Nicanor de Freitas Filho
Em 1977 fui trabalhar na Cia. Melhoramentos de São Paulo,
como Economista, responsável pelo Orçamento Geral da chamada Divisão Caieiras.
Como o trabalho de Gerenciamento do Orçamento é relativamente calmo, pois
confeccionado o orçamento, tem-se somente que acompanhar, meus “chefes”, que
eram muito camaradas comigo e queriam que eu crescesse dentro da empresa,
sugeriram que eu analisasse e respondesse centenas de cartas, do exterior, que
solicitavam preços para cadernos e papeis crepados, que eram os principais
produtos da minha Divisão.
Eu não sabia outra língua, que não o Português, mas
aceitei o desafio, desde que a Secretária da Diretoria, que falava 5 ou 6 línguas,
me ajudasse. E assim escolhia a carta, ela passava para o Português, eu
analisava, pedia os orçamentos, respondia em Português e ela passava para o
Inglês ou Espanhol e, até algumas poucas, em Francês. E eu fui gostando e como
tinha muita coisa parecida, eu já tinha aprendido muito, principalmente do
Espanhol, mais parecido com o Português. Muitas cartas eu “montava” por minha
conta. Já no ano de 1978 emplacamos um primeiro pedido de cadernos, para o
Chile, no valor de 14 mil dólares. Para mim foi um dos melhores momentos da
minha vida profissional, pois nunca tinha pego, nas minhas mãos, o resultado do
meu trabalho, que como Economista fazia muita coisa, mas não via “fisicamente”
nada. Agora tinha obtido um pedido de 14 mil dólares, que ia gerar uma das receitas
que eu orçara. Era demais!
Em dezembro de 1978 fui para o Chile – minha primeira
viagem internacional – com o meu Chefe, para negociarmos com a maior rede de
Supermercado de lá. Fechamos um bom programa para 1979 e ainda contatamos mais
alguns clientes potenciais. A viagem foi muito proveitosa!
Quando foi em outubro de 1979, a rede de Supermercados,
solicitou nossa participação na FISA – Feira Internacional de Santiago – pois
eles estavam com um grande estande e representavam várias empresas brasileiras.
Fui designado para ir para Santiago e ficar por 15 dias, que era a duração da
Feira. Reservaram-me um hotel pequeno, chamado Hostal Del Park, muito simpático
e era quase um flat, pois tinha uma quitinete, além de uma antessala. Quando
chegava à noite – a feira ia até às 22:00 h – tinha na antessala máquina de
café, mesa, talheres, frutas, café e leite. Os dias que a fruta era laranja, eu
tinha que usar meu canivete, pois as facas de lá não cortavam e eu sou chato
para descascar laranja.
Este canivete de estimação, que
tenho até hoje, feito em Campos Altos, artesanalmente e é uma verdadeira joia.
Um dia, ao chegar na feira, fui abrir um pacote de
cadernos, que estava amarrado com barbante, e quando levei a mão ao bolso, não
encontrei meu canivete. Logo imaginei que o tinha esquecido no prato com as
cascas de laranja.
Chegando à noite, no hotel, só tinha um “porteiro”, eu
nem perguntei, pois ele não entendia direito meu “portunhol”. Na manhã
seguinte, quando desci à recepção, estava lá a simpática recepcionista, chamada
Hanja (pronuncia-se “Rânia”), que sempre entendia tudo que eu falava no meu “perfecto
Portuñol”. Então seguiu-se o seguinte
diálogo:
- Rânia, olvide my caniviete, ayer, junto con las cáscaras de
naranja. Alguiem lo hay encontrado?
- Perdona-me señor Nicanor, que usted hay perdido?
- My caniviete.
- Pero, lo que és un caniviete?
- Por Dios! No lo sabes? És una faca que si dobra para
dientro de lo cabo!
- Y lo que és una faca?
- Tambien no lo sabes? Faca és una pieza que se usa junto con
el garfo!
- Pero, lo que és un garfo?
- Rânia, por favor, no lo sabes o que és un garfo? Garfo és
la pieza que junto com la faca y la colher se llama de talleres!
- Talleres gráficos? Pero son mui grandes, como olvidaste una
coza desta?
- Rânia, por favor, fijarse: como se llama las 3 piezas que
usted utiliza para cenar?
- Yo, particularmente, utilizo la cuchara, ya que my gusta
la papilla.
- Oh! Que bueno! Y como si llama las 3 piezas que se utiliza
para comer?
- El servicio!
- Y como se llama la otra pieza del servicio?
- Puede ser un tenedor?
- Muy bien! Y como se llama la otra pieza, para cortar la carne?
- Se llama un cuchillo!
