Nicanor de Freitas Filho
A Escola Agrotécnica de Muzambinho, nos anos que lá
estudei, fornecia aos alunos dois conjuntos de roupas, que não vou chamar de
uniforme, porque na verdade eram duas calças e duas camisas “Far West” – pra
quem não sabe a Far West é precursora do jeans atual – um par de botinas
mateira ou brogó, como alguns diziam, além da roupa de cama, tudo numerado e
eram lavados pela Lavanderia da Escola. Quando saíamos de férias entregávamos
tudo na rouparia, inclusive as botinas, que deveriam estar limpas, porque
poderia ir para outro aluno no ano seguinte.
Minha família era muito pobre e minha Mãe só podia me
enviar Cr$ 100,00 por mês, cuja nota que eu recebia dentro de um envelope
transparente, para aparecer o dinheiro e não ter como roubarem. Era igualzinho
hoje! Não me lembro se foi no final do ano de 1958 ou 1959, na hora de entregar
minha botina, não tinha o que calçar. Minha conguinha,com a qual eu tinha ido,
estragou e não tinha dinheiro para comprar uma nova, muito menos um par de
sapatos. Fiquei numa situação
complicada, mas tudo naquela Escola tinha solução. Pois tínhamos Amigos!
Quando eu jogava bola – e era um perna de pau – jogava
com chuteiras emprestadas por algum dos colegas. O que mais gentilmente me
emprestava era o Régis. A chuteira estava velhinha, mas ainda assim jogava com
ela, pois era em campo de terra batida mesmo! Ela já estava quase sem as travas,
toda esfolada...
Então tive uma ideia! Propus ao Régis, que me vendesse a
chuteira velha por CR$ 5,00, que era o que eu tinha. Ele, não sei se de dó, ou
se ia mesmo jogá-la fora, me vendeu pelos CR$ 5,00 que eu tinha. Arranquei as
travas que restavam e consegui um par de cadarços pretos, que a fez virar um
verdadeiro “sapato”, com o qual eu viajei, que foi ótimo na minha viagem para
casa!
Chegando em Araxá, minha Mãe viu aquilo, riu, elogiou
pela “criatividade” e falou para eu levá-la na Sapataria do Sr. Elpídio, velho
amigo e sapateiro que nos atendia, ele certamente daria um bom tratamento nela.
De fato, ele recolocou as travas, passou aquela tinta preta milagrosa, que
deixou a chuteira novinha. Ainda a usei por muito tempo. Em 1960 cheguei a
jogar no Segundo Time da Escola e várias vezes a usei e sempre achava muito
boa. Também foi a única que eu tive, pois uns dois anos depois que comecei a
usar óculos, com mais de dois graus e meio de miopia, em 1958, parei com o
futebol e passei a me dedicar mais ao Tênis de Mesa e Xadrez.
Não posso deixar de contar que minha maior façanha, como
jogador de futebol, foi ter participado do Time do Grená, em 1960, na Escola
Agrotécnica de Muzambinho, no campeonato interno de 6 times (Grená, Branco,
Amarelo, Vermelho, Verde e Azul) e ter sido Campeão, tendo o direito de fazer o
jogo contra a Seleção do Resto, no dia da minha formatura, que foi parte das
festividades oficiais, onde recebemos as faixas de Campeões de 1960, das
respectivas madrinhas.
Em pé da esquerda para direita: Montipó (Mário Rogeri), Baurú, Nicanor, João
Lúcio, Zé Braz (Daniel Camilo), Ildeu, Tião Canjica. Agachados: Canco Mole (Luis
Alcino), Celsinho (Celso Pereira de Almeida), Oswaldo Tiveron, Banterli,
Geraldo e Josmar (Paloma). (Foto de 08/12/1960)
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Nicanor de Freitas Filho