sábado, 11 de julho de 2015

Futebol Brasileiro atual


Nicanor de Freitas Filho

            Nasci em 1944 e comecei a “entender” e gostar de futebol aí por volta de 1954/1955, quando meu padrinho Tarcísio, com quem eu trabalhava, vibrou muito com o Tricampeonato Estadual do Flamengo. Lembro-me também da reclamação que ele sempre fazia, da não convocação do Índio, centroavante do Flamengo, para a Copa de 1954. Portanto falar qualquer coisa antes de 1955 seria somente resultado de pesquisas, ou de ouvir falar. Eu quero escrever do que vi e penso, sem pesquisar.
            Acredito que o Brasil teve um futebol “semi-amador” do início do século 20 até depois da Segunda Grande Guerra, pois disputou 3 Copas do Mundo sem “aparecer” em 1930, 1934 e 1938. A partir daí começou a trabalhar mais sério e os Clubes entenderam o gosto dos brasileiros pelo esporte bretão e começaram a levar mais a sério, principalmente da maneira que chamamos “profissional”. Tanto isto é verdade que conseguiu trazer a Copa do Mundo de 1950 para o Brasil, logicamente com toda a Europa em reconstrução e os demais continentes não tinham cacife para isso. Pelo que sempre ouvi, péssima organização, mas foi como o Brasil era naquela época: desorganizado! Resultado foi uma terrível tragédia, que era a maior do futebol brasileiro, até um ano atrás. Mas serviu para mostrar que a seriedade e competência são necessárias para se obter bons resultados e demora um pouco para se perder  o sentimento de “vira-latas”, como estamos agora.
            A partir daí o Brasil iniciou um preparo mais sério da nossa Seleção para o Campeonato Mundial de 1958, preparando os jogadores com 60 dias para treinar, quando, inclusive, ficaram em Araxá, por um bom tempo treinando, com todo respaldo que é necessário. Do Campeonato Mundial de 1958 eu já me lembro muito bem. Foi a glória! Ganhar o “Caneco”, como era chamada a Taça Jules Rimet. Ídolos, Heróis, música e muita festa. Gilmar, Di Sordi, Beline, Nilton Santos, Zito e Orlando, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo. Na final jogou Djalma Santos no lugar de Di Sordi. Técnico: Feola. Isto sem contar com Castilho, Mauro Ramos, Zózimo, Pepe, Dida, Moacir, Oreco, Dino Sani, Mazola e Joel. O Chefe da Delegação foi o Dr. Paulo Machado de Carvalho, com a ajuda de pelo menos três jornalistas: Paulo Planet Buarque, Flávio Iazzetti e Ary Silva, que juntos, pela primeira vez fizeram um planejamento e seguiram à risca o que se tinha determinado, incluindo um psicólogo na Delegação. Aí começava um período de resultados, pelo sério trabalho planejado e desenvolvido, por pessoas sérias e competentes! Durou cerca de 12 ou 14 anos, tempo suficiente para conquistarmos três Campeonatos Mundiais. E até hoje fico com a dúvida se a melhor Seleção foi a de 1958 ou a de 1970. Mas acredito piamente, que o título mais importante foi o de 1958, pois foi o primeiro e nos tirou o sentimento de “vira-latas” que tinha ficado em 1950.
            Ocorre que para a copa 1962, no Chile, descobriram que com violência, os nossos adversários venceriam nossa “ginga” e conseguiram tirar o Pelé da Copa dessa Copa. Ganhamos a Copa, mas com pequena ajuda de um árbitro e a entrada providencial de Amarildo. Em 1966 na Inglaterra foi muito pior. Abusaram da violência! Novamente o Pelé foi colocado fora do Campeonato literalmente “quebrado”. Lá não teve jeito, perdemos! Foi tamanha a violência que para o Mundial de 1970 foram criados os cartões amarelo e vermelho, para tentar “conter” um pouco a tremenda brutalidade e desonestidade no futebol. Foi bem mais leal a Copa de 1970, embora ainda houvesse alguma violência. Também foi criada a “Regra 3”, que permitia a substituição de jogadores. (Dizem que a International Board criou esta regra, porque achou muito injusta a saída de Pelé, machucado, no jogo contra Portugal, sem poder ser substituído).
            Nesse ano contamos com Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino.  E ainda tinha o Ado e o Leão, Zé Maria, Baldochi, Fontana, Joel, Marco Antônio, Dadá Maravilha, Paulo Cesar Cajú, Roberto e Edu. Deu para perceber que tinha cinco “Camisas 10” no time tutular? Jairzinho era 10 no Botafogo, Gerson era 10 no São Paulo, Tostão era 10 no Cruzeiro, Pelé era 10 no Santos e Rivelino era 10 no Corinthians! O Técnico era o Zagalo, mas chefiado pelo Major-brigadeiro Jeronymo Bastos. Foi a primeira Copa do Mundo transmitido ao vivo, pela TV, para o Brasil. A maioria dos jogos era por volta de 14 ou 15 horas. O Brasil parava para ver o show de bola! Fomos Tri!
