quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Causo 34 Na Argentina e Chile


Nicanor de Freitas Filho
Fui Gerente de Exportação da Cia. Melhoramentos e viajei muitas vezes ao exterior, para vender cadernos escolares. E vendi muito!
Em 1982 programei uma viagem que começava por Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile... Saí do Brasil no dia 31 de março de 1982. Trabalhei no Paraguai  e no Uruguai nos dias 31/03,1º e 2/04, e quando cheguei no Hotel, ainda em Montevidéu, ouvi notícias que a Argentina tinha invadido as Ilhas Falklands, que eles insistem em chamar de Malvinas. Não dei muito ouvidos, no sábado ainda tive uma reunião de trabalho e no domingo fui passear e conhecer Montevidéu. Passeei e de tardezinha, peguei a ponte-aérea para Buenos Aires.
Levantei-me cedinho peguei um taxi e fui para o escritório do nosso pretendente a representante. Era um alemão que vivia há muitos anos na Argentina.
            Ao sair do hotel, levei um susto, pois na Avenida Corrientes, bem perto Calle 25 de Mayo, tem um prédio do Banco de La Provincia de Buenos Ayres, que deve ter um 12 ou 15 andares, tinha uma bandeira da Argentina, que descia do último andar até o primeiro. A cidade toda era uma festa de bandeiras nacionais, papeis picados, camisetas com as inscrições: “Las Malvinas son argentinas”. Eu só tinha visto algo parecido aquilo, com as comemorações de conquistas de Copa do Mundo de Futebol. Ninguém queria trabalhar, ninguém queria nada com nada. Era só festa!
            O representante me recebeu, mas me informou que não seria possível marcar nenhuma entrevista naquela semana, pois todos estavam a comemorar a invasão das Ilhas Malvinas.
            (Para quem não se lembra, o governo militar argentino, para despistar o povão de lá, dos assuntos sérios,  resolveu invadir as Ilhas Falklands, no dia 2 de abril de 1982. E fez disso a maior propaganda política, na tentativa de salvar as “burrices” que haviam feito).
            Voltei ao hotel, liguei para Lan Chile, remarquei minha passagem, fiz o check-out, tomei um taxi e rumei para o aeroporto. Mas o taxista estava a fim de tirar o “sarro”. A euforia deles era tanta, que não poderiam perder oportunidade para gozar com a cara dos brasileiros. Foi logo perguntando o que eu sabia sobre a “invasão” das Malvinas. O que os brasileiros achavam. Apoiavam? Como iria reagir o Governo Brasileiro? Fez questão de lembrar que fazia 4 anos que não tinham uma festa tão grandiosa, referindo-se obviamente à conquista da Copa do Mundo de 1978, que havia sido lá. Aí eu lembrei que os argentinos morriam de inveja do nosso BNH, que nos permitia comprar a casa própria. Então perguntei se ele morava em casa própria. Ele disse que não. Sem lhe dar tempo, comecei a fazer perguntas a cerca de se comprar casas próprias por lá. Então eu disse para ele que eu tinha comprado minha casa em São Paulo e pagava menos que o valor de um aluguel, porque tínhamos o BNH, que funcionava com o dinheiro do FGTS e podíamos comprar moradia própria com muita facilidade. Ele quis confirmar que só poderia comprar casas mais modestas, ou populares.  Eu expliquei que não, que no meu caso eu comprei num bairro considerado de ricos, morava no mesmo prédio de gente com ótimo poder aquisitivo. Não sei porque lembrei – e este vou citar o nome porque ele já faleceu – do Sr. Stephen, um americano que tinha sido alto-funcionário da Marinha Mercante Americana, que era casado com uma brasileira e moravam no meu prédio. Era uma pessoa finíssima, de educação apurada e muito gentil. Eu gostava muito de conversar com ele, pois naquela época ele tinha se aposentado e era Diretor de uma Empresa de aluguel de containers e eu trabalhando com exportação, muito me interessava seus ensinamentos. Fui explicando para o taxista, que morávamos num apartamento igual, embora eu fosse um simples vendedor de cadernos escolares. Expliquei a ele quem era meu vizinho, o que tinha sido e o que fazia. Ou seja, cortei o papo dele de querer tirar o “sarro” e acabei eu tirando o “sarro” com ele, com conversa mole. Na hora que eu estava terminando de exaltar meu vizinho, chegamos ao Aeroporto, paguei, ainda de dentro do carro e desci para pegar minha mala. No que desci, estava também chegando ao Aeroporto, no taxi da frente, o próprio Sr. Stephen, que eu não fazia nem idéia de que pudesse estar na Argentina. Que coincidência! Como sempre, muito bem vestido e elegante, mostrando o porte de “gente-fina”. Não perdi oportunidade e disse ao taxista argentino:
            “ – Este é o meu vizinho, do qual lhe falei."  
