sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Causo 21 Tia Geraldina foi assaltada


Nicanor de Freitas Filho

            Novamente vou citar o nome por se tratar de pessoa que já faleceu. Meu tio Dominguinhos era casado com a tia Geraldina. Mineira de Araxá, muito inteligente, ela escreveu dois ou três livros, sendo um deles “Os Corrompidos”, escrito quando ela tinha 33 anos, segundo ela mesma me contou e que trata de um assunto, que na época, acredito, era ficção científica: Inseminação artificial. É possível que eu conte outros “causos” dela aqui, pois alguns são ótimos.
            Este de hoje começa com ela indo à feira, já com mais de 70 anos, mas muito ativa. Tinha acabado de fazer um curso de teatro e fazia uma peça, na qual ela interpretava uma viúva bêbada. Ela morava no Rio de Janeiro, na Praia do Botafogo, bem pertinho da Igreja Imaculada Conceição. No sentido contrário ao da Igreja, semanalmente, tinha uma feira livre a uns três ou quatro quarteirões da casa dela.
            Ela foi à feira, fez suas compras, que não eram muitas coisas, pois já estava viúva embora morasse com duas netas pequenas. Como sempre ela voltava com o carrinho de feira cheio, com aquele calor do Rio, ninguém anda muito apressado. Vinha ela na beira da calçada pensando na vida, pois ela fazia sempre isso. De repente, passou um garoto de bicicleta e “cráu” passou a mão na sua bolsa que estava à tiracolo. Ela gritou, mas o safadinho não quis nem saber. Pedalou e se mandou. Ela, desesperada, tirou fora as sandálias havaianas (hoje seria um chiquê) e saiu correndo atrás e gritando o famoso: “ – pega ladrão...pega ladrão!!”. Mas quanto ela mais corria mais o guri se distanciava e ninguém quis ajudar.
            Mas como boa mineira e de personagem extremamente forte, que não desiste nunca, continuou a correr e gritar: “ – pega ladrão...pega ladrão!!” Até que chegou perto da feira de onde ela vinha. E, por causa da feira, a pracinha estava interditada e o moleque não tinha por onde passar de bicicleta. Nessas alturas, com aquela velha que não desistia, ele então, encostou a bicicleta numa banca de jornal, ali na esquina e continuou sua fuga a pé mesmo. É lógico que ele corria muito mais do que ela e ela não o alcançaria nunca. O que ela fez? Pegou a bicicleta e a levou empurrando para casa. Encontrou o carrinho de feira que ninguém se aventurou pegar, porque viu que a velhinha era mesmo “porreta”, calçou as sandálias novamente e chegou em casa.
            O que passava na cabeça dela era que o moleque ia procurar a bicicleta e ia chegar nela, que só a entregaria mediante a devolução da bolsa. Mas que nada, passou uma semana e todos os dias ela olhava para a bicicleta na área de serviço e pensava: “-Aquele safado ainda vai me pagar!”
            De repente teve uma idéia! Se ele não me paga eu vendo a bicicleta dele e recupero o dinheiro. Já que tinha mesmo tirado a Carteira de Identidade nova, não precisava de mais nada que estava na bolsa. Conversou com o Zelador do prédio, que imediatamente vendeu a bicicleta por setenta reais.
            Quando ela pegou o dinheiro disse para o Zelador: “ – A bolsa era velha, só tinha minha carteira de identidade e deveria ter, no máximo, dez reais. Lucrei 'sessentinha' por ter sido assaltada!! Ah! Ah! Ah!”

Um comentário:

  1. Vou repetir o que já escrevi no e-mail:essa nossa tia era mesmo "porreta"...lembro-me também de que conheci sua mãe (da.Luizinha, se não me engano) que também era "porreta" e deixou seu nome nos anais onde registra-se "UMA EXEMPLAR EDUCADORA DO PLANALTO DOS ARAXÁS".
    Na verdade, conheci toda a familia e fui colega de ginásio de u irmão da Tia. Zé

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Nicanor de Freitas Filho