Nicanor de Freitas Filho
Estudou comigo na Escola Agrotécnica de Muzambinho, um
araxaense que quase todos os conterrâneos devem tê-lo conhecido. Não só por ter
sido um dos fundadores da Academia Araxaense de Letras, mas também foi
Vereador, era um político culto além de Poeta e um excelente violonista. Foi
ele quem me introduziu no mundo do violão. Aprendi com ele os primeiros acordes
e depois muitos outros. Éramos muito amigos, formamos chapa para eleição da
Diretoria do Grêmio da Escola e nas férias, eu frequentava a casa dele, que era
ali na Rua Cônego Cassiano, logo no primeiro quarteirão, onde tinha um
“larguinho”. A casa tinha um terreiro enorme, com muitas frutas. Estou falando do
Gilberto Augusto Silva, filho de Dona Maria Aparecida Montandon Silva.
Acredito que Dona Aparecida, teve dez filhos, sendo quatro
mulheres e seis homens. Creio que o Gilberto era o penúltimo. Com certeza tinha
três irmãs que eram mais velhas que ele. Dona Aparecida, sua Mãe, era muito
espirituosa e brincalhona, e estava sempre alegre. Tenho a lembrança dela
sempre sorrindo e brincando. Aí pelo final da década de 50, as três filhas já
estavam namorando firme e acho que uma delas já estava até noiva. Ela então,
sugeriu às filhas que, para os futuros genros se conhecerem melhor, ela faria
um almoço e convidaria os três genros.
E assim se fez. Ela preparou uma bela macarronada no
domingo e convidou os futuros genros para o lauto almoço. Foram muito bem
recebidos, ela, como já expliquei, sempre muito alegre e divertida. Sentou-se à
cabeceira da mesa e fez questão de servir, não só aos futuros genros como as
filhas também. Não estou muito certo, mas me parece que ela mandou os outros
filhos almoçarem na casa de tios ou de outros parentes, para não estarem lá e
não perturbarem a recepção, muito bem planejada, com cuidado e carinho.
E ela os deixou muito à vontade, puxando os assuntos –
ela era muito culta e instruída – para
que eles não ficarem tímidos, sem saber o que se poderia conversar. Enfim, ela
manteve o controle total do evento mostrando-se uma anfitriã muito receptiva a
agradável, para que eles ficassem sempre na zona de conforto.
Terminada primeira etapa, isto é, o prato principal, ela
foi buscar a sobremesa, que era um lindo pudim, grande para se comer à vontade,
mas sem calda. Mas estava muito vistoso. Ela, novamente fez questão de servir a
cada um dos futuros genros um generoso pedaço do pudim. Cada um comeu seu pedaço e ela, perguntou se
estava bom. Todos responderam que sim. Então ela educadamente ofereceu mais. O
primeiro agradeceu, disse que estava satisfeito e ela sem cerimônia, lhe disse:
“Estou vendo que você não gostou nada! Só falou que gostou para me
agradar!” Ele logo disse que não, que estava
muito gostoso e acabou aceitando mais um pedaço. Os outros dois percebendo que
ela não os perdoaria, nem esperaram que ela fizesse o “mise en scène” e já
aceitaram outro pedaço assim que ela ofereceu. E, segundo ela contava, teve um
que ainda comeu mais um terceiro pedacinho, pela insistência dela.
Terminada a sobremesa, ela se levantou e disse: “Vocês
homens e namorados são mesmos uns fracos, fingidos e bajuladores (só faltou chamá-los de ‘bundões’).
Eu derreti farinha de milho no café coloquei na forma de pudim e nem caldo eu
fiz, para não adoçar, e vocês comeram e repetiram essa ‘porcaria’ de café com
farinha de milho, só para me agradar! Seus puxa-sacos!” E caiu na risada, deixando-os constrangidos e extrovertidos ao mesmo
tempo! Mas ela completava o causo dizendo que foi muito bom, porque eles se
tornaram amigos dela de verdade, depois da “pegadinha” do pudim...
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Nicanor de Freitas Filho