domingo, 31 de março de 2013

Crônica 6 Livinha


Estando sem tempo para escrever, e, não querendo deixar um espaço de tempo muito grande sem postar no meu blog, resolvi hoje, homenagear sobrinha e filha, com um texto desta, escrito pouco mais de dois anos depois de perder a prima de menos de 20 anos, que estudava Matemática na Universidade de São Carlos e estava no auge da juventude, que, se viva fosse, completaria hoje 34 anos.

Livinha

Claudia Fonseca de Freitas Saraiva
            Uma criança retrata o mais sincero sorriso, um gostoso sorriso. Fofinha para apertar e carinhosa para retribuir o apertão. Foi a Copa do Mundo de 1982, a última Copa que eu passei em Frutal, que tanto chorei porque o Brasil perdeu; mas é a lembrança que eu tenho dela criança... não me lembro dela bebê, mas tenho nas minhas imagens a meiga criança que eu pegava para sentar no meu colo, e ficava abraçada querendo cuidar.
            A adolescente... quantos segredos, quantas paqueras, quantas voltinhas de carro nos mesmos quarteirões, conversas infinitas trancadas no banheiro...  CUMPLICIDADE!!! Coisas de adolescente, talvez a melhor fase da vida. Mais que primas... AMIGAS DE VERDADE!!! Segredos, segredos, segredos, até hoje compartilhamos segredos e cumplicidade.
            A adolescente linda e vaidosa, o cuidado incansável com os cabelos, sempre maravilhoso. Caminhadas, cardápios de regimes, e um sorriso sempre estampado no rosto, a alegria de tantos e tantos amigos, divertida, boa filha, ótima prima, excelente amiga, pessoa ímpar.
            Adolescente, de futuro promissor, resolveu se aprofundar na matemática da vida:
                        •         SOMOU AMIGOS!!!!
                        •         MULTIPLICOU ALEGRIAS!!!!
                        •         DIVIDIU SEU TEMPO
                        •         DIMINUINDO O CAMINHO DA VIDA!!!!
            Eu não entendia porque diminuir o caminho da vida, aqui estava tudo tão legal...
Aí ela não me esqueceu, veio me explicar a confusão da matemática da vida, que eu nada entendia.
            Quando ela se foi eu a transformei num anjo, porque só um anjo vai embora de repente, tão cedo, sem deixar explicações. Meu coração ficou tão pequeno, mas tão pequeno... e o anjo resolveu voar até mim... Era um anjo adolescente (todo anjo é criança ou adolescente), mas era um anjo de calça jeans e camiseta branca, com o cabelo comprido, castanho claro com bastante luzes, um sorriso estampado no rosto... era a MINHA PRIMA que veio lá do céu tentar me explicar o que eu não compreendia, ela estava linda, radiante, cheia de vida, não era um anjo de asinhas, era a LIVINHA que estava comigo e ela não cansava de repetir:
“EU ESTOU ÓTIMA, AQUI TUDO É MARAVILHOSO”, dava umas gargalhadinhas e continuava “OLHA COMO ESTOU BEM!!!!” Não sei por que, mas tudo se inverteu, eu estava com a cabeça deitada no colo dela, logo, agora eu é que tinha a proteção dela, ela é que me abraçava... .... eu entendi e aprendi:
- A vida nunca acaba, o caminho é interrompido, nunca diminuído, apenas muda-se a estrada... OS AMIGOS SOMADOS jamais serão esquecidos!!!! AS ALEGRIAS VIVIDAS podem continuar se MULTIPLICANDO com as boas lembranças (e que são inúmeras).
DIVIDIR O TEMPO é algo que faremos o resto da vida, porque temos pais, irmãos, amigos, desconhecidos que aqui cruzamos todos os dias nas ruas e ainda temos DEUS, com o qual somos muito egoístas, deixando por último, esquecendo que Ele nos trouxe aqui e que também tem saudades da gente, e que também quer estar com a gente..
E o melhor é que o caminho da vida NÃO DIMINUI NUNCA, por mais inacreditável que pareça, a esperança de a gente se encontrar é infinita o que REDUZ A ZERO a tristeza, PORQUE ESTIVEMOS E ESTAREMOS SEMPRE JUNTAS, todos os dias, e isso é maravilhoso, e eu entendi e aprendi a viver assim.
            Quanto à saudade... essa que dói no coração, ela não soube me explicar, essa saudade me faz chorar muito... mas a Livinha ainda é uma menina, não pode saber explicar tudo, até porque eu tenho comigo que a saudade é recíproca, então não dá pra explicar, por isso ela aparece, por isso TODOS OS DIAS ELA CONTINUA AQUI COM A GENTE, E DISSO EU TENHO CERTEZA !!!! TE AMO MUITO LIVINHA. PRIMA-IRMÃ-AMIGA  
SP.  Agosto/2001. 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Causo 81 O anjo da guarda do tio Luiz



