sexta-feira, 9 de junho de 2017

Alistamento Militar

Alistamento em Ponta Grossa – Apresentação em Campinas – Juramento à Bandeira em Araxá – Emissão do Certificado em Três Corações...
Nicanor de Freitas Filho

            Quando completei 17 anos, estava morando em Ponta Grossa no Paraná na Escola Agrotécnica Dr. Augusto Ribas. (No causo 100 eu já contei sobre a formação da Fanfarra de lá: https://freitasnet.blogspot.com.br/2017/04/autoridade-e-comando.html ) Como já expliquei, estudei na Escola Agrotécnica de Muzambinho por 5 anos, onde fiz os cursos de Iniciação Agrícola e Mestre Agrícola. Fiquei 5 anos porque levei uma bomba em Francês, no segundo ano. Por problemas políticos, eleição de Juscelino Kubitschek, para Presidente da República, havia sido tirado o Curso Técnico de Muzambinho. Os alunos mais velhos que eu, turma 1953, foram todos, ou a maioria, transferidos para Barbacena, creio que em 1958 e foi lamentável! O terceiro Diretor da minha época, Dr. Paulo de Azevedo Beirutti, dizia que ia conseguir trazer de volta o Curso Técnico para Escola. Eu acreditava nele e já no final do segundo semestre, quando vimos que não teríamos o Curso Técnico, já era tarde para procurar uma nova escola e quando o fiz já não consegui vagas onde queria. Então fui para Ponta Grossa, no Paraná, onde fiquei um ano. Foi muito bom como experiência de vida.
            Com 17 anos os jovens têm que fazer o Alistamento Militar. Lá em Ponta Grossa, como tem um Quartel do Exército – aliás, de onde foram convocados os militares, para irem para Curitiba quando do depoimento do Sr. Lula ao Juiz Dr. Sérgio Moro e também onde consegui os instrumentos para nossa Fanfarra – é lá que se faz o Alistamento Militar. A Unidade do Exército é bem perto da Escola Agrotécnica e lá fui eu com todos os documentos, fotos 3 x 4, tudo como era exigido. Quando cheguei ao Setor de Alistamento, tinha um balcão com dois guichês e eu fui atendido por um Tenente. Vem aquela série de perguntas e quando chegou na cor dos olhos eu respondi “verdes”. Ele levantou os olhos e disse: “Não. Seus olhos são azuis” Eu disse que todos na minha família diziam que puxei meu pai e saí com os olhos verdes. Ele olhou de novo e falou “azuis esverdeados”. Eu sorri e ele então chamou uma secretária, que estava lá datilografando e lhe perguntou qual a cor dos meus olhos. Ela me olhou e disse que pareciam verdes mas também azuis e disse: “verdes azulados”. Eu comecei a rir, pois nunca ninguém havia questionado sobre a cor dos meus olhos. Eram verdes! Então o Tenente definiu e escreveu lá no formulário: “azuis esverdeados”.
            Isto posto, lembro que no ano seguinte, consegui transferência para Escola Agrotécnica de Pinhal, onde me formei em Técnico Agrícola em 1963. Nesse ano, tinha como residência a Escola de Pinhal e recebi a “intimação” para me apresentar para seleção de recrutamento para incorporação ao Exército. Em Pinhal, como não tinha sede, deveria me apresentar em Campinas e quando mostrei o endereço para o Oscar, colega que residia em Campinas, ele disse que era no Estádio da Ponte Preta. O Dr. Armando, médico da Escola, já havia me prevenido que eu não seria selecionado para incorporar, pois naquela época eu já usava óculos com 5,75 graus de miopia. Não enxergava quase nada, sem os óculos!
            No dia marcado fui para Campinas e me dirigi ao Estádio Moisés Lucarelli, da Ponte Preta. Lá chegando deveria ter algumas centenas de jovens para a tal seleção.  Eles foram chamando cerca de 50 jovens de cada vez e deram preferência para quem morava fora de Campinas. Assim fui logo chamado, na quarta ou quinta turma, depois que cheguei.
            Lá dentro, éramos dirigidos ao vestiário e tinha lá um Sargento comandando, dando as ordens. Separava de 20 em 20, e dizia: “Tirem toda a roupa, pendurem no cabide, guarde bem o número do cabide para não arranjar confusão.” Um mais esperto que nós já foi saindo para a sala de exame, quando o Sargento meteu a mão no peito dele e disse: “Eu disse para tirar toda a roupa”. Mas eu tirei ele respondeu. E o Sargento:”É pelado como você nasceu! Você nasceu de cueca?” O camarada muito sem graça voltou para tirar a cueca.
            Como na Escola a gente vivia pelado nos dormitórios, não tínhamos nenhum preconceito de ficar totalmente pelado perto uns dos outros. Tirei tudo coloquei no cabide nº 17 e fui saindo. Eu era o quarto ou quinto ali na sala de exames. Veio o médico Capitão e disse: “Levantem as mãos; palma da mão para baixo; fiquem só no pé direito; fiquem só no pé esquerdo; levantem o joelho; fiquem de costas; levantem um dos pés...Espere ali na esquerda” Ai um por um: “Abra a boca, põe a língua pra fora”.  Atrás da mesa dele, tinha lá umas linhas com letras. Ele pegava uma vareta e apontava uma letra e perguntava que letra era. Eu, sem óculos, não conseguia ler nada. Ele foi subindo para as letras maiores. E chegou uma hora ele perguntou: “O senhor sabe ler?” Eu disse que sim. “O senhor enxerga bem?” Eu disse que de óculos sim. Ele me olhou com olhar de bravo e disse: “Então vai pegar os óculos!” eu respondi (momento marcante): “Mas eu não nasci de óculos”. Aí, mais bravo ainda, ele me disse que não era brincadeira e que fosse pegar os óculos e voltar para o fim da fila. Eu voltei para o vestiário e o Sargento me perguntou se já tinha feito todos os exames. Eu expliquei que apenas pegar os óculos. Ele disse: “Porque você tirou os óculos?” E eu respondi: “Porque não nasci de óculos!” Ele ia me dar a bronca, mas começou a rir e disse: “É eu falei que era para ir como nasceu.Você tem razão. Vou lá explicar para o Capitão”.
            Voltamos juntos para a sala e ele disse para o Dr. Capitão o que tinha acontecido. Então ele me pediu para ver os meus óculos. Olhou, virou para o claro da janela e perguntou: “Quantos graus o senhor usa?” Respondi: “5,75 no direito e 5,5 no esquerdo”. “Pode ir, com essa visão você será dispensado”. Que bom!!
            Em 1964, quando foi emitido meu Certificado de Reservista de 3ª Categoria, em Três Corações, MG – porque aí meu endereço já era de Araxá, onde fiz o Juramento à Bandeira – não sei por que motivo, tiraram da cor dos meus olhos os “azuis” da expressão “azuis esverdeados”. No Certificado aparece apenas “esverdeados”. 


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Nicanor de Freitas Filho