terça-feira, 23 de julho de 2013

Crônica 10 Fábrica de Bolsas Brasil S/A


Vera Ligia Carli

            ZE e MARIA, cansados da dura vida que levavam, sem ver resultado no labutar diário de um trabalho pesado que lhes tiravam o “couro”, alertado por um vizinho esperto, decidiram correr atrás do programa SEM MISÉRIA, patrocinado pela FABRICA DE BOLSA BRASIL.
            O casal, ZE e MARIA são pessoas extremamente pobres em recursos, e, ricos na prole. Geraram tantos, que ate esqueceram o numero exato de filhos. Uns, natimortos. Outros, foram a óbito antes do primeiro ano de vida, vítimas de desnutrição. Remanesceram tantos outros, cuja ordem dos nomes ou de nascimento são incapazes de enumerar.
            Unidos aos filhos, que com eles habitam o mesmo barraco, ZE e MARIA, analfabetos, treinados por interesseiros candidatos a desenhar suas respectivas assinaturas foram levados ao Cartório Eleitoral e com titulo em mãos, recém-conquistado, formavam um bloco de votantes que não se poderia desperdiçar.
            Em contraprestação foram informados da existência de diversos programas nacionais em que poderia toda família se habilitar, tirando proveito dessa industrialização de bolsas produzidas pelo grande fabricante, chamado BRASIL. BOLSAS para todos os gostos feitas e pagas com o couro do contribuinte.
            ZE e MARIA candidataram-se ao BOLSA FAMÍLIA, que engloba o bolsa
alimentação, o bolsa escola e o auxilio gás, embora, no barraco deles o fogão é a lenha e a escola por aquelas redondezas não existe e a verba para alimentos é insuficiente para compra da indispensável farinha de mandioca. Pais e filhos analfabetos.
            O treinamento para desenhar a assinatura no titulo de eleitor foi a instrução básica e fundamental recebida, o suficiente para envaidecê-los com a condição de novos eleitores e a conquista da cidadania, que para eles é como se tivessem concluído curso de doutorado. “Documentados” abandonaram o campo e partiram para a cidade grande, cheios de sonhos.
            A filha, FÁTIMA, de inicio trabalhou como domestica. Foi assediada no emprego por um homem civilizado, filho do patrão, que depois de engravidá-la, a demitiu “por justa causa” e palavras ameaçadoras para fugir da paternidade irresponsável. Sem condições de criar o filho, e, sem creche a acolhê-lo, entregou-o para adoção. Com dificuldade de emprego, provocado pelo analfabetismo, partiu para a prostituição na expectativa de ser favorecida pela propagada e falsa BOLSA PROSTITUIÇÃO de R$ 2.000,00/mês. Não se desestimulou. No ano seguinte, sem temor e sem pudor, surge novamente grávida, desta feita, sem nem saber quem é o pai. Contudo, bota fé no BOLSA FAMÍLIA. Quer seguir o caminho da vizinhança: bolsa escola, bolsa leite, bolsa gás, bolsa família.
            Sem maiores pretensões, ousa a imaginar que melhor sorte teve a sua irmã, ROSINHA, jovem, com 15 anos, muito magrinha, corpo esguio produzido pela fome. Corpinho perfeito. Cabelos naturalmente bonitos, sem jamais ter experimentando qualquer produto químico. No máximo, óleo de babosa natural, quando ainda vivia pelo sertão. Arrumou emprego de ajudante de limpeza em imobiliária da periferia, por onde morava. Graciosa e com bom rebolado, ouvia no decurso de seu caminho de ida e volta ao trabalho o assobio de pedreiros (termômetro de quem está podendo...).
            No inicio do ano, ao descer do ônibus e aproximar de um terreno baldio foi pega e sob forte ameaça levada à força, para imediações da linha do trem, e, se tornou mais uma vitima de estupro.
            Indignada e com razão repudiava o filho que não pediu. Meio preguiçosa e inteiramente esperta. Fez do limão uma limonada. Já pensa depois de usufruir da licença maternidade, abandonar o emprego, depois receber o seguro e correr atrás do BOLSA ESTUPRO.
            O irmão, SEVERINO, deixou a vida de vaqueiro do sertão e passou a ajudante de pedreiro. O peso de transportar a carriola lotada de pedras e tijolos o deixou mais musculoso. Encheu-se de graça. Fez um corte moderno no cabelo. Tatuou o corpo. Passou ouvir os sertanejos e a frequentar botecos de finais de semana. E acabou por conhecer o mal maior. Caiu nas drogas. Perdeu o emprego. Agora pede socorro ao BOLSA CRACK de R$ 1.350,00/mês.
            Quase uma dezena de outros filhos, inatendidos pelo Poder Publico, sem escola, sem creche, com idades variadas, atropelam entre si no minúsculo barraco, uns com chupeta na boca, nariz escorrendo; outros chorando com a fome apertando... totalmente iludidos com o vandalismo de Estado na ofertas das bolsas de nulidades, que muitas vezes os retiram da humildade de suas casas em suas cidades de origens para majorar o sofrimento e morrerem no abandono da cidade grande.
            E há quem aplauda o triunfo das nulidades governamentais.
            E, de tanto ver triunfar as nulidades... digo, o sucesso das BOLSAS, S. Excia, a PRESIDENTE DA REPUBLICA, por via do decreto 8.026/13, publicado em edição extra do Diário Oficial da União, premiou os Srs. Ministros de Estado, servidores federais e os comandantes e oficiais das Forças Armadas com a BOLSA COPA, concedendo aos mesmos o direito de assistirem às partidas da COPA DAS CONFEDERAÇÕES, deslocando-se para as cidades sedes dos jogos com direito a diária suplementar de mais R$ 581,00.
            O contribuinte já não tem mais força para sustentar tanta BOLSA, principalmente, sem saber se estão sendo penduradas em ombros certos ou desviadas para cabides alheios de não necessitados.
            A esperança é que parem de tirar o couro do povo, ou a continuar tirando proveito, necessário que identifiquem os beneficiários com a maior transparência possível, em sites oficiais das instituições concedentes, pois, intolerável que a FABRICA DE BOLSAS BRASIL, continue sendo uma sociedade anônima, onde o cidadão brasileiro, contribuinte, desconheça o destino do tributo pago, porque há sócios preferenciais, não nominados, que se acham cidadãos de classe superior e como guardiões de recursos alheios estão imunes a indispensável, rígida e permanente fiscalização.
            Esse é o reclamo geral.



