terça-feira, 16 de abril de 2013

Causo 83 Doutor Armando



Nicanor de Freitas Filho
            Logo que chegávamos na Escola Agrotécnica de Pinhal, tínhamos que fazer exames ergométricos. Medição, pesagem, assopro, teste de força, exame da pele, garganta, olhos e pênis. Aí o Dr. Armando dizia, todo mundo nu, como nasceu. E mandava levantar a perna, a outra perna, levantar os braços, vire de costas, volte para frente e puxe o prepúcio. Se não fosse até o final, ele dizia, fica ali à esquerda. Foram uns 10 ou 12. Eu não estava nessa turma. Então ele explicava o que era fimose e porque tinha que ser feita a cirurgia. Principalmente por problema de higiene. Encheu a Enfermaria, logo na primeira semana. O Dr. Armando cuidava de nós, alunos, como se fôssemos filhos dele. Ele era muito “gente boa”!
            Tem um caso que não esqueço nunca. Estávamos na quadra jogando basquete para suar e ir para o banho, antes do almoço. Tínhamos que suar porque lá só havia água fria nos banheiros.
            À tarde a turma do 2º Ano de Mestria teria prova de Matemática. Um de nossos colegas dessa classe, que não me lembro do nome agora, não queria fazer a prova, pois com certeza não tinha estudado. Então ele correu para a cesta e trombou com o poste que suporta a cesta, caiu e desmaiou. Tentamos de toda maneira reanimá-lo, mas não teve jeito. Ele ficou lá no chão mole, desmaiado. Aí tivemos que chamar o Dr. Armando, que desceu até à quadra com a estreita maca que tinha lá na Enfermaria.   Colocamos o colega na maca e subimos para a Enfermaria, onde ele foi colocado na mesa do ambulatório. Depois de auscultá-lo por um bom tempo, abrir os olhos dele e examinar com aquela lanterninha, bater na sola do pé dele, levantar e baixar os braços e as pernas algumas vezes, ele disse: “- O caso dele é realmente sério e grave!” Isto nos deixou muito preocupados, pois estávamos ali em 4 ou 5 que ajudamos a levá-lo de maca, vendo todo aquele cerimonial dos exames. Ele então completou: “ – O caso é tão sério que vou ter que aplicar nele uma injeção de 300 ml de um líquido que contém ácido e arde pra burro. Sorte é que ele está desmaiado, senão não aguentaria a dor!” E pegou uma seringa  veterinária de uns 25 cm encheu-a de água, colocou uma agulha enorme na ponta da seringa e pediu para que cada uma de nós segurássemos um pé e uma mão, com força, porque ele iria reagir com violência, por causa da dor. Quando seguramos os pés dele, ele começou a se mexer, virou um pouco a cabeça para o lado e com a maior “cara de pau” do mundo perguntou como quem está chegando: “– O que houve? Onde que eu estou?” O Dr. Armando disse: “– Fique quieto que preciso lhe aplicar esta injeção agora, senão será muito tarde e pode voltar o desmaio.” Ele foi logo dizendo: “-Não Doutor, já estou bem, já está passando o mal estar, pode deixar.” Mas o Dr. Armando insistia que tinha que lhe aplicar a tal injeção.  E nessa altura ele já estava de pé, dizendo que estava tudo bem. É claro que o Dr. Armando, ao examiná-lo, percebeu a farsa e encontrou uma maneira rápida e didática de “curá-lo”. Ele era assim, tinha solução para tudo!

2 comentários:

  1. Nicanor,você é formidável, que memória!!!
    A minha está bem falha. Gosto muito de ler seus causos.
    Aguardo encontro nosso, aí em SP ou aqui em Araxá.
    Quero muito conhecer sua esposa Maria da Graça.
    Abraços, Suzana.

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    1. Suzana, muito obrigado pelo seu comentário. Faça como eu fiz. Procure escrever todos os dias as suas lembranças de infância e juventude que as coisas vão se ligando e a gente vai lembrando de tudo. No começo é difícil, mas a hora que embala você vai ver...
      Abraços

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Obrigado pelo seu comentário! É sempre muito bem vindo.
Nicanor de Freitas Filho