiro do sertão e passou a ajudante de pedreiro. O peso de transportar a carriola lotada de pedras e tijolos o deixou mais musculoso. Encheu-se de graça. Fez um corte moderno no cabelo. Tatuou o corpo. Passou ouvir os sertanejos e a frequentar botecos de finais de semana. E acabou por conhecer o mal maior. Caiu nas drogas. Perdeu o emprego. Agora pede socorro ao BOLSA CRACK de R$ 1.350,00/mês.
            Quase uma dezena de outros filhos, inatendidos pelo Poder Publico, sem escola, sem creche, com idades variadas, atropelam entre si no minúsculo barraco, uns com chupeta na boca, nariz escorrendo; outros chorando com a fome apertando... totalmente iludidos com o vandalismo de Estado na ofertas das bolsas de nulidades, que muitas vezes os retiram da humildade de suas casas em suas cidades de origens para majorar o sofrimento e morrerem no abandono da cidade grande.
            E há quem aplauda o triunfo das nulidades governamentais.
            E, de tanto ver triunfar as nulidades... digo, o sucesso das BOLSAS, S. Excia, a PRESIDENTE DA REPUBLICA, por via do decreto 8.026/13, publicado em edição extra do Diário Oficial da União, premiou os Srs. Ministros de Estado, servidores federais e os comandantes e oficiais das Forças Armadas com a BOLSA COPA, concedendo aos mesmos o direito de assistirem às partidas da COPA DAS CONFEDERAÇÕES, deslocando-se para as cidades sedes dos jogos com direito a diária suplementar de mais R$ 581,00.
            O contribuinte já não tem mais força para sustentar tanta BOLSA, principalmente, sem saber se estão sendo penduradas em ombros certos ou desviadas para cabides alheios de não necessitados.
            A esperança é que parem de tirar o couro do povo, ou a continuar tirando proveito, necessário que identifiquem os beneficiários com a maior transparência possível, em sites oficiais das instituições concedentes, pois, intolerável que a FABRICA DE BOLSAS BRASIL, continue sendo uma sociedade anônima, onde o cidadão brasileiro, contribuinte, desconheça o destino do tributo pago, porque há sócios preferenciais, não nominados, que se acham cidadãos de classe superior e como guardiões de recursos alheios estão imunes a indispensável, rígida e permanente fiscalização.
            Esse é o reclamo geral.



domingo, 14 de julho de 2013

Crônica 9 INSEGURANÇA PUBLICA


Vera Ligia Carli
          A explosão de meu desabafo nasceu com um grito solidário à dor de uma já tão sofrida e explorada família boliviana que perde um filho de 05 anos,  morto por bala partida de mãos assassinas protegidas pela  fragilidade das leis pátrias.
         E hora de agir. E preciso exercer o direito de eleitor e cobrar resultados dos políticos a quem se deferiu o voto.  Não temos, como eles, a disponibilidade do carro blindado e de segurança privada, privilegiadamente paga pelo contribuinte.
         O cidadão comum permanece exposto ao risco diário de encontrar na sua rota de trabalho com perversos criminosos,  prontos a praticarem hediondos crimes – geralmente em “boa” companhia de um menor,  pré-selecionado para eventual necessidade de assumir a responsabilidade por delitos cometidos por terceiros.
         Não há dia e nem hora. Vale tudo.  O cidadão, para minimização do risco, se auto aprisiona nos fins de semana,  recolhido em casa.  Nada de teatro e cinema.   Restaurante, nem pensar... Esse local virou chamariz de bandidos, em prejuízo do consumidor e do empresário, ambos contribuintes de tributos de extravagantes alíquotas que alimentam a mordomia do Poder.
         Em termos de lazer, ao cidadão comum, permite-se no máximo, uma reunião em casa com a família ou com amigos para um jogo de baralho ou às vezes, um churrasco, este,   para os poucos privilegiados em que o preço da carne enquadra-se dentro do salário  desse país,    dito,  sem inflação!!!
         Os adultos não se conformam com a prisão involuntária,  mas, a condição impõe, e ele, acaba – por falta de alternativa – aquietando-se  dentro de casa  cercada de grades.   Na verdade  se enjaulam. Acomodados,   isoladamente,  no velho sofá,  por imposição da falta de segurança ficam a assistir a exibição na  TV  os dissabores da rua,  praticada por adolescentes selvagens que,  deveriam  - pela ferocidade de seus atos -  estar atrás, ou melhor, dentro das  grades. (sem ofensa aos animais)
         E aos jovens,  filhos, sobrinhos e netos,  como convencer ou impedi-los de sair de casa? Qual outra alternativa se tem,  se  não professar a fé divina na expectativa de que ocorra a saída com direito ao retorno – são e salvo de mãos criminosas de jovens infratores, cada vez mais perversos?
         Como não penalizar um bandido,  que impiedosamente, queima um cidadão por que sua conta bancaria dispõe de apenas R$ 30,00  sob leviano argumento de que tem apenas 17 anos,  11 meses e 28 dias de nascido?
         Esses 02 dias faltantes para sua maioridade civil,  transmudaria sua cabeça infante para o raciocínio adulto?   Se tivesse 18 anos, não teria cometido o mesmo crime e com igual  ou pior selvageria?   Ora,  essa índole satânica está enraizada na alma do delinquente muito  antes de completar  17 anos e eternizará  após  os 18. Não há que se iludir com recuperação para quem  age com tão exorbitante brutalidade.
         A esses malignos “anjos” a permissividade da lei  está a conceder-lhe amplos direitos.  Um,  o de votar. Outro, o de matar. Tornou-se,  assim,  isca valiosa  a ser  captada   para a parceria do crime.  Todos, nos,  povo,  sabemos disso.  E, o legislador,  não?  O que tem a dizer?
         Interessante que,  o leigo atribui a culpa  a  mal remunerada POLICIA. Uns poucos  atribuem a culpa ao  juiz,  a quem cabe aplicar a lei. E como fica o omisso  legislador,  a quem compete a alteração da lei?
         Chega de tanta bondade para quem so busca a maldade.
         Maioridade penal reduzida,  já.
         Pagamos impostos e queremos ter o direito constitucional de ir e vir,  o que se acha há muito tempo cerceado por omissão do Poder Publico.
         O povo esta na rua,   Srs. Deputados.  Venham para rua, também.
         Venham  ouvir a sufocada voz do povo.
         Desse povo cansado com a insegurança publica


SP-03/07/2013