Nicanor de Freitas Filho
Logo que chegávamos na Escola Agrotécnica de Pinhal,
tínhamos que fazer exames ergométricos. Medição, pesagem, assopro, teste de
força, exame da pele, garganta, olhos e pênis. Aí o Dr. Armando dizia, todo
mundo nu, como nasceu. E mandava levantar a perna, a outra perna, levantar os
braços, vire de costas, volte para frente e puxe o prepúcio. Se não fosse até o
final, ele dizia, fica ali à esquerda. Foram uns 10 ou 12. Eu não estava nessa
turma. Então ele explicava o que era fimose e porque tinha que ser feita a
cirurgia. Principalmente por problema de higiene. Encheu a Enfermaria, logo na
primeira semana. O Dr. Armando cuidava de nós, alunos, como se fôssemos filhos
dele. Ele era muito “gente boa”!
Tem um caso que não esqueço nunca. Estávamos na quadra
jogando basquete para suar e ir para o banho, antes do almoço. Tínhamos que
suar porque lá só havia água fria nos banheiros.
À tarde a turma do 2º Ano de Mestria teria prova de
Matemática. Um de nossos colegas dessa classe, que não me lembro do nome agora,
não queria fazer a prova, pois com certeza não tinha estudado. Então ele correu
para a cesta e trombou com o poste que suporta a cesta, caiu e desmaiou.
Tentamos de toda maneira reanimá-lo, mas não teve jeito. Ele ficou lá no chão
mole, desmaiado. Aí tivemos que chamar o Dr. Armando, que desceu até à quadra
com a estreita maca que tinha lá na Enfermaria. Colocamos o colega na maca e subimos para a Enfermaria, onde ele
foi colocado na mesa do ambulatório. Depois de auscultá-lo por um bom tempo,
abrir os olhos dele e examinar com aquela lanterninha, bater na sola do pé
dele, levantar e baixar os braços e as pernas algumas vezes, ele disse: “-
O caso dele é realmente sério e grave!” Isto
nos deixou muito preocupados, pois estávamos ali em 4 ou 5 que ajudamos a
levá-lo de maca, vendo todo aquele cerimonial dos exames. Ele então completou: “
– O caso é tão sério que vou ter que aplicar nele uma injeção de 300 ml de um
líquido que contém ácido e arde pra burro. Sorte é que ele está desmaiado, senão
não aguentaria a dor!” E pegou uma seringa veterinária de uns 25 cm encheu-a de água,
colocou uma agulha enorme na ponta da seringa e pediu para que cada uma de nós
segurássemos um pé e uma mão, com força, porque ele iria reagir com violência,
por causa da dor. Quando seguramos os pés dele, ele começou a se mexer, virou
um pouco a cabeça para o lado e com a maior “cara de pau” do mundo perguntou
como quem está chegando: “– O que houve? Onde que eu estou?” O Dr. Armando disse: “– Fique quieto que
preciso lhe aplicar esta injeção agora, senão será muito tarde e pode voltar o
desmaio.” Ele foi logo dizendo: “-Não
Doutor, já estou bem, já está passando o mal estar, pode deixar.” Mas o Dr. Armando insistia que tinha que lhe aplicar
a tal injeção. E nessa altura ele já
estava de pé, dizendo que estava tudo bem. É claro que o Dr. Armando, ao
examiná-lo, percebeu a farsa e encontrou uma maneira rápida e didática de
“curá-lo”. Ele era assim, tinha solução para tudo!
Nicanor,você é formidável, que memória!!!
ResponderExcluirA minha está bem falha. Gosto muito de ler seus causos.
Aguardo encontro nosso, aí em SP ou aqui em Araxá.
Quero muito conhecer sua esposa Maria da Graça.
Abraços, Suzana.
Suzana, muito obrigado pelo seu comentário. Faça como eu fiz. Procure escrever todos os dias as suas lembranças de infância e juventude que as coisas vão se ligando e a gente vai lembrando de tudo. No começo é difícil, mas a hora que embala você vai ver...
ExcluirAbraços