Nicanor de Freitas Filho
Em 1.950, fomos morar em Uberaba, MG, na Rua Padre
Zeferino, não me lembro o número, mas era em frente a uma venda/bar, e mais a
esquerda ficava a oficina de acumuladores (baterias) do Romeu Moreno e seu
irmão.
Lembro-me pouca coisa daquela época, mas algumas são
muito importantes, como dos carros, motos e bicicletas, que passavam na rua,
jogando cédulas eleitorais, para propaganda dos políticos, candidatos à
Presidência da República. Na verdade, só me lembro de ver cédulas de Getúlio
Dorneles Vargas e Eduardo Gomes. Geralmente tinham dois tipos de cédulas, umas num
papel tipo jornal, que usávamos para fazer aviõezinhos e outras em papel melhor,
branco, que usávamos para fazer canudos, aqueles de soprar. É que naquela
época, a eleição era feita em cédulas de papel, que eram colocadas dentro do
envelope, que iam para as urnas. Não me lembro bem, mas acho que se votava para
Presidência e Vice-presidência em separado. Então se tinha muitas cédulas. Dava
para brincar muito. Eu estava então, com 6 anos e ainda não estudava.
Um fato marcante foi que, às vésperas das tais eleições,
o Dr. Getúlio, que então era Senador, foi fazer um comício em Uberaba, cujo
prefeito era o Dr. Boulanger Pucci, que foi ao Aeroporto para recepcioná-lo.
Parecia uma festa em Uberaba, pois o Dr. Getúlio tinha “governado” o Brasil por
15 anos, de 1.930 a 1.945, na verdade uma Ditadura – muito dura – mas ele era
ainda um “mito” político. Lembro-me então, que meu Pai chegou em casa, mandou
minha Mãe colocar roupa de domingo em nós – lembro-me de minha Mãe grávida, com
uma barriga enorme – e fomos para o comício na Pça. Rui Barbosa. Estávamos,
acredito que na Rua do Comércio, com a praça lotada, que não conseguíamos
chegar lá, brincando e, provavelmente, chupando bala Chita, ou tomando picolé
de groselha, que eram as coisas baratas que podíamos ter. Meu Pai se afastou um
pouco com alguns companheiros, talvez o Tio Santo também e ficamos ali no meio
daquele povão, com muito calor, que não é novidade em Uberaba. De repente, meu
Pai chegou correndo pegou em nossas mãos e disse, vamos embora que deram um
tiro no Prefeito Boulanger Pucci. Isto aqui está perigoso! E fomos embora, sem
festa e com medo. (momento marcante)
Pesquisando agora na Internet, descobri que tal fato se
deu no dia 10 de setembro de 1950. Meu irmão Luiz nasceu no dia 24 de setembro
de 1950. Imaginem como deveria estar minha Mãe, quatorze dias antes de dar à
luz. Esta é a primeira lembrança que tenho da política brasileira.
Resultado é que o Dr. Getúlio ganhou as eleições de
Eduardo Gomes e voltou a governar o Brasil até o dia 24 de agosto de 1954, dia
em que se suicidou. Nesse período, criou duas das mais importantes estatais
para o Brasil, a Petrobras e a Eletrobras, mas levou o Brasil pelo caminho
“nacionalista-estadista” do mal sentido, quase que comunista, principalmente
quando convidou João Goulart – o Jango – para o Ministério do Trabalho, que
como primeiro ato, propôs o aumento salarial de 100%, o que irritou os
empresários e principalmente ao Deputado da UDN Sr. Carlos Lacerda, que sem
dúvida, foi o mais duro adversário de Getúlio.
Getúlio, foi o mais populista dos Presidentes do Brasil,
antes do Lula. Já na época de sua Ditadura, tinha criado muitos benefícios aos
trabalhadores, a CLT, os sindicatos, com toda estrutura financeira e sempre
procurava um jeito de ganhar o “povão”. Por isso ele arranjava muita “encrenca”
com a classe empresarial. Carlos Lacerda fazia uma pressão muita dura, como
deputado que era e conseguiu angariar uma antipatia, muito além da política, de
Getúlio Vargas. Pois este, além de populista, era sabido que fazia muitas
coisas erradas, que naquela época, ficava tudo escondido. Chegou ao ponto de o Deputado Carlos Lacerda
sofrer um atentado, cujo executor foi o Gregório, o principal guarda-costas de
Getúlio. Com isso os políticos começaram a pressioná-lo para renunciar, para
que o Tribunal Superior não tivesse o constrangimento de julgá-lo, pois todos
sabiam de sua participação, ou no mínimo, seu conhecimento dos fatos. Ele foi
ficando acuado e quando foi no dia 24 de agosto de 1954, suicidou-se, com um
tiro no peito. De qualquer forma foi um trauma muito grande para a nação, creio
que até para Carlos Lacerda.
Isto é o pouco que me lembro do primeiro Presidente da
República do Brasil, que “me presidiu”. Sei que assumiu o Vice-presidente, Café
Filho, que também não ficou até o fim do mandato. No Brasil sempre foi assim!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário! É sempre muito bem vindo.
Nicanor de Freitas Filho