sábado, 20 de agosto de 2011

Causo 22 Vaidade e Glostora


Nicanor de Freitas Filho

            Aí por volta da década de 50, os rapazes usavam para fixar o cabelo, um óleo que comercialmente chamava-se Glostora. Deixava a cabeça lambuzada com aquela oleosidade horrível, mas era o que se tinha, além de ser a moda, pois o cabelo ficava brilhante! Para nosso poder aquisitivo do interior não era muito barato não.
            Tenho uns primos, que para evitar de citar nomes, vou chamá-los, como a molecada de hoje, de Jô e Ma. Este sempre trabalhador e cumpridor de seus deveres. Já o Jô era meio, digamos, folgado. O Ma tinha muita responsabilidade, trabalhava desde pequeno, aprendeu a fazer de tudo e tinha dois empregos. De dia trabalhava na Gráfica e de noite e aos domingos, era operador no Cine Brasil, trabalho que aprendeu com o pai dele, que foi operador lá por vários anos.
            O Jô vivia pegando as coisas dele, inclusive roupas novas para ir namorar. O Ma não gostava nada disso e vivia brigando com o Jô. Mas o Jô era mesmo impossível e não se importava muito com o que o irmão falava.
            Um dia o Ma viu que o vidro de Glostora dele estava baixando muito rápido e o Jô ali sempre com o cabelo bem oleado e penteado.  O Ma falou com ele várias vezes para ele parar de pegar a sua Glostora, mas ele não dava a mínima para  o irmão.
            Um dia o Ma teve uma idéia. Trouxe da Gráfica um vidro de goma-arábica. Quem não conhece a goma-arábica é um líquido pastoso, amarelado, para colar, principalmente papel. (Que vontade que eu tinha de ter goma-arábica para fazer meus papagaios, mas era cara demais para nosso padrão). Na surdinha, sem ninguém perceber, retirou a Glostora do vidro e colocou dentro a tal goma-arábica, que quando seca fica dura, como pedra. A goma-arábica, dentro do vidro, tem a mesma cor e textura da Glostora. Pegou sua Glostora e passou para outro vidro, que escondeu muito bem, deixando sobre o toucador – lugar onde se guardava os apetrechos de barba e cabelo – o vidro de “Glostora”, mas cheio de goma-arábica.
            Não deu outra, o Jô provavelmente ia namorar, foi ao toucador, pegou o vidro de “Glostora” (cheio de goma-arábica) e mandou ver. Besuntou o cabelo com aquela “Glostora”, que até pareceu mais compacta naquele dia, mas o que é de graça, não se escolhe muito e se mandou. Foi paquerar. Depois de algumas horas, ele percebeu que aquilo começou a secar, mas ele não tinha muito o que fazer, pois estava ocupado com “outras coisas”. Quando chegou em casa, meio sonolento foi dormir e percebeu que a cabeça não se acomodava no travesseiro. Mas mesmo assim dormiu. Quando acordou no dia seguinte e foi tomar banho é que viu o estrago que a “Glostora” tinha feito. O cabelo dele estava duro e não tinha como lavar, porque água não derrete a goma-arábica depois que seca. Não é “solúvel” em água. Resultado: o Jô teve que raspar a cabeça com máquina zero, para sair aquela carcaça que formou sobre sua cabeça... E como deve ter doído aquela operação!! Vingança completa!! Iiiiiáááááá!

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