            Aí chegou 1974. Pelé, em 1972 informou que não jogaria mais pela Seleção, fez sua despedida e nos deixou! Foi uma pena, mas entendo que ele agiu certo. Já tinha disputado 4 Copas do Mundo – e ganho 3! Era melhor parar na fama. O Zagalo, que continuava sendo o Técnico, disse também que era correta a atitude de Pelé e que tinha o time na mão e muito bem treinado.  O susto veio quando vimos a Holanda jogar. Não era o futebol que estávamos acostumados a jogar nem a ver jogar. O Zagalo foi pego de surpresa e não tinha muito o que fazer. Para se ter uma ideia, nossos dois primeiros jogos foram 0x0 e só fomos ganhar do Zaire. Quando chegamos na Holanda e na Polônia, tomamos um “chocolate”.  Era o tal do “Carrossel” ou “Laranja Mecânica”. Não sabíamos como marcar aqueles “moleques” doidos, que rodavam o campo todo. Não tinha como marcá-los! Foi muito triste!
            Levamos 20 anos para arrumar as coisas, pois continuamos a jogar o jogo “bonito” mas sem resultados. Tínhamos craques, mas perdemos as Copas de 1978, 1982, 1986, 1990 com grandes jogadores, mas nossos técnicos insistiam em jogar bonito. Ganhar era um mero detalhe. Em 1994 finalmente voltamos a ganhar uma Copa, muito mais pelo baixo nível dos adversários que por nossa performance e tivemos a sorte que  apareceram Romário, Bebeto, além da destreza de Taffarel.
            Em 1998, na França, ocorreu algo de muito estranho, que ninguém explicou até hoje, o que de fato aconteceu. Perdemos muito feio para a França, na final, com todo o “imbróglio” do Ronaldo Fenômeno! Mas em 2002 ele mesmo deu a volta por cima. Depois de ficar quase dois anos sem jogar por cirurgias no joelho, era tido como “acabado” para o futebol competitivo. Pois ele, ao lado de Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, jogou todos os jogos fez 8 gols, sendo os dois da final contra a Alemanha. Nessa Copa, o que ocorreu foi que o Felipão, que era o Técnico, formou um defesa bastante sólida, com 3 zagueiros, que dava liberdade para a criatividade e destreza dos 3 R: Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. O Kleberson e o Gilberto Silva, eram dois volantes marcadores e cinco na defesa, sendo que Cafú e Roberto Carlos tinham também alguma liberdade para descer ao ataque. Ganhamos essa Copa pela genialidade de nossos jogadores, além dos já citados, o goleiro Marcos, Lúcio, Roque Júnior e Edmilson.
            Não podemos esquecer que no primeiro jogo, o árbitro coreano, nos ajudou muito, marcando um pênalti – cuja falta foi fora da área – e expulsando o Ozalan, que chutou, fora do campo, uma bola forte nas pernas do Rivaldo, que levou as mãos ao rosto, caiu, encenou e o generoso árbitro acreditou, sem ver, que tinha acertado no rosto mesmo! O título foi merecido, pois o Brasil jogou muito, principalmente contra a forte Alemanha!
            Aí acabou o futebol da Seleção Brasileira e quiçá, do Brasil, apesar de nos Torneios interclubes da Fifa, termos conseguido 3 títulos, com São Paulo (2005), Internacional (2006)e Corinthians (2012). Todos os três, mais por sorte que por competência. A morte começou em 2006 – derrota para França, lembram do Robinho e Cicinho irem beijar o Zidane, após o jogo? – e foi finalmente decretada no dia 08/07/2014, quando a Seleção Brasileira de Futebol perdeu de 7 a 1 para a Alemanha, numa semifinal, em pleno Mineirão!
            Não quisemos aceitar, por puro orgulho besta, a oferta que Pepe Guardiola nos fez, no sentido de vir dirigir a Seleção Brasileira, com a vontade que ele estava de mostrar que fez um belo trabalho no Barcelona, desde que aprendeu o “antigo carrossel” – agora chamado de “tic-tac” – com o Cruyff, quando este esteve no Barcelona, logo depois de mostrar ao mundo – em especial ao Brasil – como se joga o futebol moderno.
            Não sei quanto tempo vai levar para nos recuperar, mas vai ser difícil, pois pelos acontecimentos que vêm ocorrendo, desde o final da Copa de 2002, nos leva a crer que, dificilmente teremos uma rápida recuperação. Acabamos de ver a prisão do Ex-Presidente da CBF e a Copa América no Chile. Que vergonha!
            Baseado nestes fatos, e ainda, nas pessoas que estão dirigindo o futebol no Brasil,  e refiro-me especialmente a Del Nero, Gilmar Rinaldi, Dunga e Cia. (vou me preservar e não tratar do caso Neymar, que não é dirigente), vou ousar fazer uma previsão aqui: Chile, Argentina, Colômbia e Uruguai, certamente ficarão na frente do Brasil nas eliminatórias sul americanas. Prevejo ainda que Perú ou Paraguai não deixarão o Brasil disputar nem a repescagem. Sim senhor, o que estou prevendo é que o Brasil deixará de participar de uma Copa do Mundo de Futebol, pela primeira vez na história. Isto poderá ocorrer se providências sérias não forem tomadas! (A menos que os Carlos Amarilla da vida resolvam nos “prestigiar”...).

