Nicanor de Freitas Filho
Fui morar em Cuiabá, fiquei lá dois anos, mas o problema
econômico do Brasil, no Governo Sarney foi terrível, principalmente para o ramo
em que fui trabalhar: imobiliário! Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Mailson,
planos e mais planos econômicos, foram todos lastimáveis. Acabaram com o
Brasil. Tive que voltar para São Paulo. Vim trabalhar numa fábrica de material
de artigos de festas, que era ligada ao Palácio dos Enfeites, famosa rede de
lojas desses artigos. Vim para trabalhar na exportação dos produtos.
A fábrica, que era mais conhecida como “Reizinho”, ficava
em Itaquaquecetuba, um pouco afastada da cidade, então era melhor usar o
refeitório da fábrica, mesmo porque, naquele tempo não tinha bons restaurantes
por lá. Mas acontece que um dos irmãos, proprietários da fábrica, tinha comprado
um terreno colado à fábrica, onde fez, digamos assim, uma casa de campo, que
tinha um salão/bar, com mesa de sinuca profissional e tudo muito próprio para
se divertir. Então ele acertou com a empresa que servia a comida para os
funcionários, para servir lá na casa dele, para alguns privilegiados. Assim
ele, o irmão, sobrinho, eu e outros funcionários, da Moóca que iam à fábrica e
também alguns clientes, fornecedores ou gerentes de bancos eram convidados a
almoçar lá.
O dono da casa, Sr. Jayme, é muito espirituoso e
“gozador” e todas as vezes que ia um convidado novo almoçar conosco, era certo
que ele preparava a piada e sempre acontecia, pois ele provocava o ambiente para
isto. Ele adorava uma picanha ou um porco à pururuca, mas tinha o colesterol muito
elevado e tomava remédio. Então dizia que se já tomava remédio para o
colesterol, podia comer picanha. Sempre ele pegava a bandeja de salada e
oferecia a todos e ia passando. Voltava nele e ele insistia com mais alguém,
mas não se servia de salada até que uma hora o convidado perguntava: “O
senhor não come salada, Sr. Jayme?” Na hora ele
respondia: “Não, tornei-me ecológico agora, não como nada verde e, se
tiver algum bicho que come o verde, eu como o bicho para ele não comer mais o
verde”.
Como era muito difícil exportar aqueles produtos, devido
ao volume (uma tonelada chegava a ter dez ou doze metros cúbicos) fui gerenciar
uma fábrica de papel higiênico em Poá, que depois mudou para Diadema. Fiquei lá
por dois anos, mas não era meu negócio. Queria exportação! Meu amigo Sérgio
Moreira, hoje vivendo no Chile, que foi quem me indicou para a Reizinho,
trabalhava na Propasa, fábrica de cadernos, que tinha participado do Consórcio
de Exportadores de Cadernos que eu gerenciei antes de ir para Cuiabá. Ele
estava deixando a Gerência de Exportação de Cadernos para ir para a Exportação
de uma fábrica de papel, que é o que ele faz até hoje, só que agora lá no
Chile. Então fui para o lugar dele, na Propasa, que eu já conhecia por causa do
Consórcio de Exportação e era amigo dos donos, principalmente do Sr. Anis e do
Anis Filho, que foi quem me contratou.
No segundo dia que eu estava trabalhando na Propasa, o
Sr. Anis mandou me chamar à sala dele.
Disse-me: “ Oh Freitas, que bom que agora estamos juntos. Será muito bom
trabalhar com você!” Eu fiquei todo feliz e
começamos um papo, sobre mercado, sobre produtos, sobre exportação, sobre minha
ida para Cuiabá, quando então eu falei para ele: “Se arrependimento
matasse eu já teria morrido! Não sei o que fui fazer em Cuiabá!” Imediatamente ele me interrompeu e com toda sua
vivência e experiência me disse: “Nunca diga que se arrependeu de algo
que você fez. A gente só se arrepende do que deixou de fazer! Pense bem, você
poderia estar sentado aqui na minha frente, como está agora e me dizer: ‘...pois
é Sr. Anis, há seis anos atrás, eu tive uma excelente oportunidade, quando fui
convidado a ir para Cuiabá e não fui, agora estou aqui, de novo, exportando
cadernos...Pense no quanto de experiência você adquiriu lá...’” (Momento realmente marcante).
Aprendi com ele nessa mensagem e nunca mais me arrependi
de nada que fiz, tirando proveito do que aprendi com os erros. E aprendo até
hoje!
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Nicanor de Freitas Filho