domingo, 13 de novembro de 2011

Causo 36 Êta Motorista Bom!

            Nicanor de Freitas Filho
            Num dos cursos que fiz na FGV, de Gestão de Negócios, tive aulas com um Professor, que também era palestrante e quase todos os dias encerrava as aulas com um “causo”. Um deles eu guardei e vou tentar contar aqui, sem o sabor humorístico dele, é claro.
            Contou que um palestrante se especializou num assunto importante e ficou famosíssimo e por isso fazia palestras todos os dias, e em alguns dias mais de uma apresentação. Ele tinha um motorista que, em decorrência do tempo que ficavam juntos se tornaram amigos. Até trocavam algumas confidências. Às vezes reclamava da platéia, às vezes das longas viagens e falava que estava de “saco cheio” de tanto repetir as mesmas coisas. Mas era aquilo que queriam ouvir, e ele conhecia bem o assunto, fazer o que? Era o seu ganha-pão!
            O motorista tinha que esperá-lo, então ele sempre exigia comida para os dois, se fosse mais longe e tivesse que dormir, exigia dois quartos, ou seja, o motorista era companheiro para todas as horas. E já fazia anos que trabalhavam juntos. Geralmente o motorista entrava nas salas de palestras, ajudava conferir o material e a maioria das vezes, sentava-se num canto da sala e lá ficava.
            Num dia, tinham uma viagem meio longa, para uma cidade que nunca tinham ido antes. Quando entrou no carro, o palestrante começou a conversar e como sempre aproveitava para fazer as reclamações. Levou os braços para cima, num movimento típico de preguiça e disse ao motorista: “- Hoje estou de ‘saco cheio’. Só vou fazer esta palestra por causa do contrato, senão iríamos descansar hoje.”
            O motorista perguntou se alguém o conhecia naquele local que estavam indo. Ele disse que não. Era a primeira vez que ia a tal lugar. O motorista confirmou se não tinha mandado fotos ou coisas assim. Ele disse que não. Então o motorista perguntou: “- Se o senhor está de ‘saco cheio’ e sem vontade de fazer a palestra, se quiser eu posso fazer para o senhor, pois de tanto ouvi-lo, sei de cor, tudo o que o senhor fala. Sou capaz até de responder aquelas perguntas que lhe fazem depois da palestra.”
            Meio surpreso mas alegre, fez umas três ou quatro perguntas para o motorista que as respondeu sem titubear, com firmeza. Então combinaram que mais perto da chegada, trocariam de lugar, ele chegaria dirigindo, passando-se por motorista e o motorista faria a palestra.
            E assim foi. O motorista se apresentou, fez uma brilhante palestra, usando todos os recursos de oratória e todos os termos técnicos de forma correta. Uma perfeição! O palestrante chegou até sentir um pouco de ciúmes, pelo entusiasmo com que o motorista foi aplaudido no final. Então vieram as perguntas, que ele tirava de letra uma a uma, com firmeza e brilhantismo. De ciúmes, passou a ter orgulho, pois afinal de contas, era exatamente como ele fazia, aprendera com ele!
            De repente, veio uma pergunta, dessas atravessadas, bem diferente de tudo que já tinha ouvido. Ele não fazia a mínima idéia do que se tratava, pois ele só tinha decorado o que acontecia nas palestras anteriores. Não entendia do assunto! Com a maior firmeza e frieza, disse ao interlocutor:
            “- Meu amigo, sua pergunta é tão simplória que vou pedir ao meu motorista, ali no canto, para lhe responder...”

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Nicanor de Freitas Filho