quinta-feira, 21 de junho de 2018

Futebol Arte x Futebol Força + Fortunas


                  José Geraldo Brito Filomeno                                                                                        
            Nunca fui muito ligado em futebol, nem mesmo a outros esportes. Sempre me frustrei na tentativa de praticar alguns como, por exemplo, tênis e tamboréu, mas sem qualquer sucesso. Durante o ginásio público era o último a ser escolhido pelos “capitães” apontados pelo professor de educação física nos 15 minutos finais da respectiva aula (geralmente para uma partida de futebol de salão ou basquete, e raramente vôlei). Sai-me razoavelmente bem em natação, graças a um professor, por coincidência, meu conterrâneo de São João da Boa Vista, que “aportou” em Mogi Mirim, onde residia minha família, no início dos anos ´60, para dar aulas à molecada do “Grêmio Mogimiriano”.
            Com relação ao futebol, embora são-paulino e torcedor cabisbaixo do outrora glorioso Mogi Mirim Esporte Clube, vulgo “sapão” ou “carrossel caipira”, nunca me empolguei com as partidas em nível estadual ou nacional, mas com especial atenção aos campeonatos mundiais.
            Em 1958 --- primeiro campeonato que ganhamos ---, contando eu então com 11 anos de idade, as partidas na Suécia eram transmitidas pelas rádios em ondas curtas, com grandes chiados obrigando a apuração dos ouvidos para entender o que é que estava acontecendo em campo. A prefeitura municipal mandou até mesmo instalar alto falantes na praça principal para que todos pudessem ouvir. Os filmes --- ainda não havia “vídeo tape” ---, só eram transmitidos pelas TV´s Tupi (Canal 3) e Paulista (Canal 5) dois ou três dias depois dos jogos, e assim mesmo parcialmente, só com os lances principais.
            Já em 1962 (nosso bicampeonato no Chile), embora ainda não houvesse transmissão via satélite, os vídeos tapes eram transmitidos pelos canais de televisão na própria noite do jogo ou no dia seguinte.
            Em 1966, não acompanhei os jogos, uma vez que, morando nos Estados Unidos como estudante bolsista, os americanos não davam a mínima para o “soccer”. Engraçado como são arrogantes dizendo que eles é que jogam o “real football”, embora somente toquem com os pés na bola --- que nem bola é, na verdade   --- para o “kick off” ou para uma tentativa de marcar por cima da trave em forma de um quase “H”. Tenho para mim que o “futebol americano” nada mais é do que um “rugby” mais sofisticado, com seus capacetes, ombreiras e uniforme característico de calça apertada. O “baseball”, então, não passa de um “cricket inglês”, também com uma maior sofisticação. Quando nossa turma de bolsistas estava em Washington, já no fim de nossa temporada por lá, em junho daquele ano, o Brasil foi eliminado por Portugal, em cuja seleção jogava o respeitável Eusébio.
            Em 1970 --- aí sim, maravilha --- as TV´s já haviam conquistado a tecnologia de transmissão direta via satélite, embora ainda em preto em branco. E o orgulho nacional vibrou com o tricampeonato no México. Depois disso mais alguns anos de frustração, até o tetra e o pentacampeonato, respectivamente, nos Estados Unidos (1994) e na Coréia do Sul/Japão (2002).
            E estamos diante de novas angústias, buscando teimosamente o hexacampeonato.
            Mas minhas ponderações não se referem a isso. Referem-se aos valores verdadeiros do “futebol arte” que foram perdidos ou pelo menos com lampejos raros como Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, por exemplo.
            Mas vejamos no passado como é que foi:  os espetaculares e estonteantes dribles do saudoso Garrincha; o aparecimento do gênio Pelé que dava “chapéus”, matava no peito e entrava quase que de bola e tudo no gol adversário; um elegante defensor como o capitão Bellini; a também quase inexplicável “folha seca” do Didi; a forte presença também defensiva de um Djalma Santos; um eficiente Zito, o goleiro “trancador” do gol, Gimar, e por aí vai.  O time tricampeão também contava com verdadeiros craques-artistas.  Além de Pelé, tivemos um Tostão, Jairzinho, o Rivelino, Zico e outros.
            Havia um ideal de “futebol arte”, Ou seja: proporcionar ao espectador um verdadeiro “show”, sem muita preocupação com os “bichos” ou salários, na verdade, modestos.
            Hoje, para além de transferências de passes biliardários, o que se vê é um “futebol força”, feio, trancado, cheio de trombadas, puxadas de calções e camisas, pisões em tornozelos sem falar das tradicionais caneladas, mais parecendo “rubgy” ou “futebol americano”, para mim horríveis pela própria natureza.  
            Lamento que assim seja, mesmo porque embora a presença da nossa seleção lá na Rússia desperte a atenção, não é a mesma coisa de anos atrás.

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Nicanor de Freitas Filho