terça-feira, 18 de outubro de 2011

Causo 32 Consórcio de Exportação Protime


Nicanor de Freitas Filho
            Nas minhas experiências de comércio internacional, principalmente durante os 10 anos que fui Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos, aprendi muitas coisas boas e passei por muitas situações boas, engraçadas, difíceis, agradáveis, inesperadas, ou seja, todo tipo de situação, conforme já contei num dos meus causos anteriores (Meu cachimbo Inglês).
            Em 1985, depois de muitas cabeçadas entre os concorrentes, finalmente resolvemos formar um Consórcio para exportação de cadernos. O Consórcio se chamou Protime (que são as primeiras sílabas das três empresas que o formava: Propasa, Tilibra e Melhoramentos). A partir daí, passamos a concorrer somente com a Salesianos, que não quis participar do Consórcio. Nessa época as outras empresas que mais tarde vieram a exportar também, ainda não tinham estrutura para concorrer conosco. Assim nas primeiras feiras internacionais que participamos, ainda participavam do atendimento todos os representantes das três empresas.
            Os representantes da Propasa, que tinha três sócios, eram o que chamamos de “gozadores”. Eram muito espirituosos e sabiam fazer brincadeiras, principalmente as “combinadas”. Nesse ano de 1985, na feira de Nova York, “Back-to-school Show”, sendo a primeira vez que participávamos juntos – até então éramos concorrentes – houve um clima muito bom, de aproximação e amizade. Logo eles perceberam que meu Inglês era muito fraco, e, assim, sempre ficava, um deles, de “plantão”, enquanto eu atendia algum cliente, principalmente se fosse americano, que fala mais rápido e às vezes eu me complicava mesmo. Como sempre a feira acontecia em meados de fevereiro e o terceiro dia de feira, era dia do meu aniversário. Já chegaram no estande me cobrando o jantar! Mas o dia foi passando e por volta das 11 horas eu estava sozinho no estande, enquanto a turma tinha ido tomar café. Chegou um cliente de Los Angeles, fez várias perguntas, e me pediu um orçamento para uma quantidade enorme de cadernos. Fazia algumas exigências, pedia um desconto aqui, uma capa especial ali, mais prazo para pagamento, mas foi me passando um belo pedido. Finalmente me pediu se eu poderia lhe entregar uma fatura pró-forma ainda naquele dia, para ele enviar para a Matriz em Los Angeles, para irem consultando os bancos sobre a carta-de-crédito, o que é muito normal. Ocorre que para fazer uma fatura pró-forma exige-se tempo, muitos cálculos, que para mim não era problema e uma boa redação, o que eu não tinha. Além disso, precisava primeiro pedir algumas autorizações à nossa sede, porque eu havia negociado algumas condições que não eram padrão. Quando somei o pedido dava cerca de dois milhões e meio de dólares. Era a maior negociação que o Brasil faria com cadernos. Nossos pedidos, até então, giravam entre oitenta a trezentos mil dólares.
            Chamei o pessoal para o estande, pedi para permanecerem no atendimento, que eu iria preparar uma fatura pró-forma. Fiquei até às 16:30 h, calculando e redigindo a fatura pró-forma. A feira geralmente encerrava por volta das 16:00 h e tínhamos até às 17 para reorganizar o estande, antes de ir embora. Finalmente consegui terminar o rascunho da tal fatura. Mas ainda precisa ir ao Hotel, para gravar em fita de telex, para ser enviada. Isto exigia uma boa conversa com a funcionária do Hotel, acompanhado de gorda gorjeta.
            Para que não tivesse nenhuma dúvida, peguei o rascunho de 5 páginas, escritas à mão e pedi para um dos representantes, um americano, conferir, principalmente o meu Inglês. Todos se dispuseram a me ajudar e vieram para a mesa onde eu estava trabalhando. Então um deles, de nome Daniel, pegou o meu rascunho, começou a ler, ficou em pé, balançou a cabeça negativamente e simplesmente rasgou meus papeis e foi picotando tudo. Eu, não sabia se ficava nervoso, se reagia, se brigava, fiquei sem reação! Ao que eles todos – os nove participantes do estande e mais o “cliente”, que não sei de onde havia aparecido ali –  começaram a cantar “Happy birthday to you” e me disseram que eles é que iam me pagar um jantar inesquecível de 41 anos.
            E o “cliente” me disse com a maior cara de pau do mundo, que juraram para ele, que podia colocar o pedido falso, que era somente para eu ter o dia do meu aniversário muito feliz e alegre!

3 comentários:

  1. Ô meu, cair no conto de "americanos"?? Qual é?? Você não acha que foi muito inocente?? Um cara chegar assim e colocar um pedidão, de graça??
    Epaminondas

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  2. Detalhista e criterioso como você é, e "estouradinho" fico imaginando a cena! hahahaha
    Larangoni

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  3. Caro Naicainor,
    Eu sou ruim mesmo de computador. Não consegui postar meu comentário no Blog, mas eu atesto e dou fé de que o causo é verdadeiro, pois eu e o Murilo também estávamos lá.
    Parabéns pelos causos, para os quais só hoje tive oportunidade de ler alguns.
    Grande abraço
    JCN

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Nicanor de Freitas Filho