segunda-feira, 27 de junho de 2011

Causo 1 Metalúrgica

Nicanor de Freitas Filho 

Adilson é um amigo que gerenciou uma pequena metalúrgica em Betim (MG). Hoje ele já está aposentado e cria seu gadinho lá em Crucilândia. Ele era como que o dono da empresa, pois este, na verdade, nunca aparecia por lá. O Adilson cuidava com muito carinho da metalúrgica, que no fundo fazia parte de sua vida.
Num daqueles dias em que o gerente “resolve” ver algumas tarefas, que vão sendo “deixadas” para amanhã, o Adilson viu que a chaminé – que levava escrito o nome da Metalúrgica - estava muito suja, e, como ela aparecia muito, quando vista de fora da firma, chamou um daqueles empregados especiais (este realmente era empregado, muito especial, e não um mero funcionário, porque era o faz-tudo do Adilson), cujo apelido era “Baiano”, logicamente apelido carinhoso, que indicava onde ele nasceu. O Adilson pediu para que ele limpasse a chaminé, coisa que ele não só fazia bem feito, como já havia feito dezenas de vezes. E como sempre ele respondeu:

-Pode deixar “seu Adirso”, eu já tinha visto que “tava” mesmo na hora de limpar aquela coisa preta.

Como o Adilson tinha muitas obrigações, não se preocupou mais, pois sabia que o Baiano era ponta-firme, nunca deixava de cumprir um “pedido” do “seu Adirso”. Entrou no escritório e foi cuidar de outros assuntos, pois havia algumas pessoas querendo falar com ele.

Quando estava assinando uns comprovantes de despesas, mas como sempre, com as antenas ligadas, ouviu alguém pedir, com uma voz diferente, as chaves da Kombi com certa urgência. Ele parou e já foi perguntando o que havia acontecido, pois percebera que não era coisa corriqueira. O motorista disse a ele que ia levar o Baiano no Hospital!

-”Mas o que houve?” Perguntou o Adilson, “apenas pedi para que ele limpasse a chaminé.”

-”Pois é “seu”’ Adilson ele caiu lá de cima e quebrou a perna, fratura exposta, tíbia e perônio, vai ter que operar.”

O Adilson não se conformou e foi até lá para ver o que, de fato, havia acontecido com o Baiano. No que o Baiano, já na maca, viu o Adilson, com toda a fidelidade e simplicidade, que lhe eram peculiares, disse:

-”Ô ‘seu Adirso’, eu vou ‘dá’ um pulinho ali no ‘hospitar’ e ‘vorto’ já-já pra terminar essa limpeza da chaminé...”

2 comentários:

  1. eu também quero um empregado igual a esse baiano. Pode ser pernambucano que não faz mal. Boa vontade e simplicidade são joias raras...
    Conto ou causo...gostoso.
    abs
    Dinorai

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    Respostas
    1. Dinorai, esse causo foi escrito, quando eu voltei de Cuiabá, e em entrevistas de seleção, pediram uma redação, cujo tema era "Fidelidade". Eu estava meio inspirado e escrevi este causo. Fui muito elogiado pelo encarregado da seleção, e, fui contratado. Sempre que me encontrava,com outros colegas, ele dizia: -Não pergunte muito as coisas para o Freitas, a menos que tenha tempo de ouvir um causo, porque ele tem causos para todos os temas...

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Nicanor de Freitas Filho