sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Causo 33 O "Cobra" do Violão


Nicanor de Freitas Filho

            O meu irmão mais velho gosta muito de música e já compôs muitas, tendo já algumas gravadas, até com quatro gravações, como é o caso de “A Boiada”. Com isso ele, quando morou em São Paulo, fez muitas amizades com compositores, intérpretes e empresários do ramo musical. Dentre as amizades dele, acho que posso citar o nome, pois ele, infelizmente já faleceu, é o grande compositor João Pacífico. Meu irmão guarda com muito carinho uma fita K-7 gravada com uma mensagem especialmente para ele. Dentre vários amigos, teve uma pessoa, que ele conheceu através de uns amigos que eram nossos vizinhos, que são de Botucatu-SP.
            Como fui aconselhado a não citar nomes, vou chamá-lo de “Cobra”, só para me referir à esta pessoa, que é “Cobra” no violão. Trata-se do melhor violonista que eu conheço. Ele pertenceu a um Conjunto que se chamava “Embalo Cinco”, que era um quinteto que acompanhava cantores, e trabalharam muito na época dos Festivais da Record, na década de 60.  É uma das pessoas mais simples e bacana  que conheço. Mas toca violão como ninguém que eu conheça, a não ser ele!
            Pouco tempo antes de me casar, entre 1968 e 1971 morávamos meu irmão, um compadre e eu, num apartamento no centro, em frente à Câmara Municipal de São Paulo. Disse que eram vizinhos de Botucatu, porque eles também moravam no mesmo prédio. De vez em quando, o meu irmão chegava lá em casa com o “Cobra”. Como eu sempre gostei muito de violão, tinha lá o meu Gianini, no qual eu custava fazer uma pestana e sair algum som decente. Pois o “Cobra” pegava o bichinho e tocava Ave Maria, Concerto nº 1 do Tchaikovsky, Taí, Sons de Carrilhões, Abismo de Rosas e outros tantos arranjos feitos por ele, sobre várias peças musicais, como Odeon de Ernesto Nazaré e um pout-pourri, que ele fez das músicas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que chamou de Suite Nordestina e por aí vai.
            Algumas vezes eu pegava meu gravadorzinho Philips e gravava do jeito que podia. Ele tinha um amigo que gravava todos os recitais que ele fazia. Um dia ele me emprestou uma fita de rolo com várias músicas dele. Eu juntei tudo numa fita, também de rolo e sempre ouvia com muito prazer. Quando os gravadores de rolo foram sumindo, passei para uma fita K-7 e ouvi-a até que também os toca-fitas começaram a sumir. Mas eu tenho todas guardadas (como ainda tenho meus 300 bolachões). Passamos então para um CD que ainda ouço constantemente. Mas desde que meu irmão se mudou de São Paulo, perdemos o contato com o “Cobra”.
            Aí por volta do ano 2000, não me lembro exatamente quando, minha esposa resolveu entrar na PUC, para fazer Faculdade da Terceira Idade, onde teve oportunidade de fazer várias amizades muito boas, que mantemos até hoje. Um dia ela chegou da PUC e me perguntou:
            “ – Como era mesmo o nome daquele amigo de vocês, que toca violão, que você tem uma fita K-7 dele aí?”
            “ – O nome dele é “Cobra”. Porque?”
            Ela confirmou o nome e sobrenome e disse:
            “ – Porque ele está dando aula de música, para mim, na PUC!”
            Peguei a fita K-7 mandei para ele ouvir e perceber o quanto ele tinha evoluído nestes 30 anos. Depois disso já fomos em várias apresentações dele, principalmente no Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, no Bexiga.
Ele já tem 3 CDs gravados, a maioria com músicas dele mesmo. Realmente ele é um “Cobra no violão”. Na minha opinião, o melhor violonista vivo no Brasil!
Quem quiser ouvir um pouquinho o som dele entre em:

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Causo 32 Consórcio de Exportação Protime


