Daniel de Freitas
Como o Nicanor está aceitando participação de “escribas
iniciantes”, vou correr o risco de me iniciar. Sou o seu quarto irmão, na ordem
de idades, e trabalho há mais de 40 anos, ligado ao ramo de mineração e
construção de barragens, tendo morado em quase todas as regiões do Brasil. Hoje
dou assessoria às Construtoras, exatamente na área ambiental, legal e
operacional. Ninguém, mais do eu, conhece as necessidades da humanidade tomar
providências sérias, em benefício ao meio ambiente, preservando a fauna e a
flora brasileiras, que são riquíssimas, mas não têm sido respeitadas.
Pelas assessorias, continuo viajando muito e alguns anos
atrás tive que ir até Porto Velho, onde aluguei um carro para os trabalhos que
tinha a desenvolver.
Logo na saída do aeroporto de Porto Velho, em direção ao
centro da cidade, há uma alternativa à direita para quem vai a algum local da
cidade que fique mais às margens do rio Madeira, como, por exemplo, o Museu da Estrada
de Ferro, que vale a pena ser visitado. Essa via de acesso passa dentro de uma
pequena reserva florestal (parque), onde
habitam muitos animais silvestres. É cercada por tela protetora dos dois lados,
óbvio que para inibir a travessia de animais, e tem até uma passagem
subterrânea por onde os bichos transitam sem correr o risco de atropelamento.
As copas das árvores, em alguns trechos, se encontram e formam como que um
túnel sobre a avenida.
Passando por este local de carro e sozinho, pude ver uma preguiça
(animal mamífero xenartro), que ao tentar atravessar a avenida pelas árvores
(fez como certas pessoas que gostam de atravessar pistas de rolamento, com preguiça
de acessar uma passarela) caiu na pista. Parei o carro e fui tentar recolocar o
bicho no mato, por sobre a tela. Como eu nunca tinha carregado uma preguiça,
encontrei dificuldade de levantá-la. O bicho era dos grandes.
Eu estava procurando uma forma de usar a força do próprio
animal, para transpor a tela, quando veio um veículo e fez menção de parar; era
uma Fiat Weekend. E eu fiz menção de me dirigir a ele, pedindo ajuda para a
tarefa, mas eu não queria soltar o bicho, com receio de perder parte do esforço
que eu já tinha feito. Isso fazia com que eu cobrisse parcialmente o corpo do
bicho que eu segurava. O veículo deu um “cavalo de pau”, tomando a direção de
retorno ao aeroporto em altíssima velocidade. Eu continuei no meu esforço e
coloquei a preguiça do outro lado.
Ainda bem que o bicho é lento e, por sorte, ainda estava
à vista para comprovar minha estória (?), pois depois de uns dez minutos que o
veículo fez a manobra que contei, me chega uma viatura com quatro policiais,
que saltaram de armas em punho e me deram voz de prisão; como sempre acontece
nessas ocasiões, não me davam oportunidade para eu me explicar; me revistaram e
me perguntavam: “ – onde você jogou o corpo?” Depois de algum esforço, consegui me identificar e lhes disse em que
empresa eu trabalhava, que era uma empresa conhecida e conceituada na região,
disse-lhes que não havia corpo algum naquele local, pelo menos nos últimos
vinte minutos e respondi: o corpo que eu carregava é aquele bicho ali, que está
bem vivo. O sargento viu o bicho, mas ainda demorou alguns minutos para
desarmar o espírito contra mim, mas finalmente o fez.
Na sequência, todo mundo já mais calmo, o sargento me
contou que o indivíduo do carro chegou, esbaforido, no posto policial do
aeroporto dizendo que houve novo assalto naquele mesmo lugar, que havia um
morto sendo carregado, mas que ele não sabia se havia outras vítimas. Só sabia
informar que o assassino estava carregando o corpo para o mato, passando-o por
sobre a tela.
Ao final, o sargento me contou que estavam ocorrendo
muitos assaltos na região e que na semana anterior haviam assassinado um
taxista e jogado o corpo próximo daquele local.
O tratamento que recebi da polícia foi bem mais
assustador do que o tratamento que eu dispensei à preguiça. Realmente tive
receio de que me dessem um tiro, mas consegui manter a calma e tudo terminou
como devia. Eu e a preguiça nos salvamos!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK/!!!!!!!!!!! Muito bom, meu irmão!! Apesar do susto!! Parabéns pela iniciativa ambiental. Aprendemos com D. Edith.
ResponderExcluirEntão João, pode contar outros "causos" ou escrever crônicas para postarmos. Fico no aguardo! Abraços Nicanor
ExcluirConheço algumas boas estórias desse cara aí, mas essa eu nunca tinha ouvido...
ResponderExcluirTanto você quanto o Éden, podem contar os "causos" que vocês conhecem. São todos muito bons. Aguardo. Abraços - Nicanor
ExcluirEITA!!! Essa passou perto!
ResponderExcluirAbraços!
Gleydson, você conhece bem o autor e sabe como ele é calmo para enfrentar esse tipo de problema. Se "sesse" eu...sei não...
ExcluirPri, Éden e Jotabe: também conheço algumas desse "cara", mas essa, para mim, era inédita...kkkkkk
ResponderExcluirJr/Aline
Aguardem que vão aparecer outras "inéditas" para vocês. Obrigado!
ExcluirNicanor, Esse eu li!
ResponderExcluirMuito bom! Diga ao seu irmão que ele está aprovado.
Abs. Fernando
Daniel, como pode ver, você está aprovado. Pode começar a contar outros "causos" que o pessoal gostou. O blog teve hoje mais de 60 visitas...
ExcluirFernando muito obrigado!
Nicanor
Gostei e dei boas risadas, interessante o cuidado que ele teve com o animal, e a desconfiança do homem para com o homem...Muita diferença... Parabéns!
ResponderExcluirRegina
Que bom que você gostou, assim continua animada para continuar colaborando.... Abraços. Nicanor
ExcluirFreitas
ResponderExcluirEstou um pouco atrasado desta vez, mas vejo que tens um bom elenco de "causeiros" na família. Este foi um bom exmplo de solidariedade: o Daniel salvou a preguiça e, por sua vez,foi salvo por ela. Abraços - José Carlos - 06/03/13
Atrasado estou eu Zé Carlos, mas você sabe por quê! Um abraço. Freitas
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