Nicanor de Freitas Filho
Minha esposa tem uma única tia, ainda viva, em Portugal –
irmã do Pai dela - que fazemos questão absoluta de ir visitá-la, quando vamos
para lá, na Freguesia chamada Safurdão, Concelho de Pinhel, na Beira Alta.
Ela já está com idade avançada – talvez beirando os
noventa – e por isso, ela e o marido passam o dia todo numa casa de idosos e à
noite vão para a casa de um dos três filhos. Uma Van vai buscá-los cedinho,
para os filhos irem ao trabalho e no começo da noite a Van vai levá-los em
casa. Eles tomam o “pequeno almoço”, o almoço e jantar lá na casa de repouso.
Ela usa um andador, mas consegue se mover sozinha, embora com dificuldade! Ele,
infelizmente, sofreu um AVC no início do ano e ainda estava hospitalizado e
desta vez não o vimos. Todas as vezes que fomos visitá-la, ela sempre faz muita
festa para minha esposa e pergunta pelos parentes que moram aqui no Brasil.
Por coincidência, eles têm uma sobrinha – casada com o
sobrinho deles – que trabalha lá na casa de idosos. É uma das cozinheiras. Isto
ajuda muito, porque eles acabam ganhando um pouco mais de carinho. Ela mora bem
perto da aldeia, trabalha como cozinheira, mas também ajuda o marido que cria
algumas vacas e cultiva algumas frutas e verduras. Moram numa casa grande e boa
e tem um bom pedaço de terra para os animais.
Desta última vez, quando chegamos lá na casa para visitar
a Tia, a nossa prima Cozinheira, estava de folga naquele dia. Então uma das
colegas dela, disse que ia avisá-la, para ela ir nos ver, enquanto estávamos lá
com a Tia. Tocou... tocou... o telemóvel não atendeu! Telemóvel lá em Portugal
é o que chamamos de celular aqui no Brasil. Como ela tinha o número do
telemóvel do marido, resolveu ligar para ele. Quem atendeu foi a Cozinheira.
Ela então disse que queria mesmo falar era com ela, pois estávamos lá visitando
a Tia. E perguntou porque não atendeu o telemóvel. Ela então explicou que, como
estava de folga, foi ajudar o marido nos serviços com os animais e que uma vaca
tinha fugido do cercado. Ela então correu atrás da vaca, com o telemóvel no
bolso, no meio do pasto, que nesta época do ano – final da primavera – está
alto e espesso. Não é que o telemóvel caiu no meio do pasto? Então ela tinha
ido pegar o telemóvel do marido, para ligar no telemóvel dela e descobrir onde
ele havia caído, quando tocasse. E emendou, não deve estar por aqui, pois se
você me ligou e eu não ouvi deve estar mais adiante... Desculpe-me, vou
procurá-lo!
Freitas
ResponderExcluirEh pá, estás a reinar com as tias! O telemóvel (da tia) não foi gentil, pois já que estava tão perto, ao ouvir o telemóvel do marido, não custava nada tocar também. Ainda bem que não há anedotas de telemóveis portugueses, porque são todas verdadeiras. Mas olha bem; põe-te a pau, pá! Quando lá voltares, poderás ser a próxima vítima. Eu também estou a reinar, e aqui vai a minha homenagem a todas as - aparentemente inocentes - valorosas e valentes tias, mães e avós de Portugal. As minhas também estão por lá, e bem sei o quanto elas significam.
Abraço e forte mãozada lusa - JC - 15/10/12
Zé Carlos, não precisa se zangar!!! Não consegui descrever a cena, como de fato, aconteceu. Mas você imagina procurar um telemóvel num pasto, com capim alto?? É muita falta de sorte...
ResponderExcluirFreitas
ExcluirEiiina, pá! Estou a ver que te meti num grande sarilho linguístico, pois estás a embaralhar minha carinhosa patuscada com zanga. Foi às avessas, pá! O conto foi giro, e o teu preito à Tias muito mimoso. Bem hajas por havê-lo feito. O entendimento só se diferencia pelos "ês". Tu usas "mineirês", e eu "trasmontanês".
That's it. Amplexos - JC - 16/10/12