... e protege os inocentes!
Nicanor de Freitas Filho
Minha
filha completaria 2 anos em agosto daquele ano de 1974 e nós estávamos
procurando um apartamento maior com alguma estrutura para ela. Morávamos na Rua
Alves Guimarães, quase na esquina da Galeno de Almeida.
Uma noite, não me lembro a data exata, após uma difícil e
longa negociação para me desfazer da minha parte num sítio, que tinha em
sociedade, para efetivar a compra do novo imóvel, cheguei em casa bem tarde, por
volta de uma hora da manhã e fui tomar banho. Depois de entrar no Box, que
ficava no lado oposto da porta, resolvi pegar alguma coisa na pia, que ficava
junto à porta. Com os pés molhados, no meio do caminho escorreguei e caí com o
braço direito dentro do vaso sanitário, onde ficou preso e o corpo acabou de
cair no chão. Eu,
imediatamente tentei me levantar, mas o úmero se deslocou para baixo, junto às
costelas e o braço ficou “fincado” na vertical. Eu o segurei com a mão esquerda
e sentei-me no vaso, apoiando-o na pia. Chamei a minha esposa, que acordada,
assim com um grito, entrou no banheiro, meio que assustada, meio sem entender e
quando viu o “estrago” teve calma suficiente para me fazer duas ou três
perguntas. Está bem? Agüenta? Dói muito?
Nota importante: naquela época não tínhamos
telefone ainda, apesar de ter comprado pelo plano de expansão, e pior ainda,
minha esposa não dirigia, apesar de ter CNH.
Ela desceu até à portaria para
saber, quem tinha telefone que ela precisava ligar para chamar uma ambulância.
Mas o porteiro dizia que àquela hora não podia chamar ninguém. Minha esposa,
desesperada, argumentando que era uma emergência, mas o porteiro não queria nem
saber. Nisso entrou um vizinho, nissei, que viu o desespero dela e se dispôs a
ajudar. Ela ainda quis pegar a chave do nosso carro, mas o gentil nissei disse
que era melhor ir com o carro dele, que já estava aquecido. (naquele tempo
tinha que aquecer o motor antes de sair). Ela pediu para ele ir para uma
clínica da Av. Angélica, pois lá ficavam as melhores clínicas ortopédicas de
São Paulo. Lá chegando, não tinha médico de plantão e demoraria para chamá-lo,
pois provavelmente estaria dormindo. Então ela pediu para usar o telefone da
clínica para ligar para uma outra que ela conhecia no Sumaré, que era a mais
perto de casa. Ligou explicou da urgência e pediu que se a ambulância chegasse
antes dela era para esperar que ela chegaria em seguida. Chegaram praticamente
juntos e, na ambulância, veio um clínico geral, que era o médico que estava de
plantão. Ao ver meu estado – e note que nessa altura já tinha passado mais de
uma hora – ele simplesmente disse que não podia fazer nada. Tinha que ser um
ortopedista e de preferência especializado em membros superiores, pois a coisa
estava mesmo feia! Como ele tinha vindo em uma ambulância, depois de muito
argumentar, minha esposa o convenceu de levar-me na ambulância para uma clínica
especializada. Tudo isto acontecendo com minha filha, de 1 ano e nove meses,
dormindo no quarto ao lado. E não
acordou – como ela é boazinha!
Então o médico sugeriu que minha
esposa fosse também para ficar comigo na clínica. Não tinha alternativa. Ela me
disse que nossa filha nunca acordava à noite e que, certamente, Deus a olharia
por nós. Colocaram-me a calça do pijama
e me jogaram a blusa no ombro, pois não tinha como vesti-la. E lá fomos nós na
ambulância, que a cada buraquinho que fosse, eu gemia de dor, pois movimentava
o braço.
Chegando à clínica, o ortopedista
não estava, mas fui atendido por um bom enfermeiro, que enquanto o médico
acordava e se dirigia à clínica, ela já providenciou radiografias, exames etc..
Chegando, meio sonolento, o ortopedista, depois de analisar as radiografias, veio
e disse que o caso era muito grave, mas que não tinha ocorrido desligamento de
tendões, nem tinha quebrado nenhum osso. Que tinha duas opções. Chamar um
anestesista geral para me anestesiar e colocar o braço no lugar – que era o
certo – mas demoraria mais de uma hora (nesta altura já era umas três ou quatro
da manhã), ou ele colocaria o braço no lugar em três ou cinco minutos, mas
doeria muito. Já estava doendo há tanto tempo e não tinha como doer mais, eu
pensei. E disse que queria que recolocasse o braço no lugar assim mesmo! Falei
como “macho”. Ele insistiu que doeria muito. Eu concordei.