Nicanor de Freitas Filho
            Nas minhas experiências de comércio internacional, principalmente durante os 10 anos que fui Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos, aprendi muitas coisas boas e passei por muitas situações boas, engraçadas, difíceis, agradáveis, inesperadas, ou seja, todo tipo de situação, conforme já contei num dos meus causos anteriores (Meu cachimbo Inglês).
            Em 1985, depois de muitas cabeçadas entre os concorrentes, finalmente resolvemos formar um Consórcio para exportação de cadernos. O Consórcio se chamou Protime (que são as primeiras sílabas das três empresas que o formava: Propasa, Tilibra e Melhoramentos). A partir daí, passamos a concorrer somente com a Salesianos, que não quis participar do Consórcio. Nessa época as outras empresas que mais tarde vieram a exportar também, ainda não tinham estrutura para concorrer conosco. Assim nas primeiras feiras internacionais que participamos, ainda participavam do atendimento todos os representantes das três empresas.
            Os representantes da Propasa, que tinha três sócios, eram o que chamamos de “gozadores”. Eram muito espirituosos e sabiam fazer brincadeiras, principalmente as “combinadas”. Nesse ano de 1985, na feira de Nova York, “Back-to-school Show”, sendo a primeira vez que participávamos juntos – até então éramos concorrentes – houve um clima muito bom, de aproximação e amizade. Logo eles perceberam que meu Inglês era muito fraco, e, assim, sempre ficava, um deles, de “plantão”, enquanto eu atendia algum cliente, principalmente se fosse americano, que fala mais rápido e às vezes eu me complicava mesmo. Como sempre a feira acontecia em meados de fevereiro e o terceiro dia de feira, era dia do meu aniversário. Já chegaram no estande me cobrando o jantar! Mas o dia foi passando e por volta das 11 horas eu estava sozinho no estande, enquanto a turma tinha ido tomar café. Chegou um cliente de Los Angeles, fez várias perguntas, e me pediu um orçamento para uma quantidade enorme de cadernos. Fazia algumas exigências, pedia um desconto aqui, uma capa especial ali, mais prazo para pagamento, mas foi me passando um belo pedido. Finalmente me pediu se eu poderia lhe entregar uma fatura pró-forma ainda naquele dia, para ele enviar para a Matriz em Los Angeles, para irem consultando os bancos sobre a carta-de-crédito, o que é muito normal. Ocorre que para fazer uma fatura pró-forma exige-se tempo, muitos cálculos, que para mim não era problema e uma boa redação, o que eu não tinha. Além disso, precisava primeiro pedir algumas autorizações à nossa sede, porque eu havia negociado algumas condições que não eram padrão. Quando somei o pedido dava cerca de dois milhões e meio de dólares. Era a maior negociação que o Brasil faria com cadernos. Nossos pedidos, até então, giravam entre oitenta a trezentos mil dólares.
            Chamei o pessoal para o estande, pedi para permanecerem no atendimento, que eu iria preparar uma fatura pró-forma. Fiquei até às 16:30 h, calculando e redigindo a fatura pró-forma. A feira geralmente encerrava por volta das 16:00 h e tínhamos até às 17 para reorganizar o estande, antes de ir embora. Finalmente consegui terminar o rascunho da tal fatura. Mas ainda precisa ir ao Hotel, para gravar em fita de telex, para ser enviada. Isto exigia uma boa conversa com a funcionária do Hotel, acompanhado de gorda gorjeta.
            Para que não tivesse nenhuma dúvida, peguei o rascunho de 5 páginas, escritas à mão e pedi para um dos representantes, um americano, conferir, principalmente o meu Inglês. Todos se dispuseram a me ajudar e vieram para a mesa onde eu estava trabalhando. Então um deles, de nome Daniel, pegou o meu rascunho, começou a ler, ficou em pé, balançou a cabeça negativamente e simplesmente rasgou meus papeis e foi picotando tudo. Eu, não sabia se ficava nervoso, se reagia, se brigava, fiquei sem reação! Ao que eles todos – os nove participantes do estande e mais o “cliente”, que não sei de onde havia aparecido ali –  começaram a cantar “Happy birthday to you” e me disseram que eles é que iam me pagar um jantar inesquecível de 41 anos.
            E o “cliente” me disse com a maior cara de pau do mundo, que juraram para ele, que podia colocar o pedido falso, que era somente para eu ter o dia do meu aniversário muito feliz e alegre!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Causo 31 Deitando e rolando...


