segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Meu Primeiro Par de Chuteiras

Nicanor de Freitas Filho

            A Escola Agrotécnica de Muzambinho, nos anos que lá estudei, fornecia aos alunos dois conjuntos de roupas, que não vou chamar de uniforme, porque na verdade eram duas calças e duas camisas “Far West” – pra quem não sabe a Far West é precursora do jeans atual – um par de botinas mateira ou brogó, como alguns diziam, além da roupa de cama, tudo numerado e eram lavados pela Lavanderia da Escola. Quando saíamos de férias entregávamos tudo na rouparia, inclusive as botinas, que deveriam estar limpas, porque poderia ir para outro aluno no ano seguinte.
            Minha família era muito pobre e minha Mãe só podia me enviar Cr$ 100,00 por mês, cuja nota que eu recebia dentro de um envelope transparente, para aparecer o dinheiro e não ter como roubarem. Era igualzinho hoje! Não me lembro se foi no final do ano de 1958 ou 1959, na hora de entregar minha botina, não tinha o que calçar. Minha conguinha,com a qual eu tinha ido, estragou e não tinha dinheiro para comprar uma nova, muito menos um par de sapatos.  Fiquei numa situação complicada, mas tudo naquela Escola tinha solução. Pois tínhamos Amigos!
            Quando eu jogava bola – e era um perna de pau – jogava com chuteiras emprestadas por algum dos colegas. O que mais gentilmente me emprestava era o Régis. A chuteira estava velhinha, mas ainda assim jogava com ela, pois era em campo de terra batida mesmo! Ela já estava quase sem as travas, toda esfolada...
            Então tive uma ideia! Propus ao Régis, que me vendesse a chuteira velha por CR$ 5,00, que era o que eu tinha. Ele, não sei se de dó, ou se ia mesmo jogá-la fora, me vendeu pelos CR$ 5,00 que eu tinha. Arranquei as travas que restavam e consegui um par de cadarços pretos, que a fez virar um verdadeiro “sapato”, com o qual eu viajei, que foi ótimo na minha viagem para casa!
            Chegando em Araxá, minha Mãe viu aquilo, riu, elogiou pela “criatividade” e falou para eu levá-la na Sapataria do Sr. Elpídio, velho amigo e sapateiro que nos atendia, ele certamente daria um bom tratamento nela. De fato, ele recolocou as travas, passou aquela tinta preta milagrosa, que deixou a chuteira novinha. Ainda a usei por muito tempo. Em 1960 cheguei a jogar no Segundo Time da Escola e várias vezes a usei e sempre achava muito boa. Também foi a única que eu tive, pois uns dois anos depois que comecei a usar óculos, com mais de dois graus e meio de miopia, em 1958, parei com o futebol e passei a me dedicar mais ao Tênis de Mesa e Xadrez.
            Não posso deixar de contar que minha maior façanha, como jogador de futebol, foi ter participado do Time do Grená, em 1960, na Escola Agrotécnica de Muzambinho, no campeonato interno de 6 times (Grená, Branco, Amarelo, Vermelho, Verde e Azul) e ter sido Campeão, tendo o direito de fazer o jogo contra a Seleção do Resto, no dia da minha formatura, que foi parte das festividades oficiais, onde recebemos as faixas de Campeões de 1960, das respectivas madrinhas.




        Em pé da esquerda para direita:  Montipó (Mário Rogeri), Baurú, Nicanor, João Lúcio, Zé Braz (Daniel Camilo), Ildeu, Tião Canjica. Agachados: Canco Mole (Luis Alcino), Celsinho (Celso Pereira de Almeida), Oswaldo Tiveron, Banterli, Geraldo e Josmar (Paloma). (Foto de 08/12/1960)

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Nicanor de Freitas Filho