Ele então disse para o enfermeiro me
segurar por baixo dos sobacos e colocar os joelhos nos meus ombros. Ele sentou
em cima das minhas pernas, e disse para eu rezar para não prestar atenção na
dor. Pegou meu braço, virou-o e começou a fazer uma espécie de zig-zag, como
quando a gente quer empurrar um móvel pesado e vai virando para lá e para cá.
Nesta hora descobri que o termo “ver estrelas de dor” existia mesmo! Comecei a
ver umas estrelinhas “amarelas” num céu preto, que vinham e estouravam na minha
cara... e foram aumentando em quantidade e tamanho. Daí eu entendi, porque os
joelhos nos meus ombros e ele assentado em minhas pernas, porque se tivesse uma
parte livre, eu bateria, chutaria e faria qualquer coisa, até sem perceber, por
puro instinto. Eu não conseguia mais rezar. Só ouvia minha esposa repetindo:
“-Nossa Senhora Aparecida... Nossa Senhora Aparecida... Nossa Senhora
Aparecida...” Não sei se foram três, cinco ou dez minutos, na verdade foi uma
eternidade, mas finalmente ele colocou o úmero junto ao encaixe do ombro. Foi
um alívio!!!! Quando quis falar, o médico enxugando a testa com um lenço, disse
para esperar, pois não tinha acabado o serviço.
Então ele pegou meu braço, com cuidado, deixou-o reto, segurou firme no
braço e antebraço, deixando-o perpendicular ao corpo e deu um empurrão para
acoplá-lo no ombro. Dei outro grito e então ele disse que estava pronto!
Aí o enfermeiro me sentou para
enfaixar o tronco, pois não tinha como engessar, mas tinha que ficar
imobilizado. Fui enfaixado em todo o tronco – do umbigo à altura do pescoço,
deixando apenas a mão para fora, mas praticamente sem movimento, pois ficava
presa ao peito. Feitas as recomendações necessárias e escritas as receitas, já
era quase cinco horas da manhã. Foi aí que nos lembramos de nossa filha, de 1
ano e 9 meses, que se encontrava sozinha em casa. Novamente na ambulância,
fomos para casa e a encontramos dormindo como um anjinho, pajeada por Deus e
todos os Santos que invocamos em nossas orações.
Nota: Este causo tem continuação. Aguarde!
Freitas
ResponderExcluirAguardarei a continuação para meu comentário. Não quero fazer barulho para não acordar a sua filha, mas espero que todas as articulações tenham ido para seu devido lugar. Abraço, mas não muito apertado, ou irá doer. J.Carlos
Freitas... Eu comecei, literalmente, à sentir a angustia de sua dor... Imagino você... que a sentiu in loco... Aguardo a continuação. VLM (Maria Arteira - Peruíbe)
ResponderExcluirVera, não sei explicar como aguentei tanta dor, porque sou muito mole com dor e doença, mas como eu disse "Deus sempre ajuda..."
ExcluirCaramba Nicanor!
ResponderExcluirAo ler, até passei a mão no ombro para certificar-me que estava no lugar!
Abs.
Soja
Soja, lembra-se que já conversamos sobre o uso de camisetas... o meu caso é por causa desse tombo...
ExcluirNica, se o Titao da Agrotecnica de Pinhal deparasse com este texto ,
ResponderExcluir, ficaria complexado. Titao foi o professor q disse p um burro quando estava dando uma aula prática. " você pode ser mais inteligente mas eu sou mais forte, deu um soco no burro e ele caiu " achei a sua coragem mais forte que a força do Titao.
Calculo um pouco o q passou, queria aproveitar a oportunidade p parabenizar as atitudes de nossa querida Maria, sem Ela essa coragem nao entraria em cena.
Um fraco abraco receioso p não afetar as partes envolvidas na "cirurgia" e um grande na Maria e outro da mesma amplitude na Claudia pelo lindo sono .
Pedro - carioca
Pedrão, a Maria já me salvou em muitas oportunidades. Qualquer dia conto o causo do "Infarto", em que ela disse para não chamar ambulância que ela me levaria. Levou-me e me deixou dentro do Pronto Socorro, 7 minutos antes de eu ter a parada cardíaca...Devo muito a ela... minha "Anja-da-guarda"...
ExcluirHahahaha o melhor do causo é a filha anjinho dormindo!!!!! E sozinha! !!!! Te amo! Bjs da Filha anjinho!!!! Clau.
ResponderExcluirE era "anjinho" mesmo! Agora é que anda querendo "mandar" no velhinho do Pai, dá bronca, dá ordens, critica etc... Sendo que o Pai continua bonzinho como sempre foi...
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