- Muy bien Rânia, y como llama el cuchillo que se dobra para
dientro del cabo?
- Ah, señor Nicanor, és un cortaplumas! Si, si, la mucama
hay encontrado un cortaplumas, muy bonito, que todavia, no conseguimos
cerrarlo. No és este? No le ocurria en cual habitación fué encontrado. Perdona-me, pero cá está!
- Uffa!! Que bueno, porque me gusta mucho este cortaplumas! Muchas
gracias!
NOTA: Tenho este canivete até hoje, ganho de um dos meus
irmãos, e elas não conseguiram fechá-lo, porque tem um pino que o trava.
Tenho outra estória deste “cortaplumas” no Perú. Depois
eu conto...
Gostei do causo!!!
ResponderExcluirNica, o ano que voce começou a trabalhar foi exatamente o ano de nascimento de sua guia turistica, o problema das linguas por mais que pareçam com a nossa, no caso o e,Espanhou, sempre nos tras bastante surpresa. Outra coisa, quer vender o cortaplumas sem a necessidade de ensinar como se fecha. grande abraço em voces, Jaburu está chegando no Rio hoje para a operação "Espiritual" estarei com ele esses dias., gudum
ExcluirPedro, psiuuu!!! não precisa ficar falando que sou velho...
ExcluirObrigado pelo comentário.
Abraços
Você que gostou do Causo, deve ser o Sr. Jayme. Muito obrigado!
ExcluirFreitas
ResponderExcluirFinalmente tomaste vergonha e voltaste às postagens no Blog. Nesta nossa idade a gente já não pode ter muita desculpa de falta de tempo, embora por vezes ela seja real. Quanto ao causo, a tua criatividade melhorou muito, mas o portuñol continua o mesmo. Bienvenido! Menos mal que segues fiel ao teu cortaplumas, pois se colecionasses canivetes suiços, a tua história terminaria de outra forma. Um grande abraço. J.Carlos - 07/11/13
Usaste a palavra correta: "vergonha". Foi vergonha do "puxão de orelha" que me deste, por e-mail, por passar tanto tempo sem postar nada meu.
ExcluirCorri e escrevi algo que me lembrei por causa de ti, nossa "sociedade".
Entendi perfeitamente o que quiseste dizer a respeito dos canivetes suíços...
Sensacional! Minha lua de mel foi em Santiago e passei por situações parecidas acreditando nessa 'semelhança' do Espanhol. Fomos num fast food de pizza em que serviam para comer com as mãos. Como não gosto, tive que ir pedir os benditos talheres e o dialogo foi algo parecido com o seu, porém substituindo as perguntas por mímicas! rsrsrsrs
ResponderExcluirAbraços
Então sabe exatamente o que passei. Eu trabalhava há muito pouco tempo no ramo e pensava que já sabia muuuiiitttoo!!!!
ExcluirObrigado pelo comentário.
Gostei do "causo" contado da forma mineira, como v. faz.!!! Com Pinochet no Chile e o Figueiredo no Brasil em 1979, o brasileiro era respeitado no exterior como um povo
ResponderExcluirtrabalhador.
Até o mensalão éramos ainda muito respeitados no Chile. estive lá em 2006 e pude sentir outro tipo de "respeito". Principalmente as burrices que o Lula fez, no Comercio Internacional e apoio ao Mercosul, Argentina, Venezuela, Equador, etc. etc...
ExcluirUfa que bom que achaste!!! Que agonia.... é que naquela época não tinha o Google para traduzir, senão este caso teria sido diferente....Bons tempos...Saudades da turminha Aplik
ResponderExcluirabraços
Dinorai
Dinorai, fazia muito pouco tempo que estava trabalhando no ramo e como a pessoa que vinha ao Brasil para negociar "entendia" tudo que eu falava, então pensei que sabia mesmo falar o Portunhol... Foi uma lástima, mas o meu cortaplumas está cá até hoje!
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ResponderExcluirSofia, na verdade, foi falta de profissionalismo mesmo!! Naquele tempo, quem queria trabalhar não se negava a nada...
ExcluirOi Nicanor
ResponderExcluirAdorei ler esse seu " causo" ri bastante!
Tds temos certas dificuldades no aprendizado de outro idioma e principalmente quando estamos longe do idioma materno.
Abs
Sofia
Nicanor, pelo amor de Deus...a dificuldade é que o seu Portunhol naquela época era mais PORT do que UNHOL. Na verdade devemos reconhecer que embora pareça, o Portunhol não é tão fácil. Nele somos pegos em incríveis armadilhas. Continue trabalhando pois seu Blog é especialmente importante para mim. Abraços.
ResponderExcluirJosé Pedro