domingo, 30 de março de 2014

Esportes 9 Nossa Seleção está quase toda no céu.


Alcino de Freitas.
            Costumam dizer que Deus é brasileiro, e eu acredito. O título de penta campeão mundial de futebol só o nosso país obteve. E olhe que, nos primeiros mundiais disputados o negócio era bem bagunçado. Em 1950, quando perdemos o título para o Uruguai dentro do Maracanã, aqui no Brasil, a decepção foi geral. Era preciso mudar alguma coisa para melhorar. Disputamos mais outra Copa em 1954, e outra vez, provamos que tínhamos um bom time, porém faltava organização. Foi então que, em 1958, convidaram o Dr. Paulo Machado de Carvalho, homem da imprensa brasileira, para comandar a nossa Seleção. E ele tornou-se o “Marechal da Vitória”. O Brasil conquistou pela primeira vez, na Suécia, o cobiçado título de campeão mundial .
            Todo este preâmbulo, para chegarmos aos nossos craques que, estão sendo chamados, lá no céu, pelo Senhor. Foram tantos os chamados que perdi a conta. Na semana passada foi à vez de Hideraldo Luis Bellini. Um zagueiro de estilo vigoroso, um líder nato. Bellini entrou para a história do futebol mundial ao erguer a Taça Julies Rimet, no Estádio Rasunda, em Estocolmo, depois da goleada de 5x2 do Brasil, sobre a Suécia, no jogo decisivo do mundial. Nasceu em Itapira-SP; no dia 21 de junho de 1930. Bellini foi o capitão da primeira Copa do Mundo que o Brasil conquistou em 1958 na Suécia. Na época era zagueiro do Vasco da Gama, foi ele que eternizou o gesto de levantar a taça, que os capitães de todas as seleções campeãs do mundo, passaram a repetir. Chegou à Seleção do Brasil jogando pelo Vasco, passou pelo São Paulo e encerrou sua carreira, atuando pelo Atlético Paranaense, em um dia que jamais se esqueceu. Dia 20 de julho de 1969, o dia em que o homem pisou na lua pela primeira vez. Naquele ano, juntamente com Djalma Santos, também bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira, Bellini foi campeão paranaense.  
            Conta Bellini: “Não pensei em erguer a taça, na verdade não sabia o que fazer com ela quando a recebi do Rei Gustavo, da Suécia. Na cerimônia de entrega a confusão era grande, havia muitos fotógrafos procurando uma melhor posição. Foi então que alguns deles, os mais baixinhos, começaram a gritar. Bellini, levanta a taça, levanta Bellini. Foi quando eu a ergui”.
            Casado com dona Gisele por 42 anos, e tiveram dois filhos: Carla e Junior, filhos dos quais Bellini e Gisele se orgulham muito.
            Bellini disputou 57 jogos pela Seleção Brasileira. Conquistou: 42 vitórias, 11 empates e 4 derrotas.
            Clubes pelos quais jogou: Atlético Sanjoanense, Vasco da Gama, São Paulo e Atlético Paranaense.
            Títulos pela Seleção Brasileira: Copa Roca (1957 e 1960).
            Taça Oswaldo Cruz: (1958, 1961 e 1962).
            Copa do Mundo: (1958 e 1962).
            Taça Bernardo O’Higginis: (1959) e Taça Atlântico (1960).


(Artigo publicado no Jornal Interação, de Araxá-MG, no dia 27/03/2014)           

terça-feira, 25 de março de 2014

Crônica 22 Estou Indignada!