Nicanor de Freitas Filho
            Em fins 1983 fiz a cirurgia de catarata no olho direito, nos moldes tradicionais, ou seja, cortando na córnea e retirando o cristalino por arrancamento, dando pontos etc.. Isto implicava em manter-se no hospital por uns 5 dias e depois ficar ainda mais uma semana com aquele curativo enorme no olho operado. Desta forma, tinha que achar maneiras de passar o tempo, pois não conseguia ler, nem ver televisão, então o jeito era passear com a minha motorista particular – minha mulher. Meu maior problema era que, na cirurgia do olho esquerdo – a primeira – tinha tido uma hemorragia, que me custou quase 6 meses de molho, porque o sangue não coagulava para poder ser retirado e a pressão ocular subia muito, sendo que cheguei a levar uma injeção de cortisona dentro do globo ocular. E assim, ficou uma espécie de trauma, sempre com medo de outra hemorragia. Fazia tudo com muita delicadeza, movimentos bem controlados, para não ter chance de ocorrer nada que pudesse pensar na tal hemorragia. Até mesmo dirigindo, minha mulher tinha o cuidado para não passar em buracos, para evitar qualquer solavanco mais forte. Apesar de meu Médico me isentar de qualquer culpa pela hemorragia, eu sempre achei que foi devido a um banho que tomei, logo que saí do hospital. Acho que me movimentei demais.
            Num domingo fomos almoçar na casa daquele amigo que tinha vindo do Rio de Janeiro e que fui ajudar a colocar o lustre na sala dele. Como o médico não proibiu de beber uma cervejinha, assim o fizemos. Almoçamos bem, tomamos umas cervejas e ele, que não sabe ficar sem tirar um cochilo depois do almoço, deu uma tapinha no meu ombro e disse para deixar as mulheres conversando lá na sala e irmos tirar uma sonequinha. Eu o acompanhei e fomos para o quarto dele, que, sem cerimônia, arrancou os sapatos deitou num canto da cama de casal e disse para eu deitar também. Conversamos uns 2 ou 3 minutinhos e ele já não mais respondia minhas perguntas, que também deveriam sair baixinho, pois também estava com sono. E assim começamos nossa “sesta” e em menos de 2 minutos depois já estávamos num quase sono profundo, principalmente por causa da cerveja.
            Ele tem duas filhas e a mais nova delas, na época com uns 6 ou 7 anos, era muito “grudada” no pai e acho que ficou com ciúmes de o pai estar lá deitado com um homem na cama do casal, veio bem de mansinho, para não nos acordar, e deitou no espaço que o pai tinha deixado do outro lado da cama. Com o peso dela, forçou a lateral da cama, puxando o estrado de forma que este soltou do meu lado, caindo no chão, mas ficou preso do outro lado, formando, digamos, uma rampa, pela qual os dois vieram embalados, rolando sobre mim. E eu com aquele bruta curativo no olho, que todos sabiam o cuidado que eu devia ter!
            Passaram por cima de mim e, graças a Deus, nada aconteceu! Mas a preocupação de ambos era não tocar no meu rosto, nem que eu ficasse de cabeça para baixo, para não mexer com o curativo no olho. Eu acordei meio assustado, sem saber o que havia acontecido e só me dei conta do acontecido, ao ver a preocupação dos dois, com meu olho operado.
            Acabou nossa sesta em poucos minutos...

sábado, 8 de outubro de 2011

A Redação


Hoje não vou contar um causo. Vou publicar uma redação de uma menina de 11 anos, filha do meu amigo do Rio de Janeiro, que morou em São Paulo.
            Tenho que explicar que esta redação foi solicitada por uma professora do Colégio Santa Marcelina, onde já naquela época, se preocupava com transversalidade entre matérias. A professora  tinha dado uma aula de geografia, explicando o que é acidente geográfico, como são classificados os terrenos, falou sobre a conservação das águas, sobre a flora e a fauna, etc.. Depois da aula, solicitou uma redação sobre um país, utilizando o que haviam aprendido.
            Eis o resultado:

“O PAÍS
Em terras muito longe daqui, há um país pequenininho, mas bem pequeno mesmo, chamado país CORAÇÃO, nome dado por seus habitantes, os amorosos.

Neste país, ao lado leste, há o maior lago do país, o lago CARINHOSO. A oeste, existe o vulcão FELICIDADE, que não machuca ninguém: sua lava é um milk-shake de chocolate delicioso. No sul há uma praia chamada AMIZADE, onde a água afunda cada vez mais, mas ninguém se afoga. E, por fim, ao norte, tem a floresta BELEZA, onde vivem os animais mais diversos: leão-do-amor, a onça-feliz, o macaco-legal e muitos outros. E existem também as ervas e flores, por exemplo: a erva-do-coração-partido, que cura a tristeza e a flor-do-amor, que quem a cheira vive de bem com a vida.

A constelação que caracteriza o país é constelação AMOR, em forma de coração.

