Nicanor de Freitas Filho
Recebi uma mensagem (sonora), via WhatsApp, e prefiro não
citar nomes, nem de quem a enviou, nem de quem a gravou, mas fala que a palavra
“rá-tim-bum” é de origem persa e quer dizer: “Eu te amaldiçoo”. Ou seja, cada
vez que cantamos os parabéns para um amigo – e principalmente para crianças – e
no final fazemos o “é pique...” “é hora...” “rá-tim-bum...” estamos dizendo:
“Eu te amaldiçoo!”
Aí eu fiquei pensando, como tem gente que gosta de
inventar as coisas e sempre com muita maldade e, geralmente, de forma errada e
na maioria das vezes mentirosa, invencionista e tola.
Há algum tempo, recebi, no dia do meu aniversário, um
texto enviado pelo site “Migalhas” (trata de assuntos jurídicos), do qual sou
assinante, cumprimentando-me e contando uma das origens de se fazer a
brincadeira no final do “Parabéns pra você”
dizer: “é pique, é pique, é pique, é hora, é hora, é hora,
rá-tim-bum...”e fala o nome da pessoa
homenageada.
"Rá-tim-bum", é a onomatopeia dos sons de 3
instrumentos de Banda Marcial ou Fanfarra: “Tá-rá-rá tim bum”, que se usa para
encerrar uma pauta. Na verdade seriam: "Tá-rá-rá" onomatopeia do
tambor ou tarol, "Tim" onomatopeia dos pratos e "Bum"
onomatopeia do surdo ou bumbo. Que para dar o ritmo, à brincadeira, ficou
"Rá-tim-bum". O camarada que divulgou isso aí, não sabe nem o que se
fala. Ele inventou que, quando finalizamos, na verdade – misturando inglês com
português e com persa, dizemos: “É grande, é hora, eu te amaldiçoo!” Pra começo
de conversa não se diz "é big" mas sim "é pique", não tem
nada a ver com grande em inglês. Se na
língua persa existe um som parecido com "Rá-tim-bum" não tem nada a
ver com a nossa onomatopeia .
Reproduzo aqui o texto recebido de Migalhas, pois acho
que não tem nada de mais reproduzi-lo, citando a fonte e a autoria:
“E assim
nasceu o "pique-pique"...
Adriano
Marrey*
As gerações
de bacharéis veteranos concorreram para a formação do mais rico folclore
acadêmico, ou melhor, para o que se chama de suas "tradições".
Foram os
estudantes de uma turma próxima de 1930 os que criaram, um dia, o popular
"pique-pique", que atualmente todos cantam nos dias festivos.
Poucos
conhecem a sua singular origem. Escreveu Guilherme de Almeida, a que se
reportava o querido amigo Lauro Malheiros, em seu comovente livro de memórias
intitulado "Rosas no Inverno", que três estudantes, da turma que
colaria grau em 1927, eram então amigos inseparáveis nas horas de boemia. Um
deles – Ubirajara Martins de Souza – usava um extraordinário bigode de pontas
finas e retorcidas para cima e por isso era apelidado de "pique-pique".
Outro, era Mário Ribeiro da Silva, "inteligência viva e afinado senso de
humor" e que apreciava desconsertar os interlocutores mais austeros,
interdizendo no meio das conversas frases desconexas, como esta : "Veja
você, heim? Meia hora...". O terceiro era Aru Medeiros; e juntos
constituíam o grupo do "Pudim"...
Numa noite
em que bebericavam o seu "chope", no bar Pérola do Douro, sendo
aniversário de Ubirajara, Mário o brindava, gritando: "Pique-pique,
pique-pique, pique-pique". Retrucou, então, Ubirajara: "Meia hora,
meia hora, meia hora". Daí, para emendar com "Rá-rá-tchin-bum",
foi um relâmpago. Estava criado o hino do "Pudim", o grito de guerra
de toda a estudantada.
Recordou
Guilherme de Almeida que "no dia seguinte visitava a Faculdade de Direito
o Marajá de Kapurtala. Entre outras manifestações, recebeu nas bochechas
ilustres, berrado de perto, o primeiro ‘pique-pique’ oficial. Gostou e
manifestou alto interesse pela harmonia e sugestiva língua falada no
Brasil"...
Concluiu
Lauro Malheiros – "foi assim que nasceu o 'pique-pique’ em São Paulo.
Entre estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco".
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* Extraído
da oração proferida na solenidade realizada na Faculdade de Direito de São
Paulo, pela OAB/SP, em homenagem aos bacharéis em Direito com mais de 50 anos
de exercício. O discurso foi depois impresso com o título de "Saudade das
Arcadas".
Isso nos mostra o quão invencionista e maldoso, quem
inventou e difundiu essa “lorota” de que “rá-tim-bum” é de origem persa e quer
dizer “Eu te amaldiçoo”. Ora, se as palavras, até numa mesma língua, tem
significados diferentes em outro pais, o que dirá de línguas tão díspares. Por
exemplo, em Portugal chamar as crianças de “putos”, as moças de “raparigas”,
não tem nenhum problema, pois lá tem o seu significado correto. Imagina se o
espanhol, quando comer uma saborosa comida, não vai poder dizer que estava “exquisita”
(deliciosa), porque aqui no Brasil tem outro significado. Nada a ver, como diz meu neto...
Vamos continuar
cantando os parabéns, emendando com “é pique... é hora...rá-tim-bum” e viva o
aniversariante!