Claudia Fonseca de Freitas Saraiva
            A notícia não é de hoje, mas ainda não saiu da minha memória.
           Para mim inexplicável o ocorrido: Pai que bate em seu filho de apenas 8 anos, por cerca de duas horas, culminando com a perfuração do fígado e a consequente morte do pequeno, inclusive com afirmação em seu depoimento de que batia frequentemente no filho.
            Motivo: a criança gostava de lavar louças, e o “corretivo” tinha como finalidade fazer com que o pequeno tivesse atitudes de “Homem”. (Veja notícia:
            Que h-o-m-e-m é esse?
            Refleti muito e ainda continuo indignada com a atitude desta pessoa... (pessoa???)
            Pensei: “ – tenho um filho de seis anos e uma filha de dois. O que é necessário ensiná-los para que sejam verdadeiros ‘Homem’ e ‘Mulher’?”
            Começo avaliando meu mundinho... A sala da minha casa está sempre uma “bagunça”, carrinhos de “meninos” e bonecas de “meninas”, bolas de “meninos” e panelinhas de “meninas”, e por aí vai... Mas seria essa a maneira de descrever os brinquedos, considerando serem apenas duas crianças, que por razões obvias, ainda não tem discernimento para saber o que é brinquedo de “menino” e de “menina”, menos ainda o que  é “Homem” e o que é “Mulher” e suas diferenças? Detalhe, ambos brincam com TODOS os brinquedos e JUNTOS, e eu como mãe AMO MUITO TUDO ISSO!
            Diante da notícia, me lembrei destas férias de janeiro: minha filha tem uma pia que sai água para lavar os pratinhos e talheres. Nossa, agora no verão esse brinquedo foi sucesso garantido, tanto para minha filha como para meu filho. Aliás, posso dizer que meu filho, “Homem”, de seis anos, curtiu mais que a irmã, a “dona” do brinquedo.
            Ele estava adorando lavar louças.
            Evidente! Que criança não gosta de mexer com água? Fora a bagunça com a espuma que vai se formando. Delícia! Divertimento garantido. Acredito que a curtição estava em brincar com a água, para lavar qualquer coisa, não só as pequenas loucinhas que talvez não estejam catalogadas nos brinquedos destinados aos meninos “Homens”.  E posso afirmar que em nenhum momento passou pela cabeça do meu filho tratar-se de brincadeira “proibida” para meninos e eventuais consequências na sua vida adulta. (a deturpação está sempre na cabeça do adulto!)
            Aliás, eu como mãe, estava vibrando ao vê-los brincando, folia completa. Ademais, penso que das brincadeiras vão surgindo os ensinamentos para a vida, bons ou ruins.
            Mas que mal há em lavar louças?
            Oportuno mencionar a capa da Veja São Paulo, de 12/02/2014, apareceu a foto do Sr. Sílvio Santos lavando louça, com a chamada: As distrações na casa em Orlando: lavar louça e assistir a 54 capítulos de Breaking Bad”.
            Como mãe, pretendo criar meus filhos, tanto o “Homem” como a “Mulher”, da mesma forma, mesmos ensinamentos, mesmos valores, a mesma educação, a mesma visão sobre a vida. Afinal são dois seres humanos antes de serem “Homem” e “Mulher”. Criaturas de Deus. E desejo que sejam bons igualmente.
            Desejo que meu filho seja um “Homem” e tanto, daqueles que abre a porta do carro para a namorada ou esposa, que a deixe passar na frente ao entrar em um restaurante, que na calçada a deixe andar pelo lado de dentro, gentilezas que decerto, muitos “homens” não as possuem; que seja uma boa pessoa, honesto, íntegro, educado, de bem com a vida e quem sabe um grande pai, capaz de ensinar seu filho a lavar louças também!
            Assim, posso ficar despreocupada e aliviada por saber que será uma PESSOA do bem e capaz de qualquer feito, inclusive os domésticos, indevidamente intitulados como de “Mulher”, de forma que se PRECISAR lavar a louça não terá dificuldade alguma em lidar com e essa situação, e que fique bem claro, poderá agir naturalmente sem medo de deixar de ser “Homem” por isso.
            Aliás, quantos aos feitos domésticos, meu filho já tem desenvolvido algumas delas como arrumar a própria cama, bem como arrumar a mesa para o café da manhã nos finais de semana.
            Logo, lavar louça também será um dos tópicos dos futuros ensinamentos. Lavar a louça sim, porque NÃO é isso que vai torná-lo mais ou menos “Homem”. Vai apenas fazer dele um “Homem” melhor!
            Se hoje, as mulheres são responsáveis pelo lar, em todos os sentidos, porque além dos afazeres domésticos, também contribuem financeiramente em prol da família, também levam o carro para abastecer, para reparo em oficina, fazem consertos em casa, usam furadeiras, carregam sacolas pesadíssimas de compras do supermercado, sozinhas, entre tantas coisas, o que não lhes retira a feminilidade, a sensualidade, o charme e a graça de ser “Mulher”, porque o “Homem” não pode lavar louça?
          Atesto ainda que conheço alguns homens que tratam naturalmente sobre o assunto “lavar louças” e afirmam sem o menor preconceito o auxílio às esposas, quando se trata do assunto “divisão de deveres em casa”.
         Imagino assim que, lavar louças não fará do meu filho “menos Homem”!
         Acredito sim que fará dele um Grande “Homem”, um “Homem” melhor, alguém que saiba se virar nesse mundo, lhe trará espírito de solidariedade, de generosidade, de compartilhamento de “deveres”, e provavelmente minha futura nora vai me agradecer (rsrs – para descontrair do pesado tema...)
            E meu querido filho, se um dia você tiver acesso à esse desabafo, saiba que o amo infinitamente, e serei eternamente grata pelas vezes que lavar a louça para a mamãe, após as refeições e profundamente orgulhosa, se assim fizer com a família que constituir!
            E a você minha filha querida, desejo um “Homem” de verdade na sua vida, daqueles que saibam até mesmo lavar louças! 