Eu gostaria de mandar um recado para os AMOROSOS: por favor, conservem este país sempre assim!
11/3/87”

Que nota você daria? 

domingo, 2 de outubro de 2011

Causo 30 Persuasão

          Outra muito boa que também ouvi num seminário de vendas é a estória do camarada que foi pela primeira vez ao Jockey Club. Tenho que explicar que, nessa época, para se apostar no Jockey Club você tinha ir lá, para ver os páreos e um pouco antes de cada páreo, os cavalos se apresentavam na pista, você olhava e se conhecesse já ia para aposta, caso contrário era a chance que você tinha para conhecer o cavalo e o jóquei que ia montá-lo, naquele páreo, além de saber com que número ele correria. Então você decidia em quem apostar e se dirigia a um dos guichês para comprar a pule, que era o bilhete de aposta. Geralmente tinha duas ou três torres abertas, dependendo do número de participantes de cada páreo. Cada torre devia ter cinco ou seis guichês, com o número em cima. Você entrava na fila do número do cavalo que você queria apostar.
            Num domingo de verão, ensolarado, bonito, nosso personagem foi conhecer o Jockey Club. Foi até às arquibancadas, viu os cavalos e a cara dos jóqueis, gostou demais do nº 7. Entrou na fila do guichê nº 7 e foi remexendo o dinheiro para aposta, quando um rapaz na fila nº 6, perguntou a ele se era a primeira vez que vinha ao Jockey. Ele disse que sim, então o novo amigo disse para ele:
            “ – Então vem apostar no nº 6 porque é barbada, sem erro, eu conheço bem os cavalos deste páreo.”
            Ele passou para a fila nº 6 e comprou duas pules, já que era “barbada”! Começou o páreo o nº 6 disparou, mas a partir da metade do páreo ele foi perdendo velocidade e... adivinhe quem ganhou. Exatamente o nº 7!! O “amigo” disse para ele, que deveria ter acontecido algo com o nº 6 porque diminuiu muito na segunda metade da corrida. (Será que era o cavalo paraguaio?)
            Tudo bem! Acontece! Apareceram os cavalos para o segundo páreo. O novato olhou, olhou e decidiu pelo nº 3. Correu para a fila. Ao chegar lá, o “amigo” estava na fila do nº 1 e já foi logo dizendo:
            “ – Companheiro agora é mesmo ‘barbada’. Não pode acontecer nada de errado agora. Não caem dois raios no mesmo lugar.”
            É verdade, pensou ele e comprou mais duas pules do nº 1. Dada a largada, o nº 1 se embaraçou com outro cavalo e nem chegou à reta final. É, parece que foi azar mesmo, mas quem ganhou foi o nº 3.
            No terceiro páreo, ele escolheu o nº 5, mas o “amigo” apareceu por lá e o convenceu apostar no nº 7, claro que deu o nº 5! No quarto páreo, ele viu os cavalos e pensou agora aposto neste nº 4 de qualquer jeito. Assim que começou a se encaminhar para os guichês, o “amigão” aproximou-se e disse:
            “ – Meu amigo, este é o único páreo que tenho 100% de certeza de ganhar, porque o jóquei do nº 8 é meu irmão e está tudo arranjado para ele ganhar. O dono do cavalo pagou uma nota preta pela marmelada. Tiro e queda!”
            O novato foi lá comprou 4 pules do nº 8 para tentar salvar as perdas. Deu o nº 4. Ele então, contou o dinheirinho que lhe sobrou e mal dava para o ônibus. Ele resolveu ir embora, porque senão ainda gastaria o dinheiro do ônibus. Chegando fora do Jockey, viu aquela bruta fila para os ônibus. Fazer o que? O dinheiro não dava para o taxi, tinha que enfrentar a fila.  Na fila, com aquele sol quente, queimando-lhe os miolos, ele tirou o lenço, amarrou as pontas, de forma que coubesse na cabeça. O camarada que estava atrás dele gostou da idéia e fez o mesmo e começaram a conversar. Nosso personagem foi contando ao companheiro de fila o que tinha acontecido. Escolheu o 7 apareceu um camarada dizendo que a barbada era o 6, depois escolheu o 3 o cara convenceu-o de jogar no 1 e assim foi indo, até que disse que o irmão era o jóquei ele apostou no 8 deu o 4...
O calor ia aumentando e começou a dar sede no nosso personagem. Então ele falou com o camarada:
            “ – Olha, estou com muita sede, o ônibus está demorando muito, vou dar um pulinho ali naquele bar para tomar um copo de água, por favor, guarde o meu lugar que volto num minutinho.”
            O camarada disse que tudo bem, que podia ir sem problemas e inclusive avisou outro senhor que estava atrás do camarada, para não ter problema. Demorou um pouco mais do que eles esperavam, inclusive a fila já estava andando, quando chegou nosso personagem, comendo amendoim salgado, num saquinho, no que o camarada que lhe guardava o lugar perguntou:
            “ – Mas você não estava com sede e ia beber água?”
            “ – Ia sim! Mas lá no bar encontrei aquele f.d.p. lá do Jockey...”