segunda-feira, 4 de março de 2013

Causo 80 “Assassinato” da Preguiça - Daniel de Freitas

Daniel de Freitas
            Como o Nicanor está aceitando participação de “escribas iniciantes”, vou correr o risco de me iniciar. Sou o seu quarto irmão, na ordem de idades, e trabalho há mais de 40 anos, ligado ao ramo de mineração e construção de barragens, tendo morado em quase todas as regiões do Brasil. Hoje dou assessoria às Construtoras, exatamente na área ambiental, legal e operacional. Ninguém, mais do eu, conhece as necessidades da humanidade tomar providências sérias, em benefício ao meio ambiente, preservando a fauna e a flora brasileiras, que são riquíssimas, mas não têm sido respeitadas.
            Pelas assessorias, continuo viajando muito e alguns anos atrás tive que ir até Porto Velho, onde aluguei um carro para os trabalhos que tinha a desenvolver.
            Logo na saída do aeroporto de Porto Velho, em direção ao centro da cidade, há uma alternativa à direita para quem vai a algum local da cidade que fique mais às margens do rio Madeira, como, por exemplo, o Museu da Estrada de Ferro, que vale a pena ser visitado. Essa via de acesso passa dentro de uma pequena reserva florestal  (parque), onde habitam muitos animais silvestres. É cercada por tela protetora dos dois lados, óbvio que para inibir a travessia de animais, e tem até uma passagem subterrânea por onde os bichos transitam sem correr o risco de atropelamento. As copas das árvores, em alguns trechos, se encontram e formam como que um túnel sobre a avenida.
            Passando por este local de carro e sozinho, pude ver uma preguiça (animal mamífero xenartro), que ao tentar atravessar a avenida pelas árvores (fez como certas pessoas que gostam de atravessar pistas de rolamento, com preguiça de acessar uma passarela) caiu na pista. Parei o carro e fui tentar recolocar o bicho no mato, por sobre a tela. Como eu nunca tinha carregado uma preguiça, encontrei dificuldade de levantá-la. O bicho era dos grandes.
            Eu estava procurando uma forma de usar a força do próprio animal, para transpor a tela, quando veio um veículo e fez menção de parar; era uma Fiat Weekend. E eu fiz menção de me dirigir a ele, pedindo ajuda para a tarefa, mas eu não queria soltar o bicho, com receio de perder parte do esforço que eu já tinha feito. Isso fazia com que eu cobrisse parcialmente o corpo do bicho que eu segurava. O veículo deu um “cavalo de pau”, tomando a direção de retorno ao aeroporto em altíssima velocidade. Eu continuei no meu esforço e coloquei a preguiça do outro lado.
            Ainda bem que o bicho é lento e, por sorte, ainda estava à vista para comprovar minha estória (?), pois depois de uns dez minutos que o veículo fez a manobra que contei, me chega uma viatura com quatro policiais, que saltaram de armas em punho e me deram voz de prisão; como sempre acontece nessas ocasiões, não me davam oportunidade para eu me explicar; me revistaram e me perguntavam: “ – onde você jogou o corpo?” Depois de algum esforço, consegui me identificar e lhes disse em que empresa eu trabalhava, que era uma empresa conhecida e conceituada na região, disse-lhes que não havia corpo algum naquele local, pelo menos nos últimos vinte minutos e respondi: o corpo que eu carregava é aquele bicho ali, que está bem vivo. O sargento viu o bicho, mas ainda demorou alguns minutos para desarmar o espírito contra mim, mas finalmente o fez.
            Na sequência, todo mundo já mais calmo, o sargento me contou que o indivíduo do carro chegou, esbaforido, no posto policial do aeroporto dizendo que houve novo assalto naquele mesmo lugar, que havia um morto sendo carregado, mas que ele não sabia se havia outras vítimas. Só sabia informar que o assassino estava carregando o corpo para o mato, passando-o por sobre a tela.
            Ao final, o sargento me contou que estavam ocorrendo muitos assaltos na região e que na semana anterior haviam assassinado um taxista e jogado o corpo próximo daquele local.
            O tratamento que recebi da polícia foi bem mais assustador do que o tratamento que eu dispensei à preguiça. Realmente tive receio de que me dessem um tiro, mas consegui manter a calma e tudo terminou como devia. Eu e a preguiça nos salvamos!

14 comentários:

  1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK/!!!!!!!!!!! Muito bom, meu irmão!! Apesar do susto!! Parabéns pela iniciativa ambiental. Aprendemos com D. Edith.

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    1. Então João, pode contar outros "causos" ou escrever crônicas para postarmos. Fico no aguardo! Abraços Nicanor

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  2. Conheço algumas boas estórias desse cara aí, mas essa eu nunca tinha ouvido...

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    1. Tanto você quanto o Éden, podem contar os "causos" que vocês conhecem. São todos muito bons. Aguardo. Abraços - Nicanor

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    1. Gleydson, você conhece bem o autor e sabe como ele é calmo para enfrentar esse tipo de problema. Se "sesse" eu...sei não...

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  4. Pri, Éden e Jotabe: também conheço algumas desse "cara", mas essa, para mim, era inédita...kkkkkk
    Jr/Aline

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    1. Aguardem que vão aparecer outras "inéditas" para vocês. Obrigado!

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  5. Nicanor, Esse eu li!
    Muito bom! Diga ao seu irmão que ele está aprovado.
    Abs. Fernando

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    1. Daniel, como pode ver, você está aprovado. Pode começar a contar outros "causos" que o pessoal gostou. O blog teve hoje mais de 60 visitas...
      Fernando muito obrigado!
      Nicanor

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  6. Gostei e dei boas risadas, interessante o cuidado que ele teve com o animal, e a desconfiança do homem para com o homem...Muita diferença... Parabéns!
    Regina

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    1. Que bom que você gostou, assim continua animada para continuar colaborando.... Abraços. Nicanor

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  7. Freitas
    Estou um pouco atrasado desta vez, mas vejo que tens um bom elenco de "causeiros" na família. Este foi um bom exmplo de solidariedade: o Daniel salvou a preguiça e, por sua vez,foi salvo por ela. Abraços - José Carlos - 06/03/13

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    1. Atrasado estou eu Zé Carlos, mas você sabe por quê! Um abraço. Freitas

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Nicanor de Freitas Filho