Nicanor de Freitas Filho
Eu trabalhei na Cia Melhoramentos de São Paulo, de 1977 a
1987, na área de Exportação, principalmente de Artefatos de Papel, que vem a
ser cadernos, blocos, folhas pautadas para arquivos, ou os famosos “refills de
3 furos, para os americanos. É bom lembrar aos mais novos, que nessa época,
usávamos blocos para escrever cartas, tomar nota de reuniões e os estudantes
usavam escrever quase tudo que aprendiam nas aulas, em seus cadernos, que
podiam ser “brochuras” para os menores, “espirais”, alguns mais sofisticados,
ou folhas soltas para serem colocadas em arquivos. E o que eu vou contar aqui é
muito mais antigo, pois começa no século XIX. Isto posto, na Melhoramentos foram
dez anos de muita aprendizagem, principalmente com Oscar Destro Neves e Murilo
Ribeiro de Araújo, além de outros excelentes e experientes colegas e muita
diversão, porque não? Fiz nestes dez anos, quarenta e sete viagens para o
exterior, sendo que os países que mais visitei foram os Estados Unidos, 16
vezes – se contar as vezes que fui só a Porto Rico – e 13 vezes ao Chile, o
país onde fui mais bem recebido!
No Chile além de ir para negociações, também ia para
participar da FISA – Feira Internacional de Santiago. Nos Estados Unidos,
também ia para negociações e teve anos que fui quatro vezes no mesmo ano, por
causa das outras Feiras, embora a principal fosse a “Back-to-School”,
participava de outras como “Gift Show” e “Stationery Show”, além de feiras que
o Consulado nos pedia para participar, porque tinha alguma ligação com nossa
área de papel.
Na “Back-to-School” que era sempre em fevereiro e de
curta duração – três dias – era a mais importante e no último dia, cujo
expediente encerrava mais cedo, geralmente fazíamos troca das amostras que sobravam.
Os americanos adoravam nossos cadernos espirais, com capas coloridas e artísticas,
pois lá os cadernos eram todos de capas, geralmente de uma só cor, e somente
com informações sobre o produto. Além dos cadernos outros produtos que gostavam
muito eram dos pequenos bloquinhos de anotações, que geralmente eram
denominados “mini pads”. Eu trazia muito papel de carta, tipo “Hallo Kitty”,
Barbie, Disney etc. canetas, réguas e produtos como diários capa-dura
com cadeados, e outros, pois sempre apresentavam novidades.
Em 1979, no final da Back-to-School veio um dos participantes,
que estava no estande da American Pad and Paper Company, que acredito ser uma
das maiores no ramo, lá nos Estados Unidos, e me perguntou se eu produzia
“Yellow Legal Pad”. O quê? Não sabia do que se tratava. Então ele me forneceu
um pacote com 6 blocos, em papel amarelo, pautado em azul e com margem dupla em
vermelho, num formato grande (8 ½’ x 14’) e me pediu para orçar cem mil
unidades daquele bloco.
Expliquei para ele que quanto à pautação, margens e
formato, não via problemas, mas aquele papel amarelo não era comum no Brasil.
Teria que ver com fabricantes. Perguntei se não poderia ser em papel branco
apergaminhado, como chamamos o papel para cadernos e blocos. Ele então me
explicou que aquele bloco era chamado de “Yellow Legal Pad” e que era muito
utilizado nos Estados Unidos, principalmente porque ficou muito famoso, quando,
em 1888, um Juiz de Direito, de Massachusetts, que despachava tudo em folhas de
blocos chamados só Legal Pads – porque eram utilizados pelos Juízes – e que
tinham aquele formato de 8 ½’ x 14’ e era realmente em papel branco. Mas que
ele havia descoberto que alguns advogados (sempre eles) falsificavam
principalmente prazos concedidos para defesa. Faziam isso passando um produto
sanitário, que no Brasil chamamos de Cândida ou Qboa (hipoclorito de sódio),
que apagava a letra dele e colocavam o prazo que queriam. Então, um senhor
chamado Thomas Holley, que era conhecido fabricante de blocos de papel
reciclado, resolveu o problema do Juiz, fabricando um papel amarelo, que se
recebesse a Cândida apagava a letra, mas também ficava a mancha clara, quase branco. Ou
seja, era praticamente, à prova das famosas falsificações. E me explicou ainda
que o Juiz solicitou que se colocasse aquela margem dupla, vermelha, com
distância de 1 ¼’, para que ele pudesse fazer anotações “à margem” do despacho
dele.
Achei muito curioso ele me dar aquela verdadeira aula de “Yellow
Legal Pad” e me pedir um orçamento muito bom de cem mil unidades. Chegando ao
Brasil, fui falar com o Oscar e o Dr. Murilo, este também diretor da Associação
Brasileira de Fabricantes de Papel e Celulose. Falou com a Ripasa, grande
fábrica naquela época, hoje pertencente à Cia Suzano, que se dispôs a fazer o papel
amarelo, adicionando anilina amarela ao papel reciclado, para ficar mais
barato. E aí começamos a produzir o famoso produto “Yellow Legal Pad” e nunca
conseguimos exportar para a Amarican Pad and Paper Company, pois sempre queriam
preço mais barato. Mas nosso cliente Agora International, de propriedade do Sr. Joseph Engel,
não o maior, mas o melhor cliente que eu tive nos Estados Unidos, se interessou
e fez uma primeira importação e conseguiu colocar na rede de lojas Woolworth,
que é grande rede lá. Daí passou a pedir minipads também no papel amarelo e
deslanchou de tal forma que as Papelarias brasileiras também se interessaram
pelo produto, pois a Ripasa resolveu colocar o produto no mercado e outros
fabricantes, principalmente Propasa e Tilibra também começaram a produzir
inclusive para o mercado interno e o produto foi muito bem aceito, mas nos
formatos brasileiros, principalmente o A4.
Depois descobrimos que nos Estados Unidos também se usava em outros
formatos, como 8 ½’ x 11 ¾’, 8 ½’ x 11’
e 5’ x 8’e talvez foi o formato que mais conseguimos exportar para a Agora International do
Sr. Engel. Esta é uma das contribuições de mercado que a Melhoramentos implantou
e que pude participar. Esta era uma
grande vantagem da Cia. Melhoramentos, a agilidade em desenvolver novos
produtos.
Como tudo começou Capa normal nos USA Composition book
Capas Artísticas CMSP
Legal Pad - Mini Pad
- Refills Visita ao
Sr. Joseph Engel em 1989 a passeio.
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