domingo, 6 de novembro de 2011

Causo 35 Adesão Ecológica

Nicanor de Freitas Filho
            Quando voltei de Cuiabá, onde morei e trabalhei por dois anos, fui trabalhar numa indústria de artigos de festas em Itaquaquecetuba, cidade da Grande São Paulo, cuja fábrica ficava, literalmente, no meio do mato. Inteligentemente, um dos donos adquiriu um terreno grande vizinho à entrada da fábrica e fez ali, sua casa de campo. Como ele mesmo dizia, tinha uma casa de campo, que na sexta-feira à tarde, não precisava nem pegar o carro para chegar nela, tinha segurança 24 horas por dia, auxiliares, além de outras facilidades, como por exemplo, nos dias de semana, convidava um dos gerentes para ir jogar sinuca com ele, após o expediente. Tinha gente para limpar e cuidar da casa e tudo mais.
            Ele adorava um churrasco e sempre encontrava motivo, como festas de final de ano ou outros eventos para contratar um churrasqueiro, o Gaúcho, para preparar uma deliciosa costela de boi, ou picanha ao ponto, ou rolha ou miolo da alcatra (carne que se deve comer quase crua) e outras especiarias grelhadas. E ele, mesmo com o colesterol a quase 300, fazia de conta que não era com ele, comia de tudo e muito, além de fazer acompanhar a cervejinha.
            Mas a casa de campo também servia de refeitório da Diretoria e alguns poucos gerentes. E muitas vezes iam convidados almoçar lá conosco – porque eu era um dos privilegiados que almoçavam e jogavam sinuca – como gerentes de bancos, clientes, advogados, alguns fornecedores especiais, ou seja, aquelas pessoas que geralmente querem conhecer as empresas com quem estão trabalhando.
            Ele era, e ainda é, muito espirituoso e gozador. Tinha algumas coisas que fazia e que mesmo a gente conhecendo e sabendo o que ia acontecer, ainda assim eram engraçadas. Por exemplo, quando tínhamos convidados para o almoço ele, como bom português, tinha sempre uma bela salada de verduras de entrada, regada com muito azeite. (Depois conto o caso do livro que ele escreveu e que deu o título de “O Galo que bota”). Invariavelmente, ele fazia com que todos se servissem da salada. Pegava a bandeja e insistia com todos para se servirem e também, invariavelmente, ao final, alguém lhe perguntava se ele não comia salada, pois ele mesmo não se servia; ao que ele respondia, com o maior bom humor:
            “ – É que eu me aderi aos ecologistas, não como nada que é verde e se tiver algum animal que como o verde, eu como o animal para ele não comer o verde!”

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Nicanor de Freitas Filho