sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Recipes for Life

Nicanor de Freitas Filho

            Depois de trabalhar na Propasa, como Gerente de Exportação de Cadernos (https://freitasnet.blogspot.com.br/2017/07/cuiaba-fui-e-voltei.html), em 1994 fui trabalhar na OESP Gráfica, como Gerente Comercial. E era muito ativo no meu trabalho, não só porque gostava do que fazia, como tinha lá alguns conhecidos, da época da Cia. Melhoramentos, que aliás, foi um deles quem me indicou ao Diretor que me contratou. Eu me integrei muito bem à Equipe e por isso podia sempre opinar e solicitar algumas melhorias nos equipamentos e metodologias, para atender meus clientes. Naquela época, estava muito bom o mercado de livros Porta a Porta. E, graças a Deus, eu soube explorar muito bem esse mercado. É um mercado essencialmente de livros de Capa Dura. A máquina de fazer Capa Dura da OESP não era das melhores, assim solicitei que, se fosse possível, deveríamos trocá-la. Minha sugestão foi defendida pelos Gerentes de Produção e de PCP, pois eles sabiam a dificuldade que tinham na produção desse tipo de livro.
            Assim, nosso Diretor foi ao mercado, pois as máquinas novas da Kolbus eram realmente muito caras.  Ele encontrou uma empresa em Leeds, na Inglaterra, que se propunha a encontrar a máquina, reformá-la e vende-la à OESP. Passados uns 15 dias a empresa – não me lembro o nome dela – informou que encontrou a máquina que queríamos e estava em muito bom estado e precisava apenas de ajustes, pintura e maquiagem. Até estiveram nos visitando, antes de fechar o negócio (veja outro causo: http://freitasnet.blogspot.com/2011/07/causo-16-na-redacao-do-estadao.html ). Assim,  nosso Diretor queria que o Gerente de Produção fosse lá para ver a máquina, antes de fechar o negócio. Como ele não falava nada de Inglês, eu fui escalado para ir junto com o Gerente de Produção e o Chefe da Manutenção, que era quem realmente entendia de máquinas.
            Fizemos um voo até Londres, de lá fomos para Leeds, no Aeroporto de Bradford, onde nos esperava a secretária do dono da Reparadora de máquinas. Fomos até à Oficina de Reparos e após o almoço, fomos conhecer a máquina Kolbus de Capa Dura, numa Gráfica que estava comprando uma muito maior e por isso estava disponibilizando a antiga para comercialização.
            Lá na Gráfica, o Chefe da Manutenção, abriu sua caixa de ferramentas, foi para debaixo da máquina checando as partes mais importantes, para ver o seu funcionamento. Enquanto isto, fiquei conversando com o Gerente da Gráfica, pedindo mais explicações, de porque estavam vendendo a máquina,  e pedi para ver os produtos fabricados nela. Ele me levou a uma sala e me mostrou, principalmente Dicionários, feitos na máquina. Quando voltamos à Gráfica, eu me encostei na máquina, enquanto o nosso funcionário e o Gerente de Produção trocavam ideias, e eu puxei a capa de lona que protege a parte da aplicação de cola quente, e deparei-me com um bonito livro de Capa Dura. O Gerente me explicou que aquele foi o último livro produzido naquela máquina que já estava parada por mais de seis meses. Perguntei se podia ficar com o livro, ele disse que sim e ainda brincou, que seu eu gostasse de culinária, era um livro de receitas escolhidas só por gente “muito famosa”! Frisou bem o muito famosa! O título é “Recipes for Life”. Eu trouxe o livro comigo e após dar aquela olhada de gráfico, que lê só as orelhas, contracapa e dá uma passada de olhos na matéria, fiquei impressionado, pois tinha receitas da Lady Di, Príncipes, Princesas, artistas famosos como Elizabeth Taylor, Anthony Hopkins, Brooke Shields, esportistas como Jackie Stewart, Chris Evert, políticos como George Bush, Ronald Reagan, Margareth Tatcher, Tony Blair e até o Mr. Bean, que dá uma receita que a cara dele: “cozinha o feijão, amassa bem para formar uma pasta e passa em duas fatias de pão torrado...” (não é a cara dele?). Então coloquei-o na minha estante principal no escritório, para que todos o vissem.
            Um dia foi lá nos visitar um Gerente de uma Editora e outras duas pessoas, clientes da Editora, que tinham encomendado a impressão de um livro para uma Seguradora presentear seus clientes. Como era um livro que foi editado em três línguas, com muitas fotos do Barroco Brasileiro, eles queriam acompanhar a impressão. Uma dessas pessoas, não sei se da Editora ou da Seguradora, viu o livro e ficou impressionado. Disse que conhecia o livro que teve uma edição limitada por uma ONG escocesa e que conhecia colecionadores que pagariam até trezentos dólares pelo livro. Perguntou se eu queria vender e até insistiu comigo. Mas pela minha posição na empresa, pelo relacionamento profissional daquele momento, nem pensei e disse que não.  Curiosamente ele ainda me ligou do Rio de Janeiro para dizer que falou com a pessoa que tinha interesse e que pagaria sim os trezentos dólares. E eu repeti que não tinha interesse. Guardei esse livro sempre com um carinho especial, até porque valia trezentos dólares...
            Um dia desses, um amigo me ligou para saber como conseguiria um livro de poesias de Paul McCartney, impresso na Inglaterra já há algum tempo. Eu entrei nestes sites de sebo internacional e encontrei o livro que meu amigo queria e também o  “Recipes for Life”, por trinta e um dólares. Veja a grana que eu perdi... Ou os colaboradores famosos perderam a fama ou as receitas são todas iguais a do Mr. Bean...





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