quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Causo 73 Como era a Escola Agrotécnica de Pinhal



Alfredo Francisco José Soja
            A nossa Escola era acolhedora. Quando, hoje, vejo as árvores do bosque, os campos de lavoura, as salas amplas, tudo sem a balbúrdia das escolas urbanas, lembro como era a Escola e sei que fomos felizardos por termos estudado ali. É lamentável como deixaram tantas instalações e equipamentos se deteriorarem até se acabarem! O que fizeram da seção de Laticínios? De Marcenaria? De Selaria? De Ferraria? De Máquinas e Motores (torno mecânico e outras máquinas)? E de tantas outras coisas...
            Porém, voltando no tempo, lembro que, como em qualquer outra escola, primeiramente se fazia a matrícula. Mas, por ser um internato, este ato era desdobrado em várias outras providências. Os alunos, de várias idades e procedências, recebiam algum equipamento (caneca, às vezes cobertor) e instruções de como agir (embora acabássemos aprendendo muito mais sobre os aspectos práticos da vida escolar com os veteranos). Nada como o dia-a-dia para nos ensinar a viver e a sobreviver. Os responsáveis pelo bom andamento do internato nos indicavam a cama onde íamos dormir, os dois armários que iríamos ocupar, etc. Até no refeitório nosso lugar não era aleatório (mais tarde isto foi liberado). O Professor Rubens Campi, para cada aluno do Curso Técnico, entregava uma prancheta de desenho com sua respectiva régua “T”!    Alguns detalhes: havia horário para entrarmos no dormitório (só à noite!) e para acessarmos os armários “internos”. Só os armários “externos” eram liberados. Aliás, havia horário rígido para acordar, para as refeições, para estarmos de volta da cidade (nos dias em que a saída era livre), etc. Apesar das restrições e da rigidez de certas normas, logo todos os “bichos” estavam enturmados, vivendo e sobrevivendo numa boa, estudando, trabalhando, comendo com grande apetite e dormindo bem. Havia várias opções de lazer: desde ouvir radinho de pilha, ouvir o alto-falante do bosque (transmitindo o programa de rádio “Mil discos é o limite”), jogar futebol, ou praticar outros esportes, e ir à cidade, onde se podia pegar um cinema, namorar, jogar bilhar (para os que tinham dinheiro para pagar o aluguel – por hora – da mesa), etc. Acho que naquele tempo ainda não haviam inventado certos males atuais: não me lembro de ninguém que tivesse depressão ou fosse seriamente desajustado. Não se falava em problemas de drogas. Embora não fôssemos anjos, nossos deslizes de conduta sempre foram mínimos em comparação com os que os professores nos confessavam presenciar em outras escolas já naquele tempo.
            Como disse o Zanini: “havia um certo nivelamento. Quem era muito tímido, aprendia a ser um pouco mais “saído”. Quem era muito valente, acabava encontrando outro que lhe tirasse a valentia. Quem não era de briga, ao menos aprendia a se defender, a ter um pouco de esperteza. Quando alguém lavasse roupa e a punha para secar, dizia-se que era preciso ficar de olho aberto: se piscasse, poderia sumir um par de meias...”
            Apesar de todos desenvolverem a autodefesa com vivacidade, também se praticava a solidariedade, até nas pequenas coisas. Quando alguém tinha uma laranja, descascava-a e já dava a “tampa” para o primeiro que pedisse. Se alguém ia fumar, então, logo aparecia o primeiro: “Deixa ‘eu’ acender!” Aceso o cigarro, o dono do dito cujo começava a fumar, vinha o segundo: “Deixa ‘eu’ dar uma tragada!”. Passada a metade do cigarro, continuava a “fila” dos “filantes”: “Me dá a tica!” A ponta que ia sobrar passava para o outro e não devia ser muito pequena, pois ainda aparecia, às vezes, mais um: “Me dá a bis-tica!”

5 comentários:

  1. Freitas/Alfredo
    O sobrenome do Alfredo não poderia ser mais propício a um aluno de agronomia. Desculpa, não é maldade; é só instinto piadista! A crônica reflete bem um ambiente de companheirismo próprio do final da adolescência daquela época; final de uma inocência que hoje termina no fim da infância; um equlíbrio comportamental ditado pelo bom senso e reações grupais que não necessitavam da "razão da força", mas sim da "força da razão" para uma convivência harmônica. Enfim, um magnífico olhar no retrovisor no tempo.
    Abraços - José Carlos - 14/12/12

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Concordo com o Neves; Soja tem que representar a agronomia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!" Jayme Rosa

      Excluir
    2. José Carlos e Jayme. O mais curioso é que ele é descendente de Tchecos e o sobrenome dele não tem nada a ver com a nossa "Soja". Aliás quando estudei com ele em Pinhal, eu pensava que era o "apelido" dele, mas, acho que somente ele e eu não tínhamos apelido naquela Escola.
      Não deixe de ler o próximo "causo" dele, que fala exatamente dos apelidos...

      Excluir
  2. Que saudades, curti muito , eu fiquei 7 anos, desde o iniciação agrícola , mestria e por último o técnico agrícola.
    Aprendi muitas coisas, lavar , passar, como se virar sozinho, suportar a saudade da familia, pois sendo eu carioca, estava a mais de 500 kms distante de minha casa.
    Infelizmente concordo com o texto, deixaram a Escola em estado deplorável, mas mesmo assim ainda há uma criatura ( ou mais) que nos une proporcionando um encontro , anual , para recordarmos a linda época e tb rever os colegas e amigos.
    Uns estão bem, outros morreram , outros encontrando dificuldades, mas mesmo assim, comparecem . Lógico que existe muitos que por diversos motivos não vão ao encontro que não cabe aqui questionar o motivo. A todos os meus colegas, amigos um grande abraço, feliz Natal e um Ano Novo cheio de lboas realizações. Mais ainda, não vamos deixar a chama apagar, ou seja, vamos sempre nos encontrar, mesmo que seja com dificuldade , pois para mim é muito significativo esses lindos encontros. Mais uma vez agradeço esse rapaz que tem até no nome coisa relacionada a agricultura - Soja - Deus fique sempre nos protegendo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pedro, muito obrigado pelo comentário. Não deixe de ler o próximo "causo" que vou publicar dele, pois você vai estar aparecendo lá...

      Excluir

Obrigado pelo seu comentário! É sempre muito bem vindo.
Nicanor de Freitas Filho