Nicanor de Freitas Filho
Em 1974, o consultório do meu dentista ficava na Rua Gravataí,
quase esquina com a Praça Roosevelt. Quando ia ao consultório, deixava meu
carro num estacionamento na Rua Caio Prado, bem perto dali. Naquela época, nem
tinham tantos estacionamentos, mas eram seguros. Podia-se deixar coisas dentro
do carro que quando você voltava estava tudo lá. Muitos tinham horários para fechar.
Eu trabalhava num Grupo Financeiro, com várias empresas,
entre elas uma empresa de turismo. O Gerente Carlos, muito simpático, tinha um
funcionário, chamado Marquinhos, corintiano de raça, que era uma “peça”. Além
de ser um excelente jogador de futsal, era desenhista e imitava assinaturas de
qualquer um. A minha então era brincadeira. Um dia fizemos um teste e ele
assinou um cheque meu e foi no caixa e recebeu. Naquele tempo conferia-se a
assinatura antes de pagar qualquer cheque.
Num dia do mês de agosto daquele ano, o Corinthians estava
embalado e tudo fazia crer que seria Campeão Paulista, com “Don Rivelino” no
comando. Todos nós corintianos estávamos certos disso. E aqueles mais fanáticos
não perdiam um jogo do Coringão.
Fui ao dentista às 17:00 h, deixei o carro no
estacionamento, como de costume. Ele fechava às 19:00 h. Tive lá um problema no
tratamento e ficamos até 19:30 h no consultório. Eu nem me lembrei de que o
estacionamento fechava às 19:00 h. Quando cheguei lá dei com a cara na porta.
Não faz mal, pensei, pego um ônibus elétrico que sobe a
Rua Augusta e rapidinho estarei em casa. Eu morava na Rua Haddock Lobo. Esperei
um pouco e tomei um ônibus elétrico, lotado, mas lotado mesmo! Naquela época,
entrava-se pela porta de trás e saia-se pela da frente. Com algum jeitinho fui
chegando perto da roleta, quando pus a mão no bolso, bau-bau, cadê minha
carteira. Não, não fui roubado! É que tinha deixado tudo dentro da pasta de
trabalho, dentro do carro, que ficou no estacionamento.
O ônibus lotado,
custava a me mexer e o pessoal querendo que eu passasse logo na roleta, pois
muitos desceriam na Av. Paulista. Vocês já estiveram em situação assim? É
desconcertante! Você não sabe o que fazer. Eu já ia propor ao cobrador, ficar
com minha linda caneta Cross, em pagamento da passagem, que eu poderia resgatar
no dia seguinte. Pensei melhor, imaginei que não teria como resgatá-la e
resolvi que ia tentar descer pela porta de trás, mesmo que fosse antes do meu
ponto. Não tinha outra alternativa! Quando dei o passo para trás, pisei no pé
de alguém e virei para pedir desculpas. Quem era? Adivinhem! Era o Marquinhos!
Que felicidade! Ele estava indo para o Pacaembu para ver o jogo do Corinthians!
Tirou-me daquela situação difícil e desconfortável em que eu estava e salvou-me
pagando minha passagem! Nunca vou me esquecer disto! Êta corintiano bom!!
Freitas
ResponderExcluirVocê é um bom cara! Mas, corintiano...? Tá bem, ninguém é perfeito. Importante é ter saúde. Mas, se fosses da Lusa, jamais terias problemas cardíacos; não sofrerias de tantas emoções; tanta ansiedade; terias sempre a tranquilidade de não teres que chegar ao Pódium. Mas sou solidário: que venga el Japón y el Chelsea!
Abraços. José Carlos - 09/09/12