Priscilla de Freitas Peretta
            Bom, vamos ver se vão aceitar causo ouvido (e não vivido, como se era de esperar) de uma jovem (não das mais jovens) representante desta família Freitas.
            Assim eu gravei o que ouvi do meu querido tio Luiz, que já não está mais entre nós, e com o qual eu gostava muito de conversar, pelo seu jeitinho manso e sempre espirituoso. Certamente, muitos fatos foram distorcidos em minha memória, pelo tempo e pela pouca idade que eu tinha quando ele me contou. Corrijam-me os que viveram de perto. O fato é que a estória me agrada muito assim mesmo como lembro dela, ainda que eu possa tê-la assimilado de forma um tanto quanto fantasiosa...
            Num dos memoráveis encontros de fim de ano da família inteira, que costumavam acontecer em Araxá ou Frutal e que significavam os melhores dias do ano para nós, então pequenos, lembro que falávamos sobre o vício do cigarro, quando tio Luis começou a contar-me.
            Era sua primeira viagem para a Escola Agrotécnica de Muzambinho, acompanhado do irmão mais velho Daniel – meu pai – que já estudava lá e que tinha vindo para as férias em Araxá. Ao contrário dos irmãos, tio Luiz, então com apenas 12 anos, não tinha a prática de pegar o trem e acabou perdendo-o numa das paradas, ao descerem não sei exatamente para quê, talvez para a baldeação em Ribeirão Preto ou Casa Branca – que se fazia para ir a Uberaba. Desesperado, já chorando por ter-se perdido dos outros, foi abordado por um guarda da estação que resolveu ajudá-lo, levando-o à casa de um seu amigo taxista que morava perto da estação. O guarda pediu que o taxista levasse o menino até a próxima estação – pois o carro, sendo mais rápido, seguramente chegaria antes do trem – para que ele pudesse pegar o trem novamente.
            Assim, tudo correu bem e o tio Luiz entrou no trem, aliviado, mas ainda um tanto assustado pelo ocorrido. Ao seu lado, estava sentada uma senhora mais velha que viu seu estado e começou a conversar com ele. Para acalmá-lo, ofereceu-lhe um cigarro, que naquele tempo era considerado um bom remédio para várias coisas, inclusive para acalmar. “Assim comecei a fumar”, me disse o tio. Mas a estória não acaba aí. Voltando a Araxá, nas férias creio, contou a sua mãe, vovó Edith, como o guarda da estação tinha sido gentil com ele. Vovó, muito agradecida, providenciou uns doces para que o tio levasse ao homem quando retornasse a Muzambinho, passando por aquela estação.
            E assim foi. Chegando na tal estação, o menino colocou-se a procurar o guarda e nada. Foi perguntar a outros que trabalhavam ali por um senhor alto, negro, vestido com um uniforme de guarda, que o tinha ajudado. “Mas não temos nenhum empregado negro aqui”, ouviu. Resolveu então ir até a casa do taxista, ali perto. Porém, essa parte do causo ficou um pouco obscura pra mim. Não me lembro se não encontrou ninguém em casa ou se o homem que morava ali disse que não  conhecia o menino, nem o tal guarda. Mas lembro que a casa e o carro na garagem tinha, igualzinho o tio se lembrava. Acho que era isso. Concluindo sobre o mistério, com seu sorriso sereno, tio Luiz me disse: “Por isso, tenho certeza de que meu anjo da guarda é negro”. A isso, seguiu-se um curto silêncio, logo acompanhado de uma nota do violão. E eu achei tão bonito tudo isso, ainda fico emocionada quando me lembro do jeito dele de contar causos e de tocar violão.
            Contando isso ao guardião-mor dos causos de família, tio Nica, outra bela parte se acrescenta a esta estória. Trata-se da música, muito apreciada pelo tio Luiz, “Angelitos negros”, conhecida na interpretação de Antonio Machin, mas que foi criada sobre versos do poema do venezuelano Eloy Blanco, nascido no século XIX. Dizem que na Basílica de la Macarena estão las Vírgenes de Hispanoamérica, dentre as quais a Virgen de Coromoto, patrona da Venezuela. Um quadro desta Virgem feito pelo pintor Pedro Centeno Vallenilla teria inspirado o grande poeta que, ao vê-la rodeada de anjos loiros, morenos e índios, sentiu a falta dos anjinhos negros.
            Certamente o mistério do Anjo Negro me impressionou tanto que não prestei atenção à música que tio Luiz cantou depois. Nada como a memória compartilhada para tornar o passado mais vivo.           
A música diz:

