José Geraldo Brito Filomeno
Nunca fui
muito ligado em futebol, nem mesmo a outros esportes. Sempre me frustrei na
tentativa de praticar alguns como, por exemplo, tênis e tamboréu, mas sem
qualquer sucesso. Durante o ginásio público era o último a ser escolhido pelos
“capitães” apontados pelo professor de educação física nos 15 minutos finais da
respectiva aula (geralmente para uma partida de futebol de salão ou basquete, e
raramente vôlei). Sai-me razoavelmente bem em natação, graças a um professor,
por coincidência, meu conterrâneo de São João da Boa Vista, que “aportou” em
Mogi Mirim, onde residia minha família, no início dos anos ´60, para dar aulas
à molecada do “Grêmio Mogimiriano”.
Com relação
ao futebol, embora são-paulino e torcedor cabisbaixo do outrora glorioso Mogi
Mirim Esporte Clube, vulgo “sapão” ou “carrossel caipira”, nunca me empolguei
com as partidas em nível estadual ou nacional, mas com especial atenção aos
campeonatos mundiais.
Em 1958 ---
primeiro campeonato que ganhamos ---, contando eu então com 11 anos de idade,
as partidas na Suécia eram transmitidas pelas rádios em ondas curtas, com
grandes chiados obrigando a apuração dos ouvidos para entender o que é que
estava acontecendo em campo. A prefeitura municipal mandou até mesmo instalar
alto falantes na praça principal para que todos pudessem ouvir. Os filmes ---
ainda não havia “vídeo tape” ---, só eram transmitidos pelas TV´s Tupi (Canal
3) e Paulista (Canal 5) dois ou três dias depois dos jogos, e assim mesmo
parcialmente, só com os lances principais.
Já em 1962
(nosso bicampeonato no Chile), embora ainda não houvesse transmissão via
satélite, os vídeos tapes eram transmitidos pelos canais de televisão na
própria noite do jogo ou no dia seguinte.
Em 1966, não
acompanhei os jogos, uma vez que, morando nos Estados Unidos como estudante
bolsista, os americanos não davam a mínima para o “soccer”. Engraçado como são
arrogantes dizendo que eles é que jogam o “real football”, embora somente
toquem com os pés na bola --- que nem bola é, na verdade --- para o “kick off” ou para uma tentativa
de marcar por cima da trave em forma de um quase “H”. Tenho para mim que o
“futebol americano” nada mais é do que um “rugby” mais sofisticado, com seus
capacetes, ombreiras e uniforme característico de calça apertada. O “baseball”,
então, não passa de um “cricket inglês”, também com uma maior sofisticação. Quando
nossa turma de bolsistas estava em Washington, já no fim de nossa temporada por
lá, em junho daquele ano, o Brasil foi eliminado por Portugal, em cuja seleção
jogava o respeitável Eusébio.
Em 1970 ---
aí sim, maravilha --- as TV´s já haviam conquistado a tecnologia de transmissão
direta via satélite, embora ainda em preto em branco. E o orgulho nacional
vibrou com o tricampeonato no México. Depois disso mais alguns anos de
frustração, até o tetra e o pentacampeonato, respectivamente, nos Estados
Unidos (1994) e na Coréia do Sul/Japão (2002).
E estamos
diante de novas angústias, buscando teimosamente o hexacampeonato.
Mas minhas
ponderações não se referem a isso. Referem-se aos valores verdadeiros do
“futebol arte” que foram perdidos ou pelo menos com lampejos raros como
Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, por exemplo.
Mas vejamos
no passado como é que foi: os
espetaculares e estonteantes dribles do saudoso Garrincha; o aparecimento do
gênio Pelé que dava “chapéus”, matava no peito e entrava quase que de bola e
tudo no gol adversário; um elegante defensor como o capitão Bellini; a também
quase inexplicável “folha seca” do Didi; a forte presença também defensiva de
um Djalma Santos; um eficiente Zito, o goleiro “trancador” do gol, Gimar, e por
aí vai. O time tricampeão também contava
com verdadeiros craques-artistas. Além
de Pelé, tivemos um Tostão, Jairzinho, o Rivelino, Zico e outros.
Havia um
ideal de “futebol arte”, Ou seja: proporcionar ao espectador um verdadeiro
“show”, sem muita preocupação com os “bichos” ou salários, na verdade,
modestos.
Hoje, para
além de transferências de passes biliardários, o que se vê é um “futebol
força”, feio, trancado, cheio de trombadas, puxadas de calções e camisas,
pisões em tornozelos sem falar das tradicionais caneladas,
mais parecendo “rubgy” ou “futebol americano”, para mim horríveis pela própria
natureza.
Lamento que
assim seja, mesmo porque embora a presença da nossa seleção lá na Rússia
desperte a atenção, não é a mesma coisa de anos atrás.