O taxista não acreditava e perguntou se tínhamos marcado lá no Aeroporto. Eu disse que nem fazia idéia que ele estivesse na Argentina.  Quando o Sr. Stephen me viu, fez aquela cara de surpresa e imediatamente veio me abraçar.
            Enquanto o taxista ficou contando para o colega dele, a coincidência, entramos juntos no saguão e nos dirigimos para a Lan Chile. Ele perguntou, para onde eu ia, e quando disse Santiago, ele me olhou e disse que também ia para lá. Verificamos que era no mesmo vôo.
            Não me lembro exatamente a hora do vôo, mas quando chegamos no Aeroporto deveria ser por volta das 17:00 h.. O vôo deveria ser, portanto, por volta das 19:00 h.. Fizemos o check-in e ele me convidou para tomar um café.  Tomamos um, dois, três cafés e não chamavam nosso vôo. Fomos informados, então, que estava com atraso, mas que deveria sair por volta das 22:00 h. Para resumir embarcamos por volta de uma hora da manhã seguinte.
            Conversamos muito e ele me disse que um dos poucos países que ele não conhecia era o Chile. Alertei-o que era para tomar cuidado com a água da torneira, pois, até para escovar os dentes eu usava água mineral. Só água mineral. Pois a água de Santiago, que desce das geleiras, contem muito potássio, que causa dor de barriga. Informei a ele que sempre trazia Leiba, que era excelente para cortar a diarréia. Um santo remédio!
            Quando estávamos chegando, eu disse a ele da minha preocupação de chegar por volta das 3 ou 4 horas da manhã, não tinha como fazer câmbio no Aeroporto, eu tinha somente travel-cheques e seria difícil negociar com os taxistas. Ele me disse para não me preocupar, porque, com certeza o Gerente local da empresa dele, estaria lá à sua espera, assim ele me daria carona. De fato, quando desembarcamos lá estava o fiel gerente esperando, às quatro da manhã (vai ser puxa-saco pra lá). Ele educadamente perguntou ao gerente se poderia me dar uma carona até o hotel. Gentilmente o gerente disse claro, em qual hotel o senhor vai se hospedar. Eu disse que era no Holiday-Inn Galerias. Ora, disse ele, é o mesmo que eu reservei para o Dr. Stephen, não vai me custar nada.
            Correu tudo bem, no dia seguinte levantei um pouco mais tarde, para minhas reuniões e fiquei o dia todo fora, fui jantar com hoje amigo, mas na época gerente de compra dos Supermercados Las Brisas, nosso maior cliente no Chile. Cheguei tarde, deitei e dormi logo, porque tinha tomado uns vinhos a mais...
            Por volta das duas ou três da manhã, acordei com o telefone tocando. Atendi meio assustado, pensado, só pode ser engano. Não! Não era! Era o Sr. Stephen me perguntando se eu ainda tinha minhas Leibas, porque, não seguiu meus conselhos e tomou “só um golinho” da água da torneira. Já tinha ido ao banheiro umas três ou quatro vezes...
            Quantas coincidências seguidas!!!

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Nicanor de Freitas Filho