5 comentários:

  1. Freitas
    Arguta análise da sua amiga Vera Lígia. Os nossos governantes merecem, desde há muito, que os presenteemos com bolsadas, mas de peso plúmbeo, de forma a não permitir-lhes que encham as suas bolsas de votos, e os seus bolsos com as contribuições que nós candidamente lhes entregamos. O assistencialismo permanente, ao ocupar o lugar da igualdade de oportunidades, é uma das piores degradações da dignidade humana. Abraço. José Carlos

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    1. Obrigado pelo comentário Zé Carlos. Na verdade não é assistencialismo permanente e sim compra direta de votos... O que me assusta é que é vista como uma coisa normal, aliás como uma "bondade". A esperança é que esta geração que está começando a protestar não seja "encoberta" pela "tropa", que estão chamando de "vândalos", mas que na verdade vem a mandado de "alguém" para "atrapalhar" as manifestações conscientes!

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  2. Nada mais a comentar, somente concordar com Vera Lígia e com Neves!!! Abs Jayme

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    1. Jayme, obrigado pelo comentário. Complementando, o Brasil já virou a rã que se cozinha em água morna até fervente, sem perceber. Ninguém mais dá atenção para a pouca vergonha que está se tornando a política. Tudo se passa como se fosse normal...

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    2. Nicanor, li o blog de sua amiga Vera. É a pura verdade, concordo plenamente.
      Não sei onde vamos parar com tantas bolsas.
      Emprego que é bom nada, quanto maior a prole, maior o rendimento.
      Tenho viajado muito, estive em SP mas esquecí seu telefone. Estou sempre correndo, vou num casamento em Brasília rever os parentes, depois irei para Portugal, Espanha e Itália, curtir meu presente de aniversário... Ganhei de uma filha e do genro, pois não quero festa.

      E a família como vai? Os netos?


      Abraços Susana.

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Nicanor de Freitas Filho