Pintor nacido en mi tierra
con el pincel extranjero,
pintor que sigues el rumbo
de tantos pintores viejos.
Aunque la virgen sea blanca,
píntame angelitos negros,
que también se van al cielo
todos los negritos buenos.
Pintor, si pintas con amor
por qué desprecias tu color
si sabes que en cielo
también los quiere Dios.
Pintor de santos de alcoba,
si tienes alma en el cuerpo,
por qué al pintar en tus cuadros
te olvidaste de los negros
Siempre que pintas iglesias,
pintas angelitos bellos,
pero nunca te acordastes
de pintar un angel negro.
Siempre que pintas iglesias,
pintas angelitos bellos,
pero nunca te acordaste
de pintar un ángel negro.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Causo 80 “Assassinato” da Preguiça - Daniel de Freitas

Daniel de Freitas
            Como o Nicanor está aceitando participação de “escribas iniciantes”, vou correr o risco de me iniciar. Sou o seu quarto irmão, na ordem de idades, e trabalho há mais de 40 anos, ligado ao ramo de mineração e construção de barragens, tendo morado em quase todas as regiões do Brasil. Hoje dou assessoria às Construtoras, exatamente na área ambiental, legal e operacional. Ninguém, mais do eu, conhece as necessidades da humanidade tomar providências sérias, em benefício ao meio ambiente, preservando a fauna e a flora brasileiras, que são riquíssimas, mas não têm sido respeitadas.
            Pelas assessorias, continuo viajando muito e alguns anos atrás tive que ir até Porto Velho, onde aluguei um carro para os trabalhos que tinha a desenvolver.
            Logo na saída do aeroporto de Porto Velho, em direção ao centro da cidade, há uma alternativa à direita para quem vai a algum local da cidade que fique mais às margens do rio Madeira, como, por exemplo, o Museu da Estrada de Ferro, que vale a pena ser visitado. Essa via de acesso passa dentro de uma pequena reserva florestal  (parque), onde habitam muitos animais silvestres. É cercada por tela protetora dos dois lados, óbvio que para inibir a travessia de animais, e tem até uma passagem subterrânea por onde os bichos transitam sem correr o risco de atropelamento. As copas das árvores, em alguns trechos, se encontram e formam como que um túnel sobre a avenida.
            Passando por este local de carro e sozinho, pude ver uma preguiça (animal mamífero xenartro), que ao tentar atravessar a avenida pelas árvores (fez como certas pessoas que gostam de atravessar pistas de rolamento, com preguiça de acessar uma passarela) caiu na pista. Parei o carro e fui tentar recolocar o bicho no mato, por sobre a tela. Como eu nunca tinha carregado uma preguiça, encontrei dificuldade de levantá-la. O bicho era dos grandes.
            Eu estava procurando uma forma de usar a força do próprio animal, para transpor a tela, quando veio um veículo e fez menção de parar; era uma Fiat Weekend. E eu fiz menção de me dirigir a ele, pedindo ajuda para a tarefa, mas eu não queria soltar o bicho, com receio de perder parte do esforço que eu já tinha feito. Isso fazia com que eu cobrisse parcialmente o corpo do bicho que eu segurava. O veículo deu um “cavalo de pau”, tomando a direção de retorno ao aeroporto em altíssima velocidade. Eu continuei no meu esforço e coloquei a preguiça do outro lado.
            Ainda bem que o bicho é lento e, por sorte, ainda estava à vista para comprovar minha estória (?), pois depois de uns dez minutos que o veículo fez a manobra que contei, me chega uma viatura com quatro policiais, que saltaram de armas em punho e me deram voz de prisão; como sempre acontece nessas ocasiões, não me davam oportunidade para eu me explicar; me revistaram e me perguntavam: “ – onde você jogou o corpo?” Depois de algum esforço, consegui me identificar e lhes disse em que empresa eu trabalhava, que era uma empresa conhecida e conceituada na região, disse-lhes que não havia corpo algum naquele local, pelo menos nos últimos vinte minutos e respondi: o corpo que eu carregava é aquele bicho ali, que está bem vivo. O sargento viu o bicho, mas ainda demorou alguns minutos para desarmar o espírito contra mim, mas finalmente o fez.
            Na sequência, todo mundo já mais calmo, o sargento me contou que o indivíduo do carro chegou, esbaforido, no posto policial do aeroporto dizendo que houve novo assalto naquele mesmo lugar, que havia um morto sendo carregado, mas que ele não sabia se havia outras vítimas. Só sabia informar que o assassino estava carregando o corpo para o mato, passando-o por sobre a tela.
            Ao final, o sargento me contou que estavam ocorrendo muitos assaltos na região e que na semana anterior haviam assassinado um taxista e jogado o corpo próximo daquele local.
            O tratamento que recebi da polícia foi bem mais assustador do que o tratamento que eu dispensei à preguiça. Realmente tive receio de que me dessem um tiro, mas consegui manter a calma e tudo terminou como devia. Eu e a preguiça nos salvamos!

domingo, 3 de março de 2013

Política 1 Estelionato Fiscal - Miriam Leitão


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