quarta-feira, 6 de julho de 2011

Causo 9 O bolo de casamento

Nicanor de Freitas Filho

            Araxá, até hoje é uma cidade pequena, deve ter atualmente (2.011) entre 90.000 e 95.000 habitantes. Mas era muito menor por volta de 1.940 e todo mundo conhecia todo mundo. Sempre foi uma cidade muito católica, e por isso tem uma Igreja Matriz muito bonita e vistosa, que como em toda cidade do interior, fica numa praça, a Praça de São Domingos, padroeiro de Araxá.
            Dona Luizinha, que era diretora do Grupo Escolar, morava na praça ao lado da Matriz, pertinho do Grupo, e, era uma pessoa muito bondosa e preocupada com os mais pobres. Absolutamente, não era como os nossos políticos atuais. Um dia, após o casamento de uma de suas filhas, havia sobrado o bolo quase que inteiro e era um bolo enorme, daqueles de três ou quatro andares, bem alto. Mandou que dois de seus empregados levassem o tal bolo para a Vila de São Vicente, que era - e ainda é - um local onde vivem muitos velhinhos, que passam por necessidades. Nada melhor para eles do que ganhar um grande bolo, que desse para todos comer. Realmente, muito bem pensado pela dona Luizinha.
            Acontece que naquele tempo não se tinham carros e a condução mais comum era a carroça, mas que geralmente ficava na fazenda. Assim os dois empregados tinham que encontrar uma forma para carregar aquele bolo enorme e razoavelmente pesado, por um longo caminho, talvez uns vinte quarteirões. Depois de “quebrarem a cabeça”, acharam a solução. Havia uma porta que tinha sido tirada para se consertar as dobradiças. Era só dar um jeito de pregar umas alças para segurar e poderiam levar o bolo, como se fosse uma maca.
            Arrumaram tudo e saíram, já de tardizinha, com aquele enorme bolo branquinho, de quatro andares. Quando dobraram a esquina para entrar na avenida Getulio Vargas, que leva à Vila de S. Vicente, bem ao lado da Igreja, uma dessas senhoras, que o pessoal chama de “beata”, viu aquele “andor” com a Virgem Maria, pois era branquinho. Ela devia estar sem óculos, que naquele tempo eram muito caros. Não pensou duas vezes, sacou o seu terço, que estava sempre ali, na bolsa de plantão, começou a rezar e saiu atrás dos empregados, logicamente, imaginando que se tratava de uma procissão. E se era procissão ela não poderia perder. Tinha que acompanhar. Afinal, o que pensariam  suas amigas, quando soubessem que ela, que era  católica tão fervorosa, tinha perdido um procissão?!
            E assim pensaram várias outras senhoras e também alguns senhores da Congregação Mariana, e, até outras pessoas católicas. O fato é que quando os empregados de dona Luizinha chegaram com o bolo na Vila, estavam sendo seguidos por  mais de cinquenta pessoas, em fervorosas orações.

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Nicanor de Freitas Filho