19 comentários:

  1. Irmão, muito bom seu texto. É um resumo do nosso futebol. Hoje é mais importante o dinheiro do que os títulos. Enquanto não houver uma política de valores, como teto salarial e punição aos dirigentes, o nosso futebol irá de mal a pior. Parabéns!! João

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    1. João, muito obrigado pelo comentário! Na verdade eu queria mesmo era "registrar" minha, digamos, profecia, da não participação do Brasil na próxima Copa do Mundo. Esse foi o meu intuito...
      Abraços

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  2. Amigo Freitas, como bom mineirin, mineirin, foste degustando devagirn, devagarin, 65 anos de história do nosso futeborzin, todos cheios de períodos altin e outros baixin. Obrigadin por lembrar tantas histórias de tantas glórias, de tantos cracão e craquin. Abracin - JCesin

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    1. Caro amigo JCesin, pela "escrita" deve tratar-se do meu amigo José Carlos. Muito obrigado pelo excelente comentário, mas como poderá ver na resposta que dei ao meu irmão, minha intenção não era contar histórias, mas registrar a profecia, de que, se nada for feito, não participaremos da próxima Copa do Mundo!
      Abraços
      Freitas

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    2. Bruxo! Como é que me descobriste? JC

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  3. Perfeito. Já tem tempo que - contrariando Galvão Bueno - nossa camisa amarela não bota medo em ninguém. Em campo falta futebol e sobra vaidade, fora dele sobra maracutaia e falta fiscalização...
    Abs.
    Jr.

