quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Crônica 11 A maratona


João Batista de Freitas
A maratona é a corrida mais famosa, mais conhecida e mais realizada no mundo desde as Olimpíadas de 1896. São mais de 500 disputas anuais em todo o globo, como lembrança histórica ao fato em que o general grego Milcíades, em 490 a.C. ordenou ao atleta Feidípedes que corresse até Atenas, situada a cerca de 40 km dali, para levar a notícia da Vitória na guerra realizada na planície de Marathonas.
Mas para mim há outra corrida mais famosa, mais importante e mais histórica. Esta eu presenciei – pelo menos em parte – e vivi a sua conclusão. Eu era ainda criança, morávamos em uma casa simples na Rua Perdizes, número 136, em Araxá, Minas Gerais. Meus pais, meus irmãos, minha irmã Concheta e eu. Mamãe sofria do coração, tinha um problema na válvula mitral que acabou matando-a em 1971, doença que teve origem em uma infecção sofrida por ela antes mesmo de eu nascer.
Mas vamos ao fato. Meus irmãos Daniel e Luiz estavam pintando nossa casa, sob a supervisão de nosso pai e, talvez por causa do forte cheiro da tinta, mamãe começou a passar mal e desmaiou. Não tínhamos telefone em casa, artigo tecnológico pouco acessível para aquela época, meados dos anos 60, ainda mais para uma família pobre numa pequena cidade do interior mineiro.
Enquanto discutíamos o que fazer – usar o telefone de um vizinho ou pedir um vizinho que a conduzisse de carro – Daniel, descalço e com a roupa toda suja de tinta, saiu em desabalada carreira rua abaixo. Todos sabíamos que o seu destino era o Hospital Dom Bosco, único municipal em Araxá, pois não tínhamos recursos para atendimento médico particular. Em menos de 10 minutos – pasmem – Daniel voltou dentro da ambulância do hospital. Mamãe foi socorrida e tudo correu bem. No dia seguinte ela já estava novamente em nosso convívio.
Calculo que de nossa casa até o hospital tenha pouco mais de dois quilômetros, ou seja, bem menos do que os 40.195 metros percorridos por Feidípedes, mas para mim esta foi uma corrida muito mais heroica e emocionante.
Até hoje Daniel é uma espécie de herói para toda a família; sempre pronto a ajudar, lembrando de tudo e de todos, uma espécie de “segundo pai” para todos os irmãos, filhos, sobrinhos, netos etc. Mês passado ele completou 65 anos e eu nem liguei para cumprimentá-lo. Então fica aqui esta simples homenagem a este nosso herói caseiro.


16 comentários:

  1. Que bonita essa lembrança e homenagem, tio. Sempre me senti protegida por esse herói...

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    1. Vcs todos são Heróis
      Abraços

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    2. Priscilla, só você??? Muita gente se sente protegida por esse grande Guerreiro!!

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    3. Lúcia,(só pode ser você) muito obrigado pela consideração!

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  2. Freitas
    Felizes as famílias que têm um herói comum para cultuar, pois elas sempre serão protegidas por sua aura. Abraço. José Carlos

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    1. Zé Carlos, é a pura verdade! Muito obrigado pela sua consideração!

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  3. Li emocionado a maratona do João. È por essa e outras que sempre confessei minha admiração, meu respeito e meu amor por todos os filhos da Da. Edith. José Pedro de Freitas

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    1. Zé Pedro, você sabe que a admiração é recíproca. Também admiramos todos vocês, pois passamos por muitas coisas bem parecidas!! Muito obrigado pela consideração!

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  4. Nicanor de fato sua mãe foi um grande exemplo, uma grande lutadora. Muito querida por todos nós. Vendo hoje todos vocês vencendo, vemos o resultado de sua luta.
    É pena que não está compartilhando conosco, mas do alto com Deus vê tudo e nos protege.

    Abraços Susana.

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    1. Suzana, você como amiga e "vizinha" de todas as horas, não podia ter dito nada mais comovente e verdadeiro. Muito obrigado pelo comentário e por nos emocionar!

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  5. O João, por ser o mais novo, não teve oportunidade de vivenciar os exemplos que sempre tive dos 3 mais velhos, sem desmerecer absolutamente os que depois vim a receber também dos 2 mais novos. Abração a todos os seguidores do blog do Nica. Daniel de Freitas

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    1. Daniel, o que importa é que cada um de nós tem pelos outros irmãos os mesmos sentimentos fraternais. Acredito que Dona Edith deve se orgulhar muito desse nosso sentimento, como disse a Suzana. Pena realmente é que ela não esteja conosco para podermos retribuir um pouquinho do que nos passou!
      Muito obrigado pelo comentário e parabéns por ser como você é!
      Abração Nicanor

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  6. Gostei muito, principalmente pelo "heroi" dos filhos, sobrinhos e netos.
    Abraços Vânia

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    1. Pois é Tia Vânia, todos nós agimos sempre da forma que a Dona Edith nos ensinou! E, graças a Deus, nossos cônjuges, sempre nos acompanham e às vezes passam na nossa frente! Muito obrigado pelo comentário!

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  7. Essas simples homenagem é muito pouco por tudo que ele fez e faz por todos da família. Não é só um exemplo de irmão, mas de ser humano, fonte de virtudes que hoje, infelizmente, pouco se cultua em nossa sociedade. Abraços, manos!!

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  8. Querido Freitas, gostei muito do texto. Torço para que você continue a contar a sua linda história de vida neste blog.
    Abraços!

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Obrigado pelo seu comentário! É sempre muito bem vindo.
Nicanor de Freitas Filho