Nicanor de Freitas Filho
Por mais que eu queira só contar causos, tem hora que não
dá! Terça e quarta-feira da semana retrasada assisti, pela TV, quatro jogos de
futebol. Bayern 4 x 0 Barcelona, Borussia Dortmund 4 x 1 Real Madrid, Brasil 2
x 2 Chile (Mineirão)e Brasil 2 x 1 Peru (Sub-17). (hoje já sei que o Brasil empatou de 2 x 2 com o
Paraguai e não tem mais chances de chegar ao título).
Embora na Europa eu “torça” pelo Real Madrid, não posso
deixar de confessar, que aprecio muito o futebol do Barcelona, não só por
Messi, mas pelo padrão de jogo que foi implantado pelo grande craque holandês
Johan Croyff, seguido por Guardiola e, ao que parece, está ficando um pouco
desatualizado. Não está “vencido”, apenas desatualizado, pelo menos pelo que
vimos na terça e quarta-feira passadas.
Eu aprecio muito o futebol do Barcelona, pelo avanço que
deu na forma de se jogar. Realmente, diferenciou muito na essência do futebol.
Este quando foi criado, na Inglaterra, cada turma de jogadores era chamada de
“team” e que em Português, pelo menos no Brasil, virou “time”, mas na verdade a
tradução de “team” é “equipe”, porque se jogam 11 jogadores, uns ajudando aos
outros, ou seja, formando um jogo de equipes. E foi o que o Croyff implantou no Barcelona.
Tanto é verdade que o número de troca de passes e o deslocamento de jogadores é
impressionante! Geralmente ficam com a bola em mais de 2/3 do tempo de jogo.
Os clubes brasileiros e também a nossa Seleção (incluindo
a sub-17), não entendeu a evolução do jogo de futebol. Continuamos jogando nos
famosos esquemas criados, principalmente a partir de 1966, quando saímos do
2-3-5 para 4-2-4, alguns 4-3-3, outros 2-4-3-1 ou ainda os que jogam com 3
zagueiros 3-4-3. O Barcelona joga de tal forma que podemos dizer que jogam num
esquema 4-4-4. Mas como eles jogam com 12 jogadores de “linha”? Não! Só que,
como jogam em equipe, tem sempre 4 jogadores na “jogada” e 4 na retaguarda.
Eles se deslocam e trocam passes com tanta facilidade, e, principalmente
habilidade – e treinamento – que se transformam em 4-4-4. Vocês já repararam o
quanto o Messi, Iniesta, Xavi, Pedro, David Villas, voltam para marcar? E o
quanto o Daniel, Jordi, ou Adriano atacam? E o quanto o Piqué e Busquets armam
jogadas? Então é isso aí!
Enquanto isto nossa Seleção continua jogando com dois
zagueiros bem atrás, dois volantes “marcadores” um homem para “armar” as
jogadas, um atacante que faz o “pivô” e mais dois laterais e dois “ajudantes”,
um para os volantes e outro para o armador. Assim, na maioria das vezes ficamos
num 4-4-2... “Volante que marca gol é bonitinho para a imprensa, não para o
time”, ouvimos isto alguns dias atrás... Lembram-se? E assim foi o jogo de 2 a
2 com o Chile. Leandro Damião, Ronaldinho, Jadson, Neymar, nem pensar em voltar
para marcar. São “criadores” ou “matadores”. O que aconteceu? Uma grande vaia
para a Seleção em pleno Mineirão, e os gritos de olé a cada troca de passes da
Seleção Chilena.
Pior, é que no jogo da Seleção sub-17, treinada pelo
senhor Galo, jogando no mesmo padrão CBF. Ganhou, por acaso, da fraquíssima
Seleção do Peru, que se não me engano, não ganhou nem empatou nenhum jogo
ainda, no hexagonal. Por isso mesmo é que o nosso novo treinador só ganhou da
Bolívia (ganhou de quem?? da Bolívia??)! Ah! Bão!! Mas o jogo não foi em Oruro
não, a quase 4.000 metros de altitude! Então ganhou de ninguém!
Isto me faz lembrar de quando era criança e tinha como um
dos meus hobbies soltar papagaio (ou pipa como alguns dizem). Quando fui soltar
pela primeira vez, lembro que a linha era enrolada num pedaço de madeira (cabo
de vassoura cortado). Mais adiante começamos a usar as latinhas de massa de
tomate, pois eram mais grossas e enrolava mais depressa. Para soltar papagaio é
importante você ter o total controle da linha, pois para fazer o papagaio
subir, ou tem que estar ventando forte, ou você dar um corrida, até o papagaio
pegar certa altura, ou se você puxar a linha com muita rapidez. Muitas vezes, para fazer o papagaio subir, a
gente tinha que correr e ainda enrolar a linha na latinha para puxar mais
rápido. O “puxar rápido” também era importante, porque tinha alguns
“bandidinhos” que enroscavam seus papagaios com os outros e puxavam rápido,
“roubando” o papagaio dos mais fracos. Assim, apareceram aqueles marmanjos com
as latas de óleo, que eram bem mais grossas e enrolavam a linha mais depressa.
Mas tinha que ter mão grande, para segurar a lata muito mais grossa. E,
logicamente, tinha aqueles que tinham poder aquisitivo e mandavam fazer as tais
das carretilhas, estas sim, puxavam os papagaios com muita rapidez. Muitas
vezes até para subir o papagaio, bastava “dar linha” e enrolar rápido na
carretilha que ele subia.
Até que um dia, meu Padrinho Tarcísio – que era
mecânico-eletricista – fez para mim uma carretilha diferenciada. Ele utilizou
um jogo de engrenagens, de uma antiga furadeira manual, cuja relação de rotação
era de aproximadamente, quatro vezes, ou seja, cada volta que eu dava na
manivelinha, as pás enroladoras, davam quatro voltas. Fácil! Não precisava nem
correr para soltar o papagaio. Bastava enrolar rápido minha carretilha-de-engrenagens
que o bichinho subia fácil. Ninguém mais me “roubava” papagaio, pois eu era
capaz de puxar muito mais depressa que qualquer um dos “bandidinhos” que usavam
lata de óleo, ou mesmo carretilha comum.
Porque que eu fui me lembrar disto, relacionando ao
futebol? Porque essa carretilha com engrenagens era igual ao 4-4-4 que o
Barcelona joga. Não tinha como perder! Pois é, tive sorte que não apareceu
ninguém com uma carretilha impulsionada a um motorzinho a pilha, como essas do
Bayer e do Borussia! Porque eles passaram a jogar num 5-5-5 que estraçalhou as
carretilhas do Barcelona e do Real Madri (bem verdade que esta tem um jogo de
engrenagem só de dois por um...).
E não é que o Felipão continua dando “latinhas de massa
de tomate” para nossa Seleção soltar papagaios na Capa das Confederações?