domingo, 22 de outubro de 2017

Como tudo Começou...

Nicanor de Freitas Filho

            Tendo publicado o causo anterior do Yellow Legal Pad, fui questionado, por e-mail e WhatsApp sobre vários assuntos. Um deles eu já corrigi, que é o nome da rede de Lojas dos Estados Unidos, que é Woolworth e não Wentworth, como publiquei. Peço desculpas pelo lapso de memória! Na verdade Wentworth era o Hotel em que eu costumava ficar, na Rua 46, em Nova Iorque, por ser bem perto do Consulado do Brasil. Hoje esse hotel passou a se chamar The Hotel @ Times Square. Mas está lá do mesmo jeitão que era. A outra coisa que me questionaram foi a foto em que escrevi em baixo: “Como tudo começou Capas Artísticas da CMSP”. Querem saber o que vem a ser isso. Que se dê o nome, que explique o que começou! Então vamos lá. Se eu cometer outro “errinho” peço que o Oscar ou o Dr. Murilo me corrijam...
            Nos anos de 1976 e 1977 a Cia. Melhoramentos contratou vários artistas plásticos brasileiros para apresentar quadros que fossem exclusivos, inéditos e que pudessem ser reproduzidos nas capas de cadernos espirais, cuja coleção se chamou “Arte Aplicada”. E trazia, além das capas artísticas, uma minibiografia do autor e o método e material que ele utilizara para confecção da tela. Era realmente uma novidade e uma forma natural de divulgação da arte. Essas telas, depois de fotografadas foram emolduradas e colocadas numa “Galeria”, que era o corredor das salas dos Diretores da Melhoramentos. Não sei onde elas estão hoje, uma vez que o prédio está sendo reformado...
            Bem, o Dr. Murilo, que tinha muito conhecimento com vários artistas plásticos, e era amigo de um deles, o Sr. Nicola, que é autor de uma das capas, possivelmente através dele, fez contato com o Instituto Cultural Brasil Estados Unidos, que se interessou pelas obras e para a finalidade que foram feitas. Entenderam aquilo como uma manifestação cultural e divulgação de artes plásticas que era muito inteligente, pois os cadernos seriam utilizados por estudantes. Daí surgiu a ideia de se fazer uma Exposição dos quadros originais e das reproduções nas capas dos cadernos, lá na sede do Instituto Cultural em Washington. Para se ter uma “razão” de levar  as obras e convidar as pessoas para visitar a Exposição, foi feita uma atividade filantrópica. A Cia. Melhoramentos despachou cerca de duas mil unidades dos cadernos, que foram vendidos a por volta de US$ 5,00 cada, para ajudar ao Hospital Infantil de Washington. Ou seja, foi feita uma atividade cultural filantrópica e que teve muito sucesso.
            Logicamente a Melhoramentos não fez isto apenas para ajudar ao Hospital Infantil de Washington, mas foi também uma excelente maneira de introduzir e ao mesmo tempo testar a aceitação dos produtos nos Estados Unidos. Nesta operação descobriu-se muitas coisas e muitos interessados em importar “stationery” do Brasil por vários motivos. Um deles, obviamente era o bom preço, pois os produtos estavam enquadrados na lei que privilegiava certos produtos, de países em desenvolvimento, isentando-os do Imposto de Importação. Bem como o Brasil tinha uma Lei que não só isentava os produtos de todos os impostos, como ainda creditava o valor do IPI do produto exportado.
            Descobriu-se aí que os formatos dos nossos cadernos, bem como a pautação, a gramatura do papel, forma de comercialização eram bastante diferentes do Brasil, ou seja, teríamos que nos adaptar às exigências do mercado de lá. Foi assim que começamos a participar das feiras de produtos, principalmente em Nova Iorque, sendo a principal delas a “Back-to-School”, que era realizada sempre em meados de fevereiro, sempre com muita neve e frio, e, nos três primeiros anos acontecia no Colliseum – no cruzamento da Broadway com Central Park e Rua 59 – e depois no Javits Center, na 11ª Avenida, esquina com a Rua 34.
            Numa dessas feiras conheci o Sr. Dick Crawford, comprador da rede de supermercados Meijer, de Grand Rapids, Michigan, que gostou dos nossos produtos e propôs fazermos as capas com o nome da Empresa. Ele passou a vir ao Brasil todos os anos e descobriu que existiam outras fábricas de cadernos, que também passaram a participar das feiras. Então ele vinha ao Brasil, fazia um orçamento comigo, depois ia à Propasa fazia o mesmo orçamento e dizia que tinha os preços da Melhoramentos melhores. Então a Propasa baixava os preços para ele. Ia na Salesianos e fazia a mesma coisa. Ia na Tilibra e fazia a mesma coisa. A Tilibra, para pegar o cliente, baixava o preço para ele. Então voltava na Melhoramentos e me mostrava os preços da Tilibra e dizia que nem tinha negociado ainda. Poderia baixar mais. Então sentávamos, procurávamos acertar um preço para ele. Ele foi, por muito tempo, o melhor cliente que tivemos nos Estados Unidos.
            Até que chegou uma hora que tínhamos de resolver o problema e em conversa numa reunião na ABIGRAF, resolvemos formar um Consórcio para Exportação. Reunimos na sede da Melhoramentos, com Dr. Murilo, Sr. Anis Aidar e Anis Filho, da Propasa, Sr. Luiz Antonio da Tilibra e formamos o Consórcio, que se chamou PROTIME (PROpasa – TIlibra – Melhoramentos). E os nossos representantes nos Estados Unidos gostaram muito do nome. Lembro do Daniel Kendzie dizendo: “That sounds fine”.  Por motivos de antiguidade eu fui nomeado “Gerente do Consórcio Protime”.
            Na primeira visita que o Sr. Dick nos fez, após a criação do Protime, eu o atendi na Melhoramentos. Ele tinha marcado na Propasa à tarde. Quando chegou lá eu o atendi junto com o Sr. Sérgio. Na Tilibra, o dia seguinte eu o atendi juntamente com o Sr. Machado. Ele começou a rir e disse: “Vocês foram inteligentes, mas eu sei os preços que negociamos e vamos mantê-los. E, para mim é melhor! Vou ter menos trabalho...” Nota: melhoramos muito as margens de lucro dos produtos para nós, é claro!
            Não posso deixar de contar que logo depois de formar o Consórcio, fui apresentado ao Sr. Friedrich Dworak, da Trading austríaca Wipco, pelo Sr. Ocean que era Exportador da Cia. Suzano, e me foi pedido um orçamento muito grande. Não me lembro o número de cadernos, mas enchiam 88 containers de 20 pés e somava mais de um milhão de dólares. Era para um Príncipe Árabe abastecer seu território. E assim, pela primeira vez fui para Europa – embora já exportasse para lá, mas nunca tinha ido, sempre recebia as visitas aqui – fechamos um grande pedido de cadernos e as três fábricas trabalharam durante 60 dias e não conseguimos embarcar os 88 containers, pois a Carta de Crédito venceu e tínhamos embarcado somente 82 containers. Mas foi o maior pedido individual que consegui na Exportação de cadernos. Sei que no ano seguinte – e eu já não estava mais na Melhoramentos – foi feito um pedido ainda maior, pelo mesmo Príncipe, via Wipco. No dia que veio nos visitar, depois do pedido fechado o Sr. Dworack me trouxe um litro de whisky  Dimple Especial, que o tenho guardado até hoje, ou seja, há mais de 30 anos... Deve estar bom hein?       

 
            


                                                                                                           

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! É sempre muito bem vindo.
Nicanor de Freitas Filho