sábado, 17 de junho de 2017

Vestibular para Economia

Nicanor de Freitas Filho

            Já contei aqui, minha vinda para São Paulo, em 1964, quando fiz cursinho para Agronomia e o Professor Ernesto Rosa, me “avaliou” e sugeriu que eu estudasse Economia, porque era muito improvável que eu passasse no vestibular para Agronomia, por causa, principalmente, da dificuldade que eu tinha em Biologia e Química. Veja no link: http://freitasnet.blogspot.com.br/2015/09/lembrancas.html  .
            Aceitando a sugestão e a ajuda dele, passei a trabalhar meio período e estudar mais para fazer o vestibular para Economia. Isto em setembro de 1964 e os vestibulares, naquela época, eram todos no mês de dezembro. Tive muito pouco tempo para estudar as matérias concernentes à Economia. Mas com a ajuda dele e de outros professores, que sabiam da minha dificuldade financeira e a falta de condições, me davam força e me ajudavam no que podiam. Eu me esforcei ao máximo e não deixava de estudar sempre e com muito afinco. Tinha também o apoio da Aurora e do Zé Pedro, para a casa dos quais eu me mudei, pois não estava dando conta de pagar a pensão e o cursinho. Antes, todo mês eu ia até a casa dele e pedia cinco contos emprestados. No terceiro mês ele me chamou e perguntou se não era melhor eu ir morar na casa dele, pois estavam sem empregada e o quarto de empregada era muito bom, grande e tinha até condições de estudar lá, pois tinha a mesa de passar roupa. A casa dele ficava na Rua Paim, quase esquina da Rua Frei Caneca, na Bela Vista. Eu trabalhava no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, na Rua Boa Vista, perto do Largo São Bento e o Cursinho ficava na Rua Dr. Albuquerque Lins, perto da Alameda Barros, em Higienópolis. Saía do Banco às 18:00 h pegava o ônibus “Circular Avenidas” descia na Avenida Angélica, e o dia que tinha dinheiro, parava na padaria e comia um pão com mortadela, o dia que não tinha, tomava um café, na maioria das vezes, “filado” de algum colega, principalmente do José Augusto. As aulas começavam às 19:30 h e iam até às 23:30 h. Terminadas as aulas, eu saía a pé, e ia até à Rua Paim, na Bela Vista. São cerca de 3 km e eu gastava mais de meia hora. Subia a Dr. Albuquerque Lins até à Av. Higienópolis, andava toda a avenida até o Makenzie, pegava a Rua Maria Antonia, inteirinha, a Caio Prado até à Rua Frei Caneca, para chegar na Rua Paim. (momento marcante: nunca me aconteceu nada) Procurava vir pelo meio da rua, assobiando para não ter tanto medo e chegava em casa, geralmente,por volta da meia noite e meia. Tomava meu banho e estudava até não aguentar mais. Dormia, e, na verdade, poderia levantar-me mais tarde, pois entrava no Banco ao meio dia. Mas quando era por volta das 7:30 h escutava uma bolada na porta do meu quarto. Era o Eliseu, então com quatro ou cinco anos, me chamando para jogar bola com ele. Desta forma, acostumei-me a dormir cerca de quatro horas por noite e estava pronto para o novo dia. Às vezes eu precisava estudar em algum livro caro, que eu não o possuía. Então pedia emprestado para o José Augusto, colega que conheci no cursinho, que morava no Pacaembu e o pai dele tinha uma rede de lojas de roupas masculinas. (Depois conto sobre ele com detalhes). Mas referi-me a ele, porque algumas vezes ele ia trabalhar com o pai, nas Casas Fausto, e eu ia para a casa dele estudar na biblioteca dele. A Mãe dele, que me chamava de “Mineirinho”, me deixava quieto lá na biblioteca estudando e algumas vezes até almoçava com ela, para depois ir direto para o Banco. Quero mostrar que podendo eu estudava sem parar. Tinha que passar ou passar no vestibular. Eu já tinha perdido três anos de estudos. Fiquei um ano sem estudar em Araxá, quando saí do Grupo Escolar. Tomei uma bamba em Muzambinho, e por causa da greve de Pinhal, em 1963, também perdi um ano, que era este que estava, então, fazendo o cursinho.
            Chegado dezembro, fui relativamente bem avaliado no cursinho, mas me informaram que na USP seria difícil passar. Que tentasse outras Faculdades boas, como PUC, São Luis, Makenzie e FAAP. Fui, assim mesmo, fazer o vestibular da USP, mesmo porque foi o primeiro a ser marcado. Fiquei muito animado quando vi a nota de Matemática, que era eliminatória, 7,5. Era uma boa nota, sem dúvida. Fui razoavelmente bem em Português e Inglês, mas em História tirei um 1,75. Foi uma lástima!
            A segunda Faculdade a marcar data foi a Faculdade São Luis, na Avenida Paulista. Quem era eu para passar lá? Ia ser muito difícil também. Mas fui fazer. Fui muito bem em Matemática e Português. Inglês nem me lembro, e Geografia e História, provas feitas juntas, de múltiplas respostas, diferente das de Matemática e Português, não sei como eu passei! Devia saber alguma coisa e devo ter “chutado certo” outras respostas e fui aprovado em (momento marcante) 30º lugar, num total de 100 vagas. Era muito bom para mim! O resultado saiu na véspera do Natal, então a Aurora disse que íamos comemorar na Ceia do Natal. O Zé Pedro tinha ganho uma caixa de vinho francês e abriu durante a ceia. Lembro-me que a família de uma prima da Aurora foi passar o Natal com ela. Era a Cida, que junto comigo “enchemos a cara”. Fiquei tão bêbado que não conseguia subir a escada para ir ao banheiro... Valeu!!
            No terceiro ou quarto dia de aula, estávamos conversando no corredor, uns cinco ou seis colegas, tentando nos apresentarmos, pois quase ninguém sabia o que os outros faziam. Eu ouvi que um trabalhava na Cia. Telefônica, outro na Abril, outro na Nestlê e eu trabalhava há poucos dias numa empresa pequena, do ramo financeiro chamada SPI – Sociedade Paulista de Investimento. Fiquei um pouco amargurado com minha posição, mas imaginei que estava começando e por certo iria crescer na empresa. Todos comentando o que faziam e eu não tinha muito para contar, então quando me olharam, como que perguntando sobre meu trabalho, eu sem saber o que falar, disse, com certo orgulho: “Eu fiquei muito satisfeito de entrar aqui na São Luis, pois passei em 30º lugar!”  Do meu lado estava o colega Roberto Ozéas, que falou: “Essa classificação não significa nada, eu passei em 1º lugar... o que que eu ganhei?” Eu quis dar os parabéns mas os outros começaram a rir... 


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