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    1. Junior, como já expliquei, minha intenção é mesmo deixar registrado que se nada for feito de sério, não participaremos da próxima Copa do Mundo! É um alerta!
      Abração
      Nicanor

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  4. Recebido pelo Facebook: "Nicanor, gostei muito de sua publicação.....tive o privilégio de vivenciar as conquistas de nossa seleção....Fiquei muito triste quando o Brasil foi eliminado pela Itália em 1982....foi uma pena....jogavam muuuuito, dirigidos por Telê Santana...naquele dia, chorei de tristeza.....De uns tempos para cá, "acho" que alguns jogadores têm mais amor ao dinheiro que à camisa canarinho.....foi o que deu a entender na última Copa.........E o que dizer deste ano ???????? Ana Maria Bologna"

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    1. Ana Maria, só mesmo o alerta de que poderemos ficar fora da próxima Copa do Mundo, se nada de sério for feito!
      Abração
      Nicanor

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  5. Recebido pelo Facebook:"Vc entende bastante de futebol..para bens. , gostei de seus comentários. ..João de Salles"

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    1. João, eu não entendo nada de futebol, apenas aprecio muito o esporte - que nunca consegui praticar bem - e fico atento aos acontecimentos. Estamos só com lambança e pouca vergonha na direção destes bandidos que só pensam na grana. Acho que o Juiz Moro poderia entrar também nesse caso... o que acha?
      Abração
      Nicanor

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  6. Caros amigos, eu estava com a configuração do Google errada, e bloqueava alguns comentários, inclusive minhas respostas, mas já configurei corretamente e está tudo em ordem. Podem comentar à vontade, com o Google Chrome também.
    Obrigado
    Nicanor

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  7. Muito bom esse texto.. Concordo plenamente e acho ainda que se for para melhorarmos em termos econômicos, políticos e sociais , então que seja o futebol que caia em desgraça.

    Seria ótimo termos somente no futebol a vergonha nacional, mas infelizmente
    o nosso atraso em praticamente tudo nos deu o "nobre" titulo de "Chacota mundial".

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    1. Não consegui identificar, pelo estilo do texto, este amigo. Por favor, quando quiser realmente ficar anônimo, para o público, e não se importarem de me informar, enviem-me por e-mail, para eu saber de quem é o comentário.
      Este, por exemplo, está ótimo, mas não consegui descobrir de quem é!
      De qualquer jeito, muito obrigado!

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  8. As conexões entre os elementos de um sistema produzem nos sistemas adjacentes as mesmas configurações que tendem a manter intactos esses sistemas. Assim o fisiologismo petista no sistema Político desenha o tipo ideal de configuração para situações vergonhosas na Economia, Educação, Futebol, etc.
    O Nicanor enaltece as grandes seleções que tivemos, sem dúvida, aqueles que mereceram o título de heróis nacionais, a despeito do estado de coisas em que
    demonstraram seu valor. Atualmente, uma comissão técnica comprometida com o
    poder político, leva-nos até a duvidar da lisura na indicação de alguns jogadores
    josé nagado (13.07.2015)

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    1. Nagado, muito obrigado pelo comentário. Infelizmente os "sistemas" no Brasil têm se propagado com muito velocidade e sempre da mesma forma, como você mesmo mostra.Concordo em quase tudo, mas tiraria fora "...do estado de coisas em que demonstraram seu valor..." as Seleções de 1958 e 1962. As demais até concordo! Tanto que chegou onde estamos!! Lamentável...

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  9. Parabéns Nicanor, que seu "puxão de orelhas " ecoe e traga mudanças...

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    1. Não consegui identificar, pelo estilo do texto, este amigo. Por favor, quando quiser realmente ficar anônimo, para o público, e não se importarem de me informar, enviem-me por e-mail, para eu saber de quem é o comentário.
      Este, por exemplo, está ótimo, mas não consegui descobrir de quem é!
      De qualquer jeito, muito obrigado!

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Obrigado pelo seu comentário! É sempre muito bem vindo.
Nicanor de Freitas Filho