sábado, 22 de março de 2014

Crônica 21 O que é a Música?


José Carlos Neves
                           Vibrante como a badalada dos sinos da minha aldeia;
                                Harmônica como sons celestiais de anjos em cadeia. (JCN)

        Num breve intermezzo do ensaio do coral do meu amigo Trasmontano, a pergunta repentina do maestro Élcio, soou como um desafio: “O que é a Música?”. E como se um mistério tivesse que ser desvendado, concedeu como pista para facilitar a resposta: “A Música é a arte de...”. Pergunta, pista e resposta ficaram no ar e ninguém mais se lembrou delas até ao final do ensaio. Mas a pergunta ficou na cabeça do meu amigo, e para ela buscou respostas que não fossem meramente técnicas, mesmo porque ele jamais aprendeu a reconhecer uma única nota musical. Ele poderia simplesmente completar a pista do maestro e dizer que a música é a arte de juntar, combinar e harmonizar sons que soem agradáveis aos ouvidos. Ele entende que ninguém poderia contestar essa resposta, mas seria simplificá-la demais. Então ele a procurou dentro da sua alma.

        Desde a sua mais remota lembrança de infância, na sua aldeia trasmontana, o meu amigo carrega os sons primeiros das badaladas do sino da pequena igreja, a não mais que 20 m distante da casa onde morava com seu avô paterno e tios. Também os chocalhos dos vários “inos”: bovinos, caprinos, ovinos, e até suínos e equinos. Nenhum desses sons tinha os requisitos técnicos do que se convenciona como som musical. E mesmo sem  que alguém os combinasse intencionalmente, eles continuam a soar como orquestra na alma do meu amigo. Na sua aldeia não havia ainda qualquer tipo de comunicação como rádio, telefone, e muito menos televisão que pudesse transmitir uma atividade musical vinda de fora. Mas lá estavam seu padrinho de batismo e outro amigo, com sua guitarra portuguesa e o violão universal, a tirar plangentes sons de suas cordas, aprendidos de ouvido, em solos instrumentais, ou acompanhados de suas deseducadas mas sensíveis vozes. E a gaita escocesa do seu tio Júlio, um bumbo e uma caixa, formavam o que mais se aproximava do que o meu amigo, conheceu como uma banda. Assim, as guitarras, a banda, os chocalhos, os sinos e as músicas sacras cantadas na missa, formaram todo o universo musical da infância do Trasmontano. Mas não foi pouco. Todos aqueles sons produzidos pela sensibilidade de mãos rústicas de camponeses continuam a soar na alma do meu amigo até hoje, a competir com a mais erudita das músicas.

        Da sua aldeia trasmontana, passando por ligeiro intermezzo em Lisboa, até ao seu Brasil de hoje, o meu amigo passou e passeou por muitos estilos musicais e, sua alma, por muitos estados de espírito trazidos pela alegria da música popular portuguesa, no som e bailado simples e brejeiro de um Vira ou um Fandango; na melancolia saudosa de um fado; na veneranda voz da maior das divas portuguesas, Amália Rodrigues; no êxtase do som de cristal de guitarras; na  agradável surpresa do novo no chorinho e nas marchinhas bem brasileiras; nas serestas e nas retumbantes escolas de samba; na bossa nova e nos irreverentes e transgressores  rocks da jovem guarda e tropicália; no bucolismo dos sertanejos; na moderna irreverência do hip hop e rap. Daqui mesmo, ou em viagens pelo mundo, o Trasmontano conheceu muitos outros estilos, ritmos e danças populares deste planeta; seria  injusto  descrever  uns e não mencionar outros neste pouco espaço. É certo que não aprecia alguns estilos, mas respeita a todos, como àqueles que, sim, os apreciam. Isso faz parte da diversidade e liberdade sensitiva de cada um.

        Foi um longo caminho até que pela primeira vez, lá por 1965, ele ouviu  Barcarolle – ária mágica e inesquecível dos Contos de Hoffmann. Ficou extasiado com sua beleza, e a partir dela descobriu  o universo da música erudita, e sua vida menos solitária, ao iniciar uma viagem de muitas escalas, como no compasso simples e crescente do Bolero, de Ravel; a libertar seu pensamento no coro do Va Pensiero, do Nabuco, de Verdi; a juntar-se à rebeldia da Habanera, da Carmem, de Bizet; a voar num coro de anjos na Aleluia, do Messias, de Haendel; a entregar-se ao gênio de Beethoven no fluxo e refluxo de inquieto sofrimento da sua Quinta Sinfonia; a sentir a paz no bucolismo pastoral da Sexta Sinfonia; ou enebriar-se no inigualável e esfuziante prazer  da Ode à Alegria, da Nona Sinfonia; a cruzar e sentir os climas imaginários das Quatro Estações, de Vivaldi; a sorver toda a religiosidade de Bach em Jesus Alegria dos Homens, em seus Concertos Brandeburgueses; cavalgar ao lado das Valquírias, de Wagner; surpreender-se na precoce genialidade de Mozart, em suas muitas sinfonias, ou entregar seu corpo à força etérea de seu Requiem; ou no passo triste e dolente da Marcha Fúnebre, de Chopin; a levitar na lentitude dos adágios de Albinoni; um suave flutuar no Lago dos Cisnes, de Tchaikovski; a orar num  canto gregoriano; a arrepiar-se ao ouvir as vozes de tantos tenores, baixos, barítonos, mezzo sopranos,  sopranos, contraltos, em solo ou em coro, em tantas obras operísticas e peças curtas, cantadas à capela, ou como num duelo fraterno com  suas almas gêmeas: uma infinita diversidade musical de instrumentos e seus instrumentistas, virtuosos, ou apenas guiados pela alma.

        Então, amigo Élcio, na visão e sentir do amigo Trasmontano, que agora mal encadeia do, ré, mi, fá..., em resposta à sua pergunta, a Música – com extensão na irmã, Dança - é isso. São todas as sensações sonoras que nos trazem antídotos ou estímulos aos diversos estados de alma, que bem podem ser de alegria, tristeza, melancolia, amor, saudade, medo, coragem, exaltação, amor, ódio, depressão,  entrega, prazer, dor, fé e esperança. Se qualquer som não lograr tocar nalgum desses sentimentos, não será música; será apenas um ruído. É hora da Ave Maria, e o dobrar dos sinos da sua aldeia teimam em penetrar-lhe pele e corpo, e a tocar fundo na sua alma.

JCN – MAR – 2014 – jcneves45@yahoo.com.br  

terça-feira, 11 de março de 2014

Crônica 20 Eis que hoje é o dia dela!

Pai... pode censurar caso entenda não ser pertinente. Simplesmente acordei, tomei café e sentei para escrever. Não sou escritora, apenas uma pessoa emotiva! Então às vezes pode não fazer sentido alguma coisa....Beijos Claudia.

Eis que hoje é o dia dela!

Claudia Fonseca de Freitas Saraiva
            Não a conheci nesta vida, mas sei perfeitamente como ela era, por dentro e por fora!
            Por fora, linda – as fotos me mostram – um sorriso encantador e de paz, a esconder tristezas que a vida pode ter lhe proporcionado, mas que não a impediram de ser uma grande mulher.
            Por dentro, um coração enorme. Coração de Mãe! Coração de Vovozinha! Embora, infelizmente, para ela e para nós, não tenha conhecido nenhum de seus netos.
            Seis filhos bem criados. Seis orgulhos. Seis bondosos corações.  São seus frutos. Essa, a melhor e maior herança deixada para os netos.
            Esse enorme coração soube criar, educar e passar valores. Sempre escutei boas estórias a respeito dela. Jamais escutei uma só queixa. Sempre senti carinho e admiração sem sequer tê-la conhecido.
            E, se de um lado o coração fica apertado de  saudades de quem não conheci, de outro, sinto-me confortada por saber o quanto ela foi tão amada.
            Se sinto saudades dos momentos que não vivi ao seu lado, tenho certeza que o amor dela chegou até mim de muitas outras maneiras.
            E, se eu não pude conhecer essa incrível mulher nesta vida, é porque algo muito mais valioso está reservado para o nosso encontro em um outro dia.
            Saudades da minha avó!

Nota: Recebi esta mensagem da minha filha, agora. Se minha Mãe fosse viva, faria hoje 102 anos...

domingo, 9 de março de 2014

Crônica 19 Leitura e Escrita

José Gamaliel Anchieta Ramos
            Há pouco tempo fiz amizade com o irmão de um ex-colega de escola. Em seu blog, com regularidade, posta contos e crônicas. Outro dia mesmo, fez uma cobrança séria, imediatamente o atendi com dois de meus contos que já tinham sido publicados. Ele agradeceu, mas pediu outros.
            Uma semana depois, publiquei algo no Facebook pela passagem de seu aniversário. A resposta tão logo veio: “Muito obrigado pelas felicitações, mas me mande suas memórias para o blog, porque não estou conseguindo escrever. Abraços”!
Eu concordo com o amigo, são enormes as dificuldades encontradas para a produção de textos, às vezes nem começo, noutras não vou ao fim. Além de ser grande sacrifício ficar bom tempo com a bunda grudada na cadeira, essa empreitada desafiadora exige o preparo intelectual adquirido com muita leitura, coragem e toda concentração. E foi então que, mesmo sendo algo complicado, entre uma ideia e outra, tive a iniciativa de me perguntar, por que não devo comentar sobre estas irmãs gêmeas?
            Leitura e escrita, ambas têm seus méritos, por serem edificantes e úteis, embora a responsabilidade do leitor seja quase sempre menor.
            Livros, de autores que sabem fazer literatura, dizem tudo.  Alguns chegam a ser estudados profundamente, a fim de que haja o maior entendimento do sentido de tudo que eles contêm, como as Escrituras Sagradas, O Capital de Karl Marx e O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Destes, compreenderão todos os textos os estudiosos se possuírem entendimentos especializados que fazem parte da base de conhecimentos e dos conceitos da história humana.
            Para uma leitura sem compromisso não se escolhe muito o lugar, busu, escritório ou em casa. Varanda, sala e quarto. Na cama, deitado, é uma das três melhores coisas para serem feitas. Com os olhos abertos, semicerrados, com um só, caindo de sono. Não tem problema quando for interrompida pela soneca. E até o vaso serve, se o local for o banheiro. Para fazer a número dois alguns não desprezam o auxílio de um livro ou revista.
            A maior intensidade de leitura faz melhorar meu nível de compreensão e a capacidade de interpretar os textos. É uma tristeza descobrir alfabetizados incapazes de entenderem o sentido das linhas e entrelinhas, pessoas que enxergam, mas nada decifram na claridade do meio-dia.
            Leitor, minha dificuldade em preencher essas páginas em branco é maior que a sua, porque a escrita não se faz de imediato, em dois tempos. Mas o exercício diário de escrever é algo que faz toda a diferença, assim como o de outras atividades, inclusive o da leitura.
            O que ora faço pouco representa diante de uma elaborada obra com inúmeras páginas, que necessita da montagem de um verdadeiro processo para a execução de algo infinitamente mais complexo. Os personagens criados pelos verdadeiros artistas, que povoam a sua vida naquele momento de solidão, retiram de dentro dele tudo o que existe de bom e ruim.
            Meus escritos podem agradar muito aos familiares e amigos, o que não acontecerá se cairem nas mãos de leitores críticos. Os mais conscientes certamente me darão muitas orientações, porque vão apontar meus pontos fracos e, irão dizer se a linguagem empregada está coerente com todos os elementos da trama.
            É fácil reconhecer a pessoa realmente letrada que praticou a leitura e a escrita durante toda sua vida, percebe-se de imediato que ela não se limitou a ficar enjaulada dentro dos muros da escola, somente nas aulas do bê-á-bá e de português. 
            O leitor capaz percebe, de modo ativo e flexível, a inexistência da verdade estável, independente, ao constatar as belas lições que estão soltas no mundo prontas para ser nossas.
            Já é muito diferente a rigorosa missão de escrever, exige isolamento, dedicação e método. Tanto quem o faz sem sofrimento ou com todo embaraço, seja desconhecido ou celebridade, não pode realizá-la em qualquer canto. Para exercer sua brilhante vocação de poeta, o chileno Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, Prêmio Nobel de Literatura em 1971, muito conhecido como Pablo Neruda, em Isla Negra, à Beira do Pacífico, construiu um de seus refúgios numa casa em forma de barco, onde mergulhava no seu mundo para a descoberta de outros.
            O escritor deve estar bem acordado, ao contrário de quem lê, às vezes passa da hora de ir ao banheiro, e por noites em claro ocupado no registro das ideias que pipocam a todo instante.
            A palavra escrita fica como prova e traz desdobramentos. Em 2009, com base em um trecho do livro de uma atriz global, uma autarquia vinculada à Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, tentou suspender o benefício de treze mil reais, mensalmente pago a ela. Quando disse que por 12 anos tinha vivido em relação estável, deu a corda para ser enforcada. Além desse caso exemplificado, dentre os vários tipos de riscos que corre uma publicação, a aceitação da crítica pode afastar ou aproximar o público da obra.
            Bariani Ortêncio no livro Cartilha do Pré-Escritor, em suas 280 páginas, esmiúça tudo a respeito da insana batalha que é escrever, publicar, editar e distribuir livros nesse país.
            Os escritores são formados nos livros publicados. Demanda muitos anos para a formação de um escritor, quanto mais páginas você publica melhor será sua produção literária. De Machado de Assis é posto em destaque o que fez a partir do décimo primeiro livro. Até este ponto da longa carreira estava apenas adquirindo a experiência que veio trazer brilhantismo a sua obra.
            Muito mais é necessário na criação e recriação de um texto literário, que além de bem escrito também deve receber hábil acabamento, saber ler e escrever não basta. Eu até posso ter como base os fatos reais, porém não devo me esquecer da imaginação, dessa capacidade de criar, princípio e fim de todas as ideias registradas nos livros. É tarefa difícil compor personagens envolventes, histórias que contenham argumentos surpreendentes, construir diálogos agradáveis, situações emocionantes, enfim, somente alguns podem produzir uma trama irresistível capaz de sair vencedora numa concorrência em que há milhares de autores mais conhecidos. E as maiores editoras só querem livros dos consagrados, que tem toda a garantia de serem vendidos.
            Fafão de Azevedo (1951-2009), por 25 anos funcionário de carreira do Banco do Brasil, Matemático formado pela UnB, foi autor de sete livros, cinco de crônicas populares e dois infanto-juvenis. Quem fez tudo isso sem reclamações, com humor invejável, é bom que se diga, era cadeirante. Quando o conheci, mostrei que eu não seria tão audaz, nem tinha como ele a incrível disposição para vender a produção independente, pois ser escritor somente já achava muito difícil. Então, abriu numa página de seu livro e apontou este trecho de sua crônica: “Essa vidinha de escritor é muito sacrificada”. Em seguida, outro: “Quem sabe seu mal não seja essa sua preguiça de encarar a nossa verdadeira realidade de escritores? Vai lá, coragem!”.
            Na explicação desse ser humano admirável há o que também ensinam nas reuniões das casas kardecistas. Lá, os espíritas mineiros inventaram uma nova doença: “muquerela”, tomando emprestadas as primeiras letras das palavras, murmúrios, queixas, reclamações e lamentações. Para o combate deste mal, que traz mais peso, motiva o pessimismo, desgasta as energias, confunde o raciocínio e abriga o desânimo, eles recomendam: trabalho, disciplina, oração, coragem, esforço, persistência e boca fechada. 
            Agora vou confessar uma coisa, você não sabe o quanto eu ainda sofro para vencer minhas “muquerelas”! Amigo, depois de ter tentado superar esses meus desalentos, é bom que eu não escreva mais, pare nestas linhas, porque já tenho uma crônica para ser publicada em